Check-in https://checkin.blogfolha.uol.com.br Relatos de turistas, dicas e serviços de viagem Wed, 01 Dec 2021 12:49:26 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Praia do Francês tem uma história de dignidade, orgulho e tradição https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/12/08/praia-do-frances-tem-uma-historia-de-dignidade-orgulho-e-tradicao/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/12/08/praia-do-frances-tem-uma-historia-de-dignidade-orgulho-e-tradicao/#respond Tue, 08 Dec 2020 18:24:55 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2020/12/IMAGEM-01-HEADER-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=583 O litoral brasileiro, como todos sabem, é rico de história e beleza. Cada praia, vila ou cidade tem seus atrativos naturais, gastronômicos e turísticos.

Hoje, o jornalista Lucas Bicudo vai apresentar um dos encantos do litoral alagoano: a praia do Francês, em Marechal Deodoro, a cerca de 20 km da capital, Maceió.

O paulistano da Mooca traz, em detalhes, o que fazer e comer lá, além de dicas de onde se hospedar. E tudo em meio à história local.

Em tempos de coronavírus nossas viagens ficaram mais restritas. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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O barro extraído dos barrancos úmidos, em decorrência dos muitos veios d’água que percorriam a região, era colocado no lombo de burros e transportado até as embarcações no Porto Geral das Embarcações do Tamanduateí. Ali mesmo, a lama era acomodada em canoas feitas de peroba e levadas com a ajuda do rio até o destino conhecido como Campo da Mooca, um vasto espaço plano onde os povoadores erguiam suas casas com a ajuda dos indígenas.

O importante é que o ato de subir casas marca a versão mais plausível para a origem Mooca, pois, no dialeto tupi, a tradução equivale ao verbo “construir”. Surgia, em 17 de agosto de 1556, o povoado que erguia suas estruturas com suas próprias mãos. Característica essa reforçada ao longo de sua história. Um salto mais à frente, lá para 1876, quando São Paulo tinha uma população de 25 mil habitantes e as ruas eram romanticamente iluminadas por lampiões a gás e marcadas por chafarizes, não havia muita coisa, mas estava começando a nascer o embrião da industrialização.

Em quase três décadas, o índice populacional paulistano multiplicou por dez, chegando a 250 mil habitantes. Principalmente pela aglomeração de imigrantes, que viam na Mooca oportunidades de construírem seus destinos do outro lado do oceano, sem uma árdua e custosa passagem de volta, como acontecera lá atrás, no primeiro século de colônia.

O movimento de imigração alavancou o crescimento demográfico na região leste de São Paulo e traçou a planta do vigor econômico que foi indispensável para o cenário industrial paulista. Todo mundo queria vencer e, quem se aventurava por essas bandas, tinha consigo e com os outros a complacência do objetivo a ser alcançado.

Faço essa introdução porque sou da Mooca. Cresci ouvindo esses tipos de histórias e um bocado de outras. Foi só depois de algum repertório de vida que elas me trouxeram à reflexão. Esse é o motivo do porquê quem é de lá dificilmente vai podar as raízes intrínsecas em cada viela, que torna o bairro praticamente um principado no meio de uma terra cinza, repleta de arranha-céus. Da Visconde de Laguna, você consegue ouvir o bumbo grená entoar: orgulho e tradição não são feitos de canetadas ou especulação.

Mas se você chegou até essa reportagem –tal qual refere-se a promessa de abertura–, você sabe que ela não é sobre a Mooca, tampouco sobre sua história. Ela é sobre o Francês, uma das praias mais charmosas do Brasil, localizada no município de Marechal Deodoro, que fica aproximadamente a 20 quilômetros de Maceió, capital de Alagoas. O fato é que se tornou uma missão quase impossível não refletir de onde eu vim, para ter a fidelidade da experiência empírica de viver em um outro lugar, cuja estrutura foi erguida também pelas próprias mãos.

Minha escola é o Novo Jornalismo, de Capote, Talese, Wolfe e Ross. É preciso ser perceptível para narrar. E o Francês, carregado de história e significados –assim como a terra em que nasci–, me abraçou como uma segunda casa, de um jeito que eu dificilmente poderia imaginar. Tem “bom dia”, tem “boa tarde”, tem “boa noite” e tem interesse pela história um do outro.

Pela minha parte, tem interesse em contar.

Jornalista Lucas Bicudo (Clara Fernandes/Arquivo pessoal)

Berço da República
Por volta de 1591, surgiu o povoado de Magdalena do Sumaúma. Favorecido pelos canais da lagoa Manguaba –ou “Mãe Lagoa”– que ligava o lugarejo ao mar, desenvolveu-se um forte polo de pesca e de cultivo e produção de açúcar, no então sul da Capitania de Pernambuco. A pesca, inclusive, que sempre foi vista mais do que uma atividade de subsistência, tornou-se um legado imaterial passado de geração a geração –notavelmente perdurado até hoje.

Magdalena do Sumaúma cresceu ao ponto de se tornar a capital do estado. Marechal Deodoro de fato tornou-se Marechal Deodoro apenas em 1939, em homenagem ao filho ilustre da terra, Marechal Deodoro da Fonseca –o tal homem que proclamou a República. A produção de açúcar se espalhou por todo o agreste alagoano. O que ficou aqui mesmo, além da pesca, foi também a música.

Há um ditado engraçado que diz: “por aqui quando nasce um menino, o pai joga um bolo de barro molhado na parede; se cair, o menino vai ser pescador, se agarrar vai ser músico”. Hoje, é impressionante destacar a presença de quatro orquestras funcionais em uma cidade com apenas 50 mil habitantes: a Sociedade Musical Santa Cecília, a Sociedade Musical Carlos Gomes, a Banda de Música Municipal e uma Banda de Pífanos –também conhecida como “Esquenta Muié”. Nelson dos Santos, ou Nelson da Rabeca, como é conhecido, é consagrado, nacionalmente, pelo timbre inconfundível das rabecas de madeira que fabrica.

Pescadores durante o trabalho (Luis Eduardo Vaz/Arquivo pessoal)

Outro legado que fica dessa história de complacência de um povo é o artesanato. A técnica Singeleza em Bico e Renda, de tecidos com linha e agulha, a partir de pequenos talos de palha de coqueiro, sempre foi passada de mãe para filha, geração após geração. Embora os tempos de outrora involuntariamente insistem em padecer pelas “inovações” do fluxo da vida, a cena de artesãs confeccionando em teares, na porta de suas casas, ainda fazem parte da paisagem urbana de Marechal.

Poucos relatos históricos existem, entretanto, sobre a história por detrás do nome que a principal praia de Marechal ficou eternizada. Pela sua estratégica enseada natural, a Praia serviu de porto para navios franceses, que faziam a exploração do abundante pau-brasil da região. Eles construíram um abrigo para leprosos, maquiando suas reais intenções e despachando em seus navios a preciosa madeira. Ainda hoje você pode visitar as ruínas do antigo leprosário, que fica ao leste do povoado. Daí a origem do nome, inicialmente chamada de Porto dos Franceses. Com uma adaptação aqui e acolá, chegamos à Praia do Francês.

“Todo mundo queria vencer –e quem se aventurava por essas bandas tinha consigo e com os outros a complacência do objetivo a ser alcançado”. Lembram dessa frase? São essas nuances, de um bairro de São Paulo, até um povoado do Nordeste, que reafirmam a relevante e notável luta do nosso povo, seja pela miscigenação tupi com italianos, espanhóis e portugueses, ou seja pela miscigenação de índios caetés, da Terra das Palmeiras, com franceses. Nos quatro cantos do Brasil, subjugados pela inquisição, sempre floresceu pulsos firmes, capazes de criar diferentes expressões culturais, condescendes aos filhos dessa nação.

Francês: duas praias em uma
Se essa narrativa passa primeiramente pela história daqueles que construíram suas estruturas com as mãos, o Francês teve um empurrãozinho dos Orixás para cada dia nascer com um sol que brilha com um pouco mais de vida.

Coloque no imaginário: o azul-esverdeado do mar contrasta com o branco da areia e o verde da extensa costa de coqueiros, bem típica do litoral alagoano. A contemplação fica completa ao perceber que, no lado esquerdo da praia, as águas estão protegidas por uma barreira de corais, pouco mais de 100 metros de distância de seu declive, e que de lá para cá formam piscinas naturais.

O verde das palmeiras contrastam com o branco da areia (Luis Eduardo Vaz/Arquivo pessoal)

Na maré baixa, esses corais ficam expostos, formando um lindo aquário natural. Os recifes funcionam de escudo para o forte movimento das ondas, que quebram lá atrás. Na frente, o movimento das águas é quase nulo, o que a deixa totalmente cristalina. Você pode estar numa parte mais funda –e eu garanto– e você verá seu corpo inteiro submerso na água.

Dia de mar calmo (Clara Fernandes/Arquivo pessoal)

Mas fica aqui um grande ponto de atenção: no Francês, e em todo o litoral de Alagoas, para viver uma experiência como essa, você tem que acompanhar o horário da maré. Se visitar a praia com a maré cheia, terá um tipo de experiência completamente diferente. Como sou de São Paulo –ou da Mooca, mais precisamente, permita-me dizer–, usarei o exemplo das praias de São Paulo. Fica muito parecido. Uma praia de tombo, com bastante movimento de onda e com uma coloração mais turva. Você perde completamente a experiência de um Francês como uma piscina natural, com tons paradisíacos.

É ruim desse jeito? Não. Ainda assim é uma belíssima praia para se curtir. Quem está acostumado com Maresias, Itamambuca, as praias do Rio de Janeiro, provavelmente nem vai sentir a diferença. Aliás, vai! Porque aqui as praias são mais quentes. A temperatura da água varia entre 26ºC e 29ºC, o que torna tudo isso ainda mais agradável. Não tem tempo ruim.

Para acompanhar a tábua da maré, basta jogar no Google: “Maré Marechal Deodoro”. Uso sempre o Tideschart –ele mostra em um painel o horário das 4 marés do dia, sendo a 1ª cheia, a 2ª baixa, a 3ª cheia e a 4ª baixa de novo (o que é cheio está indicado em azul e o que é baixo está indicado em vermelho). Além disso, é nesse lado da praia, protegida pelos arrecifes, que também está a grande concentração de cadeiras e guarda-sóis, com mais estrutura para atender os turistas. Têm na culinária de frutos do mar o grande atrativo. Não deixe de experimentar a caipirinha de cajá com pitú.

Mas como a praia do Francês é das mais versáteis e democráticas, o cantão direito reserva um ambiente totalmente diferente. Para começar, os corais terminam e o mar fica totalmente aberto, gerando ondas fortes. E, é claro, isso atrai a galera do surfe –que possuem o privilégio de terem ondas o ano inteiro. Ela é toda mais rústica e selvagem, com os coqueiros e a restinga dominando a paisagem.

Trecho mais tranquilo da praia alagoana (Luis Eduardo Vaz/Arquivo pessoal)

Esse ecossistema é formado por grãos de areia, seixos, pedras e conchas. A restinga inclui as diversas formações vegetacionais, que podem variar muito dentro de um mesmo complexo, por conseguirem ocupar áreas extensas com espécies heterogêneas. Contém tipos de plantas distribuídas principalmente de acordo com as características do solo, como por exemplo: a vegetação herbácea, arbustiva, epífitas e trepadeiras, além da arbórea.

Outro ponto de atenção: o pôr do sol na parte de surfe, com o astro caindo atrás dos coqueirais, é talvez uma das melhores experiências que o Francês pode te presentear.

Por do sol na praia do Francês (Luis Eduardo Vaz/Arquivo pessoal)

A fartura de tempo aberto é propício para uma praia que dura o ano todo. Você pode planejar a viagem sem medo para a data que puder. O verão, é claro, torna tudo mais cheio e mais caro, como é comum em qualquer destino litorâneo do mundo. O período mais chuvoso, no entanto, acontece entre abril e julho (principalmente em maio). Mesmo assim, não chove tanto, só corre o risco de pegar dias mais nublados. Os preços ficam melhores, é verdade, embora julho também seja mês de férias escolares e consequentemente a demanda também aumenta. Novembro é uma ótima pedida, com o menor índice de precipitação média e ainda fora da alta temporada.

O que fazer na Praia do Francês
Na parte mais calma do mar, nas piscinas, o caiaque e o standup paddle (aluguéis por média de R$ 30) dominam. Afinal, com todo aquele cenário, vale a pena adentrar o mar lisinho, sem ondas, para remar e ver tudo por outro ângulo. O mergulho com snorkel (o aluguel de equipamento custa por volta de R$ 20) também é uma boa pedida, já que, como foi dito, quando a maré está baixa, a água é praticamente cristalina.

Além do surfe, é comum ver muita gente praticando outros esportes no Francês. Os jet skis podem ser encontrados e alugados (R$ 150). Já para quem tem um caixa a mais para gastar e prefere ver tudo por cima, um passeio de parapente (R$ 250 por pessoa) revela um visual arrebatador do litoral da região. Há ainda a possibilidade de fazer aulas de kitesurf (R$ 130).

E por falar em passeios, você pode alugar uma lancha (para 5 pessoas e com duração de 5 horas, gastará mais ou menos R$ 600) ou fazer um passeio de catamarã (esse mais barato, com uma média de R$ 40 por pessoa) até piscinas naturais próximas –é de tirar o fôlego. Mas aqui é o chique do chique. O que não pode faltar, para ter uma experiência alagoana de verdade, é embarcar com um jangadeiro. A história das jangadas para esse povo é um motivo de muito brio.

Pessoas aproveitam dia de sol para se banhar e praticar esportes (Clara Fernandes/Arquivo pessoal)

Isso porque houve uma expedição célebre, que quase canonizou quatro jangadeiros. Era 27 de agosto de 1922, quando uma pequena jangada levando esses quatro pescadores em questão deixou a enseada de Jaraguá rumo ao sul. A embarcação, que era formada por seis paus e um pequeno mastro com vela, não levava nenhum aparelho de navegação. Em clima de festa e sob aplausos de uma multidão, a jangada foi acompanhada até a saída da enseada por vários barcos.

A ousada viagem fazia parte de uma série de homenagens que várias colônias de pescadores realizaram como contribuição aos festejos do Centenário da Independência do Brasil, que aconteciam na então capital federal, o Rio de Janeiro. Vários estados brasileiros enviaram embarcações, mas poucas navegaram por todo o trajeto e nenhuma teve a ousadia de utilizar uma frágil jangada. E não é que os jangadeiros de Alagoas chegaram ao Rio? Foram recebidos com os louros do desafio cumprido!

Assim, o passeio de jangada (que não passa de R$ 20 por pessoa) é obrigatório, além de ser uma delícia navegar com vento na cara e pés na água, sob comando de algumas das pessoas que mais conhecem a região.

Fora da água –e como gancho para o próximo tema–, vale passar pela rua Carapeba, perpendicular à avenida dos Corais, que segue a orla da praia. É lá onde estão os principais restaurantes e bares do Francês. O título de mais pomposo fica para o “Moai”, bar-restaurante no mais estilo rústico praia, com música acústica ao vivo todos os fins de semana (você irá gastar uma média de R$ 40 para opções individuais e R$ 100 para opções conjuntas). Quem quer comer uma comida justa, por um preço razoavelmente justo (algo em torno de R$ 40 para pratos individuais e R$ 80 para pratos para mais pessoas –são bem servidos!), a recomendação fica para o “Parmegianno”. Digamos que seja um PF chique.

Há opções mais baratas para comer pela região, mas a maioria só funciona como delivery de quentinhas –é uma oportunidade de comer uma comida bem local. Nessa pegada, indico o “Quero Mais” (os preços começam nos pratos de R$ 13 e vão no máximo até os R$ 30). Para tomar um café da manhã bem regional e em um preço bem acessível, não deixe de comer a macaxeira com carne de sol do Mickey & Donald, na avenida principal (a média do restaurante é de R$ 15). Na Vila dos Pescadores, vale passar para tomar um açaí na Tia Soninha (um copo de 500 ml te custará R$ 15), que deveria ser tombada como patrimônio cultural do Francês.

Na avenida dos Corais, bem em frente à entrada da praia, a indicação fica para o café e bistrô Melyna, uma belíssima opção para tomar um café expresso bem tirado, enquanto se delicia com doces, tortas, croissants e diversas outras opções em seu vasto cardápio (o preço aqui aumenta, tendo uma boa refeição por uma média de R$ 50).

Agora, se você está procurando um lugar para tomar uma boa cerveja local, não deixe de passar na cervejaria do sommelier Fernando, que possui duas torneiras de chope Caatinga Rocks e Hop Bros (com copos de 300 ml e 500 ml, por R$ 12 e R$ 15, respectivamente), além de uma carta de cervejas que irá lubrificar com estilo seu dia de praia.

O que comer no Francês?
O café da manhã é, certamente, a refeição mais importante para o nordestino. E além da mais importante, é uma das mais deliciosas. Esqueça todas as suas referências. Deixe para lá o pão, a manteiga, as frutas, o cereal e o café com leite. A coisa aqui é bem mais parruda.

O café da manhã alagoano tem macaxeira, inhame, batata doce, cuscuz, tapioca, charque, ovo, queijo coalho, leite quente e café. A palavra de ordem é sustança. Você pode achar estranho bater um pratão de macaxeira com carne logo que acordar, mas a verdade é que esse tipo de refeição preparava a pessoa antigamente para um trabalho mais pesado no campo. O inhame e o cuscuz deixam você bem satisfeito até a hora do almoço.

Mas o interessante é que essa base serve para todas as refeições do dia, senão do almoço. Para essa “exceção”, os frutos do mar são a principal base da culinária alagoana –e os diferentes tipos de preparo de peixes, seja em posta, peixada frita, moqueca, com ou sem pirão, ganham destaque aqui.

Outra dica válida de menção é o sururu. Trata-se de um molusco que vive no mangue, muito encontrado na beira das lagoas da cidade. Depois de pescado e limpo, um dos preparos mais clássicos para este fruto do mar é o Caldinho de Sururu, feito com leite de coco, coentro, tomate e cebola. Nessa linha, também vale experimentar o caldo de massunim, um tipo de marisco. A casquinha de siri também é de dar água na boca.

A gastronomia é um dos atrativos locais (Luis Eduardo Vaz/Arquivo pessoal)

É muito comum também encontrar arrumadinho de tudo que é tipo. Na maioria das vezes feito com feijão fradinho ou feijão verde –e para sacanear mais ainda vai carne de sol, queijo coalho, linguiças e ervas frescas.

Como esse é um texto de imersão, temos que falar do passaporte. Este é o nome do sanduíche mais popular daqui de Alagoas. Ele é feito com pão seda (um pão típico de lá, macio e adocicado), salsicha, carne moída ou frango desfiado, tomate picado, milho, ervilha, ketchup, maionese, queijo ralado e tudo mais que você conseguir imaginar. É o podrão, é o dogão com purê daqui.

Por fim, se você está no Francês, também fica a dica para as cocadas da Massagueira. Bem pertinho do trevo há uma espécie de feirinha. São diversos sabores: tradicional, coco queimado, goiaba, jaca, caju, manga, dentre outros. Tem de tudo o que você imaginar. Você também poderá encontrar suspiros e broas –chamadas também de brasileira– e outros sabores bem marcantes da região.

Três estilos de hospedagem para ficar no Francês
Talvez a maneira mais democrática e que atenda a todos os gostos de hospedagem no Francês seja procurar por uma casa. Na avenida dos Corais e na rua das Algas –as duas principais ruas que acompanham a orla da praia, antes de estar diretamente com o pé na areia– há uma diversidade enorme de apartamentos, casas e sobrados mobiliados, que estão disponíveis para serem alugados por temporada ou por contrato mensal.

No caso deste que vos fala, para produzir essa reportagem e ter o mínimo de tempo conhecendo de fato o lugar, decidi passar mais do que alguns dias no Francês. Fechei um contrato de alguns meses com um ótimo locador, em uma casinha super charmosa, de frente para a entrada da praia –e por um preço bem acessível (R$ 900, todo mobiliado, sala com bicama, cozinha, quarto de casal, banheiro e varanda).

Se comparar com os preços de São Paulo, dá para ter uma vida muito boa aqui, por muito menos. No fim das contas, esse texto funciona como um roteiro, mas para quem está querendo mudar de ares e viver na praia, é uma possibilidade bem real (o preço que mencionei não é regra, os valores podem variar até R$ 2.000 e aumentam conforme localização e estrutura). Basta coragem e a possibilidade de manter um trabalho ativo remotamente –ou prestar algum tipo de serviço por aqui. Se tem um lado bom sobre essa pandemia –o que não tem!– é essa descentralização do trabalho. Me permitiu realizar esse sonho e hoje estar aqui abrindo o coração para vocês. O custo de vida é realmente menor.

Há diversas opções de acomodação na região (Clara Fernandes/Arquivo pessoal)

Seu Luiz, o cara que oportunizou ter esse meu cantinho, tem uma história de vida inspiradora e é um fora de série nato, um corajoso nato. Largou uma estabilidade, contrariou todo tipo de discurso de desmotivação e seguiu o que acreditava. Ter uma vida com um pouco mais de qualidade, quando o Francês era mato. Ao seu lado, Lúcia, outra guerreira, que conheceu o mundo e veio parar aqui –sempre com um sorriso no rosto e uma gentileza digna desse povo acolhedor. “Sonho de Mineiro”, diz ele. A avenida dos Corais, 155, é digna de passar para conhecer e tomar um chimarrão com o casal. Você vai encontrar muito dessas histórias por aqui. É uma opção totalmente viável.

Alugar por temporada acaba ficando um pouco mais caro (os valores podem variar de R$ 150 a R$ 700 a diária). É o modelo clássico, você paga por dia. Mas tem um lado bom: mais privacidade, você economiza em alimentação, tem uma casa montada à sua disposição. Se juntar com mais pessoas, acaba valendo a pena.

Para quem procura de fato tranquilidade, uma viagem ao Francês sob uma perspectiva mais intimista, a recomendação é procurar pela pousada e camping Trilha do Mar. Localizada mais ao extremo direito da praia, ela te levará ao caminho do mar por caminhos entre coqueiros e a restinga da região, propiciando uma experiência mais conectada com a natureza do lugar e menos com a região do povoado, da grande concentração de pessoas. Aliás, é nessa parte mais isolada da praia que ocorre a desova de tartarugas do Francês.

A arquitetura mais rústica da pousada, que não economiza no charme, abusa de redes, espaços abertos, uma piscina e um espaço de convivência bastante aconchegante. Ao som deliciosamente perceptível do cantar dos pássaros, é o retorno perfeito para depois de um dia “castigado” de sol. O café da manhã regional é servido diariamente como uma cortesia da pousada, que emana energias de acolhimento, traduzidas na figura do proprietário Sérgio Gurgel. O surfista de bem com a vida, que não economiza na generosidade.

Suas acomodações são projetadas para receber até 2 pessoas, podendo adicionar uma cama extra com acréscimo de custo (você irá gastar uma média de R$ 200 a diária). O apartamento dispõe de uma cama de casal e contém ar-condicionado, televisão, banheiro privativo, frigobar e Wi-fi. Como a pousada também é um camping (o preço do espaço para acampar é de R$ 30 a diária), é importante dizer –como pessoa que já passou por alguns perrengues– que o espaço destinado para as barracas é amplo, organizado e bem arborizado. A Trilha do Mar é, certamente, a opção de maior custo-benefício dessas recomendações para se hospedar no Francês.

A praia do Francês tem hospedagem para diferentes bolsos (Kaio Fragoso/Arquivo pessoal)

Agora, se a ideia é ficar bem localizado, com um pouco mais de luxo, de frente ao mar e no coração do povoado, a indicação vai para o estrelado Hotel Ponta Verde Praia. As janelas em madeira, abertas todos os dias nas ruas simples de Marechal, são referências para todo o conceito arquitetônico do Hotel, refletindo a tradição do casario secular do centro histórico local. Já nos apartamentos, voltados para o mar, as paredes e móveis são na cor branca, em alusão à areia da beira do mar e também para atrair melhor a luz natural, enquanto que nos cômodos com vista para a vila, voltados para a direção geográfica sudoeste onde está a lagoa Manguaba, têm as paredes em tons mais escuros da cor da areia da lagoa. Estes recebem ainda móveis em textura amadeirada, remissiva às madeiras dos barcos que navegam em suas águas.

Fachada do Hotel Ponta Verde Praia (Luis Eduardo Vaz/Arquivo pessoal)

Lá você encontrará duas opções de restaurantes, área fitness, espaço zen, espaço kids, serviço de praia e uma belíssima piscina com vista para a praia. Já as opções de acomodação são diversas: você pode ficar nos apartamentos Frente Mar e Vila (R$ 430 e R$ 370 a diária, respectivamente), que são munidos de janelas anti ruídos, Smart TV, ar-condicionado, cofre, serviço de quarto e frigobar. Comporta até 3 pessoas ou um casal e 2 crianças. Há também a opção pelo Garden Premium (R$ 600 em média a diária), que possui os mesmos benefícios, só que com uma varanda com jacuzzi e uma bancada de trabalho. Comporta até 4 pessoas e possui condições especiais para acessibilidade. O nível aumenta com a Suíte Premium (R$ 750 em média a diária), que tem o dobro do tamanho do Garden e todas as regalias mencionadas, além de sala, 2 Smart TVs, uma adega. É pensado para 2 pessoas. Por fim, a acomodação top de linha é a Suíte dos Marechais (R$ 1.000 em média a diária), que possui 2 quartos com suíte, 90 m², 3 Smart TVs, 4 ares-condicionados, 3 frigobares retrô e cabem até 4 pessoas.

O valor das diárias está sujeito a alterações conforme o período do ano. A cotação para essa reportagem foi feita em novembro. Sempre é válido checar antes de fechar sua reserva.

Especulação imobiliária nunca vai poder comprar uma paixão
Perceber os elementos que revestem e colorem a aura do Francês é deixar-se envolver por referências vivas que seu povo defende diariamente. Há um movimento forte de comoditização do povoado, que cada vez mais atrai turistas do Brasil todo e, consequentemente, os olhos de quem vê nele um equity e uma possibilidade de “evolução”.

Não falo aqui de “evolução” no sentido de progresso sustentável; de geração de empregos; de oportunidade de uma economia quente circular para e com esse povo, que com ferro e fogo achou um cantinho para chamar de seu. Um cantinho tranquilo, que através da pesca, do artesanato e da música criou uma expressão cultural digna de narrar. E das pessoas saberem disso.

O que acontece hoje no Francês é que poucos querem deter o máximo que podem dessa terra. Uma pesquisa divulgada no dia 15 de julho de 2020, pelo IBGE, mostra que Alagoas continua liderando, em números absolutos, o analfabetismo no país. O patrão que chega aqui não encontra mão de obra qualificada –e descarta, não capacita.

Assim vai cada vez mais marginalizando aqueles que antes tinham algum tipo de meio de produção e subsistência por aqui, do jeito que dava, para elitizar o local. É uma briga de Davi contra Golias. A máquina do dinheiro vivo e do dinheiro intelectual contra o analfabetismo. A conta não fecha: e adivinha para que lado a corda estoura?

Mas lembram o que eu falei lá no começo do texto? “Orgulho e tradição não são feitos de canetadas”? Pois bem, ainda puxo mais um trecho, dessa vez do intertítulo que abre o caminho para minhas últimas considerações: especulação imobiliária nunca vai poder comprar uma paixão.

E sobre paixão, complacência e alteridade esse povo conhece. Foi assim desde o início. Foi assim desde o meu início. Desde que eu cheguei aqui. Desde que eu entendi que a luta do povo de onde eu venho é a luta de vários povos ao redor desse nosso Brasilzão: ter uma vida um pouco mais digna. De preferência, com companhia.

Pôr do sol na praia, que fica a 20 km da capital Maceió (Luis Eduardo Vaz/Arquivo pessoal)

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Aviso aos passageiros 1: A viajante Isadora Santos visitou a capital paraense e dá dicas de como aproveitar Belém em 48 horas

Aviso aos passageiros 2: Se você gosta de natureza, o casal de cicloviajantes Rafaela Asprino e Antonio Olinto criou um guia da serra do Espinhaço, entre Minas Gerais e Bahia

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Em viagem de moto, mineiro visita vários estados do Sudeste e do Nordeste https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/08/21/em-viagem-de-moto-mineiro-visita-varios-estados-do-sudeste-e-do-nordeste/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/08/21/em-viagem-de-moto-mineiro-visita-varios-estados-do-sudeste-e-do-nordeste/#respond Fri, 21 Aug 2020 17:41:18 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2020/08/15976195375f39bd5134378_1597619537_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=470 O mineiro Thiago Guido já deu as caras aqui no blog, contando como foi a viagem dele de moto pelo sul do Brasil, Argentina e Chile.

Naquela vez, em março de 2019, rodou com um amigo 7.161 km. Agora, Thiago relata como foi a jornada pelo Sudeste e Nordeste.

Em outubro de 2019 ele aproveitou que estava sozinho para visitar amigos e parentes, além de conhecer lugares novos.

Em tempos de coronavírus não podemos viajar, e muitas vezes nem sair de casa. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Você talvez reconheça essa moto das fotos. É minha Honda Bros 160cc ano 2017. Ela já apareceu aqui no blog Check-in, numa aventura até o deserto do Atacama. E porque é que estou te contando isso? Pois essas duas viagens estão “interligadas”.

Essa jornada pelo Nordeste estava programada para janeiro de 2019, mas, por alguns “problemas”, fui obrigado a adiá-la, sem data definida. Dois meses se passaram e lá estava eu chegando ao Pacífico depois de cruzar o Atacama em uma viagem completamente diferente. Foi uma viagem incrível e inesquecível, mas, assim que regressei, a ida ao Nordeste voltou a martelar minha cabeça.

Após alguns meses de programação e busca por recursos, lá estava eu novamente na estrada, dessa vez SOZINHO e para a MAIOR VIAGEM QUE JÁ FIZ ATÉ HOJE… Eram muitos os objetivos dessa aventura e alguns deles eram o encontro com amigos e parentes por boa parte do trajeto.

Saí da capital paulista no fim de outubro de 2019, sentido Belo Horizonte. Quando as pessoas veem o mapa acham que foi preconceito com o Rio de Janeiro, mas o “desvio” foi para visitar meus pais –eles moram a 630 km e, infelizmente, não posso vê-los com a frequência que gostaria. Dito e feito. Cheguei na casa deles já no início da noite e permaneci lá no dia seguinte, curtindo uma bela comida mineira e o afago dos coroas. Estrada Fernão Dias sem novidades, pois a conheço como a palma da mão.

No 3º dia parti em direção a Vitória. Estava bastante frio nas Serras Capixabas, mas cheguei. Lá me encontrei com um colega de faculdade, o Mariocas, grande amigo. Curtimos uma praia, jantamos e dormi pra seguir cedo no dia seguinte.

No 4º dia o destino era Porto Seguro, para ficar na casa de outro amigo, dessa vez um conhecido ainda do colégio. Grande Carlitos. Na saída da capital potiguar bateu a saudade do Atacama quando vi na ponte que atravessa de Vila Velha para Vitória uma placa de um coqueiro de lado, que significa para ter cuidado com os ventos. A estrada estava bem melhor do que quando ia para a Bahia na adolescência. E Porto Seguro, como sempre, linda. Chovendo, ficamos em casa colocando o papo em dia. O jantar foi uma deliciosa pizza.

O destino do 5º dia era a península de Maraú, na casa do meu irmão mais velho. Depois de muita chuva e alguns erros no caminho, encontrei a temida e péssima estrada de Barra Grande. Muita terra, buracos e um longo trecho de areia fofa. Coração quase saindo pela boca, cheguei assustado. Um ano antes eu tinha ido de carro e prometido que voltaria com minha moto, mas não imaginei que passaria tanto medo. O jantar foi um belíssimo sanduba regado a bacon. Por lá permaneci no 6º dia, num trabalho ambiental de limpeza das praias, pois foi a época em que houve o desastre com o óleo no litoral do Nordeste.

No 7º dia, parti meio sem destino. Cheguei a Salvador pelo ferry e consegui pilotar até Praia do Forte, ainda na Bahia. Pensa num estado grande! Fiquei na primeira pousada/hotel da viagem. Sem novidades além de um vizinho de quarto que se divertiu bastante com sua namorada/esposa.

Assim que acordei peguei logo a estrada, pois esse seria o trecho mais longo a ser percorrido em um único dia. Foram aproximadamente 730 km. Não que seja uma distância absurda, já que rodei quase 1.200 km no primeiro dia da viagem ao Atacama. Mas, dessa vez, era no Nordeste e o destino, Recife. Cruzei os estados de Sergipe e Alagoas e encontrei Pernambuco já de noite. Fiquei na casa do Renan, um grande amigo de quando morei por lá em 2014. Fizemos um proveitoso passeio pelo centro velho, ao som de Nação Zumbi, e jantamos uma bela pizza.

No 9º dia acordei cedo, troquei o óleo da motoca, cruzei a Paraíba e cheguei ao Rio Grande do Norte. Fiz uma parada no Marco Zero da BR-101, em Touros, e segui para São Miguel do Gostoso. Lá jantei um sanduba chiquérrimo e dormi cedo quando vi uma pousada super barata em Canoa Quebrada, o destino final da viagem.

Assim que acordei corri para o Ceará. O destino do 10º dia foi a tal pousada. Lá chegando, corri para as dunas para ver o belíssimo pôr do sol. No dia seguinte permaneci na cidade e andei pelos marcos e pontos turísticos, como os letreiros (verdadeiro e falso) com nome e símbolo da cidade, a tal da Brodway e muito mais. Esse foi o último dia de “ida”. Era hora de voltar…

No 12º dia saí de Canoa sentido Natal para visitar o maior cajueiro do mundo. Por algum motivo, me perdi no sertão e saí próximo de Pipa. Já estava com saudade de casa e cansado da viagem. Não iria voltar nem *¨¨(%¨*¨%. Fiquei em Pipa mesmo –lugar maravilhoso, diga-se de passagem. Lá tive um pequeno problema financeiro: o banco resolveu não me deixar movimentar meu dinheiro. Com apenas alguns trocados no bolso, desespero sem saber como pagar até a pousada, tive que ficar algumas horas no telefone com meu gerente. Problema resolvido, bora curtir a cidade.

De Pipa segui no 13º dia de viagem. Passei pelas dunas de Cacimbinhas e serei bem sincero: é um dos lugares mais bonitos por onde já passei. Lindo demais. Depois fui ao Marco Zero da Transamazônica, em Cabedelo, e à Ponta do Seixas, em João Pessoa, o ponto mais a leste da América Latina. Parei em Recife novamente, troquei o óleo da motoca e fiquei na casa do meu amigo Renan.

De Recife segui para Aracaju neste que era o 14º dessa longa aventura. Fiquei em um hotel e descansei bastante, saindo apenas para a padaria.

No 15º dia andei sem destino, passeando pela cidade e acabei parando em Itacaré, já na Bahia. Que lugar incrível. Pousada super legal, barata e a cidade é um encanto.

De lá segui novamente sem destino e cheguei até Nanuque, já em Minas Gerais, onde parei em um Supermercado Mineirão, que não via desde minha infância. Estiquei a corrente da moto e apaguei.

No 17º dia já estava “em casa”: novamente em Belo Horizonte, nos meus pais. Lá permaneci por mais 24 horas, de novo só curtindo os mimos dos coroas. Encontrei o Rapunza, um grande amigo e grande músico.

No último dia, o 19º, parti da capital mineira para a paulista e cheguei no início da noite na minha casa.

No total foram 8.038 km rodados por 10 estados do Sudeste e Nordeste. Felizmente, como todas as viagens que fiz até agora por 14 estados brasileiros, Chile, Argentina e Paraguai, não tive nenhum problema. Esse é o benefício de fazer manutenções preventivas.

Se quiser ver o filme dessa aventura, prepare a pipoca e dá play no vídeo!

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Aviso aos passageiros 1: Se você gosta de viajar de moto, tem também o relato dos amigos Leandro Mercali e Edevir Zaccaria, que viajaram de moto entre Brasil, Uruguai, Argentina e Chile

Aviso aos passageiros 2: O ciclista Régis Galisteu pedalou por cinco meses entre vários estados do Nordeste, chegando até a doar sangue duas vezes

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Ciclista viaja cinco meses pelo Nordeste e doa sangue pelo caminho https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/02/03/ciclista-viaja-cinco-meses-pelo-nordeste-e-doa-sangue-pelo-caminho/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/02/03/ciclista-viaja-cinco-meses-pelo-nordeste-e-doa-sangue-pelo-caminho/#respond Mon, 03 Feb 2020 14:11:21 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2020/02/15806910595e376e7392a22_1580691059_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=277 Régis Galisteu fez uma cicloviagem de cinco meses, entre agosto e janeiro, por vários estados do Nordeste.

Durante o período, ele pedalou por diversas praias, prestou um concurso municipal, trabalhou com entregas de bike e até doou sangue duas vezes.

Para dormir, o viajante alugou quarto ou acampou em praias, igrejas e praças. Outras vezes, foi acolhido por desconhecidos quando pedia abrigo em seus quintais.

E você? Fez alguma viagem legal e quer compartilhar sua história? Mande seu relato para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Eu fazia entregas de alimentos, de bicicleta, em Recife, Fortaleza e Maceió. Após um ano vivendo na capital alagoana, retornei para minha cidade: Fronteira (MG).

Fiquei lá por dois meses e já bateu aquela vontade de voltar para o Nordeste. Foi aí que resolvi fazer a minha primeira cicloviagem.

Olhei na internet e vi que haveria, na paradisíaca Maragogi (AL), um concurso público para a prefeitura. Paguei a taxa de inscrição, então, para um cargo simples, em serviços gerais. Agora teria um motivo a mais para fazer uma cicloviagem.

Régis aproveitou a viagem de bike para doar sangue duas vezes (Arquivo pessoal)

Comprei uma passagem de ônibus partindo de São José do Rio Preto (SP) até Aracaju. Chegando lá montei a minha bike (Caloi 10) e segui sentido ao estado de Alagoas.

No Sergipe, pedalei pelas praias de Pirambu, Ponta dos Mangues e Brejo Grande, e logo entrei em Alagoas, chegando até Maceió. Lá, aluguei um quarto e fiquei por um mês esperando minha prova do concurso.

Aproveitei e realizei algumas entregas de bicicleta, diminuindo minha dívida, já que tinha gastado todo o dinheiro que havia juntado antes da viagem.

Depois de alguns dias saí de Maceió e fui para Maragogi fazer o concurso. Fiquei acampando na orla por três dias esperando a prova, que seria na vizinha Japaratinga.

O viajante acampou em praias durante sua viagem pelo Nordeste (Arquivo pessoal)

No dia seguinte ao concurso continuei minha viagem e pedalei pelos estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Chegando lá, fiquei um mês na praia de Genipabu acampado na feira de artesanato que está em construção –não faça isso lá, porque é muito perigoso.

Aproveitei e realizei minha primeira doação de sangue, no início de outubro. Depois de alguns dias retomei a viagem e pedalei até o Ceará, parando em Jericoacoara, onde fiquei 15 dias. Na sequência, fui para o Piauí e o Maranhão.

Passei o Ano-Novo em Barreirinhas (MA) e dali peguei um barco chamado voadeira. Amarrei minha bike e viajamos por 1 hora pelo rio Preguiça até a vila de Atins. Conheci os Lençóis Maranhenses, que estavam praticamente vazios, sem água.

Depois voltei a Barreirinhas e segui viagem para São Luís. Na capital, aluguei um cômodo, onde fiquei dez dias, e realizei outra doação de sangue, em janeiro.

No total, pedalei por cinco meses e passei por oito estados do Nordeste: Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão. Eu e minha bicicleta rodamos por volta de 2.000 km, fiz uma prova de concurso público e realizei duas doações de sangue.

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Aviso aos passageiros 1: A ciclista Érica Ceciliato contou ao blog Check-in como foi a sua primeira viagem de bike, também pelo Nordeste

Aviso aos passageiros 2: Confira algumas dicas para viajar de bicicleta e não cair em roubadas

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