Check-in https://checkin.blogfolha.uol.com.br Relatos de turistas, dicas e serviços de viagem Wed, 01 Dec 2021 12:49:26 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Casal divide o amor por viagem e percorre 72 mil km de carro com os filhos pela América do Sul https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/11/27/casal-divide-o-amor-por-viagem-e-percorre-72-mil-km-de-carro-com-os-filhos-pela-america-do-sul/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/11/27/casal-divide-o-amor-por-viagem-e-percorre-72-mil-km-de-carro-com-os-filhos-pela-america-do-sul/#respond Sat, 27 Nov 2021 18:35:39 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2021/11/163796575861a15fbe48d3a_1637965758_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=826 Viajar é muito bom. Melhor ainda quando se pode dividir o amor por cair na estrada com alguém. Raul, por exemplo, deu sorte de encontrar a Adriana, que nutre esse sentimento de desbravar o mundo.

Eles fizeram algumas viagens de carro juntos e seguiram assim quando os filhos vieram. Todo anos a família se organizava para ter alguns dias livres para dirigir por aí. O perfil deles no Instagram (@calugui_expedicoes), inclusive, é uma homenagem ao nome dos filhos: Caio, Lucca e Guilherme.

Nos últimos tempos eles viajaram por vários países da América do Sul e, como o bichinho da estrada sempre pica a gente, eles querem agora fazer uma expedição até o Alasca, percorrendo a América de motorhome.

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Nossa história começa quando eu e a Dri tomamos a decisão de que colecionar momentos com o pé na estrada seria o nosso estilo de vida. Meu interesse pelo assunto nasceu na infância. Meus pais imigraram da Argentina logo que se casaram, então minha família sempre teve o costume de viajar longas distâncias de carro.

Em 1985 visitei o Salão do Automóvel com meus pais e irmãos e me lembro de ter ficado impressionado com a Kombi Safari Motorhome. Comentei com meu pai que aquele veículo seria ideal para as nossas viagens de fim de ano. Aquilo me marcou e eu pensei comigo: um dia ainda vou ter um motorhome e sair por esse mundão.

O tempo passou e eu conheci a Adriana na época em que trabalhava no negócio da família. Em 1999 eu a levei para conhecer meus parentes na Argentina e foi a primeira viagem de longa distância que ela fez (foram 20 dias e 7.500 km). Ali eu descobri que ela gostava de colocar o pé na estrada tanto quanto eu.

Casamos, os filhos chegaram, seguimos trabalhando nos nossos projetos e sempre que podíamos pegávamos o carro com a família toda e saíamos por aí (nos organizávamos para que pudéssemos estar na estrada de 15 a 30 dias por ano).

A partir de 2015 começamos a realizar nossas expedições para lugares mais distantes. Em março desse ano viajamos para a Patagônia argentina, num total de 25 dias e 8.500 km. No ano seguinte, fizemos uma expedição para a região de Mendoza, na Argentina, e a famosa travessia pela estrada Caracoles até o Chile via Cordilheira dos Andes.

Durante essa viagem tivemos a oportunidade de conhecer viajantes do mundo todo, em motorhome, motos e até bikes. Muitos deles perseguindo o desafio de chegar à cidade mais austral do continente, Ushuaia. Nem bem tínhamos concluído nossa expedição Mendoza-Chile, e já estávamos planejando o próximo destino: Ushuaia.

O ano de 2016 foi de muito planejamento e pesquisa para organizar a expedição que viria a seguir, atingir o ponto mais extremo do continente sul-americano, localizado em Tierra del Fuego. Em janeiro de 2017 viajamos os cinco: eu, a Dri e nossos três filhos adolescentes num veículo SUV comum.

Foram 32 dias e 15 mil km pelas Rutas 40 e 3, no território argentino, e a belíssima Carretera Austral, no Chile. Ao longo da nossa expedição, pudemos visitar lugares mágicos como Glaciar Perito Moreno, Capillas de Marmol, Torres del Paine, Punta Arenas, Punta Tombo, além de diversos parques situados nas Patagônias argentina e chilena.

Foi nessa viagem que a Dri resolveu aumentar a aposta e propôs um novo desafio. Ao final da Ruta 3, em Ushuaia, no Parque Nacional Tierra del Fuego, há uma placa com a inscrição da distância dali até o Alasca: 17.848 km. Se agora já havíamos conhecido os pinguins, estava na hora de ir em busca dos ursos!

Ainda em 2017 fizemos outra expedição, desta vez para realizar o sonho dos nossos filhos de conhecer a neve, e viajamos novamente para a Patagônia argentina, região de San Martín de los Andes, em julho. Fomos agraciados com a maior nevasca dos últimos 30 anos e computamos mais 8.000 km pra conta!

Nesses anos de Calugui Expedições (@calugui_expedicoes), já percorremos mais de 72 mil km e vivenciamos muitas aventuras, que nos proporcionaram momentos e recordações incríveis! Aliás, o nome Calugui é uma homenagem aos nossos três filhos: Caio, Lucca e Guilherme.

Nessa jornada, tivemos a oportunidade de conhecer os países do cone sul (Uruguai, Paraguai, Argentina e Chile) e também o Brasil, que tem sido o nosso destino neste momento de pandemia. Há muito o que conhecer do nosso país, rico em belezas e diversidade natural.

Prestigiar e desbravar esse imenso litoral com o qual fomos presenteados, e em especial o do Nordeste, é o projeto no qual estamos trabalhando agora e pelos próximos dois anos. A expedição está programada para início de 2022 e antecede o planejamento da maior de todas as expedições, a do Alasca.

Neste ano de 2021 conseguimos realizar o nosso sonho (aquele meu de infância, e compartilhado com a minha esposa) de ter o nosso motorhome do tipo Camper, mais uma etapa na direção do nosso grande objetivo. Em parceria com uma empresa do Paraná, adquirimos o nosso equipamento e o nosso veículo hoje está devidamente preparado para rodar longas distâncias com todo o suporte e apoio imprescindíveis à manutenção da nossa rotina e necessidades primárias de descanso, higiene e alimentação.

Toda essa mudança de vida foi, no entanto, impulsionada por problemas sérios de saúde que enfrentei e que me fizeram encarar a vida de outra forma. A Calugui Expedições nasceu desse novo olhar, do entendimento de que a vida está aí para ser vivida na sua plenitude, desse desejo de viajar e conhecer as maravilhas que o nosso planeta tem a nos oferecer, cuidando, zelando e respeitando-o como ele merece.

Saborear as experiências, colecionar momentos e perpetuar memórias, é disso que se trata! Há uma frase que eu gosto muito de Thomas Hardy que diz: “A felicidade não depende do que nos falta, mas do bom uso do que temos.”

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Aviso aos passageiros 1: A família Barros está viajando desde 2017 numa Kombi e tem como objetivo chegar ao Havaí. Por enquanto, estão aproveitando a Bahia

Aviso aos passageiros 2: Quem também caiu na estrada de carro é o casal Lucas e Maíra, que passou a viajar pelo país durante a pandemia

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Na estrada desde 2017, família preta viaja de Kombi com destino ao Havaí https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/10/23/na-estrada-desde-2017-familia-preta-viaja-de-kombi-com-destino-ao-havai/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/10/23/na-estrada-desde-2017-familia-preta-viaja-de-kombi-com-destino-ao-havai/#respond Sat, 23 Oct 2021 17:50:54 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/IMG_20210617_001943_129-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=816 A comunidade de viajantes de Kombi é grande no Brasil. O Check-in, por exemplo, já contou a história dos casais Tainá/Thiago e Juliana/Gustavo, que estão percorrendo as estradas brasileiras com esse que é um veículo amado por muita gente.

Hoje, o blog vê aumentar a família de amantes de Kombi, e com a experiência de uma família. E o legal é que os Barros (@familyontheroad21) trazem diversidade para a comunidade viajante, já que, além de serem negros, estão levando duas crianças para conhecer o Brasil.

A ideia não é ficar só aqui no país, e sim rodar até o Havaí.

Na estrada desde 2017, ThaisaFellipe e seus filhos viajaram pelo Sudeste antes de passarem um bom tempo desbravando a Bahia.

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Uma família preta viajando de Kombi rumo ao Havaí. Repetindo: uma família preta viajando de Kombi rumo ao Havaí. É verdade esse bilhete!!! 

Em 2017, o despertar. Para uns, loucos. Para outros, gênios. E assim partimos certos de que sim, a vida vale mais que uma carga horária de 40 horas semanais e uma conta que nunca vai fechar. 

Ela, socióloga, ativista do útero, puérpera, amamentando os dois ao mesmo tempo, professora, terapeuta, palestrante, apresentadora de TV: uma empreendedora convicta e multipotencial assumida. Ele, deficiente, educador físico, atleta paralímpico de triatlo, mestre em política pública e formação humana, terapeuta, músico, compositor e outras tantas coisas mais. 

Juntos nos tornamos mestres em “sevirologia”, sempre ali na ponta da criação e das infinitas possibilidades que a nossa escolha em sermos uma família negra e nômade pudesse nos trazer. Aprendemos na jornada que o melhor de nós está em dividir o que somos e não só o que fazemos. 

E algumas perguntas que nunca faltam: “Como vocês se sustentam?” “E a escola das crianças?” “Por que o Havaí?” 

Então, vamos lá: partimos em 2017 do Rio de Janeiro para Ubatuba, onde passaríamos um tempo numa ecovila que não deu certo. Daí fizemos algumas cidades e capitais do Sudeste e seguimos rumo ao país chamado Bahia. 

Com o tempo, percebemos que, para a experiência que queríamos com essa viagem, precisávamos de mais dias em cada cidade, além de ser bem mais econômico. Adotamos, então, o slow travel como modelo de viagem. Assim, criamos laços mais duradouros com a comunidade e o próprio lugar, e nos hospedamos em locais incríveis com um preço mais justo. 

O lema aqui é: sermos nativos do mundo todo. Estamos seguindo o plano. 

Já rodamos a Bahia de norte a sul, leste a oeste, estivemos em cidades do sertão, do recôncavo baiano, do litoral norte e litoral sul, e nossa Salvador, é claro! Daqui seguimos pelo litoral nordestino, saímos do Brasil pelo Norte e viajamos pelas Américas até o México. Depois, Los Angeles e, logo ali, o sonho: Havaí. 

E com que dinheiro vocês vão fazer isso tudo? Bora lá: saímos da corrida de ratos onde deixamos tudo para “um dia quando eu tiver dinheiro”, ou “quando eu me aposentar”, ou… ou… ou… 

A vida é agora e perrengue não tem nos faltado, mas vivemos o presente com tudo o que ele pode nos dar e um dos maiores aprendizados tem sido —anota aí—: o suprimento do Universo é invisível. Maaas, vão aí alguns dos nossos corres: atendimentos terapêuticos, cursos, palestras, brincantes, shows. Temos também o Brownie Viajante e, é claro, na busca constante por patrocínio para nossos projetos pilotos: a família viajante, o paratriatleta e a apresentadora de TV. 

Quanto à escola das crianças, somos educadores por natureza e também de formação acadêmica e optamos por desescolarizá-los e ensiná-los em casa. Isso bem antes do que hoje o mundo inteiro viveu como única opção devido à pandemia. E não sei se vocês sabem, mas a primeira socialização, ou seja, a primeira infância, deve ser feita pela família. O tal primeiro setênio. Assim seguimos o roteiro, embora o diferente aqui é que somos uma família preta. 

A família tem aproveitado os últimos tempos para conhecer a Bahia (Arquivo pessoal)

Ahhhhh e o Havaí? E por que não o continente africano? Bem, volta duas casas. Voltou? Estamos viajando de Kombi e uma primeira versão da viagem pelas Américas e por terra ficou bem mais ” fácil”, e é óbvio que a segunda temporada será em solo africano. Além disso, o papai paratriatleta se desafiou a ser o primeiro e talvez único deficiente a completar uma prova de ultralongadistância e a prova é no Havaí, em outubro de 2023. Na primeira temporada a meta era chegar nas Paralimpíadas de Tóquio, mas a sua deficiência não foi incluída nas categorias e ele ficou fora da disputa.

Nosso propósito é ocupar também lugares onde não encontramos os nossos iguais. Cansamos de ser a única família preta no rolê. E não venha nos falar em sensacionalismos e tente se recordar: quantas famílias pretas você viu nas redes sociais, nos canais de comunicação, num site de notícias, que vivem a vida viajando? 

Eis mais um dos nossos porquês. E quanto ao legado pros nossos pequenos, hoje com 7 e 5 anos, é que nada e nem ninguém pode definir quem eles são ou o tamanho dos seus sonhos. Eles, e você também que nos lê, podem ser, fazer ou ter o que quiserem. Ouse sonhar e mais ainda ouse realizar! 

A vida pede mais. 

Saiba mais dessa jornada em @familyontheroad21.

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Aviso aos passageiros 1: Quem também caiu na estrada de carro é o casal Lucas e Maíra, que passou a viajar pelo país durante a pandemia

Aviso aos passageiros 2: Caso você seja do time que gosta de escutar podcasts, aqui está uma lista com 9 opções para quem faz mochilão, viagem de carro ou é nômade digital

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Casal viaja de Kombi com seu cachorro e conta como é a vida na estrada https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/05/29/casal-viaja-de-kombi-com-seu-cachorro-e-conta-como-e-a-vida-na-estrada/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/05/29/casal-viaja-de-kombi-com-seu-cachorro-e-conta-como-e-a-vida-na-estrada/#respond Sat, 29 May 2021 18:13:31 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2021/05/WhatsApp-Image-2021-05-28-at-16.03.54-1-300x215.jpeg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=729 Cada dia que passa o blog Check-in aumenta a lista de histórias de gente que viaja de carro por aí. A mais recente foi do casal Tainá e Thiago e de sua Kombi Penélope.

Outra dupla que também caiu na estrada nos últimos tempos foi o Gustavo Brentan, 24, e a Juliana Galleoti, 27. E eles estão percorrendo o país ao lado do Skol, seu yorkshire de 4 anos, e da Cremilda, a Kombi pau pra toda obra.

A família (@EuElaeoSkol) começou a viagem há três meses e nesse período conheceu Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia. Abaixo, eles contam de onde surgiu essa ideia de rodar o Brasil e um pouco de suas experiências.

Em tempos de coronavírus nossas viagens ficaram mais restritas. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Somos Juliana, Gustavo e o Skol, nosso yorkshire que viaja com a gente na Cremilda, nossa Kombi home, e viemos da capital paulista. Quem mora em cidade grande sabe a loucura que é viver todos os dias. Ele trabalhava com vendas e eu tinha uma função mais administrativa na empresa do meu pai.

O Gustavo decidiu largar tudo para focar o projeto da Kombi e o canal do YouTube e eu ainda consigo fazer alguns trabalhos para ajudar a gente a se manter na estrada. Além disso, eu vendo macramê e estamos criando algumas coisas para complementar nossa renda.

A família no começo ficou um pouco apreensiva com a nossa decisão e preocupada com o nosso futuro, mas com o tempo todos entenderam e no final nos apoiaram muito. Decidimos mudar nosso presente e futuro e hoje estamos na estrada.

Faz pouco tempo que iniciamos a jornada Brasil afora, mas já percorremos um caminho incrível e conhecemos pessoas maravilhosas.

Nossa história é típica e padrão como a da grande maioria: sair da escola, ter que começar uma faculdade sem nem saber o que queríamos realmente da vida e trabalhar, trabalhar e trabalhar. Mas a ideia de largar tudo e viajar eu acredito que começou como as outras histórias de viajantes, uma sede de viver mais e aquela vontade de conhecer esse mundão. A única diferença é a forma que cada um teve a iniciativa para isso.

Nós perdíamos horas de nossos dias assistindo pelo YouTube a vários canais de viagem e cada dia que passava sentíamos algo forte no coração que nos dizia para meter as caras e arriscar, só assistir não estava sendo o suficiente.

Quem tem a intenção de iniciar um projeto com uma Kombi e quer montar uma estrutura razoável para se manter na estrada precisa investir um valor significativo. Claro que também dá para começar com coisas mais básicas e aos poucos adquirir o que é mais caro. Nada é impossível para quem se determina a seguir um sonho, então tenha fé.

Um conselho de quem passou na pele pelo perrengue: foque a parte mecânica com um profissional que entenda bem de Kombi. Para economizar, nós, infelizmente, colocamos a parte elétrica e a mecânica na mão de pessoas boas, mas que não tinham tanto conhecimento do modelo que usamos.

Isso acabou fazendo com que o veículo tivesse um curto na parte elétrica e quase pegou fogo. Tivemos que parar no meio da estrada e chamar um auto elétrico para nos ajudar e seguir viagem. Depois do susto, diminuímos a ansiedade de finalizar logo o projeto e seguramos um pouco para poder investir melhor na casinha.

Como vocês podem ver, nem tudo são flores e todos vão ter uma história de perrengue para contar.

Origem do projeto

Voltemos ao momento em que a gente decidiu realizar esse sonho. Conversávamos por dias sobre o assunto e achávamos uma loucura completa. Pensávamos em como seria deixar o trabalho e o apartamento que tinha acabado de ficar com a nossa carinha e que ainda está financiado, e o que os familiares iriam pensar sobre nós.

A ideia principal partiu dos dois, mas o Gustavo teve a iniciativa de dizer que sim. Confesso que depois ele acabou desistindo por questões de trabalho e família, mas não demorou muito para voltar atrás. Já eu topei de cara e, quando ele desistiu, fiquei chateada. Porém ele não demorou muito para retornar à decisão inicial. A primeira coisa que eu disse a ele quando voltou atrás foi que se desistisse novamente eu iria com o Skol.

Tudo parecia surreal e assustador, mas a decisão já tinha sido tomada. Nos organizamos financeiramente e durante dois anos construímos a Cremilda –no nosso canal você encontra tudo sobre a montagem do carro e sobre nossa viagem.

Durante a viagem, eles costumam dormir em wild camping, ou seja, estacionado em qualquer lugar (Arquivo pessoal)

Também tivemos que alugar nosso apartamento antes de viajar para conseguir continuar com o projeto. Como ele ainda estava financiado, o valor consumia muito do nosso orçamento mensal e o projeto levaria mais de dois anos para ser finalizado. Guardamos dinheiro, vendemos nossos carros, objetos e utensílios que não iríamos mais usar para termos um valor inicial para as coisas mais caras.

Durante seis meses moramos com a mãe e o pai do Gustavo para o valor da nossa renda diminuir e a gente conseguir direcionar para a Kombi. E pudemos, com muito esforço, fazer tudo. Cometemos alguns erros de principiante com a parte mecânica, mas no final foi resolvido e a Cremilda ficou maravilhosa.

Já estamos há três meses pelo Brasil, dormimos em posto de gasolina, camping e wild camping (lugares na rua). Nesses últimos tempos tivemos alguns altos e baixos, mas confesso que nunca fomos tão felizes e realizados. A ideia era passar um ano na estrada e hoje temos vontade de ficar mais tempo.

Experiências na estrada

Iniciamos a jornada por Minas Gerais e nosso primeiro wild camping foi em Capitólio. Estávamos dormindo em um terreno na beira do rio e, na primeira noite sozinhos no meio do nada, caiu a maior chuva com raios e trovões. Ficamos desesperados, morrendo de medo.

Decidimos deixar o medo de lado e ver o poder do universo de camarote. Abrimos as janelas da Kombi e admiramos a beleza da chuva com os raios e o barulho dos trovões. Parece assustador e no começo foi um pouco, mas depois foi incrível poder estar ali vivendo tudo isso.

Andamos de caiaque e podem acreditar: o nosso pequeno Skol vai junto sempre. Ele adora uma aventura! Para quem se pergunta como é levar o cachorro eu digo que é tranquilo, já encontramos viajantes com cães e gatos pela estrada e todos dizem a mesma coisa.

De Minas Gerais conhecemos poucos pontos e nos arrependemos disso. Tínhamos acabado de sair e estávamos muito empolgados, então só queríamos ficar na estrada, não curtíamos tanto os lugares e já partíamos para outro. Hoje, depois desses 3 meses, aquietamos e geralmente ficamos de 7 a 15 dias em cada local.

Depois curtimos o Espírito Santo e foi incrível cada cantinho que a gente passou por lá. Já temos algumas rotas que, com toda a certeza, vamos visitar novamente, mas com mais calma, para poder curtir tudo.

A Pedra Azul foi uma aventura surreal que fizemos. A gente sempre foi sedentário, aquele tipo de pessoa que sabe que precisa se exercitar mas prefere comer McDonald’s vendo série na Netflix. Daí tivemos que fazer um percurso de 10 km andando. Para nossa surpresa –quase gerou um mini infarto–, a trilha tinha uma escalada na pedra de 100 m. Eu sei que 100 m é pouco, mas vai por mim: para quem não está acostumado a subir puxando uma corda e olhando para trás e vendo o precipício, realmente vira uma baita escalada emocionante e bem puxada.

Um outro canto especial dentro do nosso coração é o riacho doce e a pousada do nosso querido amigo Celsão e a mulher dele, Mara, pessoas de amor e luz com quem fizemos uma amizade tão especial que a despedida foi muito triste. A ideia era passar 5 dias e acabamos ficando 17. Tivemos uma experiência incrível ao cuidar 3 dias do restaurante e da pousada. Ele deixou na nossa mão e foi resolver algumas questões na cidade.

Nós aprendemos ali que temos jeito para ter um negócio desse tipo e que cada pessoa que conhecemos ficará guardada em nossos corações para sempre. Aquele lugar é um paraíso escondido depois de Itaúna.

Por agora estamos descobrindo a encantadora Bahia. Já passamos por Prado e conhecemos dois casais incríveis que viajam de motorhome. Construímos uma amizade muito legal e nos falamos quase todos os dias, cada um em seu percurso pela estrada, mas sempre se comunicando e passando dicas pelo caminho. Agora estamos com outras duas Kombis continuando pela Bahia e esperamos ter muitas histórias para contar desse lugar encantador.

Eu confesso que uma das coisas que estamos mais gostando nessa viagem é conhecer pessoas. Independentemente se são viajantes ou não, todos nos trataram muito bem e nos acolheram com todo o coração.

O que posso dizer disso tudo é que se você, independentemente da idade ou do financeiro, tiver um sonho como esse, não tenha medo de se arriscar. Vá atrás com o que você tem, seja Kombi, bicicleta, carro ou até andando. Só não deixe de viver esse sonho e acabar perdendo a oportunidade de viver momentos incríveis e conhecer pessoas fascinantes pelo caminho.

Não me aprofundei muito em falar de nós e sim de como é a sensação de estar vivendo tudo isso. Eu acho que a grande verdade é que tudo que vivemos antes em nossas vidas era só o padrão e que agora sim nós podemos realmente começar a escrever nossa história.

E os sonhos não acabam por aí. Queremos muito continuar essa jornada para fora do Brasil e conhecer esse mundão incrível e escrever mais capítulos da nossa história.

Quem sabe um dia a gente abre um camping para receber vários viajantes como nós e contar para todos um pouco da nossa história? Até lá, vamos viver esses momentos e curtir cada cantinho por onde a gente passar.

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Aviso aos passageiros 1: O casal Alessandra e Leo estão rodando a América Latina de carro e pretendem conhecer todos os continentes assim. Eles estão lançando um livro que conta como foi o início dessa jornada, o “Estrada para a felicidade”

Aviso aos passageiros 2: Os jornalistas João Paulo Mileski e Carina Furlanetto viajaram pelo Brasil e por países aqui da América do Sul a bordo de um carro 1.0. Eles, inclusive, lançaram recentemente um livro sobre a empreitada, o “Crônicas na bagagem: 421 dias na estrada – uma jornada de desprendimento pela América do Sul”

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Ouça 9 podcasts para quem faz mochilão, viagem de carro ou é nômade digital https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/02/22/ouca-9-podcasts-para-quem-faz-mochilao-viagem-de-carro-ou-e-nomade-digital/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/02/22/ouca-9-podcasts-para-quem-faz-mochilao-viagem-de-carro-ou-e-nomade-digital/#respond Mon, 22 Feb 2021 20:51:26 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2021/02/16046646095fa53d217021b_1604664609_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=661 Companheiros da limpeza da casa, do caminho para o trabalho ou da corrida, os podcasts fazem parte da rotina de muita gente. E várias pessoas têm aproveitado também na hora da viagem, para se entreter em longas horas de voo ou de estrada.

Por essas e outras, listo nove programas voltados para os viajantes. Há para quem gosta de fazer mochilão, ouvir histórias, rodar de carro por aí, se embrenhar na natureza ou é adepto do nomadismo digital.

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Mochileiros Sem Pauta (@mochileiros.sempauta)
Como o próprio nome já diz, o podcast é feito por e para mochileiros. Conduzido por Cainã Ito (@caina.ito), que nos últimos anos viajou pela África, o programa traz na bancada ao menos 3 convidados.

Já passaram por lá alguns viajantes que escreveram para o Check-in, como Rafael Dallacqua, Davi Montenegro e Rebecca Alethéia. E eu, que faço minha estreia nessa área no programa “Choques culturais”.

Desde junho de 2019 no ar, o programa quinzenal aborda diversos assuntos. Há aqueles mais voltados a viajantes de baixo custo (como Couchsurfing, “perrengues no busão”, hostels e comida de mochileiro), sobre países específicos (Chile, Irã, Índia, Egito e Etiópia) e temas mais complexos (em especial o “Estereótipos africanos”, “Viagens alucinantes” e “Mochilando em terras muçulmanas”).

Pode interessar: o Roda Mundo, do Ricardo Martins (@thebambootrip), também é voltado a mochileiros e debate assuntos como mulheres na estrada e viajantes negros.


Viajar pra Quê? (@viajarpraquepodcast)
O casal Tainá Rodrigues e Marcelo Castro (@temaiseme) comanda o projeto, que traz semanalmente um viajante para a bancada. Da pergunta inicial, que dá nome ao podcast, a conversa flui para os mais diferentes assuntos relacionados à experiência do entrevistado.

Das pessoas que já escreveram para o Check-in, a lista tem Beatriz Pianalto, Rebecca Alethéia, Guilherme Canever e Caio Giachetti.

Como o podcast é centrado na vida da pessoa, variam os tipos de programa. Há aqueles mais voltados à viagem (Cainã Ito, Igor Ivanowsky) e os que tiveram sua vida mudada junto com a jornada (Babi Cady, Riq Lima).

Pode interessar: o Descobre a Mochila!, como a própria Juliana Nair (@descobreamochila) define, traz “histórias e reflexões sobre viagens transformadoras”.


Papo Outdoor (@papooutdoor)
Comandado por Wilton Nascimento, Lenon Cesar e Emanuel Silveira, o projeto, como o próprio nome já diz, é voltado ao lado aventureiro das viagens.

Quinzenalmente, o trio convida pessoas para falarem sobre trekking, escalada e ciclismo, entre outros esportes. E a bancada pode ser formada tanto por viajantes solitários quanto por casais ou até três amigas (o episódio sobre a trilha até o Acampamento-base do Everest é meio confuso por causa das seis pessoas falando, mas é bastante informativo).

Pode interessar: o mais antigo da lista, o Extremos (@extremos) tem mais de 340 episódios, e aborda todo e qualquer tipo de expedição em meio à natureza.


Viajo logo Existo PodCast (@viajologoexisto)
O casal Raquel e Leonardo Spencer rodou o mundo num carro 4×4 e conheceu dezenas de países. Depois de lançarem alguns livros sobre o que viram por aí, eles se embrenharam no mundo do podcast, de mesmo nome.

Semanalmente, abordam temas envolvendo viagens específicas (Tchernóbil, Jalapão, Itália) ou relembram experiências (como enviar um carro de navio de um lugar para outro ou como trabalhar na estrada).

Pode interessar: com quatro pessoas na bancada, o Pandora on the Cast (@pandoraontheroad) também tem essa pegada de quem viaja de carro e conta histórias envolvendo países, em sua maioria na Europa.


Perdidos (@nomadlikealocal)
Pablo Magapo e Barbs Medeiros deram um tempo do Rio de Janeiro e caíram na estrada como nômades digitais. Durante o caminho, resolveram contar um pouco dessa nova vida no podcast.

A primeira temporada traz episódios bem informativos sobre o processo de mudança, desde a quais contas encerrar a o que levar na mala. Eles também falam sobre a experiência de morar na Itália, Canadá, Sérvia e Portugal, países onde viveram enquanto estavam fora, e dão dicas sobre o que atentar na escolha de um apartamento pelo Airbnb.

Na segunda temporada, gravada já no Brasil durante a pandemia, o casal entrevista pessoas com experiências diferentes focando temas importantes à vida nômade, como os gastos na estrada, preparativos para um motorhome e como conhecer gente num lugar novo.

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Em tempos de coronavírus nossas viagens ficaram mais restritas. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Aviso aos passageiros 1: A Folha tem uma gama variada de podcasts. Vale a pena conferir a lista

Aviso aos passageiros 2: Também na Folha, há uma seção de críticas de podcasts, o Escuta aqui

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Cada dia é um quintal novo, afirma casal que viaja de Kombi pelo Brasil https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/02/18/cada-dia-e-um-quintal-novo-afirma-casal-que-viaja-de-kombi-pelo-brasil/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/02/18/cada-dia-e-um-quintal-novo-afirma-casal-que-viaja-de-kombi-pelo-brasil/#respond Thu, 18 Feb 2021 19:45:02 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2021/02/image2-300x215.jpeg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=654 Se está difícil viajar em meio à pandemia, pela questão de poucos horários de voos ou mesmo pela segurança, já que é difícil manter distanciamento social dentro de avião e ônibus, uma alternativa viável para algumas pessoas é cair na estrada de carro.

O Check-in já trouxe, por exemplo, o relato de alguns casais que estão percorrendo o mundo assim. Lucas e Maíra começaram a rodar pelo país, durante a pandemia, a bordo da Land Rover Figueredo. Com um carro do mesmo modelo, Alessandra e Leo têm como meta cruzar o mundo. Já Lucas e Eve viajam pela Europa com o motorhome Rogerinho.

Hoje, trago a história do casal Tainá e Thiago e de sua Kombi Penélope, ou Pené para os mais chegados. A brasiliense e o carioca começaram a viajar pelo litoral brasileiro no Natal de 2020 e têm o objetivo de visitar todos os estados do país.

Em tempos de coronavírus nossas viagens ficaram mais restritas. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Somos Tainá e Thiago e recém começamos nossa viagem pelo Brasil a bordo da Penélope (Pené para os íntimos), nossa Kombihome mais que charmosa.

Estamos encantados não só com as belezas do país, mas também com a receptividade e generosidade das pessoas para conosco, os viajantes.

A comunidade kombeira tem se mostrado bastante unida e nos acolhe com informações e ajuda para os poucos perrengues que passamos até agora.

As pessoas geralmente têm muita curiosidade para saber como é esse estilo de vida minimalista, e nós estamos adorando viver assim com um quintal novo a cada dia e estamos nos adaptando bem com o pouco espaço.

Saímos de Brasília em 25 de dezembro de 2020 e estamos subindo pelo litoral do país. Nossa meta é conhecer todos os estados do país e, a princípio, chegaremos até Manaus.

Antes de decidir morar na Penélope, nós morávamos no Rio de Janeiro. Eu, atriz, e ele, editor de vídeo, nos conhecemos em um aplicativo e não nos desgrudamos mais.

Para nos mantermos na estrada, criamos a produtora de vídeos Estrada pra que te quero e oferecemos fotos e vídeos para as mídias digitais de pousadas e restaurantes por onde passamos.

Também temos um canal no YouTube e no Instagram (@estradapraquetequero), onde contamos as aventuras da Penélope.

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Aviso aos passageiros 1: Minha colega Carolina Muniz contou na Folha que viagens de motorhome estão ganhando adeptos no Brasil e falou sobre custos e como se planejar

Aviso aos passageiros 2: O casal de jornalistas João Paulo Mileski e Carina Furlanetto viajou pelo Brasil e por países aqui da América do Sul a bordo de um carro 1.0. Eles, inclusive, acabaram de lançar um livro sobre a empreitada, o “Crônicas na bagagem: 421 dias na estrada – uma jornada de desprendimento pela América do Sul”

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Casal conta como é viajar de motorhome pelo Brasil durante a pandemia https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/02/04/casal-conta-como-e-viajar-de-motorhome-pelo-brasil-durante-a-pandemia/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/02/04/casal-conta-como-e-viajar-de-motorhome-pelo-brasil-durante-a-pandemia/#respond Thu, 04 Feb 2021 18:08:58 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2021/02/ADIANTES-13x-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=643 Durante a pandemia, muita gente passou a refletir sobre a vida em um motorhome. Afinal de contas, é uma alternativa a quem trabalha em home office e quer manter o distanciamento social. Por que não viajar por aí dentro de sua casa?

O Check-in já trouxe o relato de dois casais que estão percorrendo o mundo em um motorhome: o Lucas e a Eve, que estão rodando a Europa com o Rogerinho, e a Alessandra e o Leo, que têm como meta cruzar o mundo.

Em 2020, o casal Lucas e Maíra (@adiantes) começou a viajar pelo Brasil a bordo de seu Land Rover Defender, adaptado com barraca de teto, geladeira automotiva e equipamentos necessários para a empreitada.

Em junho e julho, foram três expedições curtas pelo Sudeste, quando os paulistas aproveitaram para testar o novo estilo de vida e, obviamente, o carro. Mas foi a partir de agosto que a viagem começou para valer.

Em tempos de coronavírus nossas viagens ficaram mais restritas. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Os últimos 5 anos especialmente haviam sido muito atribulados com compromissos de viagens e longos plantões da vida profissional. Acabávamos tendo poucos momentos para desfrutarmos juntos ou para desenvolvermos outras habilidades e hobbies fundamentais, em nossa opinião, para uma vida equilibrada. As viagens de férias se tornaram os grandes acontecimentos do ano e isso “acendeu uma luz” sobre nossas verdadeiras motivações.

As conversas na mesa do café da manhã começaram a ser cada vez mais direcionadas ao sonho de descobrir mais sobre o mundo com a autonomia de um motorhome. Seria nossa nova casa em condições para acessar diferentes regiões ermas do globo em um ambiente minimalista. Tudo até então inédito para nós!

Não tínhamos experiência prévia com campismo, mecânica ou veículos 4×4 e contamos muito com a ajuda de uma comunidade unida, atuante e comunicativa de viajantes para não errar logo nas primeiras escolhas do projeto.

Vida na estrada em tempos de pandemia

Tudo caminhava a passos largos até que a pandemia chegou a galope para testar nossa capacidade de replanejar, algo que ainda não sabíamos que seria tão fundamental em uma viagem como esta.

Os respectivos empregos já estavam para trás, o carro comprado e em plena adaptação interna (móveis, isolamento térmico, hidráulica e elétrica). A partir dali só havia um caminho a seguir: “em frente” ou “adiante” como o próprio nome do projeto faz referência.

Decidimos que a saída programada para maio daquele ano seria postergada para agosto, o que nos daria tempo para planejar melhor os roteiros que agora seriam prolongados pelo Brasil em função do fechamento das fronteiras terrestres com outros países sul-americanos.

Lucas é engenheiro agrônomo e Maíra, médica veterinária (Arquivo pessoal)

O interesse em conhecer o nosso próprio país e as diferentes características regionais ficou ainda maior neste novo panorama. Além disso, seria uma oportunidade única de dominar melhor todo o conjunto de sistemas e equipamentos que compunham o motorhome perto de pessoas e lugares que já convivíamos. Pensamos que é sempre melhor pedir os primeiros “socorros” em português do que em espanhol ou inglês.

Uma das partes de que mais gostamos neste processo de criar os roteiros pelo Brasil foi conectar todos os pontos de interesse em um país com extensões continentais. Foram mais de 15.000 km que uniram 15 estados por 30 estradas nacionais passando por 10 parques de conservação até o momento.

O leito do rio São Francisco, um conhecido trecho de integração nacional, foi ideal para iniciarmos. Os parques nacionais e estaduais espalhados por todo o país foram destinos recorrentes também para conciliarmos os atrativos de beleza natural que buscávamos com o distanciamento social necessário.

Ter uma casa itinerante compacta com certa autonomia para armazenamento de alimentos, água potável, armários, cama e cozinha permitiu deslocamentos rápidos se o cenário fosse de aglomeração, barulho ou perigo iminente. Quando hospedados em campings (cerca de 50% do tempo), a distância entre os viajantes, já frequente para manter a privacidade das famílias e casais, ajudava para mantermos o isolamento.

Encontramos pelos estados que passamos algumas cidades totalmente interditadas, o que demandou pequenas mudanças de curso. Na região da Chapada Diamantina, por exemplo, havia somente um município que estava apto a nos receber com segurança.

Em diversos trechos em que as estradas eram englobadas pelas cidades, houve medição de temperatura e os agentes de saúde locais perguntavam sobre nossa possível permanência. Notamos um tom muito mais informativo e de preocupação do município do que investigativo sobre nossa rota, destino final ou o que trazíamos conosco no motorhome.

Fomos informados sobre tais procedimentos e outros milhares de cuidados médicos necessários para uma viagem de longa duração junto ao setor de medicina do viajante do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo. Depois de uma reunião detalhada por cerca de 3 horas com um grupo de médicos e residentes do setor, nos sentimos muito mais preparados para encarar a estrada com estes novos desafios impostos.

Motorhome em um veículo 4X4

Sabemos que o Brasil não tem um padrão único de qualidade em suas rodovias federais, assim como acontece também em outros países sul-americanos. Em certos trechos podemos encontrar faixas bem sinalizadas com serviço de S.O.S para eventualidades, porém em outros caminhamos em verdadeiras “superfícies lunares” com buracos e crateras imensas, sem quase nenhuma sinalização, iluminação ou posto de apoio.

Além disso, muitas regiões só podem ser acessadas através de estradas não pavimentadas que surgem como derivações das rodovias principais, como é o caso do Jalapão (TO), o encantador povoado de Atins, nos Lençóis Maranhenses, ou até algumas praias nordestinas que podem ser acessadas através de dunas ou por longos trechos de areia fofa.

Mapa mostra por onde o casal já viajou (Reprodução)

Nesse contexto, optamos por construir nosso motorhome dentro de um veículo 4×4 (tração nas 4 rodas) que atenderia nossos principais objetivos do projeto. Como toda a escolha tem suas consequências, logo que estacionamos o carro na frente de casa já estávamos a todo o vapor planejando como encaixar tudo em 3 m2 e quais utensílios e mecanismos aguentariam a trepidação constante durante o roteiro.

A essa altura o motorhome 4×4 já se chamava Figueredo e a partir dali ganhou sofá-cama, pia, geladeira, bagageiro, churrasqueira no estepe, abrigava os principais apetrechos de cozinha (praticamente nada de vidro), travas resistentes para cada porta de armário e desde então nos abriga e conduz pelos diversos destinos que visitamos nos últimos 6 meses e em todos os outros que ainda pretendemos conhecer no ano que acaba de começar.

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Aviso aos passageiros 1: Minha colega Carolina Muniz contou na Folha que viagens de motorhome estão ganhando adeptos no Brasil e falou sobre custos e como se planejar

Aviso aos passageiros 2: O casal de jornalistas João Paulo Mileski e Carina Furlanetto viajou pelo Brasil e por países aqui da América do Sul a bordo de um carro 1.0. Eles, inclusive, acabaram de lançar um livro sobre a empreitada, o “Crônicas na bagagem: 421 dias na estrada – uma jornada de desprendimento pela América do Sul”

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Casal detalha gastos dos últimos 2 anos viajando de motorhome pela Europa https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/09/28/casal-detalha-gastos-dos-ultimos-2-anos-viajando-de-motorhome-pela-europa/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/09/28/casal-detalha-gastos-dos-ultimos-2-anos-viajando-de-motorhome-pela-europa/#respond Mon, 28 Sep 2020 17:40:28 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/15670386025d671c8ad0b15_1567038602_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=510 Em 2019 eu publiquei o relato do casal Lucas e Eve (@rotaalternativarv), que viaja com o Rogerinho, seu “idoso, porém esforçado, motorhome”. Lá, eles contaram os desafios de viver em um veículo assim, além de toda a burocracia envolvida.

Agora, eles fazem um resumo financeiro dos dois últimos anos, em que ficaram rodando pela Europa. O casal esmiúça bastante os gastos, com direito a até os centavos de euro.

A ideia é mostrar que viver em um motorhome não é só flores, mas também não é uma vida cheia de perrengue.

Em valores atualizados, eles gastaram em 2 anos de estrada cerca de R$ 90 mil (sem contar o valor do carro e da papelada do Rogerinho). Em contrapartida, entre trabalhos na estrada e frilas, o casal recebeu cerca de R$ 170 mil. Obviamente, o passaporte europeu dos dois ajudou bastante na hora de conseguir emprego.

Para este post, considerei o 1 euro = R$ 6,53

Em tempos de coronavírus não podemos viajar, e muitas vezes nem sair de casa. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Olá! Me chamo Lucas e, junto com minha namorada, Eve, recentemente completei 2 anos vivendo e viajando pela Europa em nosso motorhome, o Rogerinho. Mas, ao invés de escrever um texto comemorativo, decidimos fazer um informativo.

A ideia é dar um resumão completo dos nossos gastos e ganhos em 730 dias pela estrada a fim de fornecer uma boa base de informação a quem pensa um dia seguir o mesmo estilo de vida.

Antes de irmos aos números, é importante dizer que nós temos um perfil bem low cost. Nós raramente dormimos em lugares pagos, quase nunca pagamos pedágio e também não saímos tanto para comer, cozinhando quase sempre nossas refeições. Mas esse é o nosso estilo e não representa nenhum tipo de fórmula correta ou incorreta, é apenas o que faz mais sentido pra gente.

Outra coisa que influencia muito nos gastos é a questão de estar parado ou viajando. Viajar é sempre mais caro, principalmente pelo gasto com combustível e outros custos que só aparecem quando se está na estrada.

Já quando paramos, seja porque estamos trabalhando ou ficando em casa de conhecidos, os gastos são bem menores. 2018 e 2019, por exemplo, foram anos que passamos na estrada praticamente 100% do tempo.

Já 2020, por motivos óbvios, nós não viajamos praticamente nada e desde março estamos fixos na Holanda trabalhando em diversos empregos sazonais. Mais sobre isso falo depois, primeiro vamos começar pelo início, quando compramos o carro.

Todos os valores estão em euros pois moramos na Europa desde 2016-2017 e nunca tivemos que usar dinheiro do Brasil.

QUANTO CUSTOU O CARRO?
Nós compramos o carro na Holanda e pagamos por ele 4.250 euros (R$ 27.749)+ 600 euros (R$ 3.918) de taxa de circulação válida por 1 ano. O Rogerinho é de 1992 e veio repleto de defeitos e reparos a serem feitos, por isso o valor tão baixo. Tivemos também que pagar um valor altíssimo de seguro pois, sem endereço fixo na Holanda, o veículo teve que ficar no nome da empresa que nos vendeu. Pelo período de um ano nós pagamos 1.200 euros (R$ 7.835). Quando esse prazo venceu nós ainda renovamos, tanto o seguro quanto a taxa de circulação, por mais 6 meses, gastando respectivamente mais 600 euros (R$ 3.918) e 300 euros (R$ 1.959).

IMPORTAÇÃO DO CARRO PARA PORTUGAL
Cansados de pagar esse valores astronômicos, nós decidimos tirar o carro do nome da empresa que nos o vendeu e passá-lo para o nosso. Com família e amigos em Portugal nós conseguimos estabelecer um endereço fixo e decidimos importar nosso motorhome pra lá, mudando sua placa para a de Portugal e o adequando às normas e taxas do país (muito mais baratas, por sinal). A importação foi penosa, demorada e cara. A burocracia em Portugal é imensa e nos colocou barreiras atrás de barreiras durante todo o processo e o Rogerinho só ficou completamente legalizado após 4 meses. Pensamos em desistir diversas vezes durante esse período, mas no fim tudo se acertou. A importação custou 1.698 euros (R$ 11.086). Nesse montante já está incluso o valor do seguro anual de 167 euros (R$ 1.090), praticamente 10 vezes mais barato do que pagávamos antes.

QUANTO GASTAMOS EM 2 ANOS?

Combustível: 3.667,77  euros (R$ 23.947,24) – média mensal de 152,82 euros (R$ 997,78).
É de longe a maior despesa para quem viaja o tempo todo.

Manutenção: 1834,57 euros (R$ 11.978,09) – média mensal de 76,44 euros (R$ 499,08).
O Rogerinho é muito antigo e já deu várias problemas. Até o hoje o maior que tivemos foi um semi-eixo quebrado que nos custou, numa tacada só, 600 euros (R$ 3.197).

Mercado: 3.466,78 euros (R$ 22.634,95) – média mensal de 144,55 euros (R$ 943,78).
No começo da viagem, ainda com muito medo de gastar todo nosso dinheiro, nós éramos muito pão duros e chegamos a gastar 110 euros (R$ 718) no mercado em um mês. Depois fomos aprendendo a aproveitar mais e relaxamos um pouco. Mesmo assim, nosso maior gasto em mercado em um mês até hoje foi de 277 euros (R$ 1.808).

Campings e estacionamentos: 239,64 euros (R$ 1.564,63) – média mensal de 9,98 euros (R$ 65,16).
Nós raramente dormimos em estacionamentos pagos, muito menos em campings. A Europa, principalmente a parte ocidental, possui ótima estrutura com estacionamentos gratuitos para motorhome, muitas vezes com água, esgoto e até eletricidade.

Pedágios: 98,56 euros (R$ 643,51) – média mensal de 4,10 euros (R$ 26,77).
Nós também quase nunca pagamos pedágio. Não compensa transitar pelas rodovias principais pois nosso motorhome anda em média a 70 km/h. Por isso, para nós vale mais a pena sempre dirigir pelas estradas locais com menor limite de velocidade e sem presença de pedágios. Claro, em alguns lugares as secundárias são tão ruins que optamos pelas rodovias. É o caso da Itália, algumas regiões de Portugal e países do Bálcãs.

Gás: 162,15 euros (R$ 1.058,69) – média mensal de 6,75 euros (R$ 44,07).
Lembra que eu disse que o Rogerinho é cheio de defeitos? Pois é, nossos aquecimentos central e de água não funcionam, por isso nós utilizamos o gás apenas para cozinhar e ligar a geladeira. Quando estamos com o carro ligado à eletricidade, nem para a geladeira é necessário. Por isso nosso gasto com gás acaba sendo bem pequeno.

Lavanderia: 141,69 euros (R$ 925,11) – média mensal de 5,90 euros (R$ 38,52).
Para quem mora num carro, não existe escapatória desse gasto. Porém, costuma ser fácil achar lavanderias self-service por toda a Europa, e com preços acessíveis.

Internet móvel: 339,80 euros (R$ 2.218,59) – média mensal de 14,50 euros (R$ 94,67).
Muitas vezes é um problema achar um plano com bom pacote de roaming e por isso, ao longo desses 2 anos, nós já tivemos diversos chips de internet.

Lazer: 2.218,04 euros (R$ 14.481,80) – média mensal de 92,41 euros (R$ 603,35).
Aqui estão inclusos gastos como os de comer fora, sair pra beber uma cerveja, passeios turísticos, idas ao cinema e etc.

Outros: 1.863,10 euros (R$ 12.164,37) – média mensal de 77,62 euros (R$ 506,79).
Aqui estão inclusas coisas que fogem dos gastos comuns do dia a dia, como utensílios de cozinha, roupa de cama, travesseiros, itens de decoração –todas coisas que tivemos que comprar quando nos mudamos. Também colocamos aqui gastos com pilhas, isqueiros, nosso ventilador, inseticida etc –coisas que compramos apenas de vez em quando.

Lucas, Eve e Rogerinho, o motorhome de 1992
Lucas, Eve e Rogerinho, o motorhome de 1992 (Arquivo pessoal)

QUANTO GANHAMOS EM 2 ANOS?
Aqui é importante notar que nós possuímos passaporte europeu, o que torna nossa vida MUITO mais fácil quando o assunto é achar trabalho.

Trabalhos em Dublin: 4.752 euros (R$ 31.026)
Em fevereiro de 2019 nós estávamos precisando desesperadamente de dinheiro e por isso resolvemos passar 40 dias trabalhando em Dublin. Como já havíamos morado lá por 2 anos, achar emprego não foi difícil e ainda economizamos na estadia ficando em casas de amigos.

Trabalhos sazonais na Holanda: 14.710 euros (R$ 96.043)
Nossa intenção era trabalhar apenas de março a julho aqui na Holanda esse ano, mas, claro, o coronavírus mudou tudo. Estamos na labuta até hoje e devemos ficar por aqui até dezembro. Desde então nós já ficamos em estufas de árvores e flores, na colheita do morango e agora estamos colhendo vegetais e legumes em uma fazendo Bio.

Freelas: 4.289 euros (R$ 28.003)
Nós somos fotógrafos e, sempre que dá, fazemos freelas por aí. A Eve já fez diversos ensaios femininos e de gestantes durante a viagem e mais recentemente temos fotografado hotéis, comidas e produtos.

Presets: 375 euros (R$ 2.448)
Nós criamos e vendemos presets para lightroom. O site de vendas está passando por uma reestruturação, mas quem tiver interesse pode entrar em contato conosco por DM no Instagram.

Testes clínicos: 2.120 euros (R$ 13.842)
Em Portugal nós encontramos a maneira mais curiosa de ganhar dinheiro até agora durante nossa viagem: testando remédios. A empresa é super profissional e tudo funciona direitinho, mas ainda assim é algo para que as pessoas ainda torcem o nariz.

A gente espera que esse resumão sirva pra ajudar as pessoas que querem fazer o mesmo um dia e para mostrar que viver na estrada não é nenhum bicho de sete cabeças. Se não servir pra isso, que sirva pelo menos pra matar a curiosidade de como é viver num motorhome.

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Aviso aos passageiros 1: O casal Alessandra e Leo, que também percorre o mundo de carro, contou ao blog por que adotou o acampamento como estilo de vida e de viagem

Aviso aos passageiros 2: João Paulo Mileski e Carina Furlanetto também compartilharam como foi a viagem deles pelo Brasil e América do Sul em um carro 1.0, até a pandemia atrapalhar os planos

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Casal roda o Brasil e a América do Sul em um carro 1.0 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/04/03/casal-roda-o-brasil-e-a-america-do-sul-em-um-carro-1-0/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/04/03/casal-roda-o-brasil-e-a-america-do-sul-em-um-carro-1-0/#respond Fri, 03 Apr 2020 18:10:27 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/15859319525e8766b0b55ff_1585931952_3x2_md.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=331 Já mostrei aqui a história do casal Alessandra e Leo, que têm como meta cruzar o mundo num motorhome, e do Lucas e da Eve, que estão rodando a Europa a bordo do motorhome Rogerinho.

Agora, apresento o casal de jornalistas João Paulo Mileski e Carina Furlanetto, do @cronicasnabagagem.

Os gaúchos de Bento Gonçalves (RS) estão na estrada há mais de 1 ano, e o objetivo é dar a volta na América do Sul e cruzar todos os estados brasileiros. E a bordo de um carro 1.0. Desafiante, né?

Eles já percorreram Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela e Guiana.

No momento, por causa da pandemia de coronavírus, eles estão confinados no Recife, onde vive a irmã da Carina.

“Estávamos começando o desafio de passar por todos os estados do Brasil quando a pandemia começou, agora tudo é incerto. Vamos analisar a evolução das notícias e decidir se continuaremos esperando aqui ou se voltamos ao Sul para encerrarmos a expedição prematuramente e nos dedicarmos ao livro sobre as nossas experiências. O principal, agora, é que estamos seguros.”

Entre os perrengues enfrentados, o casal dormiu inúmeras noites no próprio carro, apenas baixando os bancos.

O que eles gostam de contar, porém, é o que a estrada ensina. E isso eu vou deixar vocês descobrirem lendo o relato deles.

Eu sei que em tempos de coronavírus não podemos viajar, e muitas vezes nem sair de casa. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Por muito tempo esperamos pelas condições que se convencionam como ideais para uma viagem sem destino ou prazo. Aos 30 anos, no entanto, chegamos à conclusão de que talvez as condições nunca seriam as ideais.

Com mais alguns anos de trabalho, pode ser que até conseguiríamos economizar o dinheiro necessário para comprar um motorhome, mas talvez o ímpeto de sair pelo mundo já não fosse mais o mesmo.

Por isso, no dia 18 de fevereiro de 2019, saímos de casa com o que tínhamos, da forma que podíamos: um Renault Sandero 1.0 e o desafio de dar a volta na América do Sul, do Ushuaia à Venezuela, e na sequência percorrer todos os estados do Brasil.

Alugamos nosso apartamento, somamos o que tínhamos na poupança e estimamos que seria possível nos manter por todo esse tempo na estrada se não gastássemos mais do que R$ 100 por dia.

Desde então, mais de um ano se passou, rodamos 46 mil quilômetros por 10 países e estamos no nosso sexto estado no Brasil. A média de gastos está um pouco acima do previsto —R$ 113 por dia—, muito em função, também, da perda com câmbio lá fora e de imprevistos que surgiram ao longo da expedição, como os furtos do celular do João, dentro de um ônibus em Quito, no Equador, e de um pneu quando estávamos a caminho de uma borracharia, em um mototáxi, no Peru.

No Brasil, no entanto, estamos sendo muito bem acolhidos e acreditamos que em breve conseguiremos voltar à meta inicial de gastos.

Se tudo der certo retornaremos para a nossa casa, em Bento Gonçalves (RS), em aproximadamente um ano. À esta altura já não teremos mais dinheiro na poupança e vamos ter que recomeçar nossas vidas do zero. Ainda que as rotinas venham a ser as mesmas de outrora, burocráticas e monótonas, no entanto, temos convicção de que nós já não seremos mais os mesmos.

Saímos de casa com apenas uma perspectiva de mundo e percebemos que vivíamos em uma bolha.

Na Argentina, conhecemos uma família de venezuelanos que estava tentando a vida longe do seu país de origem. Não tinham fogão, por isso usavam um fogareiro para cozinhar. Onde viviam, em Salta, faz muito frio no inverno, mas se viravam sem chuveiro quente.

Ainda assim, apesar das carências, abriram as portas do terreno da casa onde viviam de aluguel para que pudéssemos passar a noite com segurança. Fizeram isso não apenas conosco, mas com outros viajantes que passam pela cidade. Não cobram nada por isso, fazem pelo simples ato de solidariedade, acreditando que boas ações geram outras boas ações.

No norte do Brasil, também passamos por cidades e conhecemos famílias que não têm a mesma comodidade que tínhamos no Sul, mas, em contrapartida, escancaram algo que nos falta no outro canto do país: estão sempre sorrindo. Apesar da falta de recursos, não perdem a esperança e levam a vida com alegria, gratos pela bênção de estar vivos.

Reclamávamos de muita coisa antes. Se a temperatura da água no chuveiro não era a ideal, bradavámos contra o mundo. Se o colchão estava velho, reclamávamos também. Mas, de repente, ao longo dessa jornada, nos vimos quatro dias seguidos sem banho e chegamos a dormir 27 noites consecutivas no carro, sem nenhuma adaptação (apenas baixamos os bancos e dormimos, como se fosse um ônibus leito).

Mapa mostra rota do casal pela América do Sul e Brasil (Arquivo pessoal)

Voltaremos à nossa casa sem um tostão no bolso, mas o que estamos ganhando em troca não é possível ser mensurado por valor algum. Nunca mais seremos os mesmos porque passamos a ver a vida de outras formas.

Antes, olhávamos para o carro e desconfiávamos que seria possível viver por tanto tempo, com tão pouca coisa, em um espaço tão pequeno. Agora, olhamos para trás, para o nosso apartamento, e pensamos como conseguíamos viver com tantas coisas supérfluas ao nosso redor.

Abrindo mão de praticamente tudo o que nos cercava. Na estrada nos sentimos livres, de verdade, pela primeira vez. E descobrimos que não precisamos de muito para sermos felizes. Precisamos, apenas, viver.

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Aviso aos passageiros 1: Alguns viajantes brasileiros foram pegos de surpresa pelo coronavírus, que fez países fecharem fronteiras e decretarem quarentena obrigatória

Aviso aos passageiros 2: Marie Kondo se tornou um sucesso mundial com dicas de como organizar a casa e viver com menos pertences. Confira algumas dicas

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Casal viajante explica por que adotou o acampamento como estilo de vida e de viagem https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2019/10/22/casal-viajante-explica-porque-adotou-o-acampamento-como-estilo-de-vida-e-de-viagem/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2019/10/22/casal-viajante-explica-porque-adotou-o-acampamento-como-estilo-de-vida-e-de-viagem/#respond Tue, 22 Oct 2019 13:02:34 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/15717131385dae7072884d6_1571713138_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=145 Após mostrar a história do Lucas e da Eve, que rodam a Europa no motorhome Rogerinho, apresento a vocês a Alessandra e o Leo.

Eles estão desde junho viajando de carro e têm um projeto ambicioso: rodar os 5 continentes em 4 anos.

O primeiro ano da empreitada é dedicado à América e, após 4 meses na estrada, o casal já tem bastante história pra contar sobre o novo estilo de vida.

Como Leo e Alessandra optaram por viajar de carro e transformá-lo em sua casa, eles conseguem diminuir custos com hospedagem. Eles nos contam como é a vida de acampar e como é possível, sim, tomar banho e ir ao banheiro em um veículo.

E você? Tem alguma viagem legal que gostaria de compartilhar? Aproveitou as férias para conhecer algum destino novo? Envie seu relato para o blog Checkin pelo email checkin.blogfolha@gmail.com.

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O que se entende sobre um estilo de vida? Quando escolhas e comportamentos se tornam um padrão de rotina, tornam-se também a forma como se encara o mundo.

Alguns anos atrás nós, Alessandra e Leonardo, insatisfeitos com o rumo que nossas vidas estavam tomando, resolvemos mudar. Nossas carreiras promissoras em grandes empresas já não faziam mais os olhos brilhar. Ganhávamos bem, mas gastávamos mal. Sempre cansados para fazer o que gostávamos, nossa qualidade de vida estava bastante comprometida.

Já ouviu aquela música da Rita Lee: “um belo dia resolvi mudar, e fazer tudo que eu queria fazer”? Foi mais ou menos assim. Um belo dia resolvemos sentar juntos e começar a construir um planejamento para nossa mudança de vida. Assim surgiu nosso projeto de volta ao mundo de carro, MUNDI360.

No dia em que tomamos a decisão de transformar nosso futuro, lá em 2016, não tínhamos o dinheiro necessário para a empreitada, não tínhamos o carro que queríamos e nem os equipamentos essenciais para viver na estrada, mas tínhamos um sonho, e ele se transformou em uma meta, a mais importante de nossas vidas.

Começamos a planejar uma volta ao mundo de carro que só seria possível tornando o acampamento nosso novo estilo de vida. Na época, éramos totalmente inexperientes no assunto. Começamos aos poucos a entrar no universo do campismo, a entender o que motivava as pessoas que vivem essa realidade, quais equipamentos elas utilizavam e, quando menos esperávamos, já estávamos totalmente envolvidos e apaixonados por este estilo de vida.

Montar nossa nova casa foi um desespero e uma delícia. Não queríamos um motorhome grande pois prezamos pela mobilidade. Essa mudança de vida pedia uma boa dose de aventura, que só seria possível com um veículo compacto, preparado para fazer off-road e onde coubesse nossos equipamentos de camping.

Sem dúvidas uma equação difícil de ser resolvida, mas que com calma e muita pesquisa conseguimos encontrar a solução: uma camionete com adaptações internas, uma barraca no teto do carro e uma cozinha móvel. Com o projeto ideal desenhado em nossas cabeças, só faltava reunir o dinheiro necessário para colocar tudo em prática.

Quer saber qual foi a milagrosa solução? Trabalhar! Sim, seguimos firmes e fortes em nossos empregos, construindo nosso sonho em paralelo, poupando e planejando com cuidado todas as etapas necessárias para fazer a “virada de chave”.

Aos poucos as coisas foram acontecendo. Primeiro, compramos o carro, revisamos a mecânica e o preparamos com acessórios off-road. Em seguida, fizemos as adaptações internas, adquirimos todos os equipamentos de camping e instalamos a barraca de teto. Desde a primeira etapa (aquisição do carro) até a última, se passaram um ano e meio. Uma espera longa, porém, necessária. Construir aos poucos nos permitiu um bom respiro financeiro, além da preparação psicológica.

No final de 2018 começamos a testar nossa nova casa. Aproveitamos feriados e finais de semana para acampar e sentir na pele se tínhamos tudo que precisávamos. Foram algumas viagens antes da data oficial de partida para a expedição de volta ao mundo e, a cada uma delas, nossa ansiedade só aumentava.

FAZENDO DO ACAMPAMENTO UM ESTILO DE VIDA

Acampar para nós tem um significado muito importante: liberdade. Todos os dias que ligamos nosso carro e pegamos a estrada estamos abertos às surpresas do caminho. Temos um planejamento, mas quem já fez viagens longas sabe que é impossível ter controle de tudo e garantir que as coisas sempre saiam como no papel. E essa é a delícia de ter flexibilidade: abraçar os presentes do caminho.

Foi preciso ajustar a rota? Não temos nenhuma reserva de hotel que nos impeça de mudar o rumo. Estamos cansados e queremos parar? Nossa cama sempre está à disposição para nos receber. Há uma paisagem linda e queremos ficar para passar a noite? Temos tudo que precisamos.

Quando saímos do Brasil para explorar o mundo, alguns medos e questionamentos rodeavam nossos pensamentos. No início ainda estávamos muito presos aos acampamentos em lugares com estrutura e segurança. As paradas de pernoite eram sempre em campings. Aos poucos fomos nos permitindo explorar mais lugares agrestes e acampar sozinhos na natureza, prática conhecida como “wild camping”, ou acampamento selvagem.

Parar na natureza é quebrar a barreira de espectador e turista e se integrar a ela. Aprendemos a respeitar, admirar, cuidar e viver de forma mais simples. Cozinhamos nossa própria comida, montamos nossa própria cama, limpamos nossa própria sujeira. Vivemos o momento presente, pois em um acampamento todas as atividades são compartilhadas e precisam ser executadas com cooperação.

Temos poucos equipamentos e utensílios na nossa casa rodante, mas cada uma das coisas que carregamos tem valor e utilidade. Nesse estilo de vida não se carrega nada além do necessário, mas também não nos falta nada.

Ouvimos muito falar que acampar é se privar de conforto e passar “perrengue”. Acreditamos que o conceito de conforto é muito relativo, cada um tem o seu, assim como a percepção de “perrengue”. Em nossa barraca dormimos confortavelmente, sempre com paisagens diferentes na janela e com o privilégio de observar milhares de estrelas que brilham no céu.

Para que a noite seja bem dormida, é preciso estar preparado com o equipamento adequado. No inverno, saco de dormir é indispensável e, no verão, usamos um ventilador 12v que dá conta do recado.

Outro tema que causa desconforto é o banheiro. “Mas onde vocês tomam banho? E quando a vontade de usar o banheiro aperta?” Também tínhamos essas dúvidas quando começamos a construir nosso projeto lá atrás, e encontramos uma solução para todas elas!

Para quem acampa na natureza, o banho precisa ser o mais natural possível. Instalamos na parte de trás do carro um chuveiro com box desmontável. Quando precisamos, montamos a estrutura. Para a água, contamos com um reservatório de 80 litros na parte debaixo do carro. Através do acionamento de uma bomba de água conseguimos tomar banho, sempre utilizando produtos biodegradáveis que não agridem o meio ambiente. É claro que essa estrutura só funciona no verão. No inverno recorremos a campings, estações de serviços ou hostel.

Praia do Rosa (SC) serviu de cenário para banho (Arquivo pessoal)

Também carregamos dentro do carro um minibanheiro químico, que quebra o maior galho não apenas quando estamos acampando, mas também quando estamos na estrada.

Por causa dos acampamentos conhecemos uma linda face da generosidade. O sentimento mais forte em um acampamento de viajantes é o de compartilhar. Ao redor de uma mesa se compartilha comida, histórias, angústias, sonhos e conquistas. Também conhecimentos mecânicos, ferramentas, equipamentos e apoio moral. Não há quem viva essa experiência e não se torne mais sociável, sensível e humano.

Em nossa passagem pela Argentina, nos juntamos sem querer a um encontro de “casas rodantes” (como eles chamam motorhomes por lá). Foram necessários poucos minutos para nos integrar ao grupo e fazer amizades que jamais serão apagadas do nosso coração.

Nossos vizinhos “hermanos” nos receberam como verdadeiros irmãos, e juntos acampamos por 4 dias na pequena cidade de Azul, interior da província de Buenos Aires.

Quando estávamos percorrendo a Carretera Austral no Chile conhecemos um casal chileno que também viajava acampando e em poucos minutos já estávamos reunidos, compartilhando uma mesa de café da manhã, recheada de histórias e troca de experiências.

Na Bolívia tivemos uma experiência inesperada em conhecer um casal de suíços. Estávamos acampados na beira de um lago quando eles chegaram e montaram acampamento ao nosso lado. Mais uma amizade que nasceu e que ganhou status especial em nossos corações.

Há diferentes formas de encarar o mundo, mas acreditamos que estar aberto a novas experiências é o que torna a vida mais fascinante. Acampar nos proporciona viver as maiores aventuras nesta expedição de volta ao mundo, como acordar nas mais lindas paisagens nevadas no inverno da Patagônia, dormir em meio ao silêncio ensurdecedor do deserto do Atacama, atravessar o inóspito altiplano da Bolívia e almoçar com vista para as lindas montanhas de Torres del Paine.

São nestes momentos em que “corrermos o risco” de descobrir as diferentes expressões da natureza, e que nos apaixonamos cada vez mais por uma vida mais simples e mais feliz.

Quer saber mais sobre essa viagem de volta ao mundo e sobre o estilo de vida de acampar? Acompanhe o projeto @mundi360 pelo Instagram e se inspire!

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Aviso aos passageiros 1: Você se interessa sobre a vida nômade? Já escrevi sobre como alguns viajantes ganham dinheiro enquanto rodam pelo mundo

Aviso aos passageiros 2: Se você gosta de dirigir, confira estas 10 belas rodovias pelo mundo em que dá pra viajar e curtir a paisagem

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Casal que mora em motorhome na Europa fala sobre desafios da vida nômade https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2019/08/30/casal-que-mora-em-motorhome-na-europa-fala-sobre-desafios-da-vida-nomade/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2019/08/30/casal-que-mora-em-motorhome-na-europa-fala-sobre-desafios-da-vida-nomade/#respond Fri, 30 Aug 2019 13:37:34 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/15669551195d65d66f34a19_1566955119_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=101 Largar tudo e botar o pé na estrada é o sonho de muita gente. Inspirados pelas redes sociais e pela facilidade de trabalhar a distância, cada vez mais viajantes colocam o desejo em prática.

Lucas e Eve se conheceram em Dublin, na Irlanda, e estão viajando desde agosto de 2018 com o Rogerinho —o “idoso, porém esforçado, motorhome”, como descrevem carinhosamente o meio de transporte.

Aqui, eles relatam (com pormenores) os desafios de viajar em casal, viver num ambiente de 7 m² e viajar na Europa, continente em que o custo de vida é alto.

Para este post, considerei o 1 euro = R$ 4,61

Caso você tenha boas (ou más) experiências em viagens pelo Brasil ou pelo mundo, divida com o blog Check-in pelo email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Vida nômade. São muitos os mitos a rodear esse termo que desperta interesse e controvérsia na internet. Há, no entanto, dois quase unânimes em relação a quem vivem na estrada.

O primeiro é que esse estilo de vida garante felicidade instantânea a quem o pratica. Basta abrir perfis de viagem no Instagram e lá está ele, perpetuado em fotos com falsos sorrisos e textos motivacionais rasos que sugerem a suposta vida perfeita de seus criadores. Além de consolidar uma mentira, é prejudicial à saúde mental de uma geração que mede sucesso e felicidade por meio de likes em redes sociais.

O segundo mito é o de que pessoas que vivem viajando são ricas ou são sustentadas pelos pais. Podemos atribuir a isso a necessidade humana de menosprezar e colocar em dúvida o esforço alheio para justificar a própria covardia e fracasso em promover em si mesmo a mudança reconhecida no outro.

Queremos desconstruir esses mitos por meio de um relato de quem já experiencia a vida nômade há um ano. Nós somos o Lucas e a Eve e desde agosto de 2018 viajamos e moramos no Rogerinho, nosso idoso, porém esforçado, motorhome.

Lucas e Eve viajam no Rogerinho desde agosto de 2018 (Arquivo pessoal)

Nos conhecemos em Dublin, onde vivemos dois anos até resolvermos ter a ideia de ir morar num carro. Enquanto para quem mora no Brasil converter os valores colocados aqui para real é um exercício válido, para a gente (já morávamos na Europa e recebíamos em euro), a conversão não se aplica. Outro ponto importante é que ambos possuímos cidadania europeia: eu, portuguesa, e a Eve, italiana, facilitando viajar e viver pelo continente.

Compramos o carro em janeiro de 2018 porque achamos o Rogerinho na internet, em uma revendedora holandesa, e tivemos que depositar, mesmo sem nunca tê-lo visto ao vivo, metade do valor para garantir a disponibilidade do carro sete meses depois.

Sim, depositamos 2.125 euros (R$ 9.798) tendo apenas meia dúzia de fotos em baixa resolução como base para escolher não só o carro que iríamos dirigir, mas também a casa onde iríamos morar pelos próximos anos. O baixíssimo preço e algumas recomendações positivas sobre a empresa falaram mais alto na hora de bater o martelo, mesmo que as condições de escolha não fossem ideais.

Ao finalizar a compra, o preço total pago no carro (com registro e inspeção já inclusos) foi 4.250 euros (R$ 19.595). Foi preciso arcar com algumas taxas para legalizar a situação do veículo, como a taxa de circulação e o seguro. O valor do imposto referente à permissão de circulação varia de país para país –na Holanda é 600 euros (R$ 2.766) por ano. Somados então aos salgados 1.200 euros (R$ 5.533)  de seguro, o total do investimento inicial foi de 6.050 euros (R$ 27.894).

Mas não se engane, dificilmente será possível encontrar um motorhome por esse valor tão baixo. O Rogerinho é um modelo muito menor e mais antigo do que os campers normalmente à venda e seu preço refletia diretamente essas características.

O baque inicial foi grande. Ao vivo, o ambiente interno do motorhome parecia ainda menor do que as fotos sugeriam. Havíamos saído de um apartamento de 65 m² para vivermos em uma caixa de metal de pouco mais de 7 m² e o sentimento inicial de estar ali oscilava entre incredulidade e o mais puro desespero.

As heranças de donos anteriores chamaram nossa atenção: janelas quebradas, telas anti mosquitos rasgadas, pia rachada e defeitos no sistema elétrico. Eles se somavam aos muitos outros problemas dos quais já tínhamos conhecimento prévio, como o fato do carro não possuir água quente nem aquecimento central.

De 1992, e mais velho que a Eve, o Rogerinho apresentava claros sinais de idade. Com o tempo fomos resolvendo alguns problemas e nos acostumando a contornar outros difíceis ou caros demais pra arrumar. Atualmente julgamos o ambiente interno ideal para duas pessoas e, o que antes parecia apertado, hoje consideramos aconchegante.

O tamanho do Rogerinho é uma das poucas coisas que nos confere vantagem. Os motorhomes comuns são limitados a estacionar em vagas especiais de 6 metros, e nosso pequeno guerreiro cabe em espaços normais de carro, como estacionamentos de supermercados, shoppings e vagas de rua.

O que não melhorou com o tempo foram as condições mecânicas do carro. Em 12 meses já fizemos 5 visitas aos mecânicos e dormir em oficinas se tornou comum. Nessa brincadeira, já gastamos 1.357 euros (R$ 6.257) em reparos, como troca da bomba d’água e de um semieixo.

Nem todos os perrengues resultaram em um rombo em nossos bolsos e, curiosamente, foram nas situações mais complicadas que pessoas nos ajudaram sem pedir absolutamente nada em troca.

Ainda novatos e com duas semanas de motorhome, havíamos perdido a janela 72 horas antes ao sair dirigindo sem trancá-la, no episódio que consideramos nossa maior cagada em um ano de estrada. Desde então andávamos com a janela coberta por um remendo patético feito de silver tape e um sacola plástica. Ao perguntarmos quanto custaria, o mecânico holandês Johan simplesmente respondeu: “Não se preocupe com isso. Gosto da maneira como vocês estão vivendo. Nem tudo é sobre dinheiro”.

Outra alma boa que cruzou o nosso caminho foi a do seu Carlos, quando atolamos o carro em Portugal. Após duas horas tentando desatolar o motorhome, avistamos uma figura caminhando devagar, com roupas e chapéu de couro, um verdadeiro cowboy.

Ao perceber sua idade e a fragilidade de sua voz, pensamos que aquele senhor pouco poderia fazer. Em 10 minutos, seu Carlos nos guiou para fora do lamaçal. “Um bocadinho pra frente. Agora um bocadinho pra trás”, dizia com seu inconfundível e gostoso sotaque português. Dispostos a pagar pela inestimável ajuda, ele negou. “Isso não foi nada. Eu já passei muito por isso quando viajava de carro por Moçambique. Foi um prazer ajudá-los”.

LISTA DE PERRENGUES NUNCA ACABA

Há também os perrengues de relacionamento, mais do que normais entre pessoas convivendo tão intensamente em um espaço tão restrito. Frustrações e brigas são comuns e, em tempos, frequentes.

Outros problemas são os causados pelo clima. O Rogerinho é uma grande caixa de metal, o que faz com que amplifique as temperaturas do lado de fora. No inverno, vira um frigorífico e a água do encanamento frequentemente congela. No verão, o carro se assemelha a um forno e o calor e os mosquitos fazem de dormir uma tarefa quase impossível. Sem contar que a fraca geladeira passa a não dar conta de resfriar os alimentos e somos obrigados a jogar fora algumas coisas estragadas.

Mas nenhum perrengue se compara ao eterno terror de ver sua conta bancária cada vez mais enxuta. Se você leu até aqui para descobrir como ganhar dinheiro regularmente na estrada, eu sinto dizer, mas ainda não temos a resposta.

Até conseguimos, vez ou outra, levantar um dinheirinho. A Eve fotografa desde os 16 anos e fez ensaios pelos países por onde passamos. Eu, da área de animação 3D, fiz um ou outro trabalho de freelancer, o que, com nossa limitação de energia elétrica e internet, pode ser complicado.

Outra forma que encontramos de alimentar a conta bancária foi lançar um pacote de presets fotográficos. Apaixonados por fotografia, essa foi uma maneira que encontramos de unir o útil ao agradável e, para nossa surpresa, as vendas estão indo melhor do que esperávamos. Mas os lucros na estrada param por aí, totalizando 4.069 euros (R$ 18.761). Até participamos como cobaias em um estudo clínico em troca de alguns trocados.

Para juntar dinheiro, Eve fotografa e Lucas, da área de animação 3D, trabalha de freelancer (Arquivo pessoal)

No começo desse ano paramos a viagem para trabalhar. O ótimo salário mínimo na Irlanda e a chance de ficar hospedados na casa de amigos nos fez escolher ir para Dublin. Lá, passamos cerca de 50 dias trabalhando no subemprego, eu como camareiro de hotel e a Eve como funcionária de uma gráfica. Graças à ajuda de quem nos recebeu em suas casas, conseguimos juntar mais de 5.000 euros (R$ 23.053) –com o que ainda tínhamos guardado, é mais do que suficiente para passarmos o resto de 2019 sem trabalhar.

Quando não há uma renda frequente, o segredo é gastar o menos possível. Adotamos algumas práticas que se tornaram dogmas em nossa devota vida ao baixo custo: não transitar por estradas com pedágio (a não ser em extrema necessidade), comer o mínimo possível fora (levamos almoço quando visitamos algum lugar) e, principalmente, não dormir em campings ou estacionamentos pagos. É incrível o quanto se consegue economizar adotando apenas essas três regras.

Por outro lado, em algumas coisas pouco se pode fazer para se economizar –é o caso do combustível, despesa que só se evita ficando parado. Em 1 ano de vida na estrada já percorremos 22.073 km. Isso dá, em média, 2.066 km por mês e 72 km por dia.

Das 315 noites dormidas no Rogerinho, 179 foram em lugares diferentes. Cidades, vilas, praias, montanhas, florestas, parques, postos de gasolina e beiras de estradas de 16 países nos hospedaram com os mais variados níveis de glamour e segurança.

Em alguns nos sentimos em casa, como se estivéssemos em nosso quintal. Em outros, nem tanto, e a batida pesada na porta de moradores deixaram bem clara a insatisfação com nossa presença.

Tiveram também os meios assustadores, no meio do nada, que faziam levantar o cabelo da nuca quando chegávamos e éramos engolidos pela escuridão assim que desligávamos os faróis do carro.

O gasto com diesel representa quase metade do orçamento mensal. Costumamos dizer que o preço do combustível equivale ao aluguel dentro do orçamento de uma vida comum na cidade. Na média, o gasto mensal com isso é de 270 euros (R$ 1.245). Pode parecer extravagante quando se pensa em diesel, mas é um valor muito baixo ao considerar os aluguéis pela Europa.

Entre mercado, combustível, lazer, reparos e outras coisas, o gasto mensal é, em média, de 736 euros (R$ 3.393), ou 368 euros (R$ 1.697) por pessoa. Você lembra se alguma vez conseguiu cobrir todas as suas despesas do mês e de quebra ainda conheceu um ou mais países diferentes com tão pouco?

Se você não vive na estrada, nas costas de um motorhome ou de uma kombi, no banco de uma bike ou de uma moto, com uma mochila nas costas ou uma mala na mão, é provável que sua resposta seja, “não, nunca”.

Por outro lado, caso você não se encaixe em um desses exemplos, sua resposta provavelmente seria a mesma caso eu perguntasse se você já passou por tantos perrengues, dores de cabeça e desconfortos num período de apenas um ano.

São maneiras diferentes de encarar a vida. Qual é a sua?

Esperamos que todas essas informações tenham ajudado a esclarecer e desmistificar ambos os aspectos super e subestimados dessa tal vida nômade. Se nossa experiência despertou em você curiosidade, siga-nos no Instagram @rotaalternativarv, Lá postamos em detalhes todos os nossos perrengues e custo, além de fotos dos lugares por onde passamos.

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Aviso aos passageiros 1: Se você gosta de dirigir, mas não pensa ou sonha em largar tudo e cair na estrada, há a opção de tirar alguns dias de folga e viajar por estas 10 belas rodovias pelo mundo

Aviso aos passageiros 2: Se a grana não é tanta para ir até a Austrália, por exemplo, há também estas 6 estradas na América do Sul

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