Casal viaja de Kombi com seu cachorro e conta como é a vida na estrada
Cada dia que passa o blog Check-in aumenta a lista de histórias de gente que viaja de carro por aí. A mais recente foi do casal Tainá e Thiago e de sua Kombi Penélope.
Outra dupla que também caiu na estrada nos últimos tempos foi o Gustavo Brentan, 24, e a Juliana Galleoti, 27. E eles estão percorrendo o país ao lado do Skol, seu yorkshire de 4 anos, e da Cremilda, a Kombi pau pra toda obra.
A família (@EuElaeoSkol) começou a viagem há três meses e nesse período conheceu Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia. Abaixo, eles contam de onde surgiu essa ideia de rodar o Brasil e um pouco de suas experiências.
Em tempos de coronavírus nossas viagens ficaram mais restritas. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.
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Somos Juliana, Gustavo e o Skol, nosso yorkshire que viaja com a gente na Cremilda, nossa Kombi home, e viemos da capital paulista. Quem mora em cidade grande sabe a loucura que é viver todos os dias. Ele trabalhava com vendas e eu tinha uma função mais administrativa na empresa do meu pai.
O Gustavo decidiu largar tudo para focar o projeto da Kombi e o canal do YouTube e eu ainda consigo fazer alguns trabalhos para ajudar a gente a se manter na estrada. Além disso, eu vendo macramê e estamos criando algumas coisas para complementar nossa renda.
A família no começo ficou um pouco apreensiva com a nossa decisão e preocupada com o nosso futuro, mas com o tempo todos entenderam e no final nos apoiaram muito. Decidimos mudar nosso presente e futuro e hoje estamos na estrada.
Faz pouco tempo que iniciamos a jornada Brasil afora, mas já percorremos um caminho incrível e conhecemos pessoas maravilhosas.
Nossa história é típica e padrão como a da grande maioria: sair da escola, ter que começar uma faculdade sem nem saber o que queríamos realmente da vida e trabalhar, trabalhar e trabalhar. Mas a ideia de largar tudo e viajar eu acredito que começou como as outras histórias de viajantes, uma sede de viver mais e aquela vontade de conhecer esse mundão. A única diferença é a forma que cada um teve a iniciativa para isso.
Nós perdíamos horas de nossos dias assistindo pelo YouTube a vários canais de viagem e cada dia que passava sentíamos algo forte no coração que nos dizia para meter as caras e arriscar, só assistir não estava sendo o suficiente.
Quem tem a intenção de iniciar um projeto com uma Kombi e quer montar uma estrutura razoável para se manter na estrada precisa investir um valor significativo. Claro que também dá para começar com coisas mais básicas e aos poucos adquirir o que é mais caro. Nada é impossível para quem se determina a seguir um sonho, então tenha fé.
Um conselho de quem passou na pele pelo perrengue: foque a parte mecânica com um profissional que entenda bem de Kombi. Para economizar, nós, infelizmente, colocamos a parte elétrica e a mecânica na mão de pessoas boas, mas que não tinham tanto conhecimento do modelo que usamos.
Isso acabou fazendo com que o veículo tivesse um curto na parte elétrica e quase pegou fogo. Tivemos que parar no meio da estrada e chamar um auto elétrico para nos ajudar e seguir viagem. Depois do susto, diminuímos a ansiedade de finalizar logo o projeto e seguramos um pouco para poder investir melhor na casinha.
Como vocês podem ver, nem tudo são flores e todos vão ter uma história de perrengue para contar.
Origem do projeto
Voltemos ao momento em que a gente decidiu realizar esse sonho. Conversávamos por dias sobre o assunto e achávamos uma loucura completa. Pensávamos em como seria deixar o trabalho e o apartamento que tinha acabado de ficar com a nossa carinha e que ainda está financiado, e o que os familiares iriam pensar sobre nós.
A ideia principal partiu dos dois, mas o Gustavo teve a iniciativa de dizer que sim. Confesso que depois ele acabou desistindo por questões de trabalho e família, mas não demorou muito para voltar atrás. Já eu topei de cara e, quando ele desistiu, fiquei chateada. Porém ele não demorou muito para retornar à decisão inicial. A primeira coisa que eu disse a ele quando voltou atrás foi que se desistisse novamente eu iria com o Skol.
Tudo parecia surreal e assustador, mas a decisão já tinha sido tomada. Nos organizamos financeiramente e durante dois anos construímos a Cremilda –no nosso canal você encontra tudo sobre a montagem do carro e sobre nossa viagem.
Também tivemos que alugar nosso apartamento antes de viajar para conseguir continuar com o projeto. Como ele ainda estava financiado, o valor consumia muito do nosso orçamento mensal e o projeto levaria mais de dois anos para ser finalizado. Guardamos dinheiro, vendemos nossos carros, objetos e utensílios que não iríamos mais usar para termos um valor inicial para as coisas mais caras.
Durante seis meses moramos com a mãe e o pai do Gustavo para o valor da nossa renda diminuir e a gente conseguir direcionar para a Kombi. E pudemos, com muito esforço, fazer tudo. Cometemos alguns erros de principiante com a parte mecânica, mas no final foi resolvido e a Cremilda ficou maravilhosa.
Já estamos há três meses pelo Brasil, dormimos em posto de gasolina, camping e wild camping (lugares na rua). Nesses últimos tempos tivemos alguns altos e baixos, mas confesso que nunca fomos tão felizes e realizados. A ideia era passar um ano na estrada e hoje temos vontade de ficar mais tempo.
Experiências na estrada
Iniciamos a jornada por Minas Gerais e nosso primeiro wild camping foi em Capitólio. Estávamos dormindo em um terreno na beira do rio e, na primeira noite sozinhos no meio do nada, caiu a maior chuva com raios e trovões. Ficamos desesperados, morrendo de medo.
Decidimos deixar o medo de lado e ver o poder do universo de camarote. Abrimos as janelas da Kombi e admiramos a beleza da chuva com os raios e o barulho dos trovões. Parece assustador e no começo foi um pouco, mas depois foi incrível poder estar ali vivendo tudo isso.
Andamos de caiaque e podem acreditar: o nosso pequeno Skol vai junto sempre. Ele adora uma aventura! Para quem se pergunta como é levar o cachorro eu digo que é tranquilo, já encontramos viajantes com cães e gatos pela estrada e todos dizem a mesma coisa.
De Minas Gerais conhecemos poucos pontos e nos arrependemos disso. Tínhamos acabado de sair e estávamos muito empolgados, então só queríamos ficar na estrada, não curtíamos tanto os lugares e já partíamos para outro. Hoje, depois desses 3 meses, aquietamos e geralmente ficamos de 7 a 15 dias em cada local.
Depois curtimos o Espírito Santo e foi incrível cada cantinho que a gente passou por lá. Já temos algumas rotas que, com toda a certeza, vamos visitar novamente, mas com mais calma, para poder curtir tudo.
A Pedra Azul foi uma aventura surreal que fizemos. A gente sempre foi sedentário, aquele tipo de pessoa que sabe que precisa se exercitar mas prefere comer McDonald’s vendo série na Netflix. Daí tivemos que fazer um percurso de 10 km andando. Para nossa surpresa –quase gerou um mini infarto–, a trilha tinha uma escalada na pedra de 100 m. Eu sei que 100 m é pouco, mas vai por mim: para quem não está acostumado a subir puxando uma corda e olhando para trás e vendo o precipício, realmente vira uma baita escalada emocionante e bem puxada.
Um outro canto especial dentro do nosso coração é o riacho doce e a pousada do nosso querido amigo Celsão e a mulher dele, Mara, pessoas de amor e luz com quem fizemos uma amizade tão especial que a despedida foi muito triste. A ideia era passar 5 dias e acabamos ficando 17. Tivemos uma experiência incrível ao cuidar 3 dias do restaurante e da pousada. Ele deixou na nossa mão e foi resolver algumas questões na cidade.
Nós aprendemos ali que temos jeito para ter um negócio desse tipo e que cada pessoa que conhecemos ficará guardada em nossos corações para sempre. Aquele lugar é um paraíso escondido depois de Itaúna.
Por agora estamos descobrindo a encantadora Bahia. Já passamos por Prado e conhecemos dois casais incríveis que viajam de motorhome. Construímos uma amizade muito legal e nos falamos quase todos os dias, cada um em seu percurso pela estrada, mas sempre se comunicando e passando dicas pelo caminho. Agora estamos com outras duas Kombis continuando pela Bahia e esperamos ter muitas histórias para contar desse lugar encantador.
Eu confesso que uma das coisas que estamos mais gostando nessa viagem é conhecer pessoas. Independentemente se são viajantes ou não, todos nos trataram muito bem e nos acolheram com todo o coração.
O que posso dizer disso tudo é que se você, independentemente da idade ou do financeiro, tiver um sonho como esse, não tenha medo de se arriscar. Vá atrás com o que você tem, seja Kombi, bicicleta, carro ou até andando. Só não deixe de viver esse sonho e acabar perdendo a oportunidade de viver momentos incríveis e conhecer pessoas fascinantes pelo caminho.
Não me aprofundei muito em falar de nós e sim de como é a sensação de estar vivendo tudo isso. Eu acho que a grande verdade é que tudo que vivemos antes em nossas vidas era só o padrão e que agora sim nós podemos realmente começar a escrever nossa história.
E os sonhos não acabam por aí. Queremos muito continuar essa jornada para fora do Brasil e conhecer esse mundão incrível e escrever mais capítulos da nossa história.
Quem sabe um dia a gente abre um camping para receber vários viajantes como nós e contar para todos um pouco da nossa história? Até lá, vamos viver esses momentos e curtir cada cantinho por onde a gente passar.
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Aviso aos passageiros 1: O casal Alessandra e Leo estão rodando a América Latina de carro e pretendem conhecer todos os continentes assim. Eles estão lançando um livro que conta como foi o início dessa jornada, o “Estrada para a felicidade”
Aviso aos passageiros 2: Os jornalistas João Paulo Mileski e Carina Furlanetto viajaram pelo Brasil e por países aqui da América do Sul a bordo de um carro 1.0. Eles, inclusive, lançaram recentemente um livro sobre a empreitada, o “Crônicas na bagagem: 421 dias na estrada – uma jornada de desprendimento pela América do Sul”