Fora do circuito turístico, Laos atrai pelos templos, cachoeiras e cultura asiática

Quando se fala em Sudeste Asiático, os primeiros países citados são Tailândia, Camboja e Vietnã. Poucos se lembram do Laos.

O país, cercado por todos os citados acima e também por Mianmar e China, está fora do circuito turístico de brasileiros.

O professor universitário Wagner Belinato, porém, resolveu dar uma esticada até lá durante sua viagem pela Ásia, entre fevereiro e abril.

Abaixo, ele fala sobre os inúmeros Wats —os templos típicos—, as paisagens com cachoeiras e rios e a história local.

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No Sudeste Asiático, o Laos é o único país sem acesso ao mar. O rio Mekong corta o país e serve de eixo para as cidades mais populosas. A maior delas é Viêng Chăn (Vientiane), capital, na fronteira com a Tailândia. A população total do país é de cerca de 7 milhões de pessoas, distribuídos em cidadezinhas e aldeias por toda sua geografia acidentada e montanhosa.

Não foi muito trabalhoso incluir o país num roteiro de quase três meses pela região. Embora as prioridades fossem o Vietnã, um desejo antigo, e a Tailândia, reservar alguns dias para outros países era simples, já que o maior trabalho é chegar ao Sudeste Asiático.

Foram mais ou menos 40 horas de voo a partir de Maringá, com conexão em Doha, no Qatar. Sair de São Paulo não faz a viagem ser muito mais breve. Depois das conexões e já tendo terminado o planejamento do Vietnã —muita coisa ficou a fazer—, cheguei ao Laos em um voo esvaziado e de pouco mais de uma hora entre Hà Nội (Hanói) e Louang Pha Bang com a Lao Airlines.

É possível fazer o trajeto em ônibus, mas há vários alertas sobre corrupção nas fronteiras no momento de pagar as taxas do visto. Atualmente, é possível solicitar online a permissão de entrada.

A chegada

Aparentemente, não há muitos turistas brasileiros no Laos (ao contrário da Tailândia, onde foi bastante corriqueiro encontrar pessoas falando o nosso português).

O ranking disponibilizado pelo governo local lista que, em 2018, apenas 9.164 cidadãos de países das Américas (exceto Estados Unidos e Canadá) visitaram o país.

De todo modo, não encontrei nenhum compatriota nos dias em que passei lá. Isso talvez explique também por que os blogs de viagem em português contribuíam muito pouco para organizar o roteiro. As melhores informações que encontrei foram em blogs em inglês e francês, principalmente.

Louang Pha Bang

Em Louang Pha Bang, fiquei em um hostel com um trapiche dando para o rio Nam Kham, bem próximo ao encontro com o Mekong. De todos os hostels em que fiquei na Ásia, esse foi um dos mais simples, embora muito bom. Grande parte dos jovens e turistas visitando o local passava as tardes de maior calor no trapiche, bebericando uma Beerlao, lendo ou na internet.

O encontro dos rios Nam Khan e Mekong faz uma espécie de península em Louang Pha Bang. Há vários templos nas ruas principais da cidade, os Wats, e alguns museus —dentro e fora das áreas religiosas dos Wats.

O centro histórico é delimitado também pelo monte Phousi, no topo do qual há, igualmente, um Wat. No centro ou distrito histórico, há ainda vários hotéis, cafés, restaurantes e templos, a região toda basicamente dedicada ao turismo.

Dia e noite

Durante o dia, é possível visitar toda a região do centro histórico a pé, caminhando entre os Wats Xieng Thong, o primeiro quase na confluência dos rios, até tão longe quanto for possível, visitando alternadamente os demais templos —Wat May Souvannapoumaram, Wat Xieng Mouane— museus e o palácio da cidade, com jardins amplos e agradáveis, pausas para o café, o almoço ou um lanche.

Visitar os templos é um exercício de respeito —há códigos de vestimenta— e um jogo de memória, encontrando as semelhanças e diferenças na arquitetura de cada um deles.

Toda a região é patrimônio da Unesco desde 1995 e vários outros prédios coloniais remetem à Invasão e ao período colonial franceses. Também é possível atravessar o rio de barco ou em uma ponte de bambu, que anualmente é reconstruída pela mesma família e todo ano levada pelo rio na época das chuvas. Nessa ponte, existe uma espécie de pedágio: como em todos os lugares, locais pagam uma taxa simbólica, estrangeiros um pouco mais. Do outro lado do rio, um restaurante panorâmico, lanchonetes, outros Wats, vida normal e o aeroporto.

A segunda opção para ocupar os dias é visitar algum dos santuários de elefantes da região, onde é possível ter contato com os animais, alimentá-los, dar banho e até passear com eles. O turismo de elefantes é incentivado pelo governo e a revista de bordo da Lao Airlines trazia dicas de como e onde fazer passeios.

O santuário que visitei, o Manifa Elephant Camp é uma área afastada do centro da cidade, entre as montanhas, onde era também possível se hospedar e, no dia, não havia muitas pessoas —umas 40 ou 50 no máximo. Não há relatos de maus-tratos e o local é bastante bem avaliado nos sites turísticos. O passeio inclui ainda almoço e visita opcional às cavernas da região.

É preciso atenção aos preços, não apenas no Laos, mas em todo o Sudeste Asiático. Convém perguntar o valor sempre antes de escolher algum produto, igualmente no momento de fechar passeios. Para a jornada com os elefantes, a diferença variava de US$ 30 a US$ 135.

Mesmo no hostel o primeiro atendente disse que o passeio de meio dia custava US$ 35, mas, quando fui fechar o pacote, com um segundo atendente, me cobraram US$ 30, liberando o late check-out.

Por fim, a região de Louang Pha Bang possui muitas cachoeiras. A mais visitada é a de Kuang Si, um véu de água que desce das montanhas em vários degraus de piscinas naturais com bordas arredondadas. Além do banho e mergulho, há igualmente locais para almoço —de sobremesa, sorvete de feijão preto— e passeios que levam até a fonte da cachoeira, montanha acima.

Cada uma dessas opções garante atividades para um dia. Para todos os lugares se vai de van, carro privado ou tuc-tuc, conforme o gosto, o bolso e a conveniência. Para os motoristas de tuc-tuc, parece sempre ser mais vantajoso acompanhar um grupo pequeno de turistas durante todo o dia do que esperar corridas avulsas pela cidade e todos vão oferecer o passeio.

No pôr do sol, de volta à cidade, os turistas todos subimos o monte Phousi, ao lado do centro, para acompanhar as orações budistas e assistir ao pôr-do-sol nas montanhas a partir do Chom Si Wat. É o melhor local para observar toda a região da cidade e fica lotado até depois do anoitecer.

Quando a noite cai, os turistas estrangeiros se aglomeram no mercado noturno, igualmente na rua principal e em algumas quadras paralelas. É um excelente local para comer, com peixes assados e pratos típicos feitos pela população local, sentado em tapetes no chão ou em banquetas espalhadas por todo o espaço.

O local tem igualmente uma feira de artesanato e, entre as centenas de itens —lanternas, sombrinhas, tecidos— que chamam a atenção de quem passa, uma barraca se destaca, com amuletos, chaveiros e talheres feitos das bombas jogadas pelos americanos na região na época da Guerra Secreta, paralela à do Vietnã.

A capital

No caminho entre norte e sul, Louang Pha Bang e Pakxe, tomei um dia para descansar em Viêng Chăn, a capital do país, em vez de Vang Vieng, a cidade dos esportes radicais.

O passeio pela capital inclui, a partir da fronteira com a Tailândia, a própria observação da fronteira, o passeio público pelo rio, onde está a feira noturna da cidade —e as melhores opções para comer local—, o marco do quilômetro zero do Laos e, saindo para a avenida principal, o Patuxai, o Portão da Vitória, inspirado nos arcos do triunfo europeus, mas decorado de modo local e peculiar. Mais adiante, a estupa dourada —realmente coberta de ouro, no Pha That Luang, que não foi possível visitar por conta do tempo.

Pakxe

Pakxe, no sul do Laos, é uma cidade charmosa e pequena, onde se pode fazer quase tudo a pé ou de bicicleta. O principal da cidade também fica no encontro de dois rios, o Xe Don e, novamente, o Mekong. A arquitetura segue o padrão e mistura da colonização francesa e de arquitetura local, com templos por todos os lados.

Atravessando o Mekong, o Wat Phousalao tem uma gigantesca estátua de Buda olhando pela cidade. As escadarias são longas e a subida, cansativa, mas a vista é recompensadora e pode-se admirar toda Pakxe do alto. Ao lado do passeio no rio, há uma espécie de praça de alimentação feita de contêineres, com opções locais e estrangeiras, não muito longe do mercado da cidade.

A partir de Pakxe se pode, igualmente, explorar o platô do Bolaven, visitando plantações de café na região, com degustação, cachoeiras —opção de esportes radicais— tribos e pequenas aldeias, entre as quais uma em que os habitantes constroem e guardam seus próprios caixões embaixo das casas, elevadas, o que cria um espaço de trabalho coberto para fugir do calor extremo.

Não muito longe da cidade é possível também visitar as ruínas de Champasak, uma espécie de Angkor Wat (Camboja) em menor tamanho —às quais não fui. As agências em que passei insistiam que não ofereciam passeios coletivos, apenas carros privados, o que sairia bastante caro. Nesse caso, o hostel tampouco tinha uma opção de visitação.

O Laos oferece um turismo mais pitoresco e distendido que seus vizinhos mais conhecidos e as pessoas que encontrei viajando pelo país faziam dois tipos de roteiro: ou iniciavam ao norte, em Louang Pha Bang, como eu, ou pelo sul, em Pakxe.

Algumas alugavam ou mesmo compravam motos para fazer também roteiros alternativos. O roteiro principal inclui ainda a capital, Viêng Chăn, e a cidade de Vang Vieng, point jovem do país. Embora eu tenha organizado tudo antes da viagem, é possível viajar mais livremente e, com alguma folga no calendário, sempre se encontra ônibus e hospedagem disponíveis.

Fala-se inglês ou francês na maioria dos locais de interesse turístico e os laosianos são muito solícitos com os turistas, muitas vezes falando em mímica mesmo. Do mesmo modo, a maioria dos cardápios está traduzido e com imagens, assim, quando não for possível ser compreendido, basta apontar a opção desejada para comer.

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Aviso aos passageiros 1: O leitor Luís Paulo dos Santos contou ao blog como foi viajar à China e deu dicas de como se virar no país asiático

Aviso aos passageiros 2: Caso você pretenda viajar ao Sudeste Asiático, veja como e onde tirar o certificado de vacina contra febre amarela