São Tomé e Príncipe mescla natureza e história familiar aos brasileiros, diz leitor

Quando se trata de turismo, brasileiros preferem viajar para Europa, América do Norte e Ásia. Ainda são poucos os que optam pela África, ainda mais para destinos poucos conhecidos, como Togo, Lesoto e São Tomé e Príncipe.

É sobre esse último país que o leitor Matheus Perie (@rjmatheus) escreve ao Check-in. Ele viajou ao arquipélago africano em 2019, ao lado da esposa, Nathália Barbosa (@nathaliacbarbosa).

Eles viajaram por conta própria e ficaram 12 dias conhecendo as duas principais ilhas do país. De colonização portuguesa, o arquipélago tem arquitetura bastante familiar a nós, brasileiros.

Em tempos de coronavírus nossas viagens ficaram mais restritas. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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O destino era bem longe do cenário comum da África subsaariana de savanas e animais selvagens. Uma ex-colônia portuguesa que está entre os países menos visitados do mundo: São Tomé e Príncipe. As duas ilhas situam-se na Latitude 0, o que garante boa temperatura o ano todo, chuvas frequentes e vegetação exuberante.

O aeroporto internacional fica próximo à capital, São Tomé, e recebe poucos voos. Para os brasileiros, o caminho mais lógico é via Angola, por onde fomos, ou Portugal. Com um dia inteiro de escala em Luanda, vale providenciar o visto para conhecer a capital angolana, como fizemos.

E, falando em visto, você precisa de um para entrar em São Tomé e Príncipe. O certificado internacional de vacinação da febre amarela é obrigatório e recomendamos a profilaxia para malária.

Planejar essa viagem exigiu boa dose de pesquisa, já que muitas informações na internet estão desatualizadas. Vários hotéis têm reserva online e o contato com eles é uma boa saída para obter referências atualizadas. O lado bom é que as ilhas são pequenas e em pouco tempo é possível percorrê-las. Em 12 dias conseguimos ver com calma os principais pontos.

Um pouco de história

A colonização portuguesa em São Tomé e Príncipe começou cedo e foi uma das últimas a terminar. Iniciou na metade do século 15 e foi até 1975, ano da independência. As ilhas eram desabitadas na ocasião do descobrimento.

Se no início os esforços eram voltados para o cultivo de cana de açúcar com a mão de obra trazida da África Continental –ciclo que entrou em declínio no século 17–, a partir do século 19 o país atraiu de novo a atenção de Portugal. Dessa vez, foi a produção do cacau que trouxe de volta a importância da colônia.

Edifício principal da Roça Bela Vista, em São Tomé e Príncipe (Arquivo pessoal)

Aliás, é impossível falar dessa segunda etapa sem mencionar as roças, propriedades voltadas para o cultivo, sobretudo do cacau, dominando quase todo o território e hoje testemunhas de como foi o período colonial. As maiores possuíam ferrovia, hospital, oficinas e alojamentos, chegando a ter 2.500 trabalhadores.

Com a independência, as roças foram estatizadas –muitas permanecem assim até hoje– e os descendentes dos trabalhadores do período colonial ainda residem por lá. Infelizmente, a maioria vem se deteriorando com o tempo e uma parte da história está se perdendo. O ainda incipiente setor turístico é responsável pela preservação de algumas delas, que são transformadas em hotéis. Conhecer as roças era um dos objetivos dessa jornada.

São Tomé

É o ponto de chegada dos turistas e, a partir do pequeno aeroporto da capital, em poucos minutos chega-se à região central. Em São Tomé, em um passeio a pé vê-se o Palácio de Governo, a Catedral e o antigo Forte São Sebastião, que hoje abriga o Museu Nacional. Há também a fábrica de chocolates de Claudio Corallo, italiano radicado no país e grande conhecedor do cultivo do cacau.

Além dos pontos turísticos, o ideal é andar sem pressa pelos quarteirões centrais, olhando cada detalhe da arquitetura portuguesa (é verdade, os prédios não estão em sua melhor forma de conservação) e percorrer a Avenida 12 de Julho, que fica à beira-mar. A capital nos dá um certo déjà vu do centro histórico de algumas cidades brasileiras.

Apesar da simpática capital, a fama da ilha se deve ao seu interior, especificamente por suas roças. Alugamos um carro durante nossa estadia e em parte do trajeto contratamos um guia, assim conseguimos conhecer mais a fundo a história local.

Apesar de recomendarmos aos próximos visitantes, tanto o carro quanto o guia não são itens obrigatórios, já que no centro você encontra transporte para qualquer lugar e o idioma não é um obstáculo. Como em quase todo país africano, não vimos linhas de ônibus e sim táxis compartilhados onde você combina o preço com antecedência.

Dividimos o roteiro em quatro etapas: centro, norte, sul e extremo sul, planejando nossos dias dessa forma para poder aproveitar melhor. Dedicamos um dia para cada trecho (e foram suficientes).

No centro da ilha, visitamos Trindade (a segunda maior cidade), o jardim botânico, onde diversas espécies trazidas do Brasil despertam a curiosidade dos poucos turistas, a cascata São Nicolau e a Roça Monte Café.

Essa foi nossa primeira roça e uma das mais preservadas, com visita guiada organizada pela comunidade local. Apesar do nome, a roça também produzia cacau e parte dos instrumentos utilizados no processo ainda está preservada. Nesse dia, almoçamos na Casa Almada Negreiros, que traz um menu degustação preparado com ingredientes da ilha. Ali fomos apresentados à fruta-pão, acompanhamento comum nas refeições locais.

Matheus e Nathália, no Padrão dos Descobrimentos, em São Tomé e Príncipe (Arquivo pessoal)

Rumo ao norte, ainda próximos à capital, visitamos duas roças: Bela Vista e Rio do Ouro (rebatizada de Agostinho Neto). Nessas duas não existe passeio guiado e a visita se restringe a apreciar a imponente arquitetura. A Roça Agostinho Neto foi uma das principais da ilha no período colonial. Seguindo adiante, fomos presenteados com a beleza das praias Lagoa Azul e dos Tamarindos. Encerrando o dia, conhecemos o Padrão dos Descobrimentos, que marca a chegada dos portugueses à ilha.

Ao extremo sul, é possível avistar (quando o tempo ajuda) o Pico Cão Grande, um dos símbolos da ilha (e seu ponto mais alto). Há também um belo monumento que marca a linha do Equador, sendo possível chegar lá de barco. Fora isso, o “fim” da ilha revelou três lindas praias: Jalé, Piscina e Inhame. Um pouco menos ao sul, é possível visitar a bonita praia Micondó, a Boca do Inferno, que tem uma vista deslumbrante do mar (porém perigosa para banho) e outra importante roça do período colonial: Água Izé. Destaque para o belíssimo (e agora decrépito) hospital.

É possível explorar toda a ilha a partir da capital, porém, como nosso interesse eram as roças, fizemos questão de pernoitar em duas delas, localizadas na parte sul. Primeiro, ficamos na Roça São João dos Angolares, que foi toda restaurada e oferece hospedagem em uma roça tradicional e um ótimo restaurante, comandado pelo chef João Carlos Silva, muito conhecido na ilha –o menu degustação é imperdível! Passamos também uma noite na Roça Santo Antonio Ecolodge –opção para quem quer mais conforto.

O sul da ilha é completamente diferente do norte, desde a cor do mar à vegetação e ao clima. Difícil de entender a mudança em uma área tão pequena. Isso só reforça a necessidade de explorá-la por completo. Mas chegava a hora de conhecer a próxima ilha.

Príncipe

Nosso voo sairia logo cedo, mas, devido às condições meteorológicas, depois de um dia inteiro de sucessivos atrasos nos levaram a um hotel com a promessa de sair no dia seguinte. Chegamos cedo ao aeroporto e conseguimos voar. Foram 35 minutos em um turboélice com emoção.

A ilha do Príncipe tem uma vegetação bem densa, lembrando a parte sul de São Tomé. Na primeira noite, ficamos hospedados na Roça Sundy. Ela foi parcialmente restaurada e transformada em hotel e não fica no litoral, mas conta com transfer para alguns pontos da ilha. A Sundy é famosa por ter sido o local onde a teoria da relatividade de Einstein foi comprovada em 1919 e mantém um marco preservando essa história.

Aproveitamos o primeiro dia para conhecer melhor a capital, Santo Antonio. Ela também conta com a tradicional arquitetura portuguesa, é bem tranquila e fácil de percorrer. Novamente, sentimos muita familiaridade com o Brasil.

No dia seguinte, nos transferimos para outra roça. A Roça Belo Monte é uma verdadeira joia: totalmente restaurada e com sua arquitetura original preservada. Outro ponto alto da hospedagem é a Praia Banana, reconhecida como uma das mais bonitas da ilha e quase privativa. A roça fica em um ponto mais elevado e no caminho até a praia há um mirante com uma vista de perder o fôlego. Esse trajeto pode ser feito a pé ou em veículos do hotel. Os últimos dias foram de descanso em um autêntico paraíso tropical!

São Tomé e Príncipe acabou se revelando um destino extremamente fácil para viajar e consegue mesclar natureza com uma história bem familiar para nós brasileiros. É um daqueles destinos que ainda guarda certa autenticidade e que não foi deturpado pelo turismo de massa. Que permaneça assim por muito tempo.

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Aviso aos passageiros 1: Para quem pretende viajar a São Tomé e Príncipe, o casal recomenda fortemente o guia “Sao Tome & Principe”, da Kathleen Becker, publicado pela Bradt Travel Guide

Aviso aos passageiros 2: A leitora Beatriz Pianalto de Azevedo visitou Guiné-Bissau e contou ao blog como foi sua viagem por esse país do oeste africano