Casal detalha gastos dos últimos 2 anos viajando de motorhome pela Europa

Em 2019 eu publiquei o relato do casal Lucas e Eve (@rotaalternativarv), que viaja com o Rogerinho, seu “idoso, porém esforçado, motorhome”. Lá, eles contaram os desafios de viver em um veículo assim, além de toda a burocracia envolvida.

Agora, eles fazem um resumo financeiro dos dois últimos anos, em que ficaram rodando pela Europa. O casal esmiúça bastante os gastos, com direito a até os centavos de euro.

A ideia é mostrar que viver em um motorhome não é só flores, mas também não é uma vida cheia de perrengue.

Em valores atualizados, eles gastaram em 2 anos de estrada cerca de R$ 90 mil (sem contar o valor do carro e da papelada do Rogerinho). Em contrapartida, entre trabalhos na estrada e frilas, o casal recebeu cerca de R$ 170 mil. Obviamente, o passaporte europeu dos dois ajudou bastante na hora de conseguir emprego.

Para este post, considerei o 1 euro = R$ 6,53

Em tempos de coronavírus não podemos viajar, e muitas vezes nem sair de casa. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Olá! Me chamo Lucas e, junto com minha namorada, Eve, recentemente completei 2 anos vivendo e viajando pela Europa em nosso motorhome, o Rogerinho. Mas, ao invés de escrever um texto comemorativo, decidimos fazer um informativo.

A ideia é dar um resumão completo dos nossos gastos e ganhos em 730 dias pela estrada a fim de fornecer uma boa base de informação a quem pensa um dia seguir o mesmo estilo de vida.

Antes de irmos aos números, é importante dizer que nós temos um perfil bem low cost. Nós raramente dormimos em lugares pagos, quase nunca pagamos pedágio e também não saímos tanto para comer, cozinhando quase sempre nossas refeições. Mas esse é o nosso estilo e não representa nenhum tipo de fórmula correta ou incorreta, é apenas o que faz mais sentido pra gente.

Outra coisa que influencia muito nos gastos é a questão de estar parado ou viajando. Viajar é sempre mais caro, principalmente pelo gasto com combustível e outros custos que só aparecem quando se está na estrada.

Já quando paramos, seja porque estamos trabalhando ou ficando em casa de conhecidos, os gastos são bem menores. 2018 e 2019, por exemplo, foram anos que passamos na estrada praticamente 100% do tempo.

Já 2020, por motivos óbvios, nós não viajamos praticamente nada e desde março estamos fixos na Holanda trabalhando em diversos empregos sazonais. Mais sobre isso falo depois, primeiro vamos começar pelo início, quando compramos o carro.

Todos os valores estão em euros pois moramos na Europa desde 2016-2017 e nunca tivemos que usar dinheiro do Brasil.

QUANTO CUSTOU O CARRO?
Nós compramos o carro na Holanda e pagamos por ele 4.250 euros (R$ 27.749)+ 600 euros (R$ 3.918) de taxa de circulação válida por 1 ano. O Rogerinho é de 1992 e veio repleto de defeitos e reparos a serem feitos, por isso o valor tão baixo. Tivemos também que pagar um valor altíssimo de seguro pois, sem endereço fixo na Holanda, o veículo teve que ficar no nome da empresa que nos vendeu. Pelo período de um ano nós pagamos 1.200 euros (R$ 7.835). Quando esse prazo venceu nós ainda renovamos, tanto o seguro quanto a taxa de circulação, por mais 6 meses, gastando respectivamente mais 600 euros (R$ 3.918) e 300 euros (R$ 1.959).

IMPORTAÇÃO DO CARRO PARA PORTUGAL
Cansados de pagar esse valores astronômicos, nós decidimos tirar o carro do nome da empresa que nos o vendeu e passá-lo para o nosso. Com família e amigos em Portugal nós conseguimos estabelecer um endereço fixo e decidimos importar nosso motorhome pra lá, mudando sua placa para a de Portugal e o adequando às normas e taxas do país (muito mais baratas, por sinal). A importação foi penosa, demorada e cara. A burocracia em Portugal é imensa e nos colocou barreiras atrás de barreiras durante todo o processo e o Rogerinho só ficou completamente legalizado após 4 meses. Pensamos em desistir diversas vezes durante esse período, mas no fim tudo se acertou. A importação custou 1.698 euros (R$ 11.086). Nesse montante já está incluso o valor do seguro anual de 167 euros (R$ 1.090), praticamente 10 vezes mais barato do que pagávamos antes.

QUANTO GASTAMOS EM 2 ANOS?

Combustível: 3.667,77  euros (R$ 23.947,24) – média mensal de 152,82 euros (R$ 997,78).
É de longe a maior despesa para quem viaja o tempo todo.

Manutenção: 1834,57 euros (R$ 11.978,09) – média mensal de 76,44 euros (R$ 499,08).
O Rogerinho é muito antigo e já deu várias problemas. Até o hoje o maior que tivemos foi um semi-eixo quebrado que nos custou, numa tacada só, 600 euros (R$ 3.197).

Mercado: 3.466,78 euros (R$ 22.634,95) – média mensal de 144,55 euros (R$ 943,78).
No começo da viagem, ainda com muito medo de gastar todo nosso dinheiro, nós éramos muito pão duros e chegamos a gastar 110 euros (R$ 718) no mercado em um mês. Depois fomos aprendendo a aproveitar mais e relaxamos um pouco. Mesmo assim, nosso maior gasto em mercado em um mês até hoje foi de 277 euros (R$ 1.808).

Campings e estacionamentos: 239,64 euros (R$ 1.564,63) – média mensal de 9,98 euros (R$ 65,16).
Nós raramente dormimos em estacionamentos pagos, muito menos em campings. A Europa, principalmente a parte ocidental, possui ótima estrutura com estacionamentos gratuitos para motorhome, muitas vezes com água, esgoto e até eletricidade.

Pedágios: 98,56 euros (R$ 643,51) – média mensal de 4,10 euros (R$ 26,77).
Nós também quase nunca pagamos pedágio. Não compensa transitar pelas rodovias principais pois nosso motorhome anda em média a 70 km/h. Por isso, para nós vale mais a pena sempre dirigir pelas estradas locais com menor limite de velocidade e sem presença de pedágios. Claro, em alguns lugares as secundárias são tão ruins que optamos pelas rodovias. É o caso da Itália, algumas regiões de Portugal e países do Bálcãs.

Gás: 162,15 euros (R$ 1.058,69) – média mensal de 6,75 euros (R$ 44,07).
Lembra que eu disse que o Rogerinho é cheio de defeitos? Pois é, nossos aquecimentos central e de água não funcionam, por isso nós utilizamos o gás apenas para cozinhar e ligar a geladeira. Quando estamos com o carro ligado à eletricidade, nem para a geladeira é necessário. Por isso nosso gasto com gás acaba sendo bem pequeno.

Lavanderia: 141,69 euros (R$ 925,11) – média mensal de 5,90 euros (R$ 38,52).
Para quem mora num carro, não existe escapatória desse gasto. Porém, costuma ser fácil achar lavanderias self-service por toda a Europa, e com preços acessíveis.

Internet móvel: 339,80 euros (R$ 2.218,59) – média mensal de 14,50 euros (R$ 94,67).
Muitas vezes é um problema achar um plano com bom pacote de roaming e por isso, ao longo desses 2 anos, nós já tivemos diversos chips de internet.

Lazer: 2.218,04 euros (R$ 14.481,80) – média mensal de 92,41 euros (R$ 603,35).
Aqui estão inclusos gastos como os de comer fora, sair pra beber uma cerveja, passeios turísticos, idas ao cinema e etc.

Outros: 1.863,10 euros (R$ 12.164,37) – média mensal de 77,62 euros (R$ 506,79).
Aqui estão inclusas coisas que fogem dos gastos comuns do dia a dia, como utensílios de cozinha, roupa de cama, travesseiros, itens de decoração –todas coisas que tivemos que comprar quando nos mudamos. Também colocamos aqui gastos com pilhas, isqueiros, nosso ventilador, inseticida etc –coisas que compramos apenas de vez em quando.

Lucas, Eve e Rogerinho, o motorhome de 1992
Lucas, Eve e Rogerinho, o motorhome de 1992 (Arquivo pessoal)

QUANTO GANHAMOS EM 2 ANOS?
Aqui é importante notar que nós possuímos passaporte europeu, o que torna nossa vida MUITO mais fácil quando o assunto é achar trabalho.

Trabalhos em Dublin: 4.752 euros (R$ 31.026)
Em fevereiro de 2019 nós estávamos precisando desesperadamente de dinheiro e por isso resolvemos passar 40 dias trabalhando em Dublin. Como já havíamos morado lá por 2 anos, achar emprego não foi difícil e ainda economizamos na estadia ficando em casas de amigos.

Trabalhos sazonais na Holanda: 14.710 euros (R$ 96.043)
Nossa intenção era trabalhar apenas de março a julho aqui na Holanda esse ano, mas, claro, o coronavírus mudou tudo. Estamos na labuta até hoje e devemos ficar por aqui até dezembro. Desde então nós já ficamos em estufas de árvores e flores, na colheita do morango e agora estamos colhendo vegetais e legumes em uma fazendo Bio.

Freelas: 4.289 euros (R$ 28.003)
Nós somos fotógrafos e, sempre que dá, fazemos freelas por aí. A Eve já fez diversos ensaios femininos e de gestantes durante a viagem e mais recentemente temos fotografado hotéis, comidas e produtos.

Presets: 375 euros (R$ 2.448)
Nós criamos e vendemos presets para lightroom. O site de vendas está passando por uma reestruturação, mas quem tiver interesse pode entrar em contato conosco por DM no Instagram.

Testes clínicos: 2.120 euros (R$ 13.842)
Em Portugal nós encontramos a maneira mais curiosa de ganhar dinheiro até agora durante nossa viagem: testando remédios. A empresa é super profissional e tudo funciona direitinho, mas ainda assim é algo para que as pessoas ainda torcem o nariz.

A gente espera que esse resumão sirva pra ajudar as pessoas que querem fazer o mesmo um dia e para mostrar que viver na estrada não é nenhum bicho de sete cabeças. Se não servir pra isso, que sirva pelo menos pra matar a curiosidade de como é viver num motorhome.

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Aviso aos passageiros 1: O casal Alessandra e Leo, que também percorre o mundo de carro, contou ao blog por que adotou o acampamento como estilo de vida e de viagem

Aviso aos passageiros 2: João Paulo Mileski e Carina Furlanetto também compartilharam como foi a viagem deles pelo Brasil e América do Sul em um carro 1.0, até a pandemia atrapalhar os planos