Check-in https://checkin.blogfolha.uol.com.br Relatos de turistas, dicas e serviços de viagem Wed, 01 Dec 2021 12:49:26 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Viajante relembra excursão a Maceió com passeios, praias e piscinas naturais https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/08/17/viajante-relembra-excursao-a-maceio-com-passeios-praias-e-piscinas-naturais/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/08/17/viajante-relembra-excursao-a-maceio-com-passeios-praias-e-piscinas-naturais/#respond Tue, 17 Aug 2021 14:15:30 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/9-ilhas-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=788 Nada é melhor do que recordar bons momentos. É assim que Junior Lopes começa o seu relato. E é essa a intenção do Check-in em tempos pandêmicos.

Ele, um apaixonado por viagens, relembra a excursão que fez para Maceió em 2018. Foram vários dias de passeios, praias, drinques e muita diversão em grupo.

Em tempos de coronavírus nossas viagens ficaram mais restritas. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Nada é melhor do que recordar bons momentos. E nessa pandemia em que fomos privados de fazer uma série de coisas, bom mesmo é lembrar as viagens que fizemos. Nesse sentido, gostaria de compartilhar com vocês uma que fiz para Maceió em 2018, época em que aglomerar não era um problema e, por isso, fizemos a viagem em um grupo, com 23 pessoas.

Maceió é muito linda! E essa excursão em 2018 foi muito especial. O grupo era unido e passamos dias incríveis de praia, sol, mar, forró, o famoso chiclete de camarão e muitas guloseimas.

A nossa viagem começou no dia 20/10/2018, um sábado. Saímos de Santos e fomos em direção ao Aeroporto de Congonhas em São Paulo.

Um ônibus estava nos esperando em frente ao Orquidário e às 8h30 seguimos para o aeroporto. Nosso voo da Gol saiu às 13h25 com destino a Maceió.

Chegamos com tempo sobrando ao aeroporto, ainda deu tempo de comer um lanchinho e comprar chocolate para levar no avião. Fizemos uma viagem tranquila, em um voo que durou 3 horas.

Aterrissamos lá às 16h20, recepcionados pelo verão de Maceió e pelo guia Hélio, um rapaz muito simpático que nos levou ao ônibus que estava à nossa espera.
No caminho, ele nos contou várias histórias sobre a cidade. Nos pediu paciência quanto aos atendentes, pois disse que lá o pessoal trabalha com “taleeennnto” (ou seja, costumam fazer as coisas mais devagar, “lento”, diferentemente da correria louca que temos em São Paulo, por exemplo). Ele também deu uma esplanada de como seriam nossos passeios e nos deixou no Maceió Mar Hotel.

Nesse primeiro dia tivemos a tarde livre para curtir o pôr do sol da praia e a piscina do hotel –o jantar foi no próprio estabelecimento. Aliás, a excursão foi montada com sistema de meia-pensão, em que tivemos todos os dias o jantar incluso, além do café da manhã.

No dia seguinte, um domingo, fomos para a Praia do Gunga. O grupo se reuniu pela manhã às 8h, e seguimos no ônibus. A praia é conhecida pela abundância de coqueiros e por sua extraordinária beleza natural.

O trajeto de ônibus foi de aproximadamente 50 minutos. Mas o guia era tão simpático e foi contando tanta história que nem deu para ver o tempo passar.

A praia dispõe de uma boa infraestrutura para atender os visitantes. Fica situada em uma curva sinuosa entre o oceano Atlântico e a lagoa do Roteiro. Tem de um lado um extenso pontal de areia branca, com águas calmas, e, do outro lado, uma sequência de coqueiros a perder de vista, com mar aberto e falésias coloridas.

A praia é boa para visitar em qualquer situação: quando a maré está baixa, piscinas naturais são formadas, e com a maré alta, a água doce do rio encontra a água salgada do mar, um espetáculo da natureza.

Além da paisagem perfeita, a praia oferece estrutura de lazer (aluguel de equipamentos náuticos, buggys e quadricíclos), bares, restaurantes e lojas de artesanato.

Logo na chegada fizemos um passeio de barco de aproximadamente 30 minutos, saindo de Barra de São Miguel com destino à praia do Gunga. O nosso ponto de encontro era a famosa barraca Gunga Beach.

A maioria do grupo optou por fazer um passeio de jipe (que nos foi ofertado lá mesmo) para ver as lindas falésias e os coqueiros a perder de vista. A paisagem lá é maravilhosa, um passeio que não pode deixar de ser feito se você estiver pensando em ir para Maceió.

Na segunda-feira, saímos às 11h30 para fazer um passeio conhecido como “passeio das 9 ilhas”. O trajeto do nosso hotel até o Pontal da Barra durou cerca de 25 minutos.

Antes de realizar o passeio, almoçamos em um restaurante, O Peixarão, onde comemos um delicioso peixe acompanhado de uma cervejinha.

Esse passeio é um refúgio para a alma, perfeito para descontrair, recompor energias e refletir sobre as coisas boas da vida. Os encantos de uma jornada em um lugar paradisíaco com tudo que ele pode oferecer.

Situado no complexo lagunar de Mundaú-Manguaba, as Nove Ilhas são um arquipélago fluviomarinho, sendo que oito destas ilhas ficam em Maceió, enquanto a outra se localiza na cidade vizinha, Marechal Deodoro.

O trajeto pelas águas das lagoas acontece através de uma escuna. Embora o arquipélago seja composto por nove ilhas, oito delas são rodeadas por bancos de areia e mangues, o que impossibilita o acesso de embarcações. Apenas a ilha Carlito oferece condições seguras para recepcionar os turistas.

Lá, tivemos a oportunidade de tomar um banho de piscina e ter acesso ao bar da ilha para tomar um drinque e pedir petiscos de frutos do mar.

São nove ilhas e dezenas de motivos pelos quais vale a pena realizar o passeio. Na volta tivemos a oportunidade de vislumbrar o mais belo pôr do sol nordestino. Uma verdadeira obra de arte!

No retorno visitamos o Pontal da Barra, uma rua com muitos artesanatos locais. São várias lojas com os famosos bordados filé, sorvetes artesanais, cachaças locais e vários outros tipos de lembranças.

Na terça, os organizadores da excursão nos deram um dia livre para curtirmos a capital alagoana, uma pequena pausa para recarregar as baterias.

A maioria do grupo foi curtir as piscinas naturais de Pajuçara, que é um passeio fantástico! Pegamos uma jangada na beira da praia e seguimos mar adentro, até que chega um ponto em que é possível ficar de pé dentro da água (e isso a cerca de 1 km de distância da areia da praia). Ali pudemos ver vários peixinhos que vinham perto de nós, algumas pedras que davam para ficar em pé para tirarmos fotos e, pasmem, tinha um “bar aquático flutuante” onde vinham nos oferecer frutos do mar.

Algumas pessoas optaram por ficar na praia que ficava em frente ao hotel, a praia Ponta Verde.

A feirinha de artesanato foi um outro atrativo visitado, pois lá tem de tudo um pouco. Venda de bordados, cachaças, camisetas, redes, entre outras lembranças para você levar de Maceió.

À tarde, o grupo voltou a se reunir, e almoçamos em um restaurante delicioso próximo à praia onde comemos o famoso “chiclete de camarão”, prato típico local com camarão e muito queijo. Estava uma delícia!

À noite, fomos curtir música ao vivo no Lopana, um bar muito charmoso com boa comida e excelente repertório musical. Ficamos até altas horas jogando conversa fora e lembrando os momentos em que passamos juntos. Depois retornamos ao hotel para uma boa noite de sono.

No dia seguinte, na quarta, saímos do nosso hotel às 8h. O trajeto até o complexo Dunas de Marapé durou cerca de 55 minutos.

Após uma rápida travessia de barco (5 minutos) foi possível desfrutar do mágico encanto de uma praia de areias brancas, protegida suavemente por uma barreira de recifes.

O complexo Dunas de Marapé oferece serviço de bar, restaurante com culinárias regionais e passeios opcionais como o passeio Circuito Pau de Arara e a Trilha dos Caetés.

A poucos passos estão às águas do rio Jequiá, tentação para um delicioso banho nesta parte do paraíso. Sua abundante vegetação nativa nos deleita com a presença de simpáticos saguis, entre outras espécies características da região. As dunas fixas e falésias esculpidas pela natureza são uma excelente opção para uma caminhada à beira mar.

Pegamos uma mesa na areia da praia, ficamos batendo papo e tomando uns drinques. O dia estava lindo e nessa altura todos do grupo já tinham se tornado amigos.

O encontro do rio com o mar rendeu belas fotos. Tanto o mar quanto o rio são ótimos para banho.

O almoço nesse passeio estava incluído no pacote da excursão, uma refeição muito bem servida.

Depois desse dia incrível, o guia nos deixou no hotel para tomarmos banho para sairmos à noite. Fomos na casa de forró Maikai, chegamos cedo para pegar uma das poucas e disputadas mesas, mas deu tudo certo. O grupo todo se divertiu muito, pois havia dançarinos da casa que ficavam tirando as pessoas para dançar –não teve como ninguém ficar parado.

Retornamos ao hotel para um descanso, pois ninguém é de ferro!

Na quinta, saímos um pouco mais cedo do hotel, por volta das 7h. Fomos para Maragogi e suas incríveis piscinas naturais, conhecidas como Galés de Maragogi. O trajeto durou cerca de 2 horas.

No caminho fizemos um amigo secreto promovido pela agência de turismo. Foi muito divertido, e achamos a ideia dos organizadores excelente, pois mesmo sendo um lugar distante, mais uma vez nem vimos o tempo passar, além disso as lembranças eram os artesanatos, o que fez com que ajudássemos ainda mais o comércio local.

Chegando na praia, tivemos a sorte de pegar a maré baixa e aproveitamos as piscinas naturais, por sinal, as maiores de Alagoas. A seis quilômetros da costa, os aquários naturais reuniam peixes, crustáceos, moluscos e corais de variadas espécies.

Até quem não sabe nadar aproveitou demais o passeio. Máscara de mergulho, snorkels e equipamentos de mergulho foram oferecidos opcionalmente, para ver os peixinhos que nadaram próximos a nós, uma experiência encantadora.

Nosso ponto de encontro foi o restaurante Pontal de Maragogi que ofereceu guarda-sóis e cadeiras. Havia um restaurante delicioso e almoçamos por lá.

Como tudo que é bom dura pouco, chegamos ao último dia da nossa viagem para Maceió, e retorno para casa. Na sexta, tomamos café da manhã no hotel, e às 10h o ônibus saiu para o aeroporto.

O voo estava marcado para as 12h35 com destino a São Paulo (Congonhas), e chegamos no aeroporto paulistano às 15h35, onde um outro ônibus estava nos esperando para o retorno à Santos.

Uma viagem maravilhosa em um lugar paradisíaco! Lembranças e memórias para guardar para a vida toda!

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Aviso aos passageiros 1: Também em Alagoas, a Costa dos Corais é destino único e inesquecível, de acordo com o jornalista Lucas Bicudo

Aviso aos passageiros 2: Caso você goste de natureza, Capitólio (MG) recebe bem tutores e seus pets em paisagens paradisíacas

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Costa dos Corais, no litoral de Alagoas, é destino único e inesquecível https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/04/29/costa-dos-corais-no-litoral-de-alagoas-e-destino-unico-e-inesquecivel/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/04/29/costa-dos-corais-no-litoral-de-alagoas-e-destino-unico-e-inesquecivel/#respond Thu, 29 Apr 2021 17:42:06 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2021/04/IMAGEM-01-CAPA-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=703 O litoral alagoano, com suas belezas naturais, já foi “vendido” aqui no Check-in pelas palavras do jornalista Lucas Bicudo, quando ele escreveu sobre a Praia do Francês.

Desta vez, ele veio nos apresentar (e presentear) o litoral norte do estado. E, de brinde, inúmeras fotos que poderiam estar como fundo de tela do computador.

Em meio à pandemia e ao distanciamento social, o texto a seguir, com suas imagens, é uma boa inspiração.

Em tempos de coronavírus nossas viagens ficaram mais restritas. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Ouvi de alguém, enquanto comia um grude de beira de estrada no meio do litoral norte de Alagoas: “que a paz infinita me encontre em seus coqueirais e que a luz da esperança reflita nas águas limpas que mostram seus corais”. Achei poético.

Mas eu estava ali, no capô de um carro alugado cansado, na estreita AL-101 –comprimida, talvez, pela maior síntese que temos no Brasil de beleza tropical–, sendo esbofeteado de mão aberta com uma variação impressionante de tons de verde e azul que compunham ao redor.

O litoral norte daqui de Alagoas é fundo de tela do Windows. É daqueles lugares que o horizonte até assusta. Serotonina pura: inibição de mau humor, qualquer tipo de agressividade. Endorfina pura: bem-estar, prazer contínuo.

Fiz um roteiro pela chamada Costa dos Corais, que é tudo que vem ao norte de Maceió até Pernambuco, em 2018, mas foi antes de me mudar para cá e morar na Praia do Francês. Era a primeira vez no Nordeste, em um mundo pré-pandêmico.

Bem, de 2018 para 2021 passaram-se aproximadamente 45 anos –não sei se para frente ou para trás. Mas o fato é que, hoje, um pouco mais contextualizado e inserido na expressão cultural daqui, decidi pegar a memória afetiva do repertório que tinha, da novidade, e revisitá-lo com um olhar mais clínico, da experiência, adicionando algumas figurinhas para a coleção e criando um roteiro mais alternativo.

Estamos vivendo um dos períodos mais tristes da nossa história. E um ano depois dessa quebra total de paradigmas, você vai aprendendo a ter alteridade pelos diferentes contextos sem brandar aos ventos palavras maniqueístas.

Vou exemplificar. Sou de São Paulo. Aprendi que é uma cidade extremamente claustrofóbica. Embora, se comparada a Maceió, dê um banho no incentivo de ocupação pública, continua sendo uma cidade claustrofóbica. Tudo é estrutura, tudo tem quatro paredes. No contexto da pandemia, isso é catapultado lá pra cima.

Aqui não. Aqui é diferente. É uma surra de natureza. Mesmo estando na capital ou próximo dela, viver, simplesmente existir, já é estar mais em contato com planos angulares, planos mais abertos. Em um estado com um litoral de 229 quilômetros e mais de 30 praias de todos os tipos, você está sempre em contato com um panorama absurdo e –aqui vem o cerne da questão– opções mais inauditas para conhecer tomando as devidas precauções. Tem hora que a cabeça cede. Hoje eu vivo em um lugar em que eu posso minimamente fazer isso respeitando o espaço da proporção e do cuidado.

Essa era a missão. Principalmente para produzir um conteúdo responsável e responsivo. Entender o momento que estamos vivendo –o roteiro foi feito em uma semana ainda em janeiro de 2021, quando os números estavam “um pouco mais otimistas”–, explorar um Alagoas mais alternativo e trazer as impressões dos detalhes que compõem o litoral norte e o tornam um destino único e inesquecível.

Características da Costa dos Corais, o litoral norte de Alagoas
A Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais (APA) é a maior unidade de conservação federal costeiro-marinha do Brasil. São 120 quilômetros de extensão, formado por 440 mil hectares, que passam por 13 municípios, de Tamandaré, em Pernambuco, até Maceió, Alagoas.

Cor da água que é possível encontrar no litoral norte de Alagoas (Nara Almeida/Arquivo pessoal)

No caminho, de Pernambuco para Maceió, o ecossistema costeiro banha as cidades de Barreiros, São José da Coroa Grande, Maragogi, Japaratinga, Porto de Pedras, São Miguel dos Milagres, Passo de Camaragibe, Barra de Santo Antônio e Paripueira.

Formada por três sistemas distintos, a Costa dos Corais ainda avança 33 quilômetros mar adentro. A Mata Atlântica, na área terrestre, o manguezal, formado pela foz dos rios e a floresta submarina.

A subida da maré leva as águas salgadas para o leito do rio e avançam nas suas margens, atingindo a floresta; no retorno, carrega as folhas e outros materiais orgânicos para o leito do rio, transformando esse material em proteína para o alimento dos peixes e outras espécies aquáticas. Ali, é comum encontrar camarões, lagostas, polvos, uma grande variedade de peixes e até mamíferos grandes, como o peixe-boi.

Em Japaratinga, existem espécies ameaçadas de extinção em volume gigantesco, como uma coleção de recifes de corais do tipo cérebro.

Maragogi é tudo isso mesmo que falam? Vale se hospedar por lá?
O grude da beira da estrada já era um papel melequento que derretia com o sol que entrava pela janela. Já estava próximo de Maragogi, a cidade escolhida para ser sede da viagem. A ideia era conhecer o resto do litoral de cima para baixo, de Maragogi para Maceió. São 127 quilômetros que separam as duas cidades.

Existem duas formas de chegar até lá. Ir pela Rota dos Milagres, costeando as praias e pegando uma balsa para atravessar de Porto de Pedras para Japaratinga; ou indo por cima, logo depois de São Luís do Quitunde, sem descer para Passo de Camaragibe.

A primeira opção é mais longa, mas é mais bonita e razoavelmente mais segura. A segunda opção é mais rápida, mas não é moleza não. Vá a passeio e viaje pelo dia: as condições da estrada não são boas. Chega a ser um descaso a rodovia que conecta a principal cidade do estado para seu principal ponto turístico estar naquelas condições.

A escolha de hospedagem em Maragogi foi uma confluência de fatores, que me levaram até lá. Não nos cabe aqui discuti-los, mas, categoricamente, digo que foi um erro. Não pelo lugar em que me hospedei.

Aluguei um apartamento completo no Flat Marbello, por R$ 150 a diária. Com cozinha, uma cama de casal e uma cama de solteiro. Foi bem bacana a experiência. Ele fica bem na entrada da cidade, na praça Júlio Uchoa, e bem perto do centro, de onde partem todos os passeios da cidade. Além desse apartamento completo, eles também possuem opções com duas camas de solteiro ou com uma cama de casal, menores, só quarto mesmo. A diária para esses está na casa de R$ 80.

Opção de apartamento no Flat Marbello (Divulgação)

Se hospedar em Maragogi foi um erro em alguns sentidos. O primeiro eu já previa, que era se acomodar –embora eu ficaria pouco por lá– na cidade que leva o nome de Alagoas por todo o país. Mesmo em pandemia, a cidade estava cheia. Imagino o que é aquilo em um verão sem restrições. Esse é o ponto um. É um lugar movimentado.

A consequência disso é a infraestrutura para receber todo esse movimento. Maragogi não tem. É uma cidade em construção. Você observa isso nos batentes das casas, dos estabelecimentos. É uma cidade que está crescendo, evoluindo, mas ainda não atende o gigantesco volume de procura pelo destino, principalmente depois dos estímulos midiáticos para a região, iniciado pelos pacotes CVC, pela construção de resorts e pelo aquecimento do destino São Miguel dos Milagres.

Vista da cidade de Maragogi (Victor Veronesi/Arquivo pessoal)

Sobrecarrega, desequilibra e a corda estoura para algumas coisas que eu não consigo passar batido: redes de esgoto indo parar diretamente na praia –vou usar letras garrafais: AQUELA PRAIA!

Um último e não menos importante ponto de atenção é que Maragogi fica em um dos extremos do litoral. Ficar hospedado em uma localização mais estratégica, mais central, seria uma opção melhor para conhecer mais praias pela Costa dos Corais.

Maragogi decepciona por conta disso. Você tem uma praia paradisíaca, é um dos lugares mais bonitos do mundo, mas o mínimo de estímulo que existe está nos braços de seu povo, que tenta ter uma vida melhor enquanto um monte de turistas por lá transitam. De resto –segunda vez que eu uso essa palavra– descaso total. Você tem um bem danado em suas mãos e não cuida.

Mas falo tudo isso por saber que eu também queimei a língua em outras coisas. Como por exemplo:

O que você precisa fazer ao visitar Maragogi (roteiro de 2 dias)

Piscinas Naturais
Piscinas naturais. Se o tom estava pesado para Maragogi, agora a brincadeira muda. As piscinas naturais de Maragogi não são desse mundo. É uma fenda no espaço-tempo em que corre um líquido divino de rejuvenescimento e vida. É impressionante.

É possível encontrar águas cristalinas em Maragogi (Lucas Bicudo/Arquivo pessoal)

Aqui tem outro ponto de atenção. Se você escolheu ir para Maragogi é porque já deve ter visto alguma coisa de lá que te impressionou. Águas cristalinas, peixes nadando ao seu lado, croas de areia cortando o mar. São nas piscinas naturais que você encontra isso. A praia na encosta de Maragogi é leitosa. Não é uma água transparente; é uma coisa mais carregada, turva. Ainda é um absurdo? É um absurdo. É aquele azul berilo inconfundível, alagoano, sem essa de caribe. É um azul do Brasil, lindo, mas leitoso, mexido.

Para ir até as piscinas, você pega uma jangada –pelo preço de R$ 100 a cabeça– e vai até o meio do mar, onde uma barreira de corais cria um complexo de floresta subaquática que você pode nadar e mergulhar livremente.

Vale também dizer que o passeio das piscinas naturais funciona dentro da regra de ouro de Alagoas: é durante a maré baixa. Por isso, se programe para fazer no momento em que a maré estiver secando. Você pode acompanhar a tábua de marés de Maragogi pelo Tideschart.

Praia de Antunes
Vamos tirar uma coisa da frente: Maragogi não tem só a praia do centro de Maragogi –e o lasco que eu descasquei. Tem Barra Grande, Ponta do Mangue, Burgalhau, Peroba, Xaréu. A questão do esgoto, por exemplo, é rapidamente resolvida indo para qualquer uma dessas praias vizinhas.

Elas ainda terão todo o aspecto paradisíaco e você pode se esbaldar. Confesso, entretanto, que achei todas razoavelmente parecidas. Longe de reclamar. Mas uma delas achei a exceção da regra, o ponto fora da curva: Praia de Antunes, ao norte de Maragogi.

É possível encontrar águas cristalinas em Maragogi (Nara Almeida/Arquivo pessoal)

Antunes é uma praia diferenciada. Sabe a questão da orla ser leitosa? De encontrar água cristalina só nas piscinas naturais? Antunes, quando está seca, fica cristalina cristalina (perdoe-me a redundância no texto, mas é pela força da expressão). É um –usando pela terceira vez a palavra, mas agora com o sentido totalmente oposto– descaso total. Você fica lá jogado, numa piscininha cristalina. Descaso. Desbunde. Vale um dia todo por lá.

Tem um único contraponto, que tem seus lados para serem ponderados. Ela é uma praia que você precisa entrar pelos coqueirais para chegar. O estacionamento costumava ser lá na frente, mas como é uma das praias mais famosas da região, para preservá-la, decidiram recuar o estacionamento para espaços na beira da estrada.

Não são bem planejados e às vezes só te resta o acostamento. É perigoso, além de custar na mão das pessoas que assumiram ali uma posição de cuidar do seu carro. Mas, no fim, a praia está sendo preservada. Reparar um estacionamento é infinitamente mais sensato do que reparar um impacto ambiental.

Aqui também está dentro da regrinha: aproveite para conhecer durante a maré baixa. Por isso, se programe para fazer no momento em que a maré estiver secando. Ali em cima tem o link para acessar o site de tábua de marés.

Esse é o motivo de separar dois dias para conhecer Maragogi. São dois passeios de maré baixa. Piscinas naturais e Antunes. Não faça na correria, aproveite para se esbaldar com a praia bem sequinha. Esse é o charme.

A terceira e consequente indicação você consegue fazer quando quiser. É para encerrar o dia bem.

Pôr do sol no mirante de Maragogi
Para além disso, Maragogi entrega também um pôr do sol bem impactante. No Mirante de Maragogi, alguns quilômetros ao lado da entrada da cidade, sentido Japaratinga, você poderá ver do alto de um morro o sol caindo atrás de um vasto campo de coqueiros.

Normalmente, o pôr do sol de praia é assistindo ao sol caindo por detrás dos coqueiros, porque você está na praia. Seu ponto de visão é de baixo. Esse daqui é de cima. Você tem uma dimensão do tamanho real e da extensão do coqueiral e uma visão privilegiada do sol caindo sobre o horizonte. Vale a pena terminar o dia por lá.

Mais do que isso –piscinas naturais, Praia de Antunes e pôr do sol no mirante–, Maragogi não tem necessariamente minha recomendação. É lindo, claro, mas o interessante ficou mesmo para o que estava reservado para os próximos dias.

Estrutura de serviço de Maragogi
Pelo momento em que estamos vivendo, não me aventurei por aí para conhecer bares e restaurantes ou serviços de praia. Mas algumas coisas precisam ser pontuadas: tanto Maragogi quanto Antunes possuem toda a infra necessária para que você passe um dia por lá munido de serviços básicos. Caso opte por desbravar os cantos mais isolados e por lá sua canga estender, é sempre bom levar um lanchinho e muita água.

Bitingui: charme e tranquilidade em Japaratinga (roteiro de 1 dia, mas que pode ser até 2)
Se Maragogi é uma cidade em construção, nada parece finalizado, Japaratinga já tem uma cara. E é uma cara muito charmosa. Vila de pescador, tempos de outrora, de um povo que tem uma relação anímica com aquelas águas.

Entre Maragogi e Porto de Pedras, são seis as praias de águas em tons verde-esmeralda de Japaratinga. Dirigir pelos 15 quilômetros de extensão beira-mar é uma experiência que já vale a pena passar. Por ter uma geografia acidentada, ao longo do percurso existem diversos mirantes, que valem a pena parar só para se espreguiçar e respirar fundo. É tudo muito bonito. É um spa para a alma. Tudo te estimula.

Passados os dois primeiros dias de viagem, a escolha para parar na sequência foi pela praia de Bitingui, já no extremo sentido Porto de Pedras.

Vista da praia de Bitingui (Lucas Bicudo/Arquivo pessoal)

Decidi atracar no Camboa, um restaurante-bar pé na areia, que serviu de base para consumir uma coisinha ou outra ao longo do dia. Além de funcionar como estacionamento, a infraestrutura é uma delícia e os preços são ótimos. Você consegue comer um bom peixe, por exemplo, numa base de preço de R$ 85; já bebida, uma caipirinha sai por R$ 9 ou uma cerveja por R$ 11.

Para conhecer Japaratinga toda, você precisa de no mínimo três dias. Para conhecer o Bitingui, é um dia de praia que é necessário, mas fica aqui o apelo para um segundo. Eu quero muito conseguir transmitir com essas palavras o sentimento de tranquilidade que lá passava. Se tinha dez pessoas por ali, era muito. Era uma praia paradisíaca, vazia, com uma sombra primorosa projetada pelos coqueiros.

Fiquei horas. Deitado, de bobeira. Andando, explorando. Mas mais do que tudo isso, sempre na cabeça pensando quando seria a próxima vez que eu estaria ali, porque é difícil abrir sua mente para um lugar desse e não voltar a viver aquilo. Tanto que rendeu um segundo dia. Fizemos dois dias de Bitingui, tamanho foi o envolvimento com a paz que aquele lugar trazia.

A recomendação de hospedagem em Japaratinga, como alternativa para Maragogi, é o aconchegante Bitingui Praia Hotel. Com uma arquitetura discreta e horizontal, que não impacta na silhueta da praia, você pode ficar em um dos chalés ou apartamentos com vista para o mar. As diárias variam conforme o período do ano, mas um apartamento duplo (com duas camas de solteiro ou uma de casal), fica mais ou menos na casa de R$ 300. Existem espaços maiores conforme sua pretensão, se estiver em família, com amigos.

Vista aérea do Bitingui Praia Hotel (Divulgação)

Dizem que Japaratinga é o primo tímido de Maragogi. Só de escrever essas últimas palavras já achei mais dois ou três motivos para te recomendar ficar em Japaratinga e não em Maragogi. Tranquilidade, mais calma, uma gastronomia interessante, opções de hospedagem mais atrativas, natureza mais viva. Não é o primo tímido. E a beleza de Alagoas é essa. Em uma distância de 10 quilômetros que os separam, você tem duas das praias mais bonitas do Brasil.

Se você está procurando agito, vá para Maragogi e conheça Japaratinga. Se você está procurando tranquilidade, como o momento pede, vá para Japaratinga e passe por Maragogi.

Descendo mais ainda para além de Bitingui, atravessando a balsa do farol de Porto de Pedras, no ponto onde o mar encontra o rio Manguaba, já tinha traçado a próxima parada, no nosso quinto dia de viagem.

Estrutura de serviço de Japaratinga e do Bitingui
Japaratinga é muito conhecida por ter uma gastronomia bem autêntica e local, coisa de vila de pescador. Pela cidade, você certamente irá achar o que precisa para sanar quaisquer necessidades que tiver. Novamente, pelo momento em que estamos, não me aventurei por esse tipo de experiência. Verdade que acabei usando o serviço de praia do Camboa como base no Bitingui, mas lá é uma coisa muito mais isolada, e que me permitia estar usufruindo da estrutura do lugar em um canto mais meu. De certa forma, o que tenho para falar aqui serve da mesma maneira que pontuei em Maragogi: você encontrará tanto em Japaratinga, quanto no Bitingui, toda a infra necessária para que passe um dia por lá munido de serviço básico. Bateu fome, tem. Quer beber algo, tem.

Na praia do Bitingui, em Alagoas, é possível comer no Camboa (Victor Veronesi/Arquivo pessoal)

Igualmente: caso aproveite a praia com a sua canga, mochila e o sonho do mundo nas costas, leve lanche e muita água. Essas ponderações são importantes para os próximos destinos, que você precisa de fato se preparar para passar um dia com tudo tranquilo.

Tatuamunha: praia, rio e o santuário da Costa dos Corais (roteiro de 1 dia)
Tatuamunha leva a alcunha de santuário. Beatificação. Não por menos. Vou introduzir só com uma foto.

Tatuamunha, no litoral norte de Alagoas (Lucas Bicudo/Arquivo pessoal)

O povoado de Tatuamunha fica em Porto de Pedras, no norte da Rota dos Milagres. O rio Tatuamunha atravessa uma área manguezal até chegar na praia mais surpreendente e absurda que conheci aqui em Alagoas e na minha vida.

Esse estuário, conhecido como Boca do Rio, é tão rico e poderoso, que cada vez que você visita você o encontra de uma maneira distinta. Na maré baixa, quando o mar seca e o rio avança, você encontrará na praia os tons de azul mais indescritíveis.

Rio Tatuamunha atravessa uma área de manguezal até chegar na praia, em Alagoas (Victor Veronesi/Arquivo pessoal)

No rio, a água fica mais escura, de rio mesmo, e há mais chances de esbarrar com um peixe-boi, nativo da região, nadando feliz e livremente. Na maré alta, toda a água do mar entra para o rio –perfeito para quem gosta de tomar banho em rio com água salgada e cristalina.

Com a maré secando, vale cair no rio um pouco para cima e deixar a correnteza te levar até o encontro com o mar. Queria ter feito com uma boia. É uma experiência bem gostosa, de estar no ponto de intersecção entre duas forças que pintam uma das mais belas paisagens de Alagoas.

Tatuamunha também é outra atração natural no litoral de Alagoas (Lucas Bicudo/Arquivo pessoal)

O roteiro para Tatuamunha, caso esteja de passagem, é preciso de um único dia. São duas experiências diferentes: a da maré cheia e a da maré seca. Se o dia amanhecer com a maré cheia, aproveite para tomar banho de rio e, conforme ela for secando, você vai para o mar. Se o dia amanhecer com a maré baixa, comece pelo mar, e, conforme ela for enchendo, vá para o rio.

Estrutura de serviço de Tatuamunha
Como disse, estou pontuando essa questão da estrutura de serviço, porque aqui em Tatuamunha é o caso que você vai precisar encher o porta-malas. Faça um cooler com bebidas, prepare o lanche para o dia todo. É um diamante. Um canto inexplorado. Faça seu piquenique e certifique-se de não deixar nenhum lixo para trás.

Passo de Camaragibe: praia deserta e hotel fazenda no campo (roteiro de 1 dia)
No outro extremo da Rota dos Milagres, sul em direção a Maceió, Passo de Camaragibe, nosso destino no sexto e último dia, que fechou a semana na estrada, é outra daquelas gratas surpresas, principalmente por, em questão de poucos quilômetros, te proporcionar uma experiência em uma praia totalmente deserta e outra em um hotel fazenda no meio dos morros da pequena serra que desce até essa parte do litoral.

Suas praias, Barra de Camaragibe e Praia do Marceneiro, quilômetros 0 e 3, respectivamente, da Rota dos Milagres, valem demais a parada. Embora um pouco mais discretas em exuberância se comparadas às já mencionadas por aqui, a Praia do Marceneiro, por exemplo, possui um passeio de piscinas naturais mais intimista e tão impressionante quanto. Já Barra de Camaragibe foi a vez que mais vi uma praia seca durante minhas andanças aqui por Alagoas.

Praia dos Morros
O que acontece é que antes do quilômetro zero, em Barra, quando a estrada faz a curva bem no encontro do Rio Camaragibe com o mar, você pode fazer uma travessia na direção contrária, passando pelo rio e chegando na Praia dos Morros, um paraíso deserto.

É possível visitar a praia dos Morros no litoral de Alagoas (Nara Almeida/Arquivo pessoal)

Para atravessar, o barco custa em média R$ 10 por pessoa, ida e volta. Tenha dinheiro em mãos e chegue cedo, porque a última travessia acontece lá para as 15h30.

Você pode também pegar uma bicicleta, atravessar de barco e fazer um passeio pelo lado lá. Há algumas pessoas que disponibilizam o serviço e te guiam por um tour até as falésias da Praia dos Morros. Para mais informações, você pode falar com o Toninho, que está presente no Instagram e pode te ajudar. O valor do passeio custa em média R$ 60 por pessoa.

É possível visitar a praia dos Morros no litoral de Alagoas (Lucas Bicudo/Arquivo pessoal)

Estrutura de serviço da Praia dos Morros
A Praia dos Morros é totalmente deserta. Se você for para fazer o passeio de bicicleta, esteja munido de água. Bastante água. Se for para aproveitar algumas horinhas por lá, se prepare o suficiente para ter o conforto necessário. Não tem nenhum tipo de infraestrutura por lá.

Hotel Cambará
Uma semana de praia intensa castiga. Eu já estava que nem o saco daquele grude, definhando no banco enquanto o sol batia forte. Por isso decidi incluir o Hotel Cambará nesse roteiro. Foi que nem passar um hidratante em uma pele ardida.

Passei a manhã toda na Praia dos Morros e me aventurei no meio da pequena serra que liga Barra de Santo Antônio a Passo de Camaragibe. É um tipo completamente diferente de experiência. Você tem uma experiência de fazenda, daquele clima bucólico –só que a 9 quilômetros da Rota de Milagres, daquela surra de praia.

Achei um tipo de hospedagem interessantíssimo para o lugar. Foge de 99% do que é oferecido como opção. Você consegue se desconectar do combo sal-areia e aproveita um hotel fazenda que, pasmem, chega a fazer um friozinho à noite dependendo da época do ano. Você tem esse conforto como sede e pode equilibrar com uma oferta de praias gigantesca.

Hotel Cambará é uma opção de hospedagem no litoral alagoano (Divulgação)

A pernoite do Cambará, para um casal, começa em torno de R$ 250, com café da manhã incluso. Para uso diário, caso queira curtir as instalações do hotel fazenda, fica R$ 49,90 para adultos e R$ 14,90 para crianças abaixo de 10 anos. Passei meio dia e almocei um carneiro guizado espetacular. Vale a pedida.

Gigante pela própria natureza
A Costa dos Corais é gigante por sua própria natureza. É aquela sensação de se pegar mais de uma vez olhando para qualquer coisa e tentando processar estar ali de fato. É coisa de filme, é coisa do limite da imaginação. Feche os olhos e pense em algo paradisíaco. Sua cabeça vai te levar para lá. Agradecido pela oportunidade de experimentar e pelo esforço daqueles que lutam para manter tudo isso vivo.

Manter para garantir a conservação dos recifes coralígenos e de arenito, com sua fauna e flora; manter a integridade do habitat e preservar a população do peixe-boi marinho; proteger os manguezais em toda a sua extensão, situados ao longo das desembocaduras dos rios, com sua fauna e flora.

Mais do que isso: ordenar o turismo ecológico, científico e cultural, e demais atividades econômicas compatíveis com a conservação ambiental, para além, incentivar sempre as manifestações culturais e contribuir para o resgate da diversidade cultural regional.

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Aviso aos passageiros 1: Longe do mar, mais precisamente no interior goiano, é possível fazer uma peregrinação pelo Caminho de Cora Coralina e ainda conhecer mais sobre a poetisa local

Aviso aos passageiros 2: Conhecido por ‘Mar de Minas’, Capitólio recebe bem tutores e seus pets em paisagens paradisíacas

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Praia do Francês tem uma história de dignidade, orgulho e tradição https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/12/08/praia-do-frances-tem-uma-historia-de-dignidade-orgulho-e-tradicao/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/12/08/praia-do-frances-tem-uma-historia-de-dignidade-orgulho-e-tradicao/#respond Tue, 08 Dec 2020 18:24:55 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2020/12/IMAGEM-01-HEADER-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=583 O litoral brasileiro, como todos sabem, é rico de história e beleza. Cada praia, vila ou cidade tem seus atrativos naturais, gastronômicos e turísticos.

Hoje, o jornalista Lucas Bicudo vai apresentar um dos encantos do litoral alagoano: a praia do Francês, em Marechal Deodoro, a cerca de 20 km da capital, Maceió.

O paulistano da Mooca traz, em detalhes, o que fazer e comer lá, além de dicas de onde se hospedar. E tudo em meio à história local.

Em tempos de coronavírus nossas viagens ficaram mais restritas. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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O barro extraído dos barrancos úmidos, em decorrência dos muitos veios d’água que percorriam a região, era colocado no lombo de burros e transportado até as embarcações no Porto Geral das Embarcações do Tamanduateí. Ali mesmo, a lama era acomodada em canoas feitas de peroba e levadas com a ajuda do rio até o destino conhecido como Campo da Mooca, um vasto espaço plano onde os povoadores erguiam suas casas com a ajuda dos indígenas.

O importante é que o ato de subir casas marca a versão mais plausível para a origem Mooca, pois, no dialeto tupi, a tradução equivale ao verbo “construir”. Surgia, em 17 de agosto de 1556, o povoado que erguia suas estruturas com suas próprias mãos. Característica essa reforçada ao longo de sua história. Um salto mais à frente, lá para 1876, quando São Paulo tinha uma população de 25 mil habitantes e as ruas eram romanticamente iluminadas por lampiões a gás e marcadas por chafarizes, não havia muita coisa, mas estava começando a nascer o embrião da industrialização.

Em quase três décadas, o índice populacional paulistano multiplicou por dez, chegando a 250 mil habitantes. Principalmente pela aglomeração de imigrantes, que viam na Mooca oportunidades de construírem seus destinos do outro lado do oceano, sem uma árdua e custosa passagem de volta, como acontecera lá atrás, no primeiro século de colônia.

O movimento de imigração alavancou o crescimento demográfico na região leste de São Paulo e traçou a planta do vigor econômico que foi indispensável para o cenário industrial paulista. Todo mundo queria vencer e, quem se aventurava por essas bandas, tinha consigo e com os outros a complacência do objetivo a ser alcançado.

Faço essa introdução porque sou da Mooca. Cresci ouvindo esses tipos de histórias e um bocado de outras. Foi só depois de algum repertório de vida que elas me trouxeram à reflexão. Esse é o motivo do porquê quem é de lá dificilmente vai podar as raízes intrínsecas em cada viela, que torna o bairro praticamente um principado no meio de uma terra cinza, repleta de arranha-céus. Da Visconde de Laguna, você consegue ouvir o bumbo grená entoar: orgulho e tradição não são feitos de canetadas ou especulação.

Mas se você chegou até essa reportagem –tal qual refere-se a promessa de abertura–, você sabe que ela não é sobre a Mooca, tampouco sobre sua história. Ela é sobre o Francês, uma das praias mais charmosas do Brasil, localizada no município de Marechal Deodoro, que fica aproximadamente a 20 quilômetros de Maceió, capital de Alagoas. O fato é que se tornou uma missão quase impossível não refletir de onde eu vim, para ter a fidelidade da experiência empírica de viver em um outro lugar, cuja estrutura foi erguida também pelas próprias mãos.

Minha escola é o Novo Jornalismo, de Capote, Talese, Wolfe e Ross. É preciso ser perceptível para narrar. E o Francês, carregado de história e significados –assim como a terra em que nasci–, me abraçou como uma segunda casa, de um jeito que eu dificilmente poderia imaginar. Tem “bom dia”, tem “boa tarde”, tem “boa noite” e tem interesse pela história um do outro.

Pela minha parte, tem interesse em contar.

Jornalista Lucas Bicudo (Clara Fernandes/Arquivo pessoal)

Berço da República
Por volta de 1591, surgiu o povoado de Magdalena do Sumaúma. Favorecido pelos canais da lagoa Manguaba –ou “Mãe Lagoa”– que ligava o lugarejo ao mar, desenvolveu-se um forte polo de pesca e de cultivo e produção de açúcar, no então sul da Capitania de Pernambuco. A pesca, inclusive, que sempre foi vista mais do que uma atividade de subsistência, tornou-se um legado imaterial passado de geração a geração –notavelmente perdurado até hoje.

Magdalena do Sumaúma cresceu ao ponto de se tornar a capital do estado. Marechal Deodoro de fato tornou-se Marechal Deodoro apenas em 1939, em homenagem ao filho ilustre da terra, Marechal Deodoro da Fonseca –o tal homem que proclamou a República. A produção de açúcar se espalhou por todo o agreste alagoano. O que ficou aqui mesmo, além da pesca, foi também a música.

Há um ditado engraçado que diz: “por aqui quando nasce um menino, o pai joga um bolo de barro molhado na parede; se cair, o menino vai ser pescador, se agarrar vai ser músico”. Hoje, é impressionante destacar a presença de quatro orquestras funcionais em uma cidade com apenas 50 mil habitantes: a Sociedade Musical Santa Cecília, a Sociedade Musical Carlos Gomes, a Banda de Música Municipal e uma Banda de Pífanos –também conhecida como “Esquenta Muié”. Nelson dos Santos, ou Nelson da Rabeca, como é conhecido, é consagrado, nacionalmente, pelo timbre inconfundível das rabecas de madeira que fabrica.

Pescadores durante o trabalho (Luis Eduardo Vaz/Arquivo pessoal)

Outro legado que fica dessa história de complacência de um povo é o artesanato. A técnica Singeleza em Bico e Renda, de tecidos com linha e agulha, a partir de pequenos talos de palha de coqueiro, sempre foi passada de mãe para filha, geração após geração. Embora os tempos de outrora involuntariamente insistem em padecer pelas “inovações” do fluxo da vida, a cena de artesãs confeccionando em teares, na porta de suas casas, ainda fazem parte da paisagem urbana de Marechal.

Poucos relatos históricos existem, entretanto, sobre a história por detrás do nome que a principal praia de Marechal ficou eternizada. Pela sua estratégica enseada natural, a Praia serviu de porto para navios franceses, que faziam a exploração do abundante pau-brasil da região. Eles construíram um abrigo para leprosos, maquiando suas reais intenções e despachando em seus navios a preciosa madeira. Ainda hoje você pode visitar as ruínas do antigo leprosário, que fica ao leste do povoado. Daí a origem do nome, inicialmente chamada de Porto dos Franceses. Com uma adaptação aqui e acolá, chegamos à Praia do Francês.

“Todo mundo queria vencer –e quem se aventurava por essas bandas tinha consigo e com os outros a complacência do objetivo a ser alcançado”. Lembram dessa frase? São essas nuances, de um bairro de São Paulo, até um povoado do Nordeste, que reafirmam a relevante e notável luta do nosso povo, seja pela miscigenação tupi com italianos, espanhóis e portugueses, ou seja pela miscigenação de índios caetés, da Terra das Palmeiras, com franceses. Nos quatro cantos do Brasil, subjugados pela inquisição, sempre floresceu pulsos firmes, capazes de criar diferentes expressões culturais, condescendes aos filhos dessa nação.

Francês: duas praias em uma
Se essa narrativa passa primeiramente pela história daqueles que construíram suas estruturas com as mãos, o Francês teve um empurrãozinho dos Orixás para cada dia nascer com um sol que brilha com um pouco mais de vida.

Coloque no imaginário: o azul-esverdeado do mar contrasta com o branco da areia e o verde da extensa costa de coqueiros, bem típica do litoral alagoano. A contemplação fica completa ao perceber que, no lado esquerdo da praia, as águas estão protegidas por uma barreira de corais, pouco mais de 100 metros de distância de seu declive, e que de lá para cá formam piscinas naturais.

O verde das palmeiras contrastam com o branco da areia (Luis Eduardo Vaz/Arquivo pessoal)

Na maré baixa, esses corais ficam expostos, formando um lindo aquário natural. Os recifes funcionam de escudo para o forte movimento das ondas, que quebram lá atrás. Na frente, o movimento das águas é quase nulo, o que a deixa totalmente cristalina. Você pode estar numa parte mais funda –e eu garanto– e você verá seu corpo inteiro submerso na água.

Dia de mar calmo (Clara Fernandes/Arquivo pessoal)

Mas fica aqui um grande ponto de atenção: no Francês, e em todo o litoral de Alagoas, para viver uma experiência como essa, você tem que acompanhar o horário da maré. Se visitar a praia com a maré cheia, terá um tipo de experiência completamente diferente. Como sou de São Paulo –ou da Mooca, mais precisamente, permita-me dizer–, usarei o exemplo das praias de São Paulo. Fica muito parecido. Uma praia de tombo, com bastante movimento de onda e com uma coloração mais turva. Você perde completamente a experiência de um Francês como uma piscina natural, com tons paradisíacos.

É ruim desse jeito? Não. Ainda assim é uma belíssima praia para se curtir. Quem está acostumado com Maresias, Itamambuca, as praias do Rio de Janeiro, provavelmente nem vai sentir a diferença. Aliás, vai! Porque aqui as praias são mais quentes. A temperatura da água varia entre 26ºC e 29ºC, o que torna tudo isso ainda mais agradável. Não tem tempo ruim.

Para acompanhar a tábua da maré, basta jogar no Google: “Maré Marechal Deodoro”. Uso sempre o Tideschart –ele mostra em um painel o horário das 4 marés do dia, sendo a 1ª cheia, a 2ª baixa, a 3ª cheia e a 4ª baixa de novo (o que é cheio está indicado em azul e o que é baixo está indicado em vermelho). Além disso, é nesse lado da praia, protegida pelos arrecifes, que também está a grande concentração de cadeiras e guarda-sóis, com mais estrutura para atender os turistas. Têm na culinária de frutos do mar o grande atrativo. Não deixe de experimentar a caipirinha de cajá com pitú.

Mas como a praia do Francês é das mais versáteis e democráticas, o cantão direito reserva um ambiente totalmente diferente. Para começar, os corais terminam e o mar fica totalmente aberto, gerando ondas fortes. E, é claro, isso atrai a galera do surfe –que possuem o privilégio de terem ondas o ano inteiro. Ela é toda mais rústica e selvagem, com os coqueiros e a restinga dominando a paisagem.

Trecho mais tranquilo da praia alagoana (Luis Eduardo Vaz/Arquivo pessoal)

Esse ecossistema é formado por grãos de areia, seixos, pedras e conchas. A restinga inclui as diversas formações vegetacionais, que podem variar muito dentro de um mesmo complexo, por conseguirem ocupar áreas extensas com espécies heterogêneas. Contém tipos de plantas distribuídas principalmente de acordo com as características do solo, como por exemplo: a vegetação herbácea, arbustiva, epífitas e trepadeiras, além da arbórea.

Outro ponto de atenção: o pôr do sol na parte de surfe, com o astro caindo atrás dos coqueirais, é talvez uma das melhores experiências que o Francês pode te presentear.

Por do sol na praia do Francês (Luis Eduardo Vaz/Arquivo pessoal)

A fartura de tempo aberto é propício para uma praia que dura o ano todo. Você pode planejar a viagem sem medo para a data que puder. O verão, é claro, torna tudo mais cheio e mais caro, como é comum em qualquer destino litorâneo do mundo. O período mais chuvoso, no entanto, acontece entre abril e julho (principalmente em maio). Mesmo assim, não chove tanto, só corre o risco de pegar dias mais nublados. Os preços ficam melhores, é verdade, embora julho também seja mês de férias escolares e consequentemente a demanda também aumenta. Novembro é uma ótima pedida, com o menor índice de precipitação média e ainda fora da alta temporada.

O que fazer na Praia do Francês
Na parte mais calma do mar, nas piscinas, o caiaque e o standup paddle (aluguéis por média de R$ 30) dominam. Afinal, com todo aquele cenário, vale a pena adentrar o mar lisinho, sem ondas, para remar e ver tudo por outro ângulo. O mergulho com snorkel (o aluguel de equipamento custa por volta de R$ 20) também é uma boa pedida, já que, como foi dito, quando a maré está baixa, a água é praticamente cristalina.

Além do surfe, é comum ver muita gente praticando outros esportes no Francês. Os jet skis podem ser encontrados e alugados (R$ 150). Já para quem tem um caixa a mais para gastar e prefere ver tudo por cima, um passeio de parapente (R$ 250 por pessoa) revela um visual arrebatador do litoral da região. Há ainda a possibilidade de fazer aulas de kitesurf (R$ 130).

E por falar em passeios, você pode alugar uma lancha (para 5 pessoas e com duração de 5 horas, gastará mais ou menos R$ 600) ou fazer um passeio de catamarã (esse mais barato, com uma média de R$ 40 por pessoa) até piscinas naturais próximas –é de tirar o fôlego. Mas aqui é o chique do chique. O que não pode faltar, para ter uma experiência alagoana de verdade, é embarcar com um jangadeiro. A história das jangadas para esse povo é um motivo de muito brio.

Pessoas aproveitam dia de sol para se banhar e praticar esportes (Clara Fernandes/Arquivo pessoal)

Isso porque houve uma expedição célebre, que quase canonizou quatro jangadeiros. Era 27 de agosto de 1922, quando uma pequena jangada levando esses quatro pescadores em questão deixou a enseada de Jaraguá rumo ao sul. A embarcação, que era formada por seis paus e um pequeno mastro com vela, não levava nenhum aparelho de navegação. Em clima de festa e sob aplausos de uma multidão, a jangada foi acompanhada até a saída da enseada por vários barcos.

A ousada viagem fazia parte de uma série de homenagens que várias colônias de pescadores realizaram como contribuição aos festejos do Centenário da Independência do Brasil, que aconteciam na então capital federal, o Rio de Janeiro. Vários estados brasileiros enviaram embarcações, mas poucas navegaram por todo o trajeto e nenhuma teve a ousadia de utilizar uma frágil jangada. E não é que os jangadeiros de Alagoas chegaram ao Rio? Foram recebidos com os louros do desafio cumprido!

Assim, o passeio de jangada (que não passa de R$ 20 por pessoa) é obrigatório, além de ser uma delícia navegar com vento na cara e pés na água, sob comando de algumas das pessoas que mais conhecem a região.

Fora da água –e como gancho para o próximo tema–, vale passar pela rua Carapeba, perpendicular à avenida dos Corais, que segue a orla da praia. É lá onde estão os principais restaurantes e bares do Francês. O título de mais pomposo fica para o “Moai”, bar-restaurante no mais estilo rústico praia, com música acústica ao vivo todos os fins de semana (você irá gastar uma média de R$ 40 para opções individuais e R$ 100 para opções conjuntas). Quem quer comer uma comida justa, por um preço razoavelmente justo (algo em torno de R$ 40 para pratos individuais e R$ 80 para pratos para mais pessoas –são bem servidos!), a recomendação fica para o “Parmegianno”. Digamos que seja um PF chique.

Há opções mais baratas para comer pela região, mas a maioria só funciona como delivery de quentinhas –é uma oportunidade de comer uma comida bem local. Nessa pegada, indico o “Quero Mais” (os preços começam nos pratos de R$ 13 e vão no máximo até os R$ 30). Para tomar um café da manhã bem regional e em um preço bem acessível, não deixe de comer a macaxeira com carne de sol do Mickey & Donald, na avenida principal (a média do restaurante é de R$ 15). Na Vila dos Pescadores, vale passar para tomar um açaí na Tia Soninha (um copo de 500 ml te custará R$ 15), que deveria ser tombada como patrimônio cultural do Francês.

Na avenida dos Corais, bem em frente à entrada da praia, a indicação fica para o café e bistrô Melyna, uma belíssima opção para tomar um café expresso bem tirado, enquanto se delicia com doces, tortas, croissants e diversas outras opções em seu vasto cardápio (o preço aqui aumenta, tendo uma boa refeição por uma média de R$ 50).

Agora, se você está procurando um lugar para tomar uma boa cerveja local, não deixe de passar na cervejaria do sommelier Fernando, que possui duas torneiras de chope Caatinga Rocks e Hop Bros (com copos de 300 ml e 500 ml, por R$ 12 e R$ 15, respectivamente), além de uma carta de cervejas que irá lubrificar com estilo seu dia de praia.

O que comer no Francês?
O café da manhã é, certamente, a refeição mais importante para o nordestino. E além da mais importante, é uma das mais deliciosas. Esqueça todas as suas referências. Deixe para lá o pão, a manteiga, as frutas, o cereal e o café com leite. A coisa aqui é bem mais parruda.

O café da manhã alagoano tem macaxeira, inhame, batata doce, cuscuz, tapioca, charque, ovo, queijo coalho, leite quente e café. A palavra de ordem é sustança. Você pode achar estranho bater um pratão de macaxeira com carne logo que acordar, mas a verdade é que esse tipo de refeição preparava a pessoa antigamente para um trabalho mais pesado no campo. O inhame e o cuscuz deixam você bem satisfeito até a hora do almoço.

Mas o interessante é que essa base serve para todas as refeições do dia, senão do almoço. Para essa “exceção”, os frutos do mar são a principal base da culinária alagoana –e os diferentes tipos de preparo de peixes, seja em posta, peixada frita, moqueca, com ou sem pirão, ganham destaque aqui.

Outra dica válida de menção é o sururu. Trata-se de um molusco que vive no mangue, muito encontrado na beira das lagoas da cidade. Depois de pescado e limpo, um dos preparos mais clássicos para este fruto do mar é o Caldinho de Sururu, feito com leite de coco, coentro, tomate e cebola. Nessa linha, também vale experimentar o caldo de massunim, um tipo de marisco. A casquinha de siri também é de dar água na boca.

A gastronomia é um dos atrativos locais (Luis Eduardo Vaz/Arquivo pessoal)

É muito comum também encontrar arrumadinho de tudo que é tipo. Na maioria das vezes feito com feijão fradinho ou feijão verde –e para sacanear mais ainda vai carne de sol, queijo coalho, linguiças e ervas frescas.

Como esse é um texto de imersão, temos que falar do passaporte. Este é o nome do sanduíche mais popular daqui de Alagoas. Ele é feito com pão seda (um pão típico de lá, macio e adocicado), salsicha, carne moída ou frango desfiado, tomate picado, milho, ervilha, ketchup, maionese, queijo ralado e tudo mais que você conseguir imaginar. É o podrão, é o dogão com purê daqui.

Por fim, se você está no Francês, também fica a dica para as cocadas da Massagueira. Bem pertinho do trevo há uma espécie de feirinha. São diversos sabores: tradicional, coco queimado, goiaba, jaca, caju, manga, dentre outros. Tem de tudo o que você imaginar. Você também poderá encontrar suspiros e broas –chamadas também de brasileira– e outros sabores bem marcantes da região.

Três estilos de hospedagem para ficar no Francês
Talvez a maneira mais democrática e que atenda a todos os gostos de hospedagem no Francês seja procurar por uma casa. Na avenida dos Corais e na rua das Algas –as duas principais ruas que acompanham a orla da praia, antes de estar diretamente com o pé na areia– há uma diversidade enorme de apartamentos, casas e sobrados mobiliados, que estão disponíveis para serem alugados por temporada ou por contrato mensal.

No caso deste que vos fala, para produzir essa reportagem e ter o mínimo de tempo conhecendo de fato o lugar, decidi passar mais do que alguns dias no Francês. Fechei um contrato de alguns meses com um ótimo locador, em uma casinha super charmosa, de frente para a entrada da praia –e por um preço bem acessível (R$ 900, todo mobiliado, sala com bicama, cozinha, quarto de casal, banheiro e varanda).

Se comparar com os preços de São Paulo, dá para ter uma vida muito boa aqui, por muito menos. No fim das contas, esse texto funciona como um roteiro, mas para quem está querendo mudar de ares e viver na praia, é uma possibilidade bem real (o preço que mencionei não é regra, os valores podem variar até R$ 2.000 e aumentam conforme localização e estrutura). Basta coragem e a possibilidade de manter um trabalho ativo remotamente –ou prestar algum tipo de serviço por aqui. Se tem um lado bom sobre essa pandemia –o que não tem!– é essa descentralização do trabalho. Me permitiu realizar esse sonho e hoje estar aqui abrindo o coração para vocês. O custo de vida é realmente menor.

Há diversas opções de acomodação na região (Clara Fernandes/Arquivo pessoal)

Seu Luiz, o cara que oportunizou ter esse meu cantinho, tem uma história de vida inspiradora e é um fora de série nato, um corajoso nato. Largou uma estabilidade, contrariou todo tipo de discurso de desmotivação e seguiu o que acreditava. Ter uma vida com um pouco mais de qualidade, quando o Francês era mato. Ao seu lado, Lúcia, outra guerreira, que conheceu o mundo e veio parar aqui –sempre com um sorriso no rosto e uma gentileza digna desse povo acolhedor. “Sonho de Mineiro”, diz ele. A avenida dos Corais, 155, é digna de passar para conhecer e tomar um chimarrão com o casal. Você vai encontrar muito dessas histórias por aqui. É uma opção totalmente viável.

Alugar por temporada acaba ficando um pouco mais caro (os valores podem variar de R$ 150 a R$ 700 a diária). É o modelo clássico, você paga por dia. Mas tem um lado bom: mais privacidade, você economiza em alimentação, tem uma casa montada à sua disposição. Se juntar com mais pessoas, acaba valendo a pena.

Para quem procura de fato tranquilidade, uma viagem ao Francês sob uma perspectiva mais intimista, a recomendação é procurar pela pousada e camping Trilha do Mar. Localizada mais ao extremo direito da praia, ela te levará ao caminho do mar por caminhos entre coqueiros e a restinga da região, propiciando uma experiência mais conectada com a natureza do lugar e menos com a região do povoado, da grande concentração de pessoas. Aliás, é nessa parte mais isolada da praia que ocorre a desova de tartarugas do Francês.

A arquitetura mais rústica da pousada, que não economiza no charme, abusa de redes, espaços abertos, uma piscina e um espaço de convivência bastante aconchegante. Ao som deliciosamente perceptível do cantar dos pássaros, é o retorno perfeito para depois de um dia “castigado” de sol. O café da manhã regional é servido diariamente como uma cortesia da pousada, que emana energias de acolhimento, traduzidas na figura do proprietário Sérgio Gurgel. O surfista de bem com a vida, que não economiza na generosidade.

Suas acomodações são projetadas para receber até 2 pessoas, podendo adicionar uma cama extra com acréscimo de custo (você irá gastar uma média de R$ 200 a diária). O apartamento dispõe de uma cama de casal e contém ar-condicionado, televisão, banheiro privativo, frigobar e Wi-fi. Como a pousada também é um camping (o preço do espaço para acampar é de R$ 30 a diária), é importante dizer –como pessoa que já passou por alguns perrengues– que o espaço destinado para as barracas é amplo, organizado e bem arborizado. A Trilha do Mar é, certamente, a opção de maior custo-benefício dessas recomendações para se hospedar no Francês.

A praia do Francês tem hospedagem para diferentes bolsos (Kaio Fragoso/Arquivo pessoal)

Agora, se a ideia é ficar bem localizado, com um pouco mais de luxo, de frente ao mar e no coração do povoado, a indicação vai para o estrelado Hotel Ponta Verde Praia. As janelas em madeira, abertas todos os dias nas ruas simples de Marechal, são referências para todo o conceito arquitetônico do Hotel, refletindo a tradição do casario secular do centro histórico local. Já nos apartamentos, voltados para o mar, as paredes e móveis são na cor branca, em alusão à areia da beira do mar e também para atrair melhor a luz natural, enquanto que nos cômodos com vista para a vila, voltados para a direção geográfica sudoeste onde está a lagoa Manguaba, têm as paredes em tons mais escuros da cor da areia da lagoa. Estes recebem ainda móveis em textura amadeirada, remissiva às madeiras dos barcos que navegam em suas águas.

Fachada do Hotel Ponta Verde Praia (Luis Eduardo Vaz/Arquivo pessoal)

Lá você encontrará duas opções de restaurantes, área fitness, espaço zen, espaço kids, serviço de praia e uma belíssima piscina com vista para a praia. Já as opções de acomodação são diversas: você pode ficar nos apartamentos Frente Mar e Vila (R$ 430 e R$ 370 a diária, respectivamente), que são munidos de janelas anti ruídos, Smart TV, ar-condicionado, cofre, serviço de quarto e frigobar. Comporta até 3 pessoas ou um casal e 2 crianças. Há também a opção pelo Garden Premium (R$ 600 em média a diária), que possui os mesmos benefícios, só que com uma varanda com jacuzzi e uma bancada de trabalho. Comporta até 4 pessoas e possui condições especiais para acessibilidade. O nível aumenta com a Suíte Premium (R$ 750 em média a diária), que tem o dobro do tamanho do Garden e todas as regalias mencionadas, além de sala, 2 Smart TVs, uma adega. É pensado para 2 pessoas. Por fim, a acomodação top de linha é a Suíte dos Marechais (R$ 1.000 em média a diária), que possui 2 quartos com suíte, 90 m², 3 Smart TVs, 4 ares-condicionados, 3 frigobares retrô e cabem até 4 pessoas.

O valor das diárias está sujeito a alterações conforme o período do ano. A cotação para essa reportagem foi feita em novembro. Sempre é válido checar antes de fechar sua reserva.

Especulação imobiliária nunca vai poder comprar uma paixão
Perceber os elementos que revestem e colorem a aura do Francês é deixar-se envolver por referências vivas que seu povo defende diariamente. Há um movimento forte de comoditização do povoado, que cada vez mais atrai turistas do Brasil todo e, consequentemente, os olhos de quem vê nele um equity e uma possibilidade de “evolução”.

Não falo aqui de “evolução” no sentido de progresso sustentável; de geração de empregos; de oportunidade de uma economia quente circular para e com esse povo, que com ferro e fogo achou um cantinho para chamar de seu. Um cantinho tranquilo, que através da pesca, do artesanato e da música criou uma expressão cultural digna de narrar. E das pessoas saberem disso.

O que acontece hoje no Francês é que poucos querem deter o máximo que podem dessa terra. Uma pesquisa divulgada no dia 15 de julho de 2020, pelo IBGE, mostra que Alagoas continua liderando, em números absolutos, o analfabetismo no país. O patrão que chega aqui não encontra mão de obra qualificada –e descarta, não capacita.

Assim vai cada vez mais marginalizando aqueles que antes tinham algum tipo de meio de produção e subsistência por aqui, do jeito que dava, para elitizar o local. É uma briga de Davi contra Golias. A máquina do dinheiro vivo e do dinheiro intelectual contra o analfabetismo. A conta não fecha: e adivinha para que lado a corda estoura?

Mas lembram o que eu falei lá no começo do texto? “Orgulho e tradição não são feitos de canetadas”? Pois bem, ainda puxo mais um trecho, dessa vez do intertítulo que abre o caminho para minhas últimas considerações: especulação imobiliária nunca vai poder comprar uma paixão.

E sobre paixão, complacência e alteridade esse povo conhece. Foi assim desde o início. Foi assim desde o meu início. Desde que eu cheguei aqui. Desde que eu entendi que a luta do povo de onde eu venho é a luta de vários povos ao redor desse nosso Brasilzão: ter uma vida um pouco mais digna. De preferência, com companhia.

Pôr do sol na praia, que fica a 20 km da capital Maceió (Luis Eduardo Vaz/Arquivo pessoal)

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