Check-in https://checkin.blogfolha.uol.com.br Relatos de turistas, dicas e serviços de viagem Wed, 01 Dec 2021 12:49:26 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Sete em dez brasileiros aceitariam comprovar que foram vacinados contra Covid para viajar, diz pesquisa https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/07/10/sete-em-dez-brasileiros-aceitariam-comprovar-que-foram-vacinados-contra-covid-para-viajar-diz-pesquisa/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/07/10/sete-em-dez-brasileiros-aceitariam-comprovar-que-foram-vacinados-contra-covid-para-viajar-diz-pesquisa/#respond Sat, 10 Jul 2021 18:23:47 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2021/07/15906067305ecebb8aa3ec6_1590606730_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=767 A pandemia da Covid-19 ainda não deu sinais de acabar, mas países estão abrindo suas fronteiras para viajantes –infelizmente, nós, brasileiros, não estamos no topo de pessoas bem-vindas em muitos destinos internacionais.

De acordo com uma pesquisa da Booking.com, 70% dos brasileiros afirmaram que aceitariam comprovar que foram imunizados contra o coronavírus para poderem viajar. Projetos para criar passaporte de vacinação avançam no mundo.

Vale lembrar que é necessário apresentar o comprovante de vacinação de febre amarela para entrar em vários países.

Entre os entrevistados, 77% aceitariam usar máscara durante a viagem, e 75% apoiariam até mesmo a diretriz “sem máscara, sem viagem”.

Além disso, 69% estariam dispostos a se deslocar apenas em pequenos grupos, de duas a seis pessoas.

Esses dados são de uma pesquisa realizada em janeiro e divulgada em junho. Participaram 28.402 pessoas de 28 países e territórios que pretendem viajar nos próximos 12 meses.

Entre os entrevistados, 67% se imaginam viajando em um futuro próximo e 33% planejam conhecer destinos bem distantes.

Se deslocar dentro do Brasil está na lista de desejos de 81% dos turistas brasileiros. Ainda mais que 58% querem evitar visitar alguns países.

Quando as restrições forem suspensas, 76% dos viajantes querem visitar membros da família, e 75%, reencontrar amigos.

Agora, 65% aproveitaram o período de quarentena para planejar as próximas viagens e 44% economizaram dias de férias para curtir expedições mais longas quando for possível turistar novamente.

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Em tempos de coronavírus nossas viagens ficaram mais restritas. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Aviso aos passageiros 1: Em uma pesquisa de 2020, 26% dos brasileiros se mostraram descontentes e queriam viajar para reavaliar a vida ou encontrar algo que os faça feliz

Aviso aos passageiros 2: Se você está no grupo de pessoas que querem viajar pelo Brasil, sugiro ver a seção de destinos brasileiros aqui do Check-in

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Viajante dá dicas de como aproveitar Belém em 48 horas https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/07/10/viajante-da-dicas-de-como-aproveitar-belem-em-48-horas/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/07/10/viajante-da-dicas-de-como-aproveitar-belem-em-48-horas/#respond Fri, 10 Jul 2020 18:10:17 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2020/07/15943481985f07d2a6a652b_1594348198_3x2_md.jpg true https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=421 Muita gente do ramo do turismo prevê que, enquanto a pandemia estiver arrefecendo, as pessoas darão prioridade a viagens curtas, dentro do próprio país. Entre os motivos, poucas horas dentro de um avião ou carro, menos restrições alfandegárias e motivar a economia local.

Caso você se enquadre nesse grupo de viajantes, trago o relato da turismóloga Isadora Santos, que passou o fim de semana em Belém (PA).

Com pouco tempo disponível, ela tentou aproveitar tudo que fosse possível na capital paraense. Na lista de locais visitados, o tradicional Mercado Ver-o-Peso e a ilha de Combu.

Em tempos de coronavírus não podemos viajar, e muitas vezes nem sair de casa. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Sabe a famosa crise de meia idade? Aquele momento em que você sente a idade chegando e resolve recuperar tudo que acha que não viveu? Bem, prestes a completar 25 anos, tive uma dessas um pouco antes da hora e resolvi que já era tempo de fugir da rotina. O que fazer? Comprar um carro? Pintar o cabelo? Não: viajar, é claro.

Até então todas minhas viagens foram planejadas com, pelo menos, um ano de antecedência. E muita —MUITA— pesquisa.

Motivada por um burburinho dos youtubers de culinária sobre os atrativos e a gastronomia de Belém (PA), senti-me atraída pela ideia.

Meu conhecimento sobre o destino era só o que eu via nos vídeos. Porém, em um ímpeto —e acompanhada por um namorado que sabia ainda menos do que eu sobre o local— viajei para passar apenas o final de semana do meu aniversário na cidade.

Estava na cara que Belém ia muito além da Banda Calypso e do tradicional Círio de Nazaré. O que falavam sobre o lugar já era um spoiler da diversidade e dos tesouros aguardando para serem descobertos. E eu estava —ou achava que estava— pronta para desbravá-los.

Dia 1 – As frenéticas primeiras 24 horas

Mercado Ver-o-Peso

Como uma grande feira ao ar livre, o mercado exibe uma variedade de produtos amazônicos. Peixes frescos e camarões de todos os tamanhos enchem os olhos, e o olfato, de quem passeia por perto.

Vejo uns poucos turistas se aventurando a provar algumas das frutas regionais, seja in natura ou nas polpas e sucos. Um presente refrescante para combater o calor que se instala no local.

As famosas cachaças de jambu também estão à disposição para tremer a língua dos curiosos e apreciadores da iguaria. O jambu, erva comum ao norte do país, é o orgulho dos paraenses. Também chamado de “Agrião do Norte”, causa comoção não somente por seu sabor intenso e surpreendentemente refrescante, mas pela sensação de dormência na língua e nos lábios de quem a prova. Por isso, é possível encontrar o jambu em diversas preparações da culinária regional, como no tacacá e no pato com tucupi, e até mesmo em receitas medicinais caseiras.

Os licores, cuja essência é tirada dos frutos amazônicos, surpreendem na doçura e são uma opção acessível para levar de lembrancinha para os amigos que querem ter um gostinho do Pará.

Com todos os meus sentidos aguçados e pensando que já tinha visto de tudo, fomos abordados por algumas mulheres que queriam nos apresentar os seus produtos.

Aí sim, outros sentidos foram despertados. Fomos apresentados às garrafadas, chás e feitiços do Ver o peso.

Sem nenhum pudor, nos ofereceram uma garrafada para fazer a “perseguida ficar apertadinha e enlouquecer qualquer homem”. Caso esse não fosse o interesse principal, tínhamos opção de escolher o “Viagra natural”, “pega dinheiro”, “afasta corno”, dentre outras.

Ainda que apresentado de forma cômica e inusitada, as “cheirosas” (mulheres que as preparam) definem as garrafadas como uma mistura do conhecimento medicinal dos povos indígenas e do conhecimento de magia do povo africano que foi trazido ao Brasil.

Resgatando as origens do povo brasileiro e mostrando como os belenenses abordam a fé. Toda a experiência me emocionou de uma forma que eu não esperava.

No mercado, uma música que não parava de tocar chamou minha atenção com uma letra que contava sobre urubus sobrevoando a doca do Ver-o-Peso, e imediatamente pesquisei do que se tratava.

Interpretada pela Dona Onete, a música “No meio de pitiú” é um dos hinos do carimbó, uma dança e gênero musical típicos do norte do país, que possui influências indígenas e africanas.

Tive uma surpresa ao ver que não era somente uma brincadeira da música: as docas do mercado são repletas de urubus, que sobrevoam os barcos pesqueiros, andam livremente na rua e encaram com malandragem no olhar cada freguês comprando seu peixe para o almoço de domingo.

Catedral Metropolitana de Belém

Inspirados pela regionalidade pujante da cidade, queríamos explorar mais a história, os traços de fé e as origens do povo belenense.

Saindo do mercado, não muito distante, avistamos a fachada da Catedral Metropolitana de Belém.

A catedral se mostrou para nós como um local de paz em meio ao caos, fresca e silenciosa. A luz natural que entrava pelos vitrais, os altares com flores e velas, e a vibração dos devotos que faziam suas preces, tornaram a experiência algo muito especial.

Com cara de turistas admirados, chamamos a atenção de um pároco que gentilmente nos abordou para contar um pouco sobre a paróquia e sobre o desenvolvimento da devoção a Nossa Senhora de Nazaré na cidade –e no
mundo católico como um todo.

A Catedral é o ponto inicial da maior procissão católica do mundo: o Círio de Nazaré. Reunindo milhões de fiéis representa a intensa fé e devoção dos paraenses.

Antes de nos despedirmos e continuar descobrindo a cidade, me ajoelhei e fiz uma prece de agradecimento por tudo o que já estava vivendo naquele final de semana.

Após sair da igreja, continuamos pelo centro histórico em busca de mais achados impressionantes e, como diz o ditado, “quem procura acha.” Demos de cara com uma edificação militar imensa e muito bonita. Decidimos seguir a pequena fila que se formava para entrar na construção, chamada Forte do Presépio.

Se visto de fora o forte já parecia impressionante, fomos arrebatados pela beleza do local por dentro. Trata-se de um grande sítio histórico cujas peças de artilharia como canhões se mantêm intactas e de onde ainda é possível ter uma visão privilegiada dos barcos e de parte do mercado Ver-o-Peso.

O mais surpreendente do local é que ele abriga não somente o sítio histórico em si, mas também um pequeno museu, o Museu do Encontro, que narra a colonização portuguesa na Amazônia.

São poucas as peças encontradas em escavações, mas ver os artefatos pré-históricos dos nossos ancestrais, achados na nossa própria terra, foi uma experiência surpreendente. É um sentimento de conexão muito forte e profundo, porém a culpa que se segue é tão forte quanto.

A exposição também faz questão de mostrar o resultado do contato com os colonizadores, e podemos ver o quanto de riqueza cultural foi perdida e o quanto nossas comunidades indígenas contemporâneas ainda precisam que seus costumes sejam preservados.

A cidade velha de Belém ainda abriga muitos outros tesouros arquitetônicos e históricos: como o Palacete das Onze Janelas e o Museu de Arte Sacra. O chamado Complexo Feliz Lusitânia, que reúne todas essas construções, é tombado pelo Iphan como patrimônio histórico e cultural.

Conseguimos finalizar o primeiro dia com uma sensação estranha, uma mistura de “dever cumprido” com “não vimos tudo o que deveríamos”. Em um dia conseguimos nos apaixonar por Belém e ver muito do que torna a cidade única, mas um lugar tão especial merece ser apreciado com mais atenção.

Entretanto, o cansaço falou mais alto e já estávamos prontos para cair no sono pesado de uma noite de verão e ansiosos para as surpresas que a cidade guardava para o nosso próximo dia.

Dia 2 – Para remansar e se preparar para a despedida

1. Remanso
S.m. Cessação da ação; suspensão, paragem.
Descanso, sossego.
Retiro, recolhimento, pouso.

Ainda desacostumados com o calor do Norte, que nos deixou muito mais cansados que em qualquer outra viagem, queríamos aproveitar o último dia com tranquilidade.

Fomos na opção de passeio que melhor atenderia ao nosso propósito do dia. E claro, que pudesse nos refrescar: ilha do Combu.

Os barcos com destino à ilha do Combu saem de um minúsculo porto sem muita infraestrutura. Dica: chegue cedo e sonde com calma o lugar antes de escolher seu transporte.

Alguns barcos pequenos levam os passageiros —mais locais do que turistas— para os diversos restaurantes espalhados pela ilha. Apenas sentar em algum deles e passar o dia já é um passeio válido, e a comida servida nos restaurantes são a cara do lugar, muito açaí com farinha e peixes de rio.

Aproveitei meu último dia observando os turistas se arriscando a tomar um banho de rio, comendo caranguejo e escutando tecnobrega —filho do carimbó— muito bem representado por Joelma e seus companheiros.

Um final de semana em meio a sabores, cheiros, cores e personas de um lugar mágico. De uma simplicidade que falta no turbilhão de São Paulo. Retornei com a sensação de que fiz a escolha certa para essa passagem de anos.

Despedi-me de tudo pelo que me apaixonei na cidade: do cupuaçu e do taperebá, da tapioca e da cachaça de Jambu.

Me despedi do carimbó, das garrafadas e dos feitiços, dos urubus e do rio.

De toda essa rápida experiência fica a vontade de voltar para mais descobertas: Belém do Pará é daqueles lugares para mergulhar em uma cultura tão própria do Brasil e, ao mesmo tempo, de outro mundo. Para o brasileiro se encontrar dentro do próprio país e vivenciar a nossa mais pura identidade.

A crise existencial? Continua aqui. O final de semana só potencializou a vontade de conhecer as diferentes e exóticas cidades do nosso país. Acho que tenho compromisso para todos os meus próximos aniversários.

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Aviso aos passageiros 1: A leitora Amanda Alberola contou ao blog como foi a viagem com os filhos pequenos para o Pantanal de Mato Grosso

Aviso aos passageiros 2: No Rio Grande do Sul, Bento Gonçalves tem como atrativo vinho, esportes radicais e atividades infantis, de acordo com a leitora Deborah Caldas de Melo

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Casal roda o Brasil e a América do Sul em um carro 1.0 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/04/03/casal-roda-o-brasil-e-a-america-do-sul-em-um-carro-1-0/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/04/03/casal-roda-o-brasil-e-a-america-do-sul-em-um-carro-1-0/#respond Fri, 03 Apr 2020 18:10:27 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/15859319525e8766b0b55ff_1585931952_3x2_md.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=331 Já mostrei aqui a história do casal Alessandra e Leo, que têm como meta cruzar o mundo num motorhome, e do Lucas e da Eve, que estão rodando a Europa a bordo do motorhome Rogerinho.

Agora, apresento o casal de jornalistas João Paulo Mileski e Carina Furlanetto, do @cronicasnabagagem.

Os gaúchos de Bento Gonçalves (RS) estão na estrada há mais de 1 ano, e o objetivo é dar a volta na América do Sul e cruzar todos os estados brasileiros. E a bordo de um carro 1.0. Desafiante, né?

Eles já percorreram Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela e Guiana.

No momento, por causa da pandemia de coronavírus, eles estão confinados no Recife, onde vive a irmã da Carina.

“Estávamos começando o desafio de passar por todos os estados do Brasil quando a pandemia começou, agora tudo é incerto. Vamos analisar a evolução das notícias e decidir se continuaremos esperando aqui ou se voltamos ao Sul para encerrarmos a expedição prematuramente e nos dedicarmos ao livro sobre as nossas experiências. O principal, agora, é que estamos seguros.”

Entre os perrengues enfrentados, o casal dormiu inúmeras noites no próprio carro, apenas baixando os bancos.

O que eles gostam de contar, porém, é o que a estrada ensina. E isso eu vou deixar vocês descobrirem lendo o relato deles.

Eu sei que em tempos de coronavírus não podemos viajar, e muitas vezes nem sair de casa. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Por muito tempo esperamos pelas condições que se convencionam como ideais para uma viagem sem destino ou prazo. Aos 30 anos, no entanto, chegamos à conclusão de que talvez as condições nunca seriam as ideais.

Com mais alguns anos de trabalho, pode ser que até conseguiríamos economizar o dinheiro necessário para comprar um motorhome, mas talvez o ímpeto de sair pelo mundo já não fosse mais o mesmo.

Por isso, no dia 18 de fevereiro de 2019, saímos de casa com o que tínhamos, da forma que podíamos: um Renault Sandero 1.0 e o desafio de dar a volta na América do Sul, do Ushuaia à Venezuela, e na sequência percorrer todos os estados do Brasil.

Alugamos nosso apartamento, somamos o que tínhamos na poupança e estimamos que seria possível nos manter por todo esse tempo na estrada se não gastássemos mais do que R$ 100 por dia.

Desde então, mais de um ano se passou, rodamos 46 mil quilômetros por 10 países e estamos no nosso sexto estado no Brasil. A média de gastos está um pouco acima do previsto —R$ 113 por dia—, muito em função, também, da perda com câmbio lá fora e de imprevistos que surgiram ao longo da expedição, como os furtos do celular do João, dentro de um ônibus em Quito, no Equador, e de um pneu quando estávamos a caminho de uma borracharia, em um mototáxi, no Peru.

No Brasil, no entanto, estamos sendo muito bem acolhidos e acreditamos que em breve conseguiremos voltar à meta inicial de gastos.

Se tudo der certo retornaremos para a nossa casa, em Bento Gonçalves (RS), em aproximadamente um ano. À esta altura já não teremos mais dinheiro na poupança e vamos ter que recomeçar nossas vidas do zero. Ainda que as rotinas venham a ser as mesmas de outrora, burocráticas e monótonas, no entanto, temos convicção de que nós já não seremos mais os mesmos.

Saímos de casa com apenas uma perspectiva de mundo e percebemos que vivíamos em uma bolha.

Na Argentina, conhecemos uma família de venezuelanos que estava tentando a vida longe do seu país de origem. Não tinham fogão, por isso usavam um fogareiro para cozinhar. Onde viviam, em Salta, faz muito frio no inverno, mas se viravam sem chuveiro quente.

Ainda assim, apesar das carências, abriram as portas do terreno da casa onde viviam de aluguel para que pudéssemos passar a noite com segurança. Fizeram isso não apenas conosco, mas com outros viajantes que passam pela cidade. Não cobram nada por isso, fazem pelo simples ato de solidariedade, acreditando que boas ações geram outras boas ações.

No norte do Brasil, também passamos por cidades e conhecemos famílias que não têm a mesma comodidade que tínhamos no Sul, mas, em contrapartida, escancaram algo que nos falta no outro canto do país: estão sempre sorrindo. Apesar da falta de recursos, não perdem a esperança e levam a vida com alegria, gratos pela bênção de estar vivos.

Reclamávamos de muita coisa antes. Se a temperatura da água no chuveiro não era a ideal, bradavámos contra o mundo. Se o colchão estava velho, reclamávamos também. Mas, de repente, ao longo dessa jornada, nos vimos quatro dias seguidos sem banho e chegamos a dormir 27 noites consecutivas no carro, sem nenhuma adaptação (apenas baixamos os bancos e dormimos, como se fosse um ônibus leito).

Mapa mostra rota do casal pela América do Sul e Brasil (Arquivo pessoal)

Voltaremos à nossa casa sem um tostão no bolso, mas o que estamos ganhando em troca não é possível ser mensurado por valor algum. Nunca mais seremos os mesmos porque passamos a ver a vida de outras formas.

Antes, olhávamos para o carro e desconfiávamos que seria possível viver por tanto tempo, com tão pouca coisa, em um espaço tão pequeno. Agora, olhamos para trás, para o nosso apartamento, e pensamos como conseguíamos viver com tantas coisas supérfluas ao nosso redor.

Abrindo mão de praticamente tudo o que nos cercava. Na estrada nos sentimos livres, de verdade, pela primeira vez. E descobrimos que não precisamos de muito para sermos felizes. Precisamos, apenas, viver.

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Aviso aos passageiros 1: Alguns viajantes brasileiros foram pegos de surpresa pelo coronavírus, que fez países fecharem fronteiras e decretarem quarentena obrigatória

Aviso aos passageiros 2: Marie Kondo se tornou um sucesso mundial com dicas de como organizar a casa e viver com menos pertences. Confira algumas dicas

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Viagem pelo Brasil teve balanço de trem, barcos na Amazônia e muita história, relata leitor https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2019/07/27/viagem-pelo-brasil-teve-balanco-de-trem-barcos-na-amazonia-e-muita-historia-relata-leitor/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2019/07/27/viagem-pelo-brasil-teve-balanco-de-trem-barcos-na-amazonia-e-muita-historia-relata-leitor/#respond Sat, 27 Jul 2019 12:39:17 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/15641844965d3b8fb03102d_1564184496_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=56 O jornalista e escritor Jonas Reis, autor do livro “Viagem à Alma do Brasil”, explorou todos os cantos do Brasil, de norte a sul, em uma viagem que durou pouco mais de 6 meses (ele voltou para casa duas vezes nesse período). Durante sua expedição, Reis viu atrações turísticas, festas e palcos de vários momentos históricos, como Canudos, Bagé e Xambioá. 

Caso você tenha boas (ou más) experiências em viagens pelo Brasil ou pelo mundo, divida com o blog Check-in pelo email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Eu havia metido na cabeça fazer uma viagem à alma do Brasil. Desta vez não seria um turista feliz rumo a destinos elaborados, lugares arrumadinhos, monumentos lustrosos. Seria pé no chão, janela de ônibus, balanço de trem, barcos na Amazônia, camas de albergue, histórias e muita história. Foi assim que vi o melhor do país. Não dá para detalhar neste espaço, descrever a emoção da estrada, os caminhos percorridos. Aqui, mostro o roteiro.

Começo pela Manaus do grande Teatro Amazonas, do porto e do mercado municipal. Suo em bicas num mês de junho. Sigo para Novo Airão, onde conheço uma espécie de Buda, louro, no Instituto Dharma, à beira da floresta. A caminho de Boa Vista atravesso as terras dos índios Waimiri Atroari. Depois entro na Venezuela para subir o monte Roraima numa aventura de seis dias. De volta a Manaus, tomo um barco e chego a Parintins, onde conheço o espetáculo dos bois Garantido e Caprichoso e converso com o cara que entra na fantasia e dá vida ao Garantido.

Também de barco conheço Maués, a terra do guaraná, e a Barreirinha do poeta Thiago de Mello. Entre Santarém e Óbidos refaço num barco-fantasma viagem que terminou em naufrágio e morte de mais de 300 pessoas. Continuo descendo o rio Amazonas e em Macapá piso ao mesmo tempo em dois hemisférios. Na Ilha de Marajó conheço Afuá e Soure. Depois, Belém, Tucuruí, a Serra Pelada dos 100 mil garimpeiros, a Xambioá da Guerrilha do Araguaia e a Serra dos Carajás.

Despeço-me do Norte a bordo do trem de passageiros da Estrada de Ferro Carajás. São 16 horas até São Luís, no Maranhão, onde abraço o Nordeste. Em Alcântara, piso a vaidade de dois antigos barões. Em Teresina compro Filé, um mico de madeira. Atravesso um contestado entre Piauí e Ceará, e me embrenho na caatinga. Procuro por Iracema na Serra do Ibiapaba. Conheço um cordelista em Fortaleza e em João Pessoa chego à Ponta do Seixas, o ponto mais oriental das Américas.

No interior de Pernambuco vejo o anjo cangaceiro que o escultor local foi proibido de entregar ao papa. Em Piancó, sertão da Paraíba, a história da Coluna Prestes e uma carnificina. Juazeiro tem o Padre Cícero e os votos dos fiéis, e Crato, que sediou um curral para conter a gente assolada por uma grande seca. Em Serra Talhada, a história de Lampião, que leva a visita à casa de Maria Bonita, em Malhada da Caiçara (BA). Completo o Nordeste com a Feira de Caruaru, Recife, Maceió, o antigo Quilombo dos Palmares, depois a Canudos de Antonio Conselheiro, Aracaju e Salvador. 

Ruínas em São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul – Jonas Reis/Arquivo pessoal

No Sul a viagem começa pelo Chuí, onde chego de ônibus, vindo de Montevidéu. Sigo para Pelotas, sob chuva intensa. Continuo subindo e em Bagé pesquiso a Guerra dos Farrapos. O Cerro do Jarau, em Quaraí, guarda a lenda da Salamanca, que conheci na obra de Érico Veríssimo. Ao longo da estrada, o motorista me conta sobre tesouros enterrados ali, deixados por famílias que fugiam das revoluções. Da Alegrete de Mário Quintana sigo para a São Borja de Getúlio Vargas e João Goulart. Depois, a região e a história dos Sete Povos das Missões. E Porto Alegre.

Em Santa Catarina, Laguna guarda a história de Anita Garibaldi. Passo por Criciúma, Serra Catarinense e a Caçador dos movimentos messiânicos. Na sequência, Blumenau e Florianópolis e suas comunidades açorianas. Em Curitiba pego o trem da Serra do Mar para viagem de 110 quilômetros de mata atlântica. Foz do Iguaçu das cataratas e da Ponte da Amizade fecha o percurso na região.

Tanto já se disse do Sudeste que apenas passo pela região. Mas Minas Gerais são muitas, não pode ser ignorada. No Espírito Santo, deixo Vitória e na vizinha Cariacica tomo o trem da Vale para percorrer toda a Estrada de Ferro Vitória a Minas. O destaque do percurso é o rio Doce, ferido de morte pela tragédia ambiental de Mariana. Sigo para Belo Horizonte e lembro visita aos índios Krenak e caminhos percorridos em Caxambu, a Três Corações da casa em que nasceu Pelé, e Lavras Novas. São Tomé das Letras é bucólica e mística e nela assisto ao pôr do sol do alto da Casa da Pirâmide. Felixlândia integra o Circuito Guimarães Rosa e me lembra o “Grande Sertão: Veredas” da tocante solidão de Riobaldo e Diadorim. O destino final é Paracatu, de onde partirei para o Centro-Oeste.

Jornalista e escritor Jonas Reis, que viajou por vários cantos do Brasil – Arquivo pessoal

A caminho de Brasília, um ex-salva-vidas de rodeio me conta suas aventuras na arena, diante de touros de uma tonelada de peso. Deixo o Distrito Federal, passo pela agradável Pirenópolis e vou em busca do povoado de Lagolândia, onde conheço a casa e a história da Santa Dica de Goiás. De Goiânia vou a Goiás Velho e aqui, num belo casarão branco, me debruço sobre o rio Vermelho da poesia de Cora Coralina. Sigo para Campo Grande (MS), e depois conheço Aquidauana, onde se fixaram soldados que lutaram a Guerra do Paraguai.

Em Cuiabá (MT), me desmancho em suor. Mas sigo para Rondônia e em Ji-Paraná a sensação térmica bate 42 graus. Passo por Porto Velho e na noite de Natal estou a bordo de um ônibus para Rio Branco, no Acre, onde terminaria a viagem. Antes do embarque converso com uma garotinha que me garante que Papai Noel não se esquece de quem passa o Natal no ônibus: “As renas voam!”

Quer mais? Está tudo contado em detalhes em meu livro “Viagem à Alma do Brasil” (e em sua edição em inglês, “Trip out to the soul of Brazil”), disponível em várias plataformas digitais. 

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Aviso aos passageiros 1: Se você se interessou por um ou mais destinos dessa longa expedição pelo Brasil, o caderno Turismo, da Folha, tem uma página que reúne informações sobre vários locais, no Brasil ou fora.

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