Berlim é uma cidade cosmopolita, mas ainda assim alemã, define professor
Em 2020, o professor de alemão e tradutor Guilherme Spinelli falou ao Check-in sobre sua pedalada pela Alemanha e como organizou uma expedição de 1.200 km em 24 dias.
Agora, é a vez de Geder Parzianello, também professor e pesquisador, compartilhar sua experiência no país liderado por Angela Merkel.
Ele estudou e lecionou na Alemanha e já esteve por lá algumas vezes. É inegável, ao ler seu texto, o quanto gosta de Berlim. Mas deixo para vocês tirarem suas próprias conclusões.
Em tempos de coronavírus nossas viagens ficaram mais restritas. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.
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Enquanto dura esta pandemia e as fronteiras continuam fechadas, as únicas viagens seguras e possíveis são as da memória. Por isso, viajar é um patrimônio –e uma experiência realmente sempre válida– ainda que seja, neste momento, apenas de uma forma diferente.
A capital da Alemanha é uma daquelas poucas cidades que têm diversos mundos dentro delas. Cosmopolita, a cidade de Berlim é alemã, mas nela se podem ouvir facilmente dezenas de idiomas sendo falados quando se anda por suas ruas, não apenas em função dos turistas que nela todos os anos circulam, mas, por conta, principalmente, dos imigrantes estabelecidos em suas lojas: turcos, árabes e até mesmo brasileiros, ou nos restaurantes típicos vietnamitas, indianos, italianos, coreanos, japoneses… enfim, a cidade de Berlim é global sem deixar de ser tipicamente alemã.
No seu comércio ambulante, convivem paquistaneses, ucranianos, russos, iranianos e gente de todas as nacionalidades, como também nas atividades culturais, sociais e comerciais variadas que fazem sempre circular, de fato, centenas de milhares de pessoas por seus metrôs, trens e avenidas todos os dias.
Claro que, neste período, a cidade é outra. A grande maioria da população raramente sai às ruas, com a Alemanha vivendo a segunda onda de contágio do coronavírus. O jeito foi mesmo frear a economia para proteger a vida.
Uma cidade alemã para o mundo
Estive em Berlim diversas vezes. Aprendi a gostar da cidade ainda quando haviam recém derrubado o muro que dividia as duas Alemanhas. Gostar do local não é difícil, principalmente para um brasileiro com ascendência materna alemã e proximidade com o idioma.
Fiz grandes amizades e vivenciei experiências culturais incríveis para uma vida inteira. Mas a capital é realmente fascinante até mesmo para quem não fale o idioma local ou não tenha qualquer proximidade com a cultura germânica.
A cidade é global sem deixar de ser alemã, e isso a torna magnética e preferida, inclusive por muitos nativos que moram em outras partes do país, sobretudo os mais jovens.
A cidade foi mesmo preparada para receber neste século todo tipo de turistas e visitantes. Acolhe muito bem os estrangeiros, e de modo bem distante daquele estereótipo antigo que povoa o imaginário desatualizado no exterior em torno da cultura dos alemães como sendo um povo frio e distante.
A gélida Berlim dos invernos rigorosos é quente e acolhedora com quem sabe olhar para ela. E, se neste momento não é possível visitá-la, é possível revivê-la na memória ou viajar por ela de formas diferentes.
A cidade é também tecnológica, extremamente moderna e industrial e realmente aprendeu a conciliar o passado, sua história e as inovações todas da urbanização, da tecnocracia e, mais recentemente, da uberização do trabalho e de novas formas do capital num mundo em constante transformação. Tradição e novidade convivem dia a dia.
A cidade de algum modo não para. Mesmo em meio à pandemia, com as lojas fechadas e com as ruas praticamente desertas. Apenas serviços essenciais funcionam e com extrema disciplina. Acompanho as notícias por agências internacionais e emissoras estrangeiras e também por contatos quase diários pela internet com colegas, amigos, nativos alemães que conheço há quase trinta anos.
Em agosto e outubro do ano passado, a democrática Berlim acolheu sem tumultos os protestos de quem era contra o uso de máscaras e a decisão de lockdown para conter a pandemia. Uma prova talvez de que a cultura alemã aprendeu com a história a conviver com as diferenças. Os alemães respeitaram as opiniões contrárias e a decisão do governo e da maioria da população e, de fato, não há circulação nas ruas nem aglomerações.
Berlim é uma cidade que trabalha incessantemente para readequar a sua identidade política, sintonizada com este tempo e de olho no futuro. Com certeza, os alemães devem muito a estas pessoas de diferentes culturas que fazem dela a cidade que ela continua sendo: fechada neste momento, mas mais aberta para o mundo do que nunca.
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Aviso aos passageiros 1: A escritora e consultora especialista em viagem e intercâmbio Carol Santin escreveu ao blog sobre sua viagem a Portugal e como se surpreendeu pela quantidade de fumantes lá
Aviso aos passageiros 2: Ao Check-in, o jornalista e ator Francisco Zaiden contou como foi viajar sem rumo por praias e cidades palco do Dia D, na França