Após AVC, idoso cadeirante chega ao topo da serra da Corcova, em Roraima

Evandro Almada, o tio Evandro, tinha um sonho antigo de subir ao topo da serra da Corcova, de 1.040 m, em Roraima. Ele, no entanto, sofreu um AVC em 2002 e ficou com certas sequelas, como algumas funções motoras comprometidas.

Um grupo de voluntários, sabendo do desejo do tio Evandro, se uniu e ajudou o homem de 72 anos a realizar seu sonho, no fim de maio.

Quem conta a história é Márcia Rebeca, uma trilheira com 4 anos de experiência no Norte.

Em tempos de coronavírus nossas viagens ficaram mais restritas. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Um quintal com muita natureza, cachoeiras e serras. É nesse lugar que o sr. Evandro Almada, o tio Evandro, construiu seu sítio, há 28 anos.

Esse é o local de acesso à serra da Corcova, uma formação de 1.040 metros de altitude, no município de Iracema (RR). As expedições para o topo acontecem com certa frequência entre montanhistas, mas a última foi diferente.

Cada grupo de montanhista que chegava ao sítio ficava sabendo do sonho do tio Evandro: subir a serra. Ele queria viver a experiência, mas ela não seria fácil. Se preparou para a expedição mas, em 2002, um AVC hemorrágico mudou seus planos. Ao invés da expedição, ele precisou passar por cirurgia e ficar hospitalizado. Teve algumas funções motoras comprometidas.

Com a evolução do tratamento, voltou a ficar de pé e caminhar com a dificuldade de quem ficou com as sequelas do acidente. O desejo continuava ali, só esperando o momento de ser realizado.

Foi aí que o grupo Radical é ser do Bem entrou em ação. São voluntários que amam a combinação natureza, esporte e aventura, mas que sentem que mais pessoas precisam viver essa experiência. Pessoas como o tio Evandro que, por sua dificuldade de locomoção, acreditava ser impossível realizar um sonho.

Com o apoio do grupo Montanha para Todos, que em 2020 enviou a Julietti, uma cadeira construída e adaptada para essas atividades, um grupo de 34 voluntários, de Manaus e Boa Vista, se uniu na missão de realizar o sonho do tio Evandro.

Foram 4 dias de expedição para que o grupo seguisse em segurança por dentro da floresta. A cada etapa vencida, o brilho no olhar do tio Evandro contagiava a todos.

Os desafios de realizar uma expedição na floresta amazônica (umidade, chuva, fauna, solo) foram muitos, e superados com a alegria do tio Evandro, a garra e a união dos voluntários que se revezavam na cadeira, a descontração na hora das refeições e na montagem do acampamento.

Entre os voluntários, havia pessoas que faziam trilhas pela primeira vez e socorristas experientes em selva e montanha. Foi uma verdadeira integração na busca por tornar o montanhismo uma prática inclusiva.

“Primeiro quero agradecer a Deus e depois a cada um de vocês. Dinheiro nenhum paga a doação de vocês para que eu realizasse meu sonho”, disse ele, em meio a lágrimas, ao lado de um dos filhos e da esposa, ao final da expedição.

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Aviso aos passageiros 1: A aventureira Beatriz Pianalto de Azevedo é praticamente uma sócia do Check-in, pois já contou inúmeras peripécias por aqui. Entre elas, a vez em que desbravou o Auyantepui, na Venezuela, e o Pico da Neblina, o ponto mais alto do Brasil

Aviso aos passageiros 2: O alpinista e escritor Thomaz Brandolin contou como foi escalar o Monte McKinley ou Denali, o ponto mais alto da América do Norte