Check-in https://checkin.blogfolha.uol.com.br Relatos de turistas, dicas e serviços de viagem Wed, 01 Dec 2021 12:49:26 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Checkout https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/12/01/checkout/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/12/01/checkout/#respond Wed, 01 Dec 2021 12:49:26 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/mochilao-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=833 Caro viajante/leitor,

O blog está fazendo checkout desse endereço. Mas não se preocupe, porque o check-in já foi feito em outro lugar da própria Folha. É só acessar www1.folha.uol.com.br/blogs/check-in/ para continuar lendo tudo que o Check-in publica.

De qualquer forma, os textos já publicados permanecerão neste espaço para serem lidos, relidos e continuarem a inspirar você a viajar.

Clique a seguir para ler o novo texto do blog:

Não existe um jeito superior de viajar, diz autora de livro

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Casal divide o amor por viagem e percorre 72 mil km de carro com os filhos pela América do Sul https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/11/27/casal-divide-o-amor-por-viagem-e-percorre-72-mil-km-de-carro-com-os-filhos-pela-america-do-sul/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/11/27/casal-divide-o-amor-por-viagem-e-percorre-72-mil-km-de-carro-com-os-filhos-pela-america-do-sul/#respond Sat, 27 Nov 2021 18:35:39 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2021/11/163796575861a15fbe48d3a_1637965758_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=826 Viajar é muito bom. Melhor ainda quando se pode dividir o amor por cair na estrada com alguém. Raul, por exemplo, deu sorte de encontrar a Adriana, que nutre esse sentimento de desbravar o mundo.

Eles fizeram algumas viagens de carro juntos e seguiram assim quando os filhos vieram. Todo anos a família se organizava para ter alguns dias livres para dirigir por aí. O perfil deles no Instagram (@calugui_expedicoes), inclusive, é uma homenagem ao nome dos filhos: Caio, Lucca e Guilherme.

Nos últimos tempos eles viajaram por vários países da América do Sul e, como o bichinho da estrada sempre pica a gente, eles querem agora fazer uma expedição até o Alasca, percorrendo a América de motorhome.

Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Nossa história começa quando eu e a Dri tomamos a decisão de que colecionar momentos com o pé na estrada seria o nosso estilo de vida. Meu interesse pelo assunto nasceu na infância. Meus pais imigraram da Argentina logo que se casaram, então minha família sempre teve o costume de viajar longas distâncias de carro.

Em 1985 visitei o Salão do Automóvel com meus pais e irmãos e me lembro de ter ficado impressionado com a Kombi Safari Motorhome. Comentei com meu pai que aquele veículo seria ideal para as nossas viagens de fim de ano. Aquilo me marcou e eu pensei comigo: um dia ainda vou ter um motorhome e sair por esse mundão.

O tempo passou e eu conheci a Adriana na época em que trabalhava no negócio da família. Em 1999 eu a levei para conhecer meus parentes na Argentina e foi a primeira viagem de longa distância que ela fez (foram 20 dias e 7.500 km). Ali eu descobri que ela gostava de colocar o pé na estrada tanto quanto eu.

Casamos, os filhos chegaram, seguimos trabalhando nos nossos projetos e sempre que podíamos pegávamos o carro com a família toda e saíamos por aí (nos organizávamos para que pudéssemos estar na estrada de 15 a 30 dias por ano).

A partir de 2015 começamos a realizar nossas expedições para lugares mais distantes. Em março desse ano viajamos para a Patagônia argentina, num total de 25 dias e 8.500 km. No ano seguinte, fizemos uma expedição para a região de Mendoza, na Argentina, e a famosa travessia pela estrada Caracoles até o Chile via Cordilheira dos Andes.

Durante essa viagem tivemos a oportunidade de conhecer viajantes do mundo todo, em motorhome, motos e até bikes. Muitos deles perseguindo o desafio de chegar à cidade mais austral do continente, Ushuaia. Nem bem tínhamos concluído nossa expedição Mendoza-Chile, e já estávamos planejando o próximo destino: Ushuaia.

O ano de 2016 foi de muito planejamento e pesquisa para organizar a expedição que viria a seguir, atingir o ponto mais extremo do continente sul-americano, localizado em Tierra del Fuego. Em janeiro de 2017 viajamos os cinco: eu, a Dri e nossos três filhos adolescentes num veículo SUV comum.

Foram 32 dias e 15 mil km pelas Rutas 40 e 3, no território argentino, e a belíssima Carretera Austral, no Chile. Ao longo da nossa expedição, pudemos visitar lugares mágicos como Glaciar Perito Moreno, Capillas de Marmol, Torres del Paine, Punta Arenas, Punta Tombo, além de diversos parques situados nas Patagônias argentina e chilena.

Foi nessa viagem que a Dri resolveu aumentar a aposta e propôs um novo desafio. Ao final da Ruta 3, em Ushuaia, no Parque Nacional Tierra del Fuego, há uma placa com a inscrição da distância dali até o Alasca: 17.848 km. Se agora já havíamos conhecido os pinguins, estava na hora de ir em busca dos ursos!

Ainda em 2017 fizemos outra expedição, desta vez para realizar o sonho dos nossos filhos de conhecer a neve, e viajamos novamente para a Patagônia argentina, região de San Martín de los Andes, em julho. Fomos agraciados com a maior nevasca dos últimos 30 anos e computamos mais 8.000 km pra conta!

Nesses anos de Calugui Expedições (@calugui_expedicoes), já percorremos mais de 72 mil km e vivenciamos muitas aventuras, que nos proporcionaram momentos e recordações incríveis! Aliás, o nome Calugui é uma homenagem aos nossos três filhos: Caio, Lucca e Guilherme.

Nessa jornada, tivemos a oportunidade de conhecer os países do cone sul (Uruguai, Paraguai, Argentina e Chile) e também o Brasil, que tem sido o nosso destino neste momento de pandemia. Há muito o que conhecer do nosso país, rico em belezas e diversidade natural.

Prestigiar e desbravar esse imenso litoral com o qual fomos presenteados, e em especial o do Nordeste, é o projeto no qual estamos trabalhando agora e pelos próximos dois anos. A expedição está programada para início de 2022 e antecede o planejamento da maior de todas as expedições, a do Alasca.

Neste ano de 2021 conseguimos realizar o nosso sonho (aquele meu de infância, e compartilhado com a minha esposa) de ter o nosso motorhome do tipo Camper, mais uma etapa na direção do nosso grande objetivo. Em parceria com uma empresa do Paraná, adquirimos o nosso equipamento e o nosso veículo hoje está devidamente preparado para rodar longas distâncias com todo o suporte e apoio imprescindíveis à manutenção da nossa rotina e necessidades primárias de descanso, higiene e alimentação.

Toda essa mudança de vida foi, no entanto, impulsionada por problemas sérios de saúde que enfrentei e que me fizeram encarar a vida de outra forma. A Calugui Expedições nasceu desse novo olhar, do entendimento de que a vida está aí para ser vivida na sua plenitude, desse desejo de viajar e conhecer as maravilhas que o nosso planeta tem a nos oferecer, cuidando, zelando e respeitando-o como ele merece.

Saborear as experiências, colecionar momentos e perpetuar memórias, é disso que se trata! Há uma frase que eu gosto muito de Thomas Hardy que diz: “A felicidade não depende do que nos falta, mas do bom uso do que temos.”

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Aviso aos passageiros 1: A família Barros está viajando desde 2017 numa Kombi e tem como objetivo chegar ao Havaí. Por enquanto, estão aproveitando a Bahia

Aviso aos passageiros 2: Quem também caiu na estrada de carro é o casal Lucas e Maíra, que passou a viajar pelo país durante a pandemia

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Na estrada desde 2017, família preta viaja de Kombi com destino ao Havaí https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/10/23/na-estrada-desde-2017-familia-preta-viaja-de-kombi-com-destino-ao-havai/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/10/23/na-estrada-desde-2017-familia-preta-viaja-de-kombi-com-destino-ao-havai/#respond Sat, 23 Oct 2021 17:50:54 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/IMG_20210617_001943_129-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=816 A comunidade de viajantes de Kombi é grande no Brasil. O Check-in, por exemplo, já contou a história dos casais Tainá/Thiago e Juliana/Gustavo, que estão percorrendo as estradas brasileiras com esse que é um veículo amado por muita gente.

Hoje, o blog vê aumentar a família de amantes de Kombi, e com a experiência de uma família. E o legal é que os Barros (@familyontheroad21) trazem diversidade para a comunidade viajante, já que, além de serem negros, estão levando duas crianças para conhecer o Brasil.

A ideia não é ficar só aqui no país, e sim rodar até o Havaí.

Na estrada desde 2017, ThaisaFellipe e seus filhos viajaram pelo Sudeste antes de passarem um bom tempo desbravando a Bahia.

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Uma família preta viajando de Kombi rumo ao Havaí. Repetindo: uma família preta viajando de Kombi rumo ao Havaí. É verdade esse bilhete!!! 

Em 2017, o despertar. Para uns, loucos. Para outros, gênios. E assim partimos certos de que sim, a vida vale mais que uma carga horária de 40 horas semanais e uma conta que nunca vai fechar. 

Ela, socióloga, ativista do útero, puérpera, amamentando os dois ao mesmo tempo, professora, terapeuta, palestrante, apresentadora de TV: uma empreendedora convicta e multipotencial assumida. Ele, deficiente, educador físico, atleta paralímpico de triatlo, mestre em política pública e formação humana, terapeuta, músico, compositor e outras tantas coisas mais. 

Juntos nos tornamos mestres em “sevirologia”, sempre ali na ponta da criação e das infinitas possibilidades que a nossa escolha em sermos uma família negra e nômade pudesse nos trazer. Aprendemos na jornada que o melhor de nós está em dividir o que somos e não só o que fazemos. 

E algumas perguntas que nunca faltam: “Como vocês se sustentam?” “E a escola das crianças?” “Por que o Havaí?” 

Então, vamos lá: partimos em 2017 do Rio de Janeiro para Ubatuba, onde passaríamos um tempo numa ecovila que não deu certo. Daí fizemos algumas cidades e capitais do Sudeste e seguimos rumo ao país chamado Bahia. 

Com o tempo, percebemos que, para a experiência que queríamos com essa viagem, precisávamos de mais dias em cada cidade, além de ser bem mais econômico. Adotamos, então, o slow travel como modelo de viagem. Assim, criamos laços mais duradouros com a comunidade e o próprio lugar, e nos hospedamos em locais incríveis com um preço mais justo. 

O lema aqui é: sermos nativos do mundo todo. Estamos seguindo o plano. 

Já rodamos a Bahia de norte a sul, leste a oeste, estivemos em cidades do sertão, do recôncavo baiano, do litoral norte e litoral sul, e nossa Salvador, é claro! Daqui seguimos pelo litoral nordestino, saímos do Brasil pelo Norte e viajamos pelas Américas até o México. Depois, Los Angeles e, logo ali, o sonho: Havaí. 

E com que dinheiro vocês vão fazer isso tudo? Bora lá: saímos da corrida de ratos onde deixamos tudo para “um dia quando eu tiver dinheiro”, ou “quando eu me aposentar”, ou… ou… ou… 

A vida é agora e perrengue não tem nos faltado, mas vivemos o presente com tudo o que ele pode nos dar e um dos maiores aprendizados tem sido —anota aí—: o suprimento do Universo é invisível. Maaas, vão aí alguns dos nossos corres: atendimentos terapêuticos, cursos, palestras, brincantes, shows. Temos também o Brownie Viajante e, é claro, na busca constante por patrocínio para nossos projetos pilotos: a família viajante, o paratriatleta e a apresentadora de TV. 

Quanto à escola das crianças, somos educadores por natureza e também de formação acadêmica e optamos por desescolarizá-los e ensiná-los em casa. Isso bem antes do que hoje o mundo inteiro viveu como única opção devido à pandemia. E não sei se vocês sabem, mas a primeira socialização, ou seja, a primeira infância, deve ser feita pela família. O tal primeiro setênio. Assim seguimos o roteiro, embora o diferente aqui é que somos uma família preta. 

A família tem aproveitado os últimos tempos para conhecer a Bahia (Arquivo pessoal)

Ahhhhh e o Havaí? E por que não o continente africano? Bem, volta duas casas. Voltou? Estamos viajando de Kombi e uma primeira versão da viagem pelas Américas e por terra ficou bem mais ” fácil”, e é óbvio que a segunda temporada será em solo africano. Além disso, o papai paratriatleta se desafiou a ser o primeiro e talvez único deficiente a completar uma prova de ultralongadistância e a prova é no Havaí, em outubro de 2023. Na primeira temporada a meta era chegar nas Paralimpíadas de Tóquio, mas a sua deficiência não foi incluída nas categorias e ele ficou fora da disputa.

Nosso propósito é ocupar também lugares onde não encontramos os nossos iguais. Cansamos de ser a única família preta no rolê. E não venha nos falar em sensacionalismos e tente se recordar: quantas famílias pretas você viu nas redes sociais, nos canais de comunicação, num site de notícias, que vivem a vida viajando? 

Eis mais um dos nossos porquês. E quanto ao legado pros nossos pequenos, hoje com 7 e 5 anos, é que nada e nem ninguém pode definir quem eles são ou o tamanho dos seus sonhos. Eles, e você também que nos lê, podem ser, fazer ou ter o que quiserem. Ouse sonhar e mais ainda ouse realizar! 

A vida pede mais. 

Saiba mais dessa jornada em @familyontheroad21.

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Aviso aos passageiros 1: Quem também caiu na estrada de carro é o casal Lucas e Maíra, que passou a viajar pelo país durante a pandemia

Aviso aos passageiros 2: Caso você seja do time que gosta de escutar podcasts, aqui está uma lista com 9 opções para quem faz mochilão, viagem de carro ou é nômade digital

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Autora de livro sobre a China, baiana relembra como foi viajar ao Tibete https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/10/13/autora-de-livro-sobre-a-china-baiana-relembra-como-foi-viajar-ao-tibete/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/10/13/autora-de-livro-sobre-a-china-baiana-relembra-como-foi-viajar-ao-tibete/#respond Wed, 13 Oct 2021 13:25:46 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/IMG_1643-e1634090102102-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=805 A China, assim como muitos países asiáticos, desperta curiosidade no brasileiro. Seja porque é muito longe daqui, pelas paisagens deslumbrantes ou porque vemos todos os dias inúmeras notícias sobre a nação chefiada por Xi Jinping.

A baiana Joana Silva (@registrosdajo) gostou tanto do país que chegou a viver lá por um tempo, dando aula em escola infantil.

Ela conheceu a China durante suas andanças pelo mundo, após trabalhar como executiva de recursos humanos em uma multinacional aqui no Brasil.

Com tanta experiência na bagagem, a baiana resolveu compartilhar o que viveu em seu livro recém-lançado “As Lições que eu Aprendi Viajando e Morando na China”. Abaixo, ela conta suas primeiras impressões de quando visitou o Tibete.

Joana Silva em frente ao Palácio Potala, em sua viagem pelo Tibete (Arquivo pessoal)

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Logo que saí do trem, devagarzinho os sintomas da altitude foram se manifestando no meu corpo. Senti o raciocínio lento, cansaço físico, leve falta de ar e dor de cabeça. Após o desembarque fui direcionada por um dos tripulantes para o posto de imigração. Uma não oriental jamais passaria despercebida e foi assim que percebi: eu era a única estrangeira da viagem.

O Ngawang Tashi, guia da agência, me aguardava na saída da estação e logo fui presenteada com o Khata branco, um cachecol de tecido de cetim usado em cerimônias do budismo tibetano, que simboliza pureza e compaixão.

Estava fascinada por ter colocado os pés no Tibete, mas os desconfortos por causa da altitude ficavam mais fortes. Após me advertir a não tirar foto do tanque de guerra e dos oficiais do Exército na rua, Ngawang me levou até o táxi e seguimos para o hotel.

Abri a janela para sentir aquele ar fresco de montanha no rosto, coloquei a cabeça um pouco para fora e fechei os olhos por alguns segundos. Não sabia se filmava, tirava foto ou simplesmente contemplava a vista. A chegada foi com surpresas, lojas da Nike, da Apple, The North Face, franquias de marcas chinesas, viadutos, trânsito, motos, carros e buzinas. Olhando para mais longe, vi imensas áreas desérticas e montanhas ao fundo e iaques passeando.

O planalto Tibetano é o topo do mundo e está a 4.800 m de altitude acima do nível do mar. Ngawang fortemente recomendou beber bastante água, tomar chá, manter o corpo aquecido, andar devagar, não fazer movimentos bruscos e descansar da viagem. No check-in descobri que estaria sozinha no quarto duplo, havia sido liberada de pagar a taxa de US$ 100 pelo quarto individual, o café da manhã, que estava incluso, seria servido no terraço onde tinha uma vista privilegiada para a cidade e as montanhas dos Himalaias que a cercavam.

Joana e sua obra, “As Lições que eu Aprendi Viajando e Morando na China” (Arquivo pessoal)

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Em tempos de coronavírus nossas viagens ficaram mais restritas. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Aviso aos passageiros 1: A escritora Manoela Ramos está na estrada desde 2016 e já conheceu 24 estados brasileiros, e sempre com a verba reduzida. Tanta experiência rendeu o livro “Confissões de Viajante (Sem Grana)”

Aviso aos passageiros 2: O casal de jornalistas João Paulo Mileski e Carina Furlanetto viajou pelo Brasil e por países aqui da América do Sul a bordo de um carro 1.0 e lançou um livro sobre a empreitada, o “Crônicas na bagagem: 421 dias na estrada – uma jornada de desprendimento pela América do Sul”

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Escritora conta em livro como é viajar sem dinheiro pelo Brasil https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/10/05/escritora-conta-em-livro-como-e-viajar-sem-dinheiro-pelo-brasil/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/10/05/escritora-conta-em-livro-como-e-viajar-sem-dinheiro-pelo-brasil/#respond Tue, 05 Oct 2021 13:15:48 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/Manoela-Ramos-viajando-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=796

A crise econômica e a pandemia diminuem qualquer vontade de viajar por aí. Uma alternativa a esses obstáculos é diminuir os custos e adotar o slow travel –prática de passar mais tempo no destino.

A escritora Manoela Ramos (@escritoraviajante) está na estrada desde 2016 e já conheceu 24 estados brasileiros, e sempre com a verba reduzida. Tanta experiência rendeu o livro “Confissões de Viajante (Sem Grana)”.

A obra, que completou 3 anos em agosto, é vendida pela própria escritora enquanto viaja por aí –é possível também comprar pela internet.

Manoela, que está à frente do 1º Congresso Nacional de Viajantes Pretos e Pretas, também escreveu “Em Busca do Norte”, sobre suas andanças pelos estados que estão mais próximos à Linha do Equador. Atualmente ela vive na Ilha de Boipeba (BA), onde atua como articuladora turística e cultural.

Abaixo, um trecho de sua primeira obra.

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A primeira coisa a saber é que o único luxo que você pode se dar é o de ser uma viajante, contente-se e seja grata a isso. Qualquer outro comprometerá o luxo de viver viajando. Pra viajar “sem grana” você precisa diminuir dois gastos: passagem e hospedagem. Na passagem o jeito é pedir carona, alguns trechos interestaduais você consegue tirar com a ID jovem. Já a hospedagem tem a possibilidade de trocar serviço em albergue e camping que aceitem a troca. Tem também o couchsurfing, um aplicativo que conecta pessoas que oferecem um “sofá” para os viajantes sem grana. Pronto, depois disso você já chega nativa.

É claro que digo das minhas experiências longe dos centros urbanos. Em cidade de natureza, o ritmo é diferente e as relações entre as pessoas também. Você desfruta do que transmite. Se vai com pouco tempo e muita grana, os nativos te veem como turista e a relação entre vocês será a de prestador de serviço e consumidor. Agora, se você vai com tempo e pouca grana, o caminho é o da amizade. Se você trabalha no local, seja de forma autônoma (vendendo) ou de temporada, você passa a conhecer muita gente: colegas de trabalho, concorrentes e clientes. Então trabalhar é fundamental para ser uma viajante sem grana. Primeiro porque você vai obter dinheiro, segundo e melhor ainda porque você vai fazer amizades, e são essas amizades que te proporcionarão a melhor experiência do local.

Ser viajante não significa ser livre, não mesmo. O que nos aprisiona é a nossa mente e nossos desejos e isso a gente leva para onde vai. Mas as pessoas enxergam liberdade em nós, e isso as fascina. Muitos puxam assunto interessados em nossas experiências. É que realmente temos muita história pra contar!

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Em tempos de coronavírus nossas viagens ficaram mais restritas. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Aviso aos passageiros 1: O alpinista e escritor Thomaz Brandolin reuniu histórias de viagem feitas de 1986 a 2012 no livro “Um Outro Mundo lá Fora – Expedições ao Ártico, Antártica, Alasca e Himalaia”

Aviso aos passageiros 2: O casal de jornalistas João Paulo Mileski e Carina Furlanetto viajou pelo Brasil e por países aqui da América do Sul a bordo de um carro 1.0 e lançou um livro sobre a empreitada, o “Crônicas na bagagem: 421 dias na estrada – uma jornada de desprendimento pela América do Sul”

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Viajante relembra excursão a Maceió com passeios, praias e piscinas naturais https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/08/17/viajante-relembra-excursao-a-maceio-com-passeios-praias-e-piscinas-naturais/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/08/17/viajante-relembra-excursao-a-maceio-com-passeios-praias-e-piscinas-naturais/#respond Tue, 17 Aug 2021 14:15:30 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/9-ilhas-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=788 Nada é melhor do que recordar bons momentos. É assim que Junior Lopes começa o seu relato. E é essa a intenção do Check-in em tempos pandêmicos.

Ele, um apaixonado por viagens, relembra a excursão que fez para Maceió em 2018. Foram vários dias de passeios, praias, drinques e muita diversão em grupo.

Em tempos de coronavírus nossas viagens ficaram mais restritas. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Nada é melhor do que recordar bons momentos. E nessa pandemia em que fomos privados de fazer uma série de coisas, bom mesmo é lembrar as viagens que fizemos. Nesse sentido, gostaria de compartilhar com vocês uma que fiz para Maceió em 2018, época em que aglomerar não era um problema e, por isso, fizemos a viagem em um grupo, com 23 pessoas.

Maceió é muito linda! E essa excursão em 2018 foi muito especial. O grupo era unido e passamos dias incríveis de praia, sol, mar, forró, o famoso chiclete de camarão e muitas guloseimas.

A nossa viagem começou no dia 20/10/2018, um sábado. Saímos de Santos e fomos em direção ao Aeroporto de Congonhas em São Paulo.

Um ônibus estava nos esperando em frente ao Orquidário e às 8h30 seguimos para o aeroporto. Nosso voo da Gol saiu às 13h25 com destino a Maceió.

Chegamos com tempo sobrando ao aeroporto, ainda deu tempo de comer um lanchinho e comprar chocolate para levar no avião. Fizemos uma viagem tranquila, em um voo que durou 3 horas.

Aterrissamos lá às 16h20, recepcionados pelo verão de Maceió e pelo guia Hélio, um rapaz muito simpático que nos levou ao ônibus que estava à nossa espera.
No caminho, ele nos contou várias histórias sobre a cidade. Nos pediu paciência quanto aos atendentes, pois disse que lá o pessoal trabalha com “taleeennnto” (ou seja, costumam fazer as coisas mais devagar, “lento”, diferentemente da correria louca que temos em São Paulo, por exemplo). Ele também deu uma esplanada de como seriam nossos passeios e nos deixou no Maceió Mar Hotel.

Nesse primeiro dia tivemos a tarde livre para curtir o pôr do sol da praia e a piscina do hotel –o jantar foi no próprio estabelecimento. Aliás, a excursão foi montada com sistema de meia-pensão, em que tivemos todos os dias o jantar incluso, além do café da manhã.

No dia seguinte, um domingo, fomos para a Praia do Gunga. O grupo se reuniu pela manhã às 8h, e seguimos no ônibus. A praia é conhecida pela abundância de coqueiros e por sua extraordinária beleza natural.

O trajeto de ônibus foi de aproximadamente 50 minutos. Mas o guia era tão simpático e foi contando tanta história que nem deu para ver o tempo passar.

A praia dispõe de uma boa infraestrutura para atender os visitantes. Fica situada em uma curva sinuosa entre o oceano Atlântico e a lagoa do Roteiro. Tem de um lado um extenso pontal de areia branca, com águas calmas, e, do outro lado, uma sequência de coqueiros a perder de vista, com mar aberto e falésias coloridas.

A praia é boa para visitar em qualquer situação: quando a maré está baixa, piscinas naturais são formadas, e com a maré alta, a água doce do rio encontra a água salgada do mar, um espetáculo da natureza.

Além da paisagem perfeita, a praia oferece estrutura de lazer (aluguel de equipamentos náuticos, buggys e quadricíclos), bares, restaurantes e lojas de artesanato.

Logo na chegada fizemos um passeio de barco de aproximadamente 30 minutos, saindo de Barra de São Miguel com destino à praia do Gunga. O nosso ponto de encontro era a famosa barraca Gunga Beach.

A maioria do grupo optou por fazer um passeio de jipe (que nos foi ofertado lá mesmo) para ver as lindas falésias e os coqueiros a perder de vista. A paisagem lá é maravilhosa, um passeio que não pode deixar de ser feito se você estiver pensando em ir para Maceió.

Na segunda-feira, saímos às 11h30 para fazer um passeio conhecido como “passeio das 9 ilhas”. O trajeto do nosso hotel até o Pontal da Barra durou cerca de 25 minutos.

Antes de realizar o passeio, almoçamos em um restaurante, O Peixarão, onde comemos um delicioso peixe acompanhado de uma cervejinha.

Esse passeio é um refúgio para a alma, perfeito para descontrair, recompor energias e refletir sobre as coisas boas da vida. Os encantos de uma jornada em um lugar paradisíaco com tudo que ele pode oferecer.

Situado no complexo lagunar de Mundaú-Manguaba, as Nove Ilhas são um arquipélago fluviomarinho, sendo que oito destas ilhas ficam em Maceió, enquanto a outra se localiza na cidade vizinha, Marechal Deodoro.

O trajeto pelas águas das lagoas acontece através de uma escuna. Embora o arquipélago seja composto por nove ilhas, oito delas são rodeadas por bancos de areia e mangues, o que impossibilita o acesso de embarcações. Apenas a ilha Carlito oferece condições seguras para recepcionar os turistas.

Lá, tivemos a oportunidade de tomar um banho de piscina e ter acesso ao bar da ilha para tomar um drinque e pedir petiscos de frutos do mar.

São nove ilhas e dezenas de motivos pelos quais vale a pena realizar o passeio. Na volta tivemos a oportunidade de vislumbrar o mais belo pôr do sol nordestino. Uma verdadeira obra de arte!

No retorno visitamos o Pontal da Barra, uma rua com muitos artesanatos locais. São várias lojas com os famosos bordados filé, sorvetes artesanais, cachaças locais e vários outros tipos de lembranças.

Na terça, os organizadores da excursão nos deram um dia livre para curtirmos a capital alagoana, uma pequena pausa para recarregar as baterias.

A maioria do grupo foi curtir as piscinas naturais de Pajuçara, que é um passeio fantástico! Pegamos uma jangada na beira da praia e seguimos mar adentro, até que chega um ponto em que é possível ficar de pé dentro da água (e isso a cerca de 1 km de distância da areia da praia). Ali pudemos ver vários peixinhos que vinham perto de nós, algumas pedras que davam para ficar em pé para tirarmos fotos e, pasmem, tinha um “bar aquático flutuante” onde vinham nos oferecer frutos do mar.

Algumas pessoas optaram por ficar na praia que ficava em frente ao hotel, a praia Ponta Verde.

A feirinha de artesanato foi um outro atrativo visitado, pois lá tem de tudo um pouco. Venda de bordados, cachaças, camisetas, redes, entre outras lembranças para você levar de Maceió.

À tarde, o grupo voltou a se reunir, e almoçamos em um restaurante delicioso próximo à praia onde comemos o famoso “chiclete de camarão”, prato típico local com camarão e muito queijo. Estava uma delícia!

À noite, fomos curtir música ao vivo no Lopana, um bar muito charmoso com boa comida e excelente repertório musical. Ficamos até altas horas jogando conversa fora e lembrando os momentos em que passamos juntos. Depois retornamos ao hotel para uma boa noite de sono.

No dia seguinte, na quarta, saímos do nosso hotel às 8h. O trajeto até o complexo Dunas de Marapé durou cerca de 55 minutos.

Após uma rápida travessia de barco (5 minutos) foi possível desfrutar do mágico encanto de uma praia de areias brancas, protegida suavemente por uma barreira de recifes.

O complexo Dunas de Marapé oferece serviço de bar, restaurante com culinárias regionais e passeios opcionais como o passeio Circuito Pau de Arara e a Trilha dos Caetés.

A poucos passos estão às águas do rio Jequiá, tentação para um delicioso banho nesta parte do paraíso. Sua abundante vegetação nativa nos deleita com a presença de simpáticos saguis, entre outras espécies características da região. As dunas fixas e falésias esculpidas pela natureza são uma excelente opção para uma caminhada à beira mar.

Pegamos uma mesa na areia da praia, ficamos batendo papo e tomando uns drinques. O dia estava lindo e nessa altura todos do grupo já tinham se tornado amigos.

O encontro do rio com o mar rendeu belas fotos. Tanto o mar quanto o rio são ótimos para banho.

O almoço nesse passeio estava incluído no pacote da excursão, uma refeição muito bem servida.

Depois desse dia incrível, o guia nos deixou no hotel para tomarmos banho para sairmos à noite. Fomos na casa de forró Maikai, chegamos cedo para pegar uma das poucas e disputadas mesas, mas deu tudo certo. O grupo todo se divertiu muito, pois havia dançarinos da casa que ficavam tirando as pessoas para dançar –não teve como ninguém ficar parado.

Retornamos ao hotel para um descanso, pois ninguém é de ferro!

Na quinta, saímos um pouco mais cedo do hotel, por volta das 7h. Fomos para Maragogi e suas incríveis piscinas naturais, conhecidas como Galés de Maragogi. O trajeto durou cerca de 2 horas.

No caminho fizemos um amigo secreto promovido pela agência de turismo. Foi muito divertido, e achamos a ideia dos organizadores excelente, pois mesmo sendo um lugar distante, mais uma vez nem vimos o tempo passar, além disso as lembranças eram os artesanatos, o que fez com que ajudássemos ainda mais o comércio local.

Chegando na praia, tivemos a sorte de pegar a maré baixa e aproveitamos as piscinas naturais, por sinal, as maiores de Alagoas. A seis quilômetros da costa, os aquários naturais reuniam peixes, crustáceos, moluscos e corais de variadas espécies.

Até quem não sabe nadar aproveitou demais o passeio. Máscara de mergulho, snorkels e equipamentos de mergulho foram oferecidos opcionalmente, para ver os peixinhos que nadaram próximos a nós, uma experiência encantadora.

Nosso ponto de encontro foi o restaurante Pontal de Maragogi que ofereceu guarda-sóis e cadeiras. Havia um restaurante delicioso e almoçamos por lá.

Como tudo que é bom dura pouco, chegamos ao último dia da nossa viagem para Maceió, e retorno para casa. Na sexta, tomamos café da manhã no hotel, e às 10h o ônibus saiu para o aeroporto.

O voo estava marcado para as 12h35 com destino a São Paulo (Congonhas), e chegamos no aeroporto paulistano às 15h35, onde um outro ônibus estava nos esperando para o retorno à Santos.

Uma viagem maravilhosa em um lugar paradisíaco! Lembranças e memórias para guardar para a vida toda!

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Aviso aos passageiros 1: Também em Alagoas, a Costa dos Corais é destino único e inesquecível, de acordo com o jornalista Lucas Bicudo

Aviso aos passageiros 2: Caso você goste de natureza, Capitólio (MG) recebe bem tutores e seus pets em paisagens paradisíacas

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Sem reservas ou cartão de crédito, casal de mochileiros relembra como era viajar em 1985 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/08/10/sem-reservas-ou-cartao-de-credito-casal-de-mochileiros-relembra-como-era-viajar-em-1985/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/08/10/sem-reservas-ou-cartao-de-credito-casal-de-mochileiros-relembra-como-era-viajar-em-1985/#respond Tue, 10 Aug 2021 13:15:04 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/1628308223610e02ff2f415_1628308223_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=779 Perrengue, segundo o dicionário Houaiss, é o mesmo que situação complicada, difícil de ser resolvida. No mundo das viagens, muitos usam a palavra quando o pneu fura, chove no passeio ou tem uma fila enorme em alguma atração turística. 

Julio e Rosi Moschen, hoje proprietários de pousadas em Campos de Jordão, têm umas tantas histórias de experiências complicadas em suas viagens. Ainda mais porque o primeiro mochilão deles foi em 1985, na Europa. Você consegue imaginar como era ir até o Velho Continente nos anos pré-internet?

Os dois, que haviam se conhecido em 1979, se casaram seis anos depois e fizeram do mochilão uma espécie de lua de mel. Detalhe: eles viajaram com a irmã e o cunhado de Julio.

A importação de produtos, durante a ditadura brasileira, era reduzida, o que obrigou o casal a viajar com equipamentos nacionais. “A mochila que existia aqui era aquela de lona verde, do Exército, com uma armação de alumínio que ficava nas costas”, relembra Julio.

Enquanto ele carregava essa, Rosi levava uma mala de rodinhas. Bem, não exatamente. “Era uma mala de lona, antigona, e a gente colocava num carrinho metálico que amarrava com cordinha”, explica ela.

Lá, viram como era diferente a vida do viajante europeu, que usava “aquela mochila certinha, magrinha, da largura do corpo”.. E isso influenciava na hora de pegar o trem. Enquanto os estrangeiros andavam entre as fileiras sem esbarrar nos outros, o casal precisava fazer ginástica. “Tinha que tirar a mochila, colocar no chão e entrar com ela de lado, porque ela era mais gorda que a fileira.”

Rosi e Julio, então com 23 e 28 anos, fizeram essa primeira expedição juntos sem hospedagem prevista. “Para fazer reserva no hotel, tinha que ligar para lá, falar a língua do lugar. Na década de 1980 o inglês ainda não era dominante como é hoje, que qualquer um em um hotel da França, da Itália, fala inglês”, explica ele. Para se comunicar, o casal levou um dicionário de seis idiomas. 

Outro item que eles levaram na bagagem foi o livro “Europa a 25 dólares o dia”, de Arthur Frommer, o papa dos livros de viagem, segundo Julio. “Era a bíblia de todo mochileiro da minha época.”

O americano, em sua juventude, viajou bastante pelo Velho Continente e elaborou o guia com dicas de onde se hospedar, se alimentar e o que visitar e ver em várias cidades. E tudo isso com um orçamento de US$ 25 diários. Ele atualizou a obra por anos e, obviamente, teve que adaptar o orçamento diário. 

O livro norteou Julio, a esposa, a irmã e o cunhado. Para passar os 21 dias de viagem, eles foram com US$ 2.000 no bolso. “Não tinha cartão de crédito internacional, para viajar era o ‘cash’. A gente levava dinheiro contado e torcia para que não acontecesse nenhum imprevisto”, relembra Rosi. 

E a situação econômica e política no Brasil era tão complicada que quem viajava para o exterior precisava recorrer ao câmbio paralelo para conseguir mais moeda estrangeira do que o governo permitia.

Para economizar, os quatro ficavam juntos em quartos de hotéis, muitas vezes sem banheiro no mesmo cômodo. Outra forma de baratear os custos era viajar em trens noturnos, e assim deixavam de gastar com hospedagem. Mas, segundo Julio, era difícil descansar e a experiência não era segura. E, mesmo assim, ainda utilizaram esse método seis vezes.

A expedição deles englobou Espanha, França, Mônaco, Itália, Áustria, Alemanha, Suíça e Reino Unido. “A gente viajava como se fosse a única vez da sua vida, tinha que conhecer o maior número possível de países”, explica ele. 

Muitos países é sinônimo de muitas moedas. Assim, quando entravam em um local novo, se viam obrigados a fazer conversões e, consequentemente, perdiam dinheiro em taxas e cédulas de pouco valor. No fim, o orçamento diário acabava ficando abaixo dos US$ 25 previstos por pessoa.

Com tanto perrengue, é provável que muita gente mudasse o estilo de viagem, certo? Eles não. Preferiram manter o ritmo e fizeram um segundo mochilão para a Europa, em 1989, quando Rosi estava grávida de seu primogênito.

Nesses quatro anos eles foram algumas vezes para os EUA e compraram outra mochila, aposentando o modelo do Exército, usado em 1985. Agora, Julio levava um tipo mais confortável, enquanto Rosi usava uma versão menor, já que estava grávida.

A segunda expedição ao Velho Mundo envolveu Suíça, Itália, Grécia e Áustria, na mesma pegada de gastos reduzidos. Foi em terras gregas, inclusive, que eles pilotaram uma moto sem farol, apenas com luz de freio, à noite e na beira de um precipício. Para ficar mais seguro, eles iam pelo acostamento na contramão. Acho até que esse tipo de perrengue deveria inclusive constar no exemplo do Houaiss.

Após a viagem de 1989, ficaram um bom tempo sem colocar o pé na Europa. Veio o segundo filho e Rosi e Julio se dedicaram a viajar pelos EUA, pois viam mais opções de entretenimento e infraestrutura para a família toda.

Só em 2007 eles se organizaram para visitar o Velho Continente novamente. A intenção original era que os filhos adolescentes fossem juntos, todos com mochila nas costas. Mas a ideia não foi bem recebida pelos jovens, que preferiram passar as férias na casa de amigos.

O casal até considerou o uso de malas, mas um vizinho, com idade próxima a deles, botou pilha sobre viajar de mochila. “A gente já é tiozinho, será que a gente ainda é mochileiro?”, se perguntaram. No fim, adotaram a marca Tiozinhos Mochileiros e partiram. “Redescobrimos como é legal viajar assim”, diz ele.

Rosi e Julio têm 59 e 65 anos, respectivamente, e uma situação financeira confortável. Mesmo assim, eles ainda viajam com mochila nas costas, cada uma com 8 kg e cheias de conselhos.

Ele recomenda, por exemplo, não levar camisa polo, por ser mais pesada e difícil de secar. E como lavar? “Na pia do banheiro. Põe o sabãozinho do hotel, xampu, deixa de molho na água quente, sai para jantar ou passear, volta, enxuga e pendura. No dia seguinte está seco.” 

Se não secar, Julio recomenda embrulhar no plástico, guardar na mochila e pendurar no próximo hotel. “A dica é torcer a roupa dentro da toalha, aí ela não fica pingando e seca rápido”, completa Rosi. E, se possível, levar corda de nylon para usar como varal.

Não sei a sua, mas a minha meta da vida foi redefinida após conhecer os tiozinhos mochileiros.

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Aviso aos passageiros 1: Além de um canal no Youtube, eles bateram um longo papo no podcast Mochileiros sem Pauta, que eu já recomendei por aqui

Aviso aos passageiros 2: Reuni algumas dicas para fazer seu primeiro mochilão. Inclusive, relato como foi a minha primeira viagem com a mochila nas costas e todos os perrengues no livro “Embarque Imediato” (O Viajante, R$ 39,90, 180 págs.)

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Sete em dez brasileiros aceitariam comprovar que foram vacinados contra Covid para viajar, diz pesquisa https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/07/10/sete-em-dez-brasileiros-aceitariam-comprovar-que-foram-vacinados-contra-covid-para-viajar-diz-pesquisa/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/07/10/sete-em-dez-brasileiros-aceitariam-comprovar-que-foram-vacinados-contra-covid-para-viajar-diz-pesquisa/#respond Sat, 10 Jul 2021 18:23:47 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2021/07/15906067305ecebb8aa3ec6_1590606730_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=767 A pandemia da Covid-19 ainda não deu sinais de acabar, mas países estão abrindo suas fronteiras para viajantes –infelizmente, nós, brasileiros, não estamos no topo de pessoas bem-vindas em muitos destinos internacionais.

De acordo com uma pesquisa da Booking.com, 70% dos brasileiros afirmaram que aceitariam comprovar que foram imunizados contra o coronavírus para poderem viajar. Projetos para criar passaporte de vacinação avançam no mundo.

Vale lembrar que é necessário apresentar o comprovante de vacinação de febre amarela para entrar em vários países.

Entre os entrevistados, 77% aceitariam usar máscara durante a viagem, e 75% apoiariam até mesmo a diretriz “sem máscara, sem viagem”.

Além disso, 69% estariam dispostos a se deslocar apenas em pequenos grupos, de duas a seis pessoas.

Esses dados são de uma pesquisa realizada em janeiro e divulgada em junho. Participaram 28.402 pessoas de 28 países e territórios que pretendem viajar nos próximos 12 meses.

Entre os entrevistados, 67% se imaginam viajando em um futuro próximo e 33% planejam conhecer destinos bem distantes.

Se deslocar dentro do Brasil está na lista de desejos de 81% dos turistas brasileiros. Ainda mais que 58% querem evitar visitar alguns países.

Quando as restrições forem suspensas, 76% dos viajantes querem visitar membros da família, e 75%, reencontrar amigos.

Agora, 65% aproveitaram o período de quarentena para planejar as próximas viagens e 44% economizaram dias de férias para curtir expedições mais longas quando for possível turistar novamente.

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Em tempos de coronavírus nossas viagens ficaram mais restritas. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Aviso aos passageiros 1: Em uma pesquisa de 2020, 26% dos brasileiros se mostraram descontentes e queriam viajar para reavaliar a vida ou encontrar algo que os faça feliz

Aviso aos passageiros 2: Se você está no grupo de pessoas que querem viajar pelo Brasil, sugiro ver a seção de destinos brasileiros aqui do Check-in

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Após AVC, idoso cadeirante chega ao topo da serra da Corcova, em Roraima https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/06/26/apos-avc-idoso-cadeirante-chega-ao-topo-da-serra-da-corcova-em-roraima/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/06/26/apos-avc-idoso-cadeirante-chega-ao-topo-da-serra-da-corcova-em-roraima/#respond Sat, 26 Jun 2021 18:16:49 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2021/06/162464978760d6303be2beb_1624649787_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=761 Evandro Almada, o tio Evandro, tinha um sonho antigo de subir ao topo da serra da Corcova, de 1.040 m, em Roraima. Ele, no entanto, sofreu um AVC em 2002 e ficou com certas sequelas, como algumas funções motoras comprometidas.

Um grupo de voluntários, sabendo do desejo do tio Evandro, se uniu e ajudou o homem de 72 anos a realizar seu sonho, no fim de maio.

Quem conta a história é Márcia Rebeca, uma trilheira com 4 anos de experiência no Norte.

Em tempos de coronavírus nossas viagens ficaram mais restritas. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Um quintal com muita natureza, cachoeiras e serras. É nesse lugar que o sr. Evandro Almada, o tio Evandro, construiu seu sítio, há 28 anos.

Esse é o local de acesso à serra da Corcova, uma formação de 1.040 metros de altitude, no município de Iracema (RR). As expedições para o topo acontecem com certa frequência entre montanhistas, mas a última foi diferente.

Cada grupo de montanhista que chegava ao sítio ficava sabendo do sonho do tio Evandro: subir a serra. Ele queria viver a experiência, mas ela não seria fácil. Se preparou para a expedição mas, em 2002, um AVC hemorrágico mudou seus planos. Ao invés da expedição, ele precisou passar por cirurgia e ficar hospitalizado. Teve algumas funções motoras comprometidas.

Com a evolução do tratamento, voltou a ficar de pé e caminhar com a dificuldade de quem ficou com as sequelas do acidente. O desejo continuava ali, só esperando o momento de ser realizado.

Foi aí que o grupo Radical é ser do Bem entrou em ação. São voluntários que amam a combinação natureza, esporte e aventura, mas que sentem que mais pessoas precisam viver essa experiência. Pessoas como o tio Evandro que, por sua dificuldade de locomoção, acreditava ser impossível realizar um sonho.

Com o apoio do grupo Montanha para Todos, que em 2020 enviou a Julietti, uma cadeira construída e adaptada para essas atividades, um grupo de 34 voluntários, de Manaus e Boa Vista, se uniu na missão de realizar o sonho do tio Evandro.

Foram 4 dias de expedição para que o grupo seguisse em segurança por dentro da floresta. A cada etapa vencida, o brilho no olhar do tio Evandro contagiava a todos.

Os desafios de realizar uma expedição na floresta amazônica (umidade, chuva, fauna, solo) foram muitos, e superados com a alegria do tio Evandro, a garra e a união dos voluntários que se revezavam na cadeira, a descontração na hora das refeições e na montagem do acampamento.

Entre os voluntários, havia pessoas que faziam trilhas pela primeira vez e socorristas experientes em selva e montanha. Foi uma verdadeira integração na busca por tornar o montanhismo uma prática inclusiva.

“Primeiro quero agradecer a Deus e depois a cada um de vocês. Dinheiro nenhum paga a doação de vocês para que eu realizasse meu sonho”, disse ele, em meio a lágrimas, ao lado de um dos filhos e da esposa, ao final da expedição.

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Aviso aos passageiros 1: A aventureira Beatriz Pianalto de Azevedo é praticamente uma sócia do Check-in, pois já contou inúmeras peripécias por aqui. Entre elas, a vez em que desbravou o Auyantepui, na Venezuela, e o Pico da Neblina, o ponto mais alto do Brasil

Aviso aos passageiros 2: O alpinista e escritor Thomaz Brandolin contou como foi escalar o Monte McKinley ou Denali, o ponto mais alto da América do Norte

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Subir ao Auyantepui, na Venezuela, envolve dias de trekking e de rapel https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/06/16/subir-ao-auyantepui-na-venezuela-envolve-dias-de-trekking-e-de-rapel/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/06/16/subir-ao-auyantepui-na-venezuela-envolve-dias-de-trekking-e-de-rapel/#respond Wed, 16 Jun 2021 18:15:25 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2021/06/2º-Dia-de-Trekking-Face-sul-do-Auyantepui-1-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=752 Em meio a várias histórias de quem viaja de carro por aí, trago um relato de trekking de muitos dias para chegar ao Auyantepui, um dos muitos tepuis –formação ao estilo mesa– da Venezuela.

Quem nos conta a experiência é a leitora Beatriz Pianalto de Azevedo, que já escreveu ao blog sobre suas viagens a Guiné-Bissau e ao Butão. A última história dela, inclusive, também envolveu uma longa expedição, mas ao ponto mais alto do Brasil, o Pico da Neblina.

Em tempos de coronavírus nossas viagens ficaram mais restritas. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Início da expedição

A Venezuela detém a maioria dos tepuis do planeta: 115, sendo que a maioria se localiza no Parque Nacional Canaima, destacando-se o Auyantepui, Kukenan e Roraima. O restante dos 140 estão distribuídos pela África, Austrália, Colômbia, Uruguai, e, no Brasil, os mais belos exemplares estão no Jalapão (TO), Chapada das Mesas (MA) e Livramento (RS). 

Decidida a enfrentar o Auyantepui (o Roraima conhecera em 2011), contrato uma agência venezuelana e me mando no feriado de Carnaval de 2016 para Caracas, onde conheço os demais membros da expedição, oito europeus. De Caracas voamos a Puerto Ordaz e dia seguinte vamos de busão a Ciudad Bolivar, onde nos esperam três avionetas do tempo de Saint-Exupéry. 

Uma das avionetas que levaram o grupo de Ciudad Bolívar à aldeia pemone Uruyen (Arquivo pessoal)

Aqui já começa a aventura na balouçante aeronave. Após 50 minutos de voo, a vegetação rasteira de savana cede lugar à espessa vegetação da floresta amazônica. De repente, na paisagem plana, os tepuis começam a aflorar, espocando tal qual pipoca no solo. Majestoso é pouco para descrever a belezura desse tipo de elevação, em forma de mesa, com paredes verticais, cuja altura varia de 2 mil a 2.900 metros. 

A avioneta nos deixa em Uruyen, uma das tantas aldeias indígenas pemones, existentes no parque, onde pernoitamos. A paisagem que se desfruta de qualquer lugar donde se esteja é a da magnífica face sudeste do Auyantepui e de suas encostas revestidas de vegetação. 

Com altas muralhas formando recortes variados, sua superfície alcança 700 km², motivo por que é de longe o maior de todos os tepuis existente no planeta. A expedição conta, além dos três guias, com 18 pemones que transportam, nas costas, em cestas de vime bagagens e equipamentos. 

1º dia de trekking

Deixamos a aldeia Uruyen e após curta pernada saímos da savana, iniciando a ascensão do Auyan. Circundando a sua face sul, há três extensos platôs rochosos, formando como que gigantescos degraus que antecedem o topo. 

Hoje subiremos até a 1ª plataforma. Percorremos uma mata relativamente cerrada e desembocamos no espaço aberto do cobiçado platô, após ardida subida. A recompensa é a encantadora visão de pedras cobertas por musgos e líquens, arbustos, flores, sombra e água fresca. 

Almoçamos no alto da plataforma tendo aos nossos pés o vale Kamarata. O caminho então se torna moleza: suave descida sucedida por trecho plano até o acampamento Guayaraca (1.011 m). Com a escuridão já quase instalada, tem início o show de luzes dos pirilampos.

2º dia de trekking

A trilha plana alterna trechos de savanas e bosques. Dissipada a cerração, o sol brilha no céu. Mimetizada entre raízes e folhas, uma enorme cascavel, toda enrodilhada, de sentinela no meio da trilha. Dum riacho recolhemos água para enfrentar a subida até o topo da 2ª plataforma, quase uma escalaminhada, donde se tem uma visão estupenda da avermelhada face sul do Auyantepui.  

A ascensão, no meio da estreita picada, aberta na floresta, é inclinada para caramba. O guinchar dos macacos é perfeitamente audível, assemelhando-se, pasmem, a rajadas de vento. A subida continua pois temos de alcançar a metade da 3ª plataforma onde acamparemos. 

Vencidas outras tantas escalaminhadas, feitas com cuidado, porque há largas fendas entre as pedras, chegamos enfim ao acampamento El Peñon (1.870 m). No final da tarde, o sol ao se pôr colore de dourado a parede do tepui. Após a janta, maior silêncio no acampamento, apenas o movimento dos pirilampos inundando a mata de inúmeros pontos luminosos. 

3º dia de trekking

Hoje é dia de alcançarmos o topo do Auyan. A base da parede sul do tepui é pedra sobre pedra cercada de mata por todos os lados, daí por que a caminhada é pura escalaminhada. Em retrospecto, a subida ao topo do Roraima foi moleza! A neblina dá uma pausa e permite que se avistem os gigantescos totens de pedra que guardam a trilha. 

A partir do paredão, sete ascensos exigem cordas até o topo. Um mundo de indescritível beleza atravessa blocos gigantescos de rocha entremeados por exuberante vegetação. Quando a névoa se dissipa um pouco, se avistam espaços vazios entre os blocos de arenito. Num desses, apelidado de Callejón de las Palomas, se escuta o arrulhar de centenas de pombas que fazem do buracão seu ninho. 

A fatigante subida entre as colossais torres acaba de repente. Já estamos no topo, avisa Fred, o líder dos guias. Refeita da emoção, percebo duas muralhas dispostas perpendicularmente uma à outra.  A que importa é a 2ª, que dá acesso ao ponto donde desceremos, rapelando, um paredão de 1 mil metros. 

Um mundo totalmente inédito o topo do tepui. Ao contrário do Roraima, surpreende pela quantidade de bosques e pela coloração mais clara dos maciços rochosos. Almoçamos à beira do rio Naranja e ao chegarmos ao acampamento El Oso (2.165 m), no meio da tarde, o céu está desanuviado. 

À noite, quando as caprichosas nuvens permitem, se vêem zilhões de estrelas no firmamento. 

4º dia de trekking

Nosso próximo destino é o acampamento Dragon. Inicialmente caminhamos por uma superfície rochosa plana. Apenas dois trepa-pedras envolvem certas habilidades para transpô-los. 

O céu ora ensolarado ora nublado. Entramos numa mata fechada, cheia de sinuosas curvas, um sobe e desce ininterrupto conhecida como labirinto. A floresta é linda com arbustos e árvores hospedando em seus troncos variedades de bromélias. 

De repente, numa dobra da mata, uma visão extasiante: cercado por margens cuja areia é rosada, as douradas águas do rio Churun, onde nos banhamos. A poucas centenas de metros o maciço paredão da 2ª muralha. 

Chegamos ao acampamento Dragon (1.765 m), no meio da tarde. Da minha barraca, escuto o conversê dos guias mas nem eles tampouco os pemones fazem frente à tagarelice dos belgas, imbatíveis na charla! 

5º dia de trekking

Como de costume, o dia amanhece nublado. Escuto a 20 metros da barraca o barulhinho gostoso da correnteza do Churun. A passarada assanhada não para de trinar. Deve estar, no mínimo, curiosa com nossa movimentação, afinal Auyantepui não é point turístico bombado como o Roraima. 

A escalaminhada em paredão exposto até o topo da 2ª muralha mostra-se bem ríspida. Mas a beleza do mundo encantado das pedras e dos musgos suplanta qualquer cansaço. 

Quando terminamos a subida e alcançamos o topo da 2ª muralha, as dificuldades não param. Tudo porque temos pela frente quilômetros de terreno fofo coberto de areia e material orgânico, seguindo-se um solo pantanoso quando entramos em úmidos bosques. 

Após hora e meia de pernada, aleluia, chegamos a uma baixada onde se encontra o acampamento Neblina (1.820 m). 

6º dia de trekking

Eeebaaa, hoje as subidas nem são lá muito puxadas. O espesso matagal de samambaias acaba num terreno coberto por lajes, livre de vegetação. Após breve descanso, a pegada é encarar o interior dum bosque escuro, atravancado de troncos e galhos de árvores caídos no chão desnivelado que alterna baixadas e subidas. 

Tudo muito úmido, tornando o solo em certos trechos uma meleca pantanosa. No início da tarde, já estamos no acampamento Kerepa, fincado à margem do rio de mesmo nome.  Por causa do mau tempo, fico na barraca lendo. 

7º dia de trekking

Embora o trajeto seja curto, dura é a distância até o acampamento Salto Angel neste último dia de caminhada. Semelhante a de ontem, a trilha se dá no mesmo tipo de bosque cerrado, escuro e úmido, com subidas e descidas lamacentas. 

Louquíssimo o trecho de selva onde espessos musgos de coloração ferruginosa recobrem troncos e galhos de árvores. De repente, nos livramos do matagal e entramos num campo coberto de gramíneas, vencendo sem esforço uma curta ladeira, após o que alcançamos, enfim, o acampamento Salto Angel, montado também à margem do rio Kerepa. 

À tardinha, nos acomodamos ao redor da fogueira, providencialmente acesa pelos porteadores, pois um arzinho gelado paira no topo do tepui. À noite, reina o maior silêncio no acampamento, já que amanhã levantamos às 4 horas para enfrentar o restante da aventura. 

Os dois dias de rapeis 

A partir de hoje, nossa pernada será diferente: enfrentaremos dois dias de rapeis numa parede de quase mil metros, pouco distante do Santo Angel, terminando a aventura no rio Churun. 

Nos seis primeiros rapeis a descida se dá em parede quase desnuda de vegetação. Já os 7º e o 8º rapeis são feitos em meio a arbustos. Para chegar ao ponto do 6º rapel, somos becapeados a improvisado corrimão de cordas antes de percorrermos os 20 metros do estreito platô, limitado à esquerda pelo despenhadeiro de 700 metros de altura. 

Embora este rapel seja o pior de todos, com 90 metros de exaustiva descida, sou recompensada quando, num lance negativo, a corda me faz girar 180º, permitindo que eu dê as costas à parede e veja aos meus pés o cenário sensacional do canyon del Diablo cortado pelo rio Churun. 

Quase no final da tarde, chego ao acampamento Cueva, um largo platô encimado por um baita teto de rocha onde bivaqueamos. Deitada, aprecio o sol iluminar a parede leste do tepui, acentuando a coloração rósea de sua rocha. 

Um dos vários momentos de rapel na expedição (Arquivo pessoal)

Após a emocionante descida de 475 metros, eis diante de meus olhos, a poucos metros, o Salto Angel! 

Faltando ainda 500 metros de baixada, dia seguinte, realizamos outros sete rapeis, todos em meio ao matagal. Cada vez mais perto do leito do rio Churun, já escuto seu rumorejar. 

Não tinha ideia de que a aparente verticalidade da parede -vista de fora- particularmente nestes 500 metros finais, comportasse tantas plataformas, algumas com capacidade de acomodar 20 e tantos viventes, bem como trechos onde se pode caminhar sem necessidade de rapel. 

Terminados os rapeis, uma caminhada numa baixada hiper íngreme e resvaladiça até o mirador do Salto Angel. Chegamos à tardinha a Isla Ratón onde pernoitamos num dos muitos refúgios ali existentes. 

Construída à margem esquerda do rio Churun, na rústica habitação, uma dezena de redes serve como cama. Após a janta, deitada na rede e embalada pelo toin toin toin das gotas de chuva tamborilando no teto de zinco, penso cá com os meus botões: terminou o que era doce, quem desceu o Salto Angel se arregalou!

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Aviso aos passageiros 1: Se você gosta de aventura e altura, pode se interessar pelo relato do alpinista e escritor Thomaz Brandolin, que contou como foi escalar o Monte McKinley ou Denali, o ponto mais alto da América do Norte

Aviso aos passageiros 2: O Check-in também tem o relato do escritor Marcelo Lemos, que subiu ao topo do Kilimanjaro, o ponto mais alto da África

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