Check-in https://checkin.blogfolha.uol.com.br Relatos de turistas, dicas e serviços de viagem Wed, 01 Dec 2021 12:49:26 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 São Tomé e Príncipe mescla natureza e história familiar aos brasileiros, diz leitor https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/10/20/sao-tome-e-principe-mescla-natureza-e-historia-familiar-aos-brasileiros-diz-leitor/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/10/20/sao-tome-e-principe-mescla-natureza-e-historia-familiar-aos-brasileiros-diz-leitor/#respond Tue, 20 Oct 2020 18:58:22 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2020/10/16031593985f8e456659554_1603159398_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=519 Quando se trata de turismo, brasileiros preferem viajar para Europa, América do Norte e Ásia. Ainda são poucos os que optam pela África, ainda mais para destinos poucos conhecidos, como Togo, Lesoto e São Tomé e Príncipe.

É sobre esse último país que o leitor Matheus Perie (@rjmatheus) escreve ao Check-in. Ele viajou ao arquipélago africano em 2019, ao lado da esposa, Nathália Barbosa (@nathaliacbarbosa).

Eles viajaram por conta própria e ficaram 12 dias conhecendo as duas principais ilhas do país. De colonização portuguesa, o arquipélago tem arquitetura bastante familiar a nós, brasileiros.

Em tempos de coronavírus nossas viagens ficaram mais restritas. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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O destino era bem longe do cenário comum da África subsaariana de savanas e animais selvagens. Uma ex-colônia portuguesa que está entre os países menos visitados do mundo: São Tomé e Príncipe. As duas ilhas situam-se na Latitude 0, o que garante boa temperatura o ano todo, chuvas frequentes e vegetação exuberante.

O aeroporto internacional fica próximo à capital, São Tomé, e recebe poucos voos. Para os brasileiros, o caminho mais lógico é via Angola, por onde fomos, ou Portugal. Com um dia inteiro de escala em Luanda, vale providenciar o visto para conhecer a capital angolana, como fizemos.

E, falando em visto, você precisa de um para entrar em São Tomé e Príncipe. O certificado internacional de vacinação da febre amarela é obrigatório e recomendamos a profilaxia para malária.

Planejar essa viagem exigiu boa dose de pesquisa, já que muitas informações na internet estão desatualizadas. Vários hotéis têm reserva online e o contato com eles é uma boa saída para obter referências atualizadas. O lado bom é que as ilhas são pequenas e em pouco tempo é possível percorrê-las. Em 12 dias conseguimos ver com calma os principais pontos.

Um pouco de história

A colonização portuguesa em São Tomé e Príncipe começou cedo e foi uma das últimas a terminar. Iniciou na metade do século 15 e foi até 1975, ano da independência. As ilhas eram desabitadas na ocasião do descobrimento.

Se no início os esforços eram voltados para o cultivo de cana de açúcar com a mão de obra trazida da África Continental –ciclo que entrou em declínio no século 17–, a partir do século 19 o país atraiu de novo a atenção de Portugal. Dessa vez, foi a produção do cacau que trouxe de volta a importância da colônia.

Edifício principal da Roça Bela Vista, em São Tomé e Príncipe (Arquivo pessoal)

Aliás, é impossível falar dessa segunda etapa sem mencionar as roças, propriedades voltadas para o cultivo, sobretudo do cacau, dominando quase todo o território e hoje testemunhas de como foi o período colonial. As maiores possuíam ferrovia, hospital, oficinas e alojamentos, chegando a ter 2.500 trabalhadores.

Com a independência, as roças foram estatizadas –muitas permanecem assim até hoje– e os descendentes dos trabalhadores do período colonial ainda residem por lá. Infelizmente, a maioria vem se deteriorando com o tempo e uma parte da história está se perdendo. O ainda incipiente setor turístico é responsável pela preservação de algumas delas, que são transformadas em hotéis. Conhecer as roças era um dos objetivos dessa jornada.

São Tomé

É o ponto de chegada dos turistas e, a partir do pequeno aeroporto da capital, em poucos minutos chega-se à região central. Em São Tomé, em um passeio a pé vê-se o Palácio de Governo, a Catedral e o antigo Forte São Sebastião, que hoje abriga o Museu Nacional. Há também a fábrica de chocolates de Claudio Corallo, italiano radicado no país e grande conhecedor do cultivo do cacau.

Além dos pontos turísticos, o ideal é andar sem pressa pelos quarteirões centrais, olhando cada detalhe da arquitetura portuguesa (é verdade, os prédios não estão em sua melhor forma de conservação) e percorrer a Avenida 12 de Julho, que fica à beira-mar. A capital nos dá um certo déjà vu do centro histórico de algumas cidades brasileiras.

Apesar da simpática capital, a fama da ilha se deve ao seu interior, especificamente por suas roças. Alugamos um carro durante nossa estadia e em parte do trajeto contratamos um guia, assim conseguimos conhecer mais a fundo a história local.

Apesar de recomendarmos aos próximos visitantes, tanto o carro quanto o guia não são itens obrigatórios, já que no centro você encontra transporte para qualquer lugar e o idioma não é um obstáculo. Como em quase todo país africano, não vimos linhas de ônibus e sim táxis compartilhados onde você combina o preço com antecedência.

Dividimos o roteiro em quatro etapas: centro, norte, sul e extremo sul, planejando nossos dias dessa forma para poder aproveitar melhor. Dedicamos um dia para cada trecho (e foram suficientes).

No centro da ilha, visitamos Trindade (a segunda maior cidade), o jardim botânico, onde diversas espécies trazidas do Brasil despertam a curiosidade dos poucos turistas, a cascata São Nicolau e a Roça Monte Café.

Essa foi nossa primeira roça e uma das mais preservadas, com visita guiada organizada pela comunidade local. Apesar do nome, a roça também produzia cacau e parte dos instrumentos utilizados no processo ainda está preservada. Nesse dia, almoçamos na Casa Almada Negreiros, que traz um menu degustação preparado com ingredientes da ilha. Ali fomos apresentados à fruta-pão, acompanhamento comum nas refeições locais.

Matheus e Nathália, no Padrão dos Descobrimentos, em São Tomé e Príncipe (Arquivo pessoal)

Rumo ao norte, ainda próximos à capital, visitamos duas roças: Bela Vista e Rio do Ouro (rebatizada de Agostinho Neto). Nessas duas não existe passeio guiado e a visita se restringe a apreciar a imponente arquitetura. A Roça Agostinho Neto foi uma das principais da ilha no período colonial. Seguindo adiante, fomos presenteados com a beleza das praias Lagoa Azul e dos Tamarindos. Encerrando o dia, conhecemos o Padrão dos Descobrimentos, que marca a chegada dos portugueses à ilha.

Ao extremo sul, é possível avistar (quando o tempo ajuda) o Pico Cão Grande, um dos símbolos da ilha (e seu ponto mais alto). Há também um belo monumento que marca a linha do Equador, sendo possível chegar lá de barco. Fora isso, o “fim” da ilha revelou três lindas praias: Jalé, Piscina e Inhame. Um pouco menos ao sul, é possível visitar a bonita praia Micondó, a Boca do Inferno, que tem uma vista deslumbrante do mar (porém perigosa para banho) e outra importante roça do período colonial: Água Izé. Destaque para o belíssimo (e agora decrépito) hospital.

É possível explorar toda a ilha a partir da capital, porém, como nosso interesse eram as roças, fizemos questão de pernoitar em duas delas, localizadas na parte sul. Primeiro, ficamos na Roça São João dos Angolares, que foi toda restaurada e oferece hospedagem em uma roça tradicional e um ótimo restaurante, comandado pelo chef João Carlos Silva, muito conhecido na ilha –o menu degustação é imperdível! Passamos também uma noite na Roça Santo Antonio Ecolodge –opção para quem quer mais conforto.

O sul da ilha é completamente diferente do norte, desde a cor do mar à vegetação e ao clima. Difícil de entender a mudança em uma área tão pequena. Isso só reforça a necessidade de explorá-la por completo. Mas chegava a hora de conhecer a próxima ilha.

Príncipe

Nosso voo sairia logo cedo, mas, devido às condições meteorológicas, depois de um dia inteiro de sucessivos atrasos nos levaram a um hotel com a promessa de sair no dia seguinte. Chegamos cedo ao aeroporto e conseguimos voar. Foram 35 minutos em um turboélice com emoção.

A ilha do Príncipe tem uma vegetação bem densa, lembrando a parte sul de São Tomé. Na primeira noite, ficamos hospedados na Roça Sundy. Ela foi parcialmente restaurada e transformada em hotel e não fica no litoral, mas conta com transfer para alguns pontos da ilha. A Sundy é famosa por ter sido o local onde a teoria da relatividade de Einstein foi comprovada em 1919 e mantém um marco preservando essa história.

Aproveitamos o primeiro dia para conhecer melhor a capital, Santo Antonio. Ela também conta com a tradicional arquitetura portuguesa, é bem tranquila e fácil de percorrer. Novamente, sentimos muita familiaridade com o Brasil.

No dia seguinte, nos transferimos para outra roça. A Roça Belo Monte é uma verdadeira joia: totalmente restaurada e com sua arquitetura original preservada. Outro ponto alto da hospedagem é a Praia Banana, reconhecida como uma das mais bonitas da ilha e quase privativa. A roça fica em um ponto mais elevado e no caminho até a praia há um mirante com uma vista de perder o fôlego. Esse trajeto pode ser feito a pé ou em veículos do hotel. Os últimos dias foram de descanso em um autêntico paraíso tropical!

São Tomé e Príncipe acabou se revelando um destino extremamente fácil para viajar e consegue mesclar natureza com uma história bem familiar para nós brasileiros. É um daqueles destinos que ainda guarda certa autenticidade e que não foi deturpado pelo turismo de massa. Que permaneça assim por muito tempo.

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Aviso aos passageiros 1: Para quem pretende viajar a São Tomé e Príncipe, o casal recomenda fortemente o guia “Sao Tome & Principe”, da Kathleen Becker, publicado pela Bradt Travel Guide

Aviso aos passageiros 2: A leitora Beatriz Pianalto de Azevedo visitou Guiné-Bissau e contou ao blog como foi sua viagem por esse país do oeste africano

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Brasileira visita Guiné-Bissau e se encanta pelos detalhes do país africano https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/08/25/brasileira-visita-guine-bissau-e-se-encanta-pelos-detalhes-do-pais-africano/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/08/25/brasileira-visita-guine-bissau-e-se-encanta-pelos-detalhes-do-pais-africano/#respond Tue, 25 Aug 2020 18:15:06 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2020/08/15983197155f446c633b347_1598319715_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=479 A leitora Beatriz Pianalto de Azevedo já deu as caras aqui no blog, quando contou como foi conhecer o Butão, país asiático onde fez trekking e conheceu a fundo a cultura local.

Agora, ela nos conta sobre sua experiência em Guiné-Bissau, no oeste africano, para onde viajou a fim de se encontrar com seu filho.

Ela passeou tanto pela capital, Bissau, quanto por algumas ilhas, e nos brinda com um texto cheio de detalhes. Mais um pouco é possível sentir o gosto e o cheiro das frutas ou ouvir as vendedoras gritando pelas ruas.

Em tempos de coronavírus não podemos viajar, e muitas vezes nem sair de casa. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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O que não se faz por um filho, não é mesmo? Digo isso porque nunca em meus planos ou sonhos cogitara visitar a África, em especial Guiné-Bissau. Pra lá vou, contudo, matar as saudades do guri que está residindo no país.

O meu foco até então sempre fora as altas montanhas situadas nos Andes e Himalaia, suficientes pra me proporcionarem toda a dose de aventura esportiva desejada.

Só quando terminei a viagem, já no Brasil, foi que senti às ganhas a importância de ter conhecido aquela pequena região do continente africano. Porque dessa feita a aventura foi totalmente emocional!

Como inexiste voo direto do Brasil a Bissau, capital da Guiné-Bissau, escolho conexão em Lisboa, embora seja possível também via Marrocos ou Cabo Verde. Situada na costa ocidental da África e banhada pelo oceano Atlântico, o país exibe relevo predominantemente plano, com savanas no interior e planícies pantanosas ao longo da costa.

Seu litoral é constituído por um cordão de ilhas que forma o arquipélago dos Bijagós. Pouco maior que o Alagoas, a população não ultrapassa 1 milhão e 800 mil pessoas e 2/3 dos guineenses vivem abaixo da linha de pobreza.

O clima tropical, quente e úmido, apresenta duas estações: a da chuva (junho a novembro) e a da seca (dezembro a abril). Guiné-Bissau, como entidade soberana, é ainda um bebê: apenas em 1973 logrou declarar sua independência de Portugal!

A população divide-se em 20 etnias, destacando-se os fulas, mandingas, mandjacos, balantas e bijagós. O estilo musical predominante chama-se gumbé.

As crenças tradicionais africanas convivem bem com o islamismo professado por metade da população. A economia depende especialmente da piscicultura e da agricultura, destacando-se como principais produtos de exportação castanha de caju, amendoim e peixes.

A capital

As ruas de Bissau são em sua maioria de chão batido, poucas com calçamento, e algumas sombreadas por frondosas mangueiras. Embora localizada no estuário do rio Geba, é impraticável banhar-se em suas águas pois é zona de mangue… uma pena!

Não canso de admirar a coloração de pele dos guineenses: tal qual pérola negra (licença, viu, Luiz Melodia?), brilha sedosa sem mescla alguma. Movimentada, a zona central da capital, chamada praça, é ocupada por dezenas de vendedoras de produtos alimentícios envoltas em trajes coloridos que, sentadas às calçadas, apregoam em voz alta suas mercadorias: mariscos, polvos, lulas, camarões, lagostins, peixes, carne de gado, galinhas vivas, fatias de coco, bananas, laranjas já descascadas, mamões, abacaxis em rodelas, ovos cozidos, castanhas de caju, amendoim.

Homens escarrapachados em cadeiras trocam euro por franco CFA, moeda local, por um preço ligeiramente melhor do que os estabelecimentos bancários. Mulheres passam por mim carregando comidas típicas em bacias de plástico aninhadas sobre as cabeças.

Como vim a descobrir mais tarde, foram elas que, utilizando este astucioso expediente, conseguiram repassar armamento e munição aos soldados guineenses na luta pela independência contra os portugueses no século passado.

Dos pratos típicos provo, além do peixe grelhado, servido inteiro, caldo de mancara com citi (galinha com creme de amendoim), futi (quiabo, arroz, farinha de peixe seco, pimenta em conserva e azeite de dendê) e caldo de chebem (caldo feito com a fruta do dendezeiro) com peixe.

Das frutas mais marcantes destaco não só o sabor acidulado do suco feito do fole quanto a suavidade dos sucos do veludo e da cabaceira. De bebida alcoólica, tem-se o vinho de palma, extraído da seiva de algumas espécies de palmeiras.

Ilhas

Além de Bissau, conheço das 88 ilhas que formam o arquipélago de Bijagós as encantadoras ilhas de Bubaque e Rubane. Devido à sua biodiversidade, desde 1996 Bijagós foi declarada pela Unesco Reserva Ecológica da Biosfera, existindo dois parques nacionais: o de Orango e o Marinho de João Vieira e Poilão.

Pousadas apenas em Bubaque, Rubane, João Vieira, Orango e Kere. Há quatro meios de transportes para se ir às ilhas: ferryboat, piroga, avião e lancha. Escolho o ferryboat que, além de comportar nos dois deques pessoas e bagagens, transporta ainda cachorros, galinhas, porcos e carneiros!! Uma farra!

Um pequeno bar vende bebidas e lanches. Há passageiros, contudo, que levam viandas, geralmente peixe com arroz que comem durante a viagem.

Normalmente, os 73 km de Bissau a Bubaque são feitos em 4 horas e ao longo da travessia, na vastidão do Atlântico, enxergo duas ilhas. No porto, a azáfama é muita, gente esperando parentes e amigos, enquanto mulheres vendem frutos do dendezeiro, peixes, mariscos, mexilhões e outros frutos do mar.

Embora haja pousadas em Bubaque melhores que a pousada Cruz Pontes, escolhi essa porque o preço era mais acessível ao meu bolso.

O ar refresca um pouco à noite, já durante o dia é deliciosamente quente. Vou a Bruce, praia localizada na ponta sul da ilha de Bubaque, de bicicleta, possível de ser alugada perto da praça.

São 15 km de estrada plana, chão batido, cercada por densa vegetação. Ao longo do caminho, em ambos os lados da estrada, despontam aldeias, chamadas tabancas, cujas moradias arredondadas feitas de adobe são cobertas com palha.

Crianças saem correndo das casas gritando “branco, branco” quando nos vêem passar. São encantadoras e não se negam em ser fotografadas, ao contrário de suas mães, que fazem gestos negativos quando percebem que estou apontando a câmera em suas direções.

Dentre as pousadas construídas a 50 metros do mar, escolho almoçar na de Mana Fatu, comendo uma suculenta garoupa com batatas fritas.

No terreiro da propriedade, desenvolvem-se os preparativos de uma festa. Enormes tachos contendo arroz com carne, dobradinha e chep jhed (molho feito com pedaços de cebola, pimenta, cenoura e pimentão) cozinham sobre fogueiras ao ar livre.

Vez por outra mulheres com compridas varas de madeira remexem o interior dos panelões donde saem fumarolas e bons odores. Pena que não posso ficar porque tenho de entregar a bicicletas às 19 horas.

Aproveitando que a ilha de Rubane é pertíssimo de Bubaque, vou de lancha almoçar no restaurante do sofisticado resort Ponta Anchaca. Um espetáculo o bailado das gaivotas voando sobre a água esverdeada do canal que separa as duas ilhas.

Ao entardecer, dois espetáculos: a oeste, o pôr do sol torna o céu deliciosamente incandescente, ao passo que, a leste, a lua cheia brilha no céu azul. À noite, assisto ao show de kundere, estilo musical típico dos bijagós. O ritmo e a dança são frenéticos, exigindo extraordinário vigor e preparo físico.

Costurados às vestimentas das dançarinas objetos de metal e vidro além de pulseiras de madeira atadas aos tornozelos complementam a percussão. Emocionante reconhecer a origem do samba no batuque dos tambores e nos passos de dança!

Confesso que o primeiro impacto, quando aqui estive pela primeira vez, em 2018, foi negativo, considerando que Bissau não é nem bonita tampouco limpa, embora suas ilhas sejam deslumbrantes.

Contudo, ao libertar do convencionalismo meu olhar limitado por padrões ocidentais de beleza, passei a ver Bissau com outros olhos e compreender que o belo está no detalhe do alfaiate pedalando sua máquina de costura instalada sob uma marquise da avenida Amilcar Cabral.

O belo está, principalmente, no povo tão gentil, alegre e curioso, ainda mais quando percebe que você é brasileiro. Delicioso escutar, quando passo pelas esquinas, a cantilena das vendedoras de frutas, entoando “banana, banana”, sentadas nas calçadas sob o sol inclemente.

O belo é o engenhoso pedinchar do moleque ao dizer “ofereça-me 500 francos, tenho fome”. O belo é também ouvir os guineenses falando vários idiomas conforme a etnia a que pertencem. E são tantas!

Tão bom passear por Bissau Velha e ver nos decadentes prédios o fim duma era que, felizmente, acabou: a do jugo português. O belo, graças a deus, é saber que nós, brasileiros, temos no povo africano uma das matrizes de nossa cultura!

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Aviso aos passageiros 1: A enfermeira infectologista Rebecca Alethéia compartilhou aqui sua reflexão sobre as mulheres negras viajantes e sua (r)existência no mundo

Aviso aos passageiros 2: O leitor Marcelo Lemos já esteve na África algumas vezes e contou ao blog algumas de suas experiências, como subir montanhas em Ugandachegar ao topo do Kilimanjaro, na Tanzânia

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Despretensioso, road movie ‘4L’ mostra viagem pelo Saara https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/06/17/despretensioso-road-movie-4l-mostra-viagem-pelo-saara/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/06/17/despretensioso-road-movie-4l-mostra-viagem-pelo-saara/#respond Wed, 17 Jun 2020 20:00:16 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2020/06/yyy.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=400 Em tempos de quarentena e de fronteiras fechadas, o alívio na vontade de viajar fica por relembrar jornadas antigas ou assistir a filmes e séries sobre o tema. Por essas e outras, o longa espanhol “4L” (ou “4 Latas”, no original), da Netflix, é uma opção despretensiosa.

Na trama, dois sessentões —Jean Pierre e Tocho— querem recriar uma viagem que fizeram décadas atrás, na companhia de um terceiro amigo —Joseba—, quando foram de carro da Espanha até Mali. Agora, eles cairão na estrada com Ely, filha de Joseba.

O trio principal é composto por Jean Reno, o eterno Leon de “O Profissional”, Hovik Keuchkerian, o Bogotá da série “La Casa de Papel”, e Susana Abaitua.

Já no início, o filme mostra a vida escura e sem graça de Tocho, que trabalha à noite num cubículo. Após receber uma carta, ele abandona seus afazeres (inclusive a roupa do serviço vai parar no lixo) e sai em busca do amigo Jean Pierre, com quem não fala há tempos.

O francês, ao contrário do espanhol, está bem de vida, trabalhando na produção de vinho. Juntos, vão atrás do carro com que fizeram a viagem original. Agora, o modelo 4 Latas está com a jovem Ely, que resolve se unir aos dois na expedição pela África.

Cena do filme “4L”, que acompanha três viajantes atravessando o Saara (Divulgação)

Os cenários são deslumbrantes —afinal de contas, é o Saara—, e o diretor e roteirista Gerardo Olivares usa e abusa de filmagens de drones para mostrar a vastidão do deserto.

O espectador pode relembrar perrengues típicos a quem viaja com mochilão ou mala de rodinhas, como ir a lugares sem saber falar o idioma local, cair em golpes e fazer cálculos errados (comida, dias em cada lugar, gasolina).

Dependendo de quem assiste, é possível rememorar ainda outras situações, como ter a companhia de alguém (ou ser a própria pessoa) que bebe do início ao fim da jornada ou encontrar um indivíduo vendendo ou consumindo produtos ilegais.

Em ao menos dois momentos o roteiro se mostra preguiçoso: os personagens enfrentam problemas aparentemente impossíveis de se resolver, mas a solução surge milagrosamente. Logo, em vez de deixar ensinamentos a quem cai na estrada, o filme apela para saídas fáceis.

De qualquer forma, o road movie de 2019 vale ser assistido por viajantes em crise de abstinência.

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Em tempos de coronavírus não podemos viajar, e muitas vezes nem sair de casa. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Aviso aos passageiros 1: Se você se interessa também por livro ou podcast, dei aqui duas sugestões que envolvem viagens

Aviso aos passageiros 2: Ao blog, leitores já compartilharam relatos de viagens dirigindo por aí, como Alessandra e Leo, casal que rodou a América do Sul em um carro 1.0, e Lucas e Eve, que deram detalhes sobre a jornada pela Europa num motorhome

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Mulheres negras viajantes existem e resistem pelas estradas, diz enfermeira https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/03/04/mulheres-negras-viajantes-existem-e-resistem-pelas-estradas-diz-enfermeira/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/03/04/mulheres-negras-viajantes-existem-e-resistem-pelas-estradas-diz-enfermeira/#respond Wed, 04 Mar 2020 14:44:49 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/15832930795e5f2297aa81d_1583293079_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=302 É muito comum ver gente viajando por aí, de mochila ou de mala de rodinhas. Mas o incomum é encontrar pessoas negras desbravando o mundo.

Por essas e outras que trago, com alegria, o relato da enfermeira infectologista Rebecca Alethéia, que está vivendo há mais de 1 ano na África. Nesse período, ela trabalhou em ONGs, como a Médicos sem Fronteira, e em hostels.

Abaixo, enquanto espera o trem chegar, em uma estação em Moçambique, ela faz uma reflexão sobre as mulheres negras viajantes e sua (r)existência no mundo.

Você tem alguma história interessante envolvendo viagem e quer compartilhar? Mande seu relato para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Quem vos escreve é Rebecca Alethéia, uma mulher negra viajante e cidadã do mundo que neste momento encontra-se na estação ferroviária de Caia, província de Sofala, em Moçambique.

Meu último voluntariado na África foi na cidade de Quelimane, e meu objetivo agora é chegar ao Maláui, depois de muitas outras paradas, segura e em paz. Para pensar em mulheres negras viajantes como forma de (r)existência, é praticamente impossível não retratar este cenário do qual estou vivenciando: a ferroviária.

Talvez você não saiba que boa parte de Moçambique é ligada por caminhos de ferro que são seguros, confortáveis e funcionam muito bem. Decidi encarar essa viagem para realmente ter a experiência autêntica de andar de comboio, que é como eles chamam a viagem de trem por aqui.

Uma curiosidade é que existem muitos trens funcionais por países na África, assim como já falei em um vídeo no YouTube: De trem na África do Sul.

(R)existir no mundo é uma atitude milenar que tentarei contextualizar melhor sobre. Neste momento são quase 3 horas da manhã e adivinha? O trem que iria passar às 22h atrasou e, agora, a previsão de chegada é às 5h.

A quantidade de mulheres me impressiona, de todas as idades e religiões. Solteiras, casadas, divorciadas e as viajantes com filhos.

Engana-se quem pensa que mulheres negras não viajam ou que apenas viajam as que têm dinheiro. Seguiremos viagem juntas por mais de 10 h para a cidade de Tete, em Moçambique. Esse é o meio mais barato e seguro até lá.

As mulheres africanas trazem consigo particularidades, andam sozinhas, porém sempre juntas. Elas podem até vir só, mas irão se juntar a outras no intuito de serem mais fortes, de terem apoio, de uma proteger a outra.

Aqui estão muitas mães com os seus filhos, e a madrugada é sempre a hora da mamada das crianças. Não me impressiona ver muitas delas despertando com leveza para alimentar os seus filhos, com uma naturalidade onde não há espaço para choro nem gritos.

O único som que ecoa é do bar próximo à estação de trem, que não abala a dormida coletiva na ferroviária.

Dormir no chão é um hábito africano, o sono vem e deitar no chão não tem sido problema. As mulheres, pra lá de prevenidas, colocam a sua capulana –tecido usado por moçambicanas em volta do corpo ou da cabeça– no chão e se enrolam com outra capulana para barrar a brisa da madrugada e se proteger dos insetos.

Trazem consigo suas malas, cestas, trouxas e todos os itens necessários para a viagem. Sinto-me em um cenário de filme de Hollywood ao ver na madrugada casais de jovens namorados caminhando pelos trilhos. Flertam e esperam o trem. Ela vai partir, ele irá ficar.

Existem 3 classes neste trem: 1ª, 2ª e 3ª. Infelizmente, as pessoas só têm condições de comprar a última classe, mas te digo que a primeira já está cheia. O trem é o meio mais barato de locomoção, e para essas mulheres, o que importa é chegar.

No mês em que fazemos comemorações alusivas ao Dia Internacional da Mulher, relato histórias reais de mulheres negras viajantes. Que talvez não sejam instagramáveis ou ganhadoras de milhões de likes, mas estão a se mover, percorrer e pertencer.

Não é de hoje, é de outro século. Mulheres negras viajantes existem e resistem diariamente pelas estradas, rodoviárias, ferrovias e aviões.

Nossas vidas são diferentes e precisam ser tratadas com diferenças, especificidades e cuidados. Por reconhecer que a trajetória de uma mulher negra é única e traz consigo muita ancestralidade, países do continente africano nomearam datas específicas para as mulheres negras, que vão além do dia 8 de março.

Conheça agora um pouco da história das mulheres negras viajantes e nossa (r)existência no mundo:

30 de janeiro – Dia da Mulher Guineense

Essa data homenageia Titina Silá, que lutou ao lado de Amílcar Cabral pela independência da Guiné-Bissau. Ela foi morta em uma emboscada em 1973.

Em sua homenagem, e também a todas as outras mulheres negras que lutaram pela independência do país, o Dia Nacional da Mulher Guineense foi instituído em seu aniversário de morte.

2 de março – Dia da Mulher Angolana

Celebra-se o reconhecimento do papel das mulheres empenhadas na luta de resistência do povo angolano contra a ocupação colonial portuguesa.

7 de abril – Dia da Mulher Moçambicana

O aniversário de morte de Josina Machel, segunda esposa de Samora Machel, primeiro presidente de Moçambique, é comemorado no país. Josina juntou-se à luta armada de libertação ainda jovem e é considerada uma heroína em Moçambique.

25 de julho – Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha

Essa é uma data que existe para rememorar a luta de mulheres negras latino-americanas e caribenhas em prol de uma sociedade mais justa. Além de ser um dia para relembrar a história de Tereza Benguela, líder quilombola e símbolo da resistência contra escravização.

31 de julho – Dia da Mulher Africana

Este dia foi consagrado no ano de 1962 para a reflexão do papel da classe feminina da África na sociedade.

9 de agosto – Dia da Mulher Sul-Africana

O surgimento desta data aconteceu no ano de 1956, quando mais de 20 mil mulheres sul-africanas de todos os pontos do país marcharam em direção ao Union Buildings, Palácio Presidencial em Pretória e sede do governo.

Elas protestaram contra a extinção das leis que restringiam o movimento das mulheres.

Nesta ferroviária, vejo diversas histórias em um único cenário e percebo que aqui também escrevo a minha: uma mulher negra viajante que (r)existe. Vim trabalhar como voluntária em Moçambique, com uma mochila nas costas, vivenciando experiências de troca de trabalho em hostels, ONGs e casas de família que sempre foram muito afetuosas e cuidadosas comigo.

Agora preciso ir, o trem acaba de chegar. Embarque você também nessa viagem que é existir.

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Aviso aos passageiros 1: Cansado de ouvir perguntas absurdas, imigrante no Brasil criou uma camiseta com a estampa ‘África não é um país’

Aviso aos passageiros 2: Durante sua viagem de três meses pelos Bálcãs, o mochileiro Rafael Dallacqua usou a Worldpackers para arranjar um trabalho em um hostel em Sarajevo

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Viajante conta como foi subir montanhas em Uganda e ver o curso do rio Nilo https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/01/22/viajante-conta-como-foi-subir-montanhas-em-uganda-e-ver-o-curso-do-rio-nilo/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/01/22/viajante-conta-como-foi-subir-montanhas-em-uganda-e-ver-o-curso-do-rio-nilo/#respond Wed, 22 Jan 2020 13:48:47 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2020/01/15796402975e2765e9302ad_1579640297_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=261 A África é o sonho de consumo de muito viajante. Há vários países pouco conhecidos pelos brasileiros e muita coisa pra ver: cultura, gastronomia, vida animal, arquitetura…

O leitor Marcelo Lemos é um felizardo, porque já foi até a Tanzânia para escalar o monte Kilimanjaro, o ponto mais alto da África —ele inclusive já dividiu a experiência com a gente.

Agora, o brasileiro relata como foi a viagem por Uganda, em que subiu os 5.109 metros de altitude do Pico Margherita, ponto culminante do Rwenzori e terceiro mais alto da África.

Em sua viagem, ele e a esposa, Bruna, passaram até pelo local onde o rio Nilo deixa o lago Vitória e segue seu enorme curso pelo continente.

Você fez alguma viagem legal e acha que vale compartilhar o seu relato? Escreva para o blog Check-in pelo email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Uganda está localizada no coração da África. Verdade, verifique sua posição no mapa do continente! A fartura de água e consequente fertilidade de suas terras em área tropical lhe renderam o título de “pérola da África”, atestando sua riqueza no passado e que poderia permanecer no presente, não fosse a ditadura degradante imposta na década de 1970 pelo tirano Idi Amin.

O país abriga montanhas nevadas, vulcões inativos com cavernas impressionantes, vários lagos, é cortado pelas centenas de quilômetros iniciais do rio Nilo. Sua fauna ostenta pássaros multicoloridos, a rara cegonha-bico-de-sapato, os grandes mamíferos da savana, além de oferecer uma hospitalidade sem abordagem agressiva ao turista.

Todos estes qualificadores fizeram com que eu classificasse Uganda como um país em que é obrigatória a visita para os aventureiros e amantes de atividades outdoor. Na verdade, tudo “começou” a partir da continuidade de um projeto de ascensão às maiores montanhas na África.

A primeira parte deste projeto que deu origem ao meu livro “História de Savanas e Glaciares Africanos” (Ed. Literar – Petrópolis) está no meu relato sobre os montes Kilimanjaro e Meru, na Tanzânia. Em Uganda, percorri, na companhia de minha esposa Bruna, os montes Elgon e Rwenzori, além de realizar um safári no Parque Nacional das Cataratas Murchison em janeiro de 2015.

Como aclimatação para os 5.109 metros de altitude do Pico Margherita, ponto culminante do Rwenzori e terceiro mais alto da África, realizamos a ascensão ao monte Elgon. Com 4.321 metros de altitude, é apontado como o vulcão mais antigo da África. Aparentemente, já possuiu altitude maior que o Kilimanjaro, mas a atuação da erosão por milhões de anos fez com que muito material que constituía o vulcão fosse carreado para sua base, alargando-o e transformando-se em um dos vulcões com maior área ocupada por sua base no planeta.

Antes, porém, aproveitando a conexão que o passeio teria em vários momentos com o rio Nilo, no nosso deslocamento para o Elgon aproveitamos para visitar o “ponto zero” na cidade de Jinja. Assim é chamado o local onde o Nilo deixa o lago Vitória e inicia sua jornada de mais de 6.500 km até o mar Mediterrâneo.

O monte Elgon está na fronteira de Uganda com o Quênia, sendo que seu ponto culminante está no primeiro. Não adianta pedir ao guia para atravessar a fronteira. Não há um serviço de imigração no cume! O diferencial deste vulcão é possuir grandes cavernas, como a Tutum, situada no lado ugandense, e a Kitum, no lado queniano. Esta é o único local no continente que recebe elefantes em busca de sal que eles extraem de suas paredes.

Foram quatro dias para a travessia do vulcão, sendo dois para a subida pela rota Sasa. No primeiro, após muitos solavancos no carro da empresa contratada, saímos do vilarejo de Bumasola, próximo à cidade de Mbale. Iniciamos a caminhada por plantações de cebola, mandioca e matoke (uma fruta muito semelhante à banana, mas sua casca se mantém verde quando madura) e atingimos o primeiro acampamento a 3.500 metros de altitude.

No dia seguinte, partimos para o cume. Foi a celebração do meu aniversário de 41 anos no dia 13 de janeiro, enquanto contemplávamos a grandiosidade do vulcão. Sua cratera já está deformada, segundo o guia, pela ação do degelo de neve acumulada com o fim da última era glacial. O peso exercido pela água levou à ruptura de uma seção da cratera conhecida como Garganta Suam, que gerou o extravasamento das águas.

A descida foi feita pela rota Sipi e, após atravessarmos parte da cratera do vulcão, a longa descida nos conduziu à caverna Tutum, próxima do último acampamento. É a maior caverna do monte Elgon e possui uma cachoeira na entrada, cuja cortina d’água forma a porta de entrada.

Rwenzori

Com este choque de realidade que demos em nossos corpos, 77 km percorridos em quatro dias, retornamos para Kampala para um dia de descanso e seguirmos para o outro lado do país. Era hora de conhecermos o mundo místico do Rwenzori.

Já antes de Cristo, navegadores gregos reportaram seus encontros com habitantes do litoral de Azânia, como a África era então conhecida, e sobre lagos e montanhas nevadas no interior do continente. Isto levou Ptolomeu a especular sobre a nascente do rio Nilo sendo abastecida pelas neves destes lugares misteriosos, algo que seria comprovado em parte quase dois mil anos depois. De fato, o Rwenzori fornece a nascente mais alta de parte das águas que alimentam o Nilo. Mas até obter esta conclusão, a região foi alvo de inúmeras viagens exploratórias insanas de europeus ao longo do século 19.

Rwenzori é uma palavra que designa “o produtor de chuva”. É a região do planeta que rivaliza com a floresta amazônica —chove torrencialmente 300 dias por ano. A trégua ocorre em janeiro e fevereiro, razão pela qual escolhi o final de janeiro para a ascensão pela rota Kilembe. O início ocorre na vila de mesmo nome. Foram gastos oito dias, ida e volta, para os 73 km.

Não há outro local no planeta que eu possa comparar com o Rwenzori. É uma cadeia de montanhas com menos de 1.000 km2. Pequena, mas grandiosa na altitude e peculiaridade da fauna e flora. Você entra em outro mundo. Rios caudalosos exigindo travessias por pinguelas; minhocas com mais de meio metro de comprimento; você caminha em terreno que treme com os passos de pessoas cinco metros a sua frente; em outros pontos você é tragado por uma espécie de “lama movediça”; há momentos que as raízes expostas das árvores são o melhor ponto de apoio; você pisa em rochas de cristais, em musgos macios como se formassem um tapete, em neve dos glaciares… O Rwenzori é único!

Cada dia é diferente. Mas no terceiro dia é que de fato contemplamos a impressionante cadeia de montanhas nos envolvendo, como se estivéssemos no centro de um anfiteatro ao nos aproximarmos do lago Bugata.

No quarto dia finalmente avistamos nosso objetivo: o monte Stanley estava oculto por outros picos. Ele abriga os dois picos mais altos de toda a cadeia, o Margherita (5.109 metros) e o Alexandra (5.098 metros). Neste dia, a sensação de isolamento com o mundo foi total.

O sexto dia reservou a arrancada para o cume, em que caminhamos pelos dois maiores glaciares do monte Stanley para galgarmos o ponto culminante com o nascer do sol. Estávamos no ponto mais alto de Uganda e de onde partiam as águas mais remotas do rio Nilo. Quantos exploradores não gostariam de estar contemplando nossa visão e confirmando uma suposição milenar das nascentes do Nilo…

As Cataratas Murchison ficam no parque nacional de mesmo nome, em Uganda (Arquivo pessoal)

Finalizamos nosso passeio ainda contemplando as água do Nilo, mas de forma diferente. Navegando por elas, em busca da sua cachoeira mais poderosa em Uganda: as Cataratas Murchison, situadas no parque nacional de mesmo nome.

Realizamos um safári por dois dias nesta região. O período de seca não permitiu ver muitos felinos e os herbívoros lutavam por melhores pastagens. Após duas horas subindo o rio e avistando crocodilos, hipopótamos e elefantes, além de pássaros coloridos, vimos as cataratas. O efeito causado pelo estrangulamento do rio imposto pelo terreno leva as águas a um poderoso turbilhonamento como em um liquidificador natural.

Dicas: 

– Para os interessados, sugiro entrar em contato com o atencioso guia-proprietário da empresa que eu utilizei, a Cheetah Safaris Uganda (Robert Ntale – info@cheetahafricasafaris.com). Seus serviços são muito profissionais;

– O inglês é amplamente falado em virtude dos tempos do domínio inglês no século passado;

– Gorjetas para guias e carregadores são uma praxe ao fim dos passeios;

– Para o Rwenzori, o recomendável são os meses de janeiro ou fevereiro. Mesmo assim, é normal a ocorrência de chuvas. O Elgon pode ser percorrido em qualquer época do ano;

– O visto pode ser obtido na chegada.

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Aviso aos passageiros 1: O jornal New York Times divulga anualmente uma lista com 52 destinos que valem visitar. Em 2020, Uganda é citada porque a “capital dos primatas e o paraíso dos pássaros estão mais acessíveis”.

Aviso aos passageiros 2: Caso você esteja programando uma viagem para a África, na Namíbia é possível acampar em dunas, dormir com zebras e acordar ao som de hipopótamos, além de ver baobás gigantescos

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Mochileiro cearense conta como é viajar pela África e pelo Oriente Médio https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2019/09/25/mochileiro-cearense-conta-como-e-viajar-pela-africa-e-pelo-oriente-medio/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2019/09/25/mochileiro-cearense-conta-como-e-viajar-pela-africa-e-pelo-oriente-medio/#respond Wed, 25 Sep 2019 13:32:48 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/15693699045d8aaf30baec8_1569369904_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=120 Já apresentei aqui o Lucas e a Eve, um casal brasileiro que está rodando pela Europa em um motorhome, o Rogerinho. Agora é a vez de mostrar a história do Davi Montenegro.

O mochileiro cearense está há 1 ano e 3 meses em uma viagem ao redor do mundo. Ele começou o tour na Rússia, durante a Copa do Mundo de 2018, e passou 5 meses na Europa. Depois, ficou 1 mês no Oriente Médio e mais 8 na África. Agora, há pouco mais de 1 mês, Davi está desbravando a Ásia.

O cearense registra os locais por onde viaja, com impressões, perrengues e dicas, em sua conta no Instagram (@cabeca.pra.baixo). Inclusive, em muitas de suas fotos Davi está literalmente de cabeça pra baixo, plantando bananeira. A mania começou anos atrás, quando ele estava aprendendo a dançar break, o que o inspirou a fazer essa manobra nas imagens e virou tradição.

E você? Tem alguma história legal de viagem e quer compartilhar? Mande para o blog Check-in pelo email checkin.blogfolha@gmail.com

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Cheguei ao Oriente Médio em Tel Aviv (Israel). Uma cidade incrível, que une o antigo ao muito moderno, tudo isso no litoral do mar Mediterrâneo. Junto com dois amigos alugamos um carro e viajamos ao redor do país. O destaque ficou para a visita ao mar Morto, tão salgado que é impossível afundar! Você consegue boiar literalmente em qualquer posição. A sensação é muito esquisita.

Depois visitamos duas cidades na Palestina: Ramallah e Bethlehem. Dado que só ouvimos notícias trágicas sobre a região, eu estava com bastante medo. Chegando lá um pouco perdidos, fomos ajudados e muito bem recebidos pelo povo palestino. Pessoal muito feliz de que a gente os estava visitando, no fim do primeiro almoço nos deram de sobremesa até sorvete de graça. Ficamos num apartamento Airbnb muito bom e bem localizado e a experiência toda foi bem diferente do que eu esperava encontrar.

A última parada no Oriente Médio foi no sul da Jordânia, onde fui às Ruínas de Petra, uma das sete maravilhas do mundo moderno. É uma cidade histórica e arqueológica, com muito da sua arquitetura esculpido diretamente nas pedras, algo fantástico de se presenciar.

No fim de novembro peguei um navio da Jordânia que atravessou um trecho do mar Vermelho chegando na Península de Sinai, no Egito. Era minha primeira vez pisando em solo africano. A partir daí meu plano era atravessar o continente de norte a sul, tudo de transporte público, chegando à África do Sul provavelmente 5 a 6 meses depois.

Acabou que alguns destinos pelo caminho me encantaram tanto que eu fui ficando mais tempo do que o planejado, mas finalmente 8 meses depois cheguei na Cidade do Cabo, na África do Sul. No caminho entre o Egito até lá atravessei os seguintes países: Sudão, Etiópia, Quênia, Tanzânia, Maláui, Zâmbia e Namíbia.

Quando decidi fazer esse trajeto no continente, confesso que estava com um bom medo. Sabemos muito pouco sobre esses países, e as notícias que temos são na sua maioria negativas. Tive surpresas muito boas, vendo vários lados da África que nunca vemos!

No Sudão encontrei um país muito pobre, mas com um povo extremamente carismático. É provavelmente o local menos turístico de todos os que já visitei, então ver um estrangeiro para eles é uma surpresa e querem fazer de tudo para agradá-lo. Ganhei caronas e até sobremesas de graça!

Na Etiópia fui surpreendido com o nível de desenvolvimento da sua capital, Adis Abeba. Prédios sendo construídos por todos os lados na região central da cidade. Acabei sendo convidado por acaso na rua e indo parar no estádio de futebol para assistir a um jogo do Campeonato Etíope. O jogo em si foi meio fraco, mas a torcida deu um espetáculo cantando sem parar os 90 minutos.

No Quênia tive a oportunidade de fazer um safári, vendo de pertinho animais na savana, seu habitat natural. Alguns eram abundantes, e para todo lado você via zebras, girafas, búfalos, javalis, gazelas, antílopes. Já outros, mais raros, nosso grupo deu sorte de avistar: leões, um guepardo (cheeta) e um dos mais raros da região, um leopardo! Este estava de boa comendo uma gazela em cima da árvore, surreal.

Na Tanzânia visitei praias lindíssimas na ilha de Zanzibar, do nível de beleza do Caribe. Nunca associamos África com praia bonita, mas o litoral leste do continente está cheio delas! Mar azul clarinho, areia branca, água de coco e muita música africana, incluindo batucadas!

O Maláui é um dos mais pobres da África, mas com belezas naturais e um povo sorridente. A região das margens do lago Maláui (um dos maiores do continente) é muito linda, com montanhas de um lado e o lago gigantesco, que parece até o mar, do outro.

Na Zâmbia visitei as Victoria Falls (Cataratas de Vitória) que ficam na fronteira com o Zimbábue. É um paredão muito largo com quedas d’água, incrível. Quando fui, a água batia com tanta força lá embaixo que subia de volta em forma de névoa e chegou a formar dois arco-íris ao mesmo tempo!

Na Namíbia visitei a remota tribo local Himba, no meio de muitos quilômetros de deserto. Eles ainda vivem como se estivessem décadas atrás. Nunca tomam banho, bebem água de um poço e são semi-nômades, vivendo da cria animal e migrando dependendo da época do ano para onde tem alimentos para os animais.

Chegando finalmente à África do Sul, parecia que eu tinha mudado de planeta: um país extremamente desenvolvido. Viajei pela bonita costa sudoeste, conhecida como Garden Route. Ainda tive a sorte de ver a etapa sul-africana do mundial de surfe em Jeffrey’s Bay, torcendo para os nossos atletas brasileiros! Gabriel Medina foi o campeão da etapa.

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Aviso aos passageiros 1: Caso você esteja pensando em cair no mundo, ou mesmo ir de férias a um lugar e tem receio, inspire-se na história da aposentada Josefa Feitosa, uma cearense que está na estrada há 2 anos

Aviso aos passageiros 2: O leitor Marcelo Lemos contou a este blog como foi escalar o monte Kilimanjaro, o ponto mais alto da África

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Chegar ao topo do Kilimanjaro é luta contra a natureza e nosso interior, diz leitor https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2019/08/17/chegar-ao-topo-do-kilimanjaro-e-luta-contra-a-natureza-e-nosso-interior-diz-leitor/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2019/08/17/chegar-ao-topo-do-kilimanjaro-e-luta-contra-a-natureza-e-nosso-interior-diz-leitor/#respond Sat, 17 Aug 2019 13:33:01 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/0006-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=92 O monte Everest, no Nepal, dominou o noticiário recentemente com o ‘congestionamento’ de alpinistas, quando inúmeros montanhistas inexperientes queriam chegar ao ponto mais alto do planeta, a 8.844 metros.

Pouco se lê, porém, sobre o local mais alto da África, o monte Kilimanjaro. No norte da Tanzânia, “a montanha sem fim” (significado do nome) tem 5.895 metros.

O leitor Marcelo Lemos, autor do livro “História de Savanas e Glaciares Africanos”, nos conta em detalhes como conseguiu, em sua 2ª tentativa, chegar ao topo do Kili (carinhosamente chamado por montanhistas). Ele aproveitou a viagem ao lado da esposa, Bruna, para ir também a parques tanzanianos e ver animais típicos do continente.

Você também tem uma boa história de viagem para contar? Compartilhe com o blog Check-in pelo email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Meu interesse pela África surgiu na infância, ao admirar fotos e filmes em que as cenas da savana e a vida animal me faziam sonhar em vê-las pessoalmente. Em paralelo, o montanhismo exerceu um fascínio que trouxe amizades, perseverança e valorização do simples.

A combinação da geografia africana e montanhismo me levou ao majestoso Kilimanjaro, ponto culminante daquele continente, em 2000. Seus 5.895 metros de altitude representaram uma visão dramática em meio à vastidão plana da savana. Mas não consegui atingir seu cume devido a problemas de aclimatação.

Retornar passou a ser um grande desafio, e consegui reunir as condições uma década depois. Em fevereiro de 2011, com minha esposa, retornei à Tanzânia, país em que não só o Kili é suntuoso, mas também outros vulcões, lagos, fauna, sítios arqueológicos que formam uma paisagem digna de grandes aventuras, algo que me motivou a escrever o livro “História de Savanas e Glaciares Africanos”.

Nosso voo teve uma escala em Amsterdã antes de pousar em Nairóbi, capital do vizinho Quênia. Nosso guia, o simpático Silvano, já nos aguardava para seguirmos por via terrestre para a Tanzânia em um micro-ônibus. Atravessamos a fronteira na cidade de Namanga sem maiores burocracias e seguimos para Arusha.

Nós brasileiros somos bem recebidos nesse canto do mundo. O pessoal sempre comenta algo sobre nosso futebol. Há uma opção mais direta que é o voo até o Aeroporto Internacional de Kilimanjaro, perto de Arusha, e operado por grandes companhias aéreas europeias. Optei pelo roteiro mais longo para relembrar minha primeira viagem.

Para facilitar a adaptação à altitude, realizamos uma ascensão prévia do monte Meru, com 4.566 metros e distante 80 km do Kilimanjaro. Durante três dias, experimentamos a sensação de andar na borda de um vulcão com meia cratera, pois parte explodiu nos tempos em que era ativo.

Por ser menos conhecido, o Meru é uma excelente opção para aqueles que desejam a introspecção que o silêncio das montanhas proporciona, além de ser mais econômico e poupar os caminhantes do desgaste da altitude. A estrutura dos campings também é boa. Cada quarto comporta grupos de até 4 pessoas e há um amplo refeitório.

Com o aquecimento no Meru, estávamos preparados para o Kilimanjaro. O 1º dia foi percorrido na floresta, silenciosa, imensa, cativante, durante cerca de seis horas.

O 2º dia descortinou o Kibo, o vulcão mais alto de um conjunto de três vizinhos que se fundiram em tempos remotos para formar o maciço do Kilimanjaro. O reluzir das neves convida os postulantes ao cume a caminhar de forma involuntária em sua direção.

O 3º dia protagonizou as primeiras visões da vastidão da savana que se estende aos pés do Kilimanjaro. A água formada naquela altura constitui uma riqueza para o solo, que fornece a fertilidade que garante a vida nos arredores por séculos.

O 4º dia inicia imediatamente em um íngreme paredão. A caminhada é lenta, há engarrafamento humano nas vertentes cujo precipício está a meros três metros de nós querendo tragar vidas. Os carregadores com seus pesados fardos sobre as cabeças gritam implorando por passagem. Com sofreguidão, o paredão é vencido após uma hora e meia de caminhada. Este dia marca a aproximação para a crista que deverá ser vencida no dia seguinte –o dia do cume.

À meia-noite e meia do 5º dia começa a longa jornada em zigue-zague para o cume (exato, você terá umas oito horas de descanso entre o fim do 4º dia e a arrancada para o cume). Os guias cantam na madrugada canções como se fossem mantras para anestesiar os peregrinos do frio, cansaço e da longa madrugada. Você implora pelo nascer do sol enquanto inserido no frigorífico de -20°C e o vento gélido vindo de um mundo sem vida conspira para te fazer voltar.

Os elementos naturais são nossos adversários nesta luta que travamos, na verdade, com nossos interiores. Nesses momentos, descobrimos a resposta à pergunta “por que subir isso tudo, pra quê?” Temos um desejo interior de vencer desafios, de conquistar, e estar em comunhão com Deus.

O cume surgiu logo após o nascer do sol, indescritível por sua beleza. Neve próxima à linha do Equador, algo impossível de ser concebido no século 19. O abraço em minha esposa em meio às lágrimas é um gesto que traduz melhor do que muitas palavras a sensação de estar no topo da África. Aproveitamos para abrir a bandeira em homenagem ao nosso filho, que ficou no Brasil.

Animais na África

Cumprida a etapa de desgaste físico, chegou o momento de contemplar a multiplicidade da vida animal nos safáris. Começamos pelo Parque Nacional Tarangire, famoso pela presença de elefantes e pela maior concentração de baobás do mundo.

Próxima etapa, Parque Nacional do Lago Manyara. Apesar de pequeno, ideal para visitação em um dia, como fizemos, oferece em cada curva na parte florestal a possibilidade de alguma visão inesperada.

No dia seguinte, seguimos para o parque mais famoso da África, o Serengeti. É estranho, você percorre muitos quilômetros de estradas poeirentas e desconfortáveis até entender que assim deve ser. Um lugar que não pode mudar, que deve permanecer selvagem. Se a humanidade exterminar a última espécie viva no planeta, o Serengeti será o lugar em que a vida deverá recomeçar.

E não é por acaso que durante muito tempo os sítios arqueológicos vizinhos, como o visitado Olduvai Gorge, foram apontados como o berço da humanidade. Outra interessante experiência foi visitar uma aldeia Masai, os célebres guerreiros africanos, para conhecer seu modo de vida. Ambos os passeios são rápidos e podem ser incluídos no caminho para o Serengeti.

O Serengeti possui 1/3 da área do estado do Rio de Janeiro, testemunha anualmente a maior migração de animais de grande porte do planeta. Milhões de gnus e de zebras em busca de melhores pastos e fontes de água, trazendo em seu rastro os carnívoros. Tivemos o privilégio de avistar todos os felinos de grande porte da savana –leões, leopardos e guepardos– a meros dez metros. Mas sair do veículo utilizado nos safáris? Jamais!

O passeio deveria finalizar em um lugar mágico, ímpar. Para tal, a cratera do extinto vulcão Ngorongoro foi a melhor indicação. No fundo da cratera, com 20 km de diâmetro, a vida animal mantém-se preservada desde fins da Primeira Guerra Mundial. Um lago que ocupa cerca de 10% de sua superfície atrai flamingos.

O local é um dos poucos parques tanzanianos que abriga o quase extinto rinoceronte negro. Em sua “caçada” para a melhor foto, nos esquecemos por um momento dos demais animais. E o “troféu” da “caçada” é o disparo de uma foto magnífica!

A Tanzânia guarda tantas opções. Seu litoral testemunhou as grandes navegações dos séculos 15 e 16; a Ilha de Zanzibar serviu de entreposto comercial para navios de diversas bandeiras; vários outros parques nacionais repletos de vida animal. Enfim, sua diversidade paisagística certamente encantará o turista adepto da vida ao ar livre.

Dicas:

– Deixe para negociar seus passeios quando chegar na Tanzânia. Qualquer intermediário irá encarecer o orçamento da viagem. Se houver interesse em esclarecer dúvidas, sugiro entrar em contato com o guia que utilizei (Silvano Hamisi – siladv@yahoo.com);

– O inglês é amplamente falado em virtude dos tempos do domínio inglês no século passado;

– Gorjetas são uma praxe ao fim dos passeios;

– Meses de verão e inverno são os melhores para as montanhas, por serem mais secos. Os safáris podem ser feitos em todos os meses do ano;

– O visto pode ser obtido na chegada.

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Aviso aos passageiros 1: Caso você esteja programando uma viagem para a África, na Namíbia é possível acampar em dunas, dormir com zebras e acordar ao som de hipopótamos, além de ver baobás gigantescos

Aviso aos passageiros 2: Mais ao sul, na África do Sul, turistas podem ficar hospedados ao lado de feras da savana

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