Check-in https://checkin.blogfolha.uol.com.br Relatos de turistas, dicas e serviços de viagem Wed, 01 Dec 2021 12:49:26 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Ouça 9 podcasts para quem faz mochilão, viagem de carro ou é nômade digital https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/02/22/ouca-9-podcasts-para-quem-faz-mochilao-viagem-de-carro-ou-e-nomade-digital/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/02/22/ouca-9-podcasts-para-quem-faz-mochilao-viagem-de-carro-ou-e-nomade-digital/#respond Mon, 22 Feb 2021 20:51:26 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2021/02/16046646095fa53d217021b_1604664609_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=661 Companheiros da limpeza da casa, do caminho para o trabalho ou da corrida, os podcasts fazem parte da rotina de muita gente. E várias pessoas têm aproveitado também na hora da viagem, para se entreter em longas horas de voo ou de estrada.

Por essas e outras, listo nove programas voltados para os viajantes. Há para quem gosta de fazer mochilão, ouvir histórias, rodar de carro por aí, se embrenhar na natureza ou é adepto do nomadismo digital.

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Mochileiros Sem Pauta (@mochileiros.sempauta)
Como o próprio nome já diz, o podcast é feito por e para mochileiros. Conduzido por Cainã Ito (@caina.ito), que nos últimos anos viajou pela África, o programa traz na bancada ao menos 3 convidados.

Já passaram por lá alguns viajantes que escreveram para o Check-in, como Rafael Dallacqua, Davi Montenegro e Rebecca Alethéia. E eu, que faço minha estreia nessa área no programa “Choques culturais”.

Desde junho de 2019 no ar, o programa quinzenal aborda diversos assuntos. Há aqueles mais voltados a viajantes de baixo custo (como Couchsurfing, “perrengues no busão”, hostels e comida de mochileiro), sobre países específicos (Chile, Irã, Índia, Egito e Etiópia) e temas mais complexos (em especial o “Estereótipos africanos”, “Viagens alucinantes” e “Mochilando em terras muçulmanas”).

Pode interessar: o Roda Mundo, do Ricardo Martins (@thebambootrip), também é voltado a mochileiros e debate assuntos como mulheres na estrada e viajantes negros.


Viajar pra Quê? (@viajarpraquepodcast)
O casal Tainá Rodrigues e Marcelo Castro (@temaiseme) comanda o projeto, que traz semanalmente um viajante para a bancada. Da pergunta inicial, que dá nome ao podcast, a conversa flui para os mais diferentes assuntos relacionados à experiência do entrevistado.

Das pessoas que já escreveram para o Check-in, a lista tem Beatriz Pianalto, Rebecca Alethéia, Guilherme Canever e Caio Giachetti.

Como o podcast é centrado na vida da pessoa, variam os tipos de programa. Há aqueles mais voltados à viagem (Cainã Ito, Igor Ivanowsky) e os que tiveram sua vida mudada junto com a jornada (Babi Cady, Riq Lima).

Pode interessar: o Descobre a Mochila!, como a própria Juliana Nair (@descobreamochila) define, traz “histórias e reflexões sobre viagens transformadoras”.


Papo Outdoor (@papooutdoor)
Comandado por Wilton Nascimento, Lenon Cesar e Emanuel Silveira, o projeto, como o próprio nome já diz, é voltado ao lado aventureiro das viagens.

Quinzenalmente, o trio convida pessoas para falarem sobre trekking, escalada e ciclismo, entre outros esportes. E a bancada pode ser formada tanto por viajantes solitários quanto por casais ou até três amigas (o episódio sobre a trilha até o Acampamento-base do Everest é meio confuso por causa das seis pessoas falando, mas é bastante informativo).

Pode interessar: o mais antigo da lista, o Extremos (@extremos) tem mais de 340 episódios, e aborda todo e qualquer tipo de expedição em meio à natureza.


Viajo logo Existo PodCast (@viajologoexisto)
O casal Raquel e Leonardo Spencer rodou o mundo num carro 4×4 e conheceu dezenas de países. Depois de lançarem alguns livros sobre o que viram por aí, eles se embrenharam no mundo do podcast, de mesmo nome.

Semanalmente, abordam temas envolvendo viagens específicas (Tchernóbil, Jalapão, Itália) ou relembram experiências (como enviar um carro de navio de um lugar para outro ou como trabalhar na estrada).

Pode interessar: com quatro pessoas na bancada, o Pandora on the Cast (@pandoraontheroad) também tem essa pegada de quem viaja de carro e conta histórias envolvendo países, em sua maioria na Europa.


Perdidos (@nomadlikealocal)
Pablo Magapo e Barbs Medeiros deram um tempo do Rio de Janeiro e caíram na estrada como nômades digitais. Durante o caminho, resolveram contar um pouco dessa nova vida no podcast.

A primeira temporada traz episódios bem informativos sobre o processo de mudança, desde a quais contas encerrar a o que levar na mala. Eles também falam sobre a experiência de morar na Itália, Canadá, Sérvia e Portugal, países onde viveram enquanto estavam fora, e dão dicas sobre o que atentar na escolha de um apartamento pelo Airbnb.

Na segunda temporada, gravada já no Brasil durante a pandemia, o casal entrevista pessoas com experiências diferentes focando temas importantes à vida nômade, como os gastos na estrada, preparativos para um motorhome e como conhecer gente num lugar novo.

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Em tempos de coronavírus nossas viagens ficaram mais restritas. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Aviso aos passageiros 1: A Folha tem uma gama variada de podcasts. Vale a pena conferir a lista

Aviso aos passageiros 2: Também na Folha, há uma seção de críticas de podcasts, o Escuta aqui

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Casal viajante explica por que adotou o acampamento como estilo de vida e de viagem https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2019/10/22/casal-viajante-explica-porque-adotou-o-acampamento-como-estilo-de-vida-e-de-viagem/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2019/10/22/casal-viajante-explica-porque-adotou-o-acampamento-como-estilo-de-vida-e-de-viagem/#respond Tue, 22 Oct 2019 13:02:34 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/15717131385dae7072884d6_1571713138_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=145 Após mostrar a história do Lucas e da Eve, que rodam a Europa no motorhome Rogerinho, apresento a vocês a Alessandra e o Leo.

Eles estão desde junho viajando de carro e têm um projeto ambicioso: rodar os 5 continentes em 4 anos.

O primeiro ano da empreitada é dedicado à América e, após 4 meses na estrada, o casal já tem bastante história pra contar sobre o novo estilo de vida.

Como Leo e Alessandra optaram por viajar de carro e transformá-lo em sua casa, eles conseguem diminuir custos com hospedagem. Eles nos contam como é a vida de acampar e como é possível, sim, tomar banho e ir ao banheiro em um veículo.

E você? Tem alguma viagem legal que gostaria de compartilhar? Aproveitou as férias para conhecer algum destino novo? Envie seu relato para o blog Checkin pelo email checkin.blogfolha@gmail.com.

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O que se entende sobre um estilo de vida? Quando escolhas e comportamentos se tornam um padrão de rotina, tornam-se também a forma como se encara o mundo.

Alguns anos atrás nós, Alessandra e Leonardo, insatisfeitos com o rumo que nossas vidas estavam tomando, resolvemos mudar. Nossas carreiras promissoras em grandes empresas já não faziam mais os olhos brilhar. Ganhávamos bem, mas gastávamos mal. Sempre cansados para fazer o que gostávamos, nossa qualidade de vida estava bastante comprometida.

Já ouviu aquela música da Rita Lee: “um belo dia resolvi mudar, e fazer tudo que eu queria fazer”? Foi mais ou menos assim. Um belo dia resolvemos sentar juntos e começar a construir um planejamento para nossa mudança de vida. Assim surgiu nosso projeto de volta ao mundo de carro, MUNDI360.

No dia em que tomamos a decisão de transformar nosso futuro, lá em 2016, não tínhamos o dinheiro necessário para a empreitada, não tínhamos o carro que queríamos e nem os equipamentos essenciais para viver na estrada, mas tínhamos um sonho, e ele se transformou em uma meta, a mais importante de nossas vidas.

Começamos a planejar uma volta ao mundo de carro que só seria possível tornando o acampamento nosso novo estilo de vida. Na época, éramos totalmente inexperientes no assunto. Começamos aos poucos a entrar no universo do campismo, a entender o que motivava as pessoas que vivem essa realidade, quais equipamentos elas utilizavam e, quando menos esperávamos, já estávamos totalmente envolvidos e apaixonados por este estilo de vida.

Montar nossa nova casa foi um desespero e uma delícia. Não queríamos um motorhome grande pois prezamos pela mobilidade. Essa mudança de vida pedia uma boa dose de aventura, que só seria possível com um veículo compacto, preparado para fazer off-road e onde coubesse nossos equipamentos de camping.

Sem dúvidas uma equação difícil de ser resolvida, mas que com calma e muita pesquisa conseguimos encontrar a solução: uma camionete com adaptações internas, uma barraca no teto do carro e uma cozinha móvel. Com o projeto ideal desenhado em nossas cabeças, só faltava reunir o dinheiro necessário para colocar tudo em prática.

Quer saber qual foi a milagrosa solução? Trabalhar! Sim, seguimos firmes e fortes em nossos empregos, construindo nosso sonho em paralelo, poupando e planejando com cuidado todas as etapas necessárias para fazer a “virada de chave”.

Aos poucos as coisas foram acontecendo. Primeiro, compramos o carro, revisamos a mecânica e o preparamos com acessórios off-road. Em seguida, fizemos as adaptações internas, adquirimos todos os equipamentos de camping e instalamos a barraca de teto. Desde a primeira etapa (aquisição do carro) até a última, se passaram um ano e meio. Uma espera longa, porém, necessária. Construir aos poucos nos permitiu um bom respiro financeiro, além da preparação psicológica.

No final de 2018 começamos a testar nossa nova casa. Aproveitamos feriados e finais de semana para acampar e sentir na pele se tínhamos tudo que precisávamos. Foram algumas viagens antes da data oficial de partida para a expedição de volta ao mundo e, a cada uma delas, nossa ansiedade só aumentava.

FAZENDO DO ACAMPAMENTO UM ESTILO DE VIDA

Acampar para nós tem um significado muito importante: liberdade. Todos os dias que ligamos nosso carro e pegamos a estrada estamos abertos às surpresas do caminho. Temos um planejamento, mas quem já fez viagens longas sabe que é impossível ter controle de tudo e garantir que as coisas sempre saiam como no papel. E essa é a delícia de ter flexibilidade: abraçar os presentes do caminho.

Foi preciso ajustar a rota? Não temos nenhuma reserva de hotel que nos impeça de mudar o rumo. Estamos cansados e queremos parar? Nossa cama sempre está à disposição para nos receber. Há uma paisagem linda e queremos ficar para passar a noite? Temos tudo que precisamos.

Quando saímos do Brasil para explorar o mundo, alguns medos e questionamentos rodeavam nossos pensamentos. No início ainda estávamos muito presos aos acampamentos em lugares com estrutura e segurança. As paradas de pernoite eram sempre em campings. Aos poucos fomos nos permitindo explorar mais lugares agrestes e acampar sozinhos na natureza, prática conhecida como “wild camping”, ou acampamento selvagem.

Parar na natureza é quebrar a barreira de espectador e turista e se integrar a ela. Aprendemos a respeitar, admirar, cuidar e viver de forma mais simples. Cozinhamos nossa própria comida, montamos nossa própria cama, limpamos nossa própria sujeira. Vivemos o momento presente, pois em um acampamento todas as atividades são compartilhadas e precisam ser executadas com cooperação.

Temos poucos equipamentos e utensílios na nossa casa rodante, mas cada uma das coisas que carregamos tem valor e utilidade. Nesse estilo de vida não se carrega nada além do necessário, mas também não nos falta nada.

Ouvimos muito falar que acampar é se privar de conforto e passar “perrengue”. Acreditamos que o conceito de conforto é muito relativo, cada um tem o seu, assim como a percepção de “perrengue”. Em nossa barraca dormimos confortavelmente, sempre com paisagens diferentes na janela e com o privilégio de observar milhares de estrelas que brilham no céu.

Para que a noite seja bem dormida, é preciso estar preparado com o equipamento adequado. No inverno, saco de dormir é indispensável e, no verão, usamos um ventilador 12v que dá conta do recado.

Outro tema que causa desconforto é o banheiro. “Mas onde vocês tomam banho? E quando a vontade de usar o banheiro aperta?” Também tínhamos essas dúvidas quando começamos a construir nosso projeto lá atrás, e encontramos uma solução para todas elas!

Para quem acampa na natureza, o banho precisa ser o mais natural possível. Instalamos na parte de trás do carro um chuveiro com box desmontável. Quando precisamos, montamos a estrutura. Para a água, contamos com um reservatório de 80 litros na parte debaixo do carro. Através do acionamento de uma bomba de água conseguimos tomar banho, sempre utilizando produtos biodegradáveis que não agridem o meio ambiente. É claro que essa estrutura só funciona no verão. No inverno recorremos a campings, estações de serviços ou hostel.

Praia do Rosa (SC) serviu de cenário para banho (Arquivo pessoal)

Também carregamos dentro do carro um minibanheiro químico, que quebra o maior galho não apenas quando estamos acampando, mas também quando estamos na estrada.

Por causa dos acampamentos conhecemos uma linda face da generosidade. O sentimento mais forte em um acampamento de viajantes é o de compartilhar. Ao redor de uma mesa se compartilha comida, histórias, angústias, sonhos e conquistas. Também conhecimentos mecânicos, ferramentas, equipamentos e apoio moral. Não há quem viva essa experiência e não se torne mais sociável, sensível e humano.

Em nossa passagem pela Argentina, nos juntamos sem querer a um encontro de “casas rodantes” (como eles chamam motorhomes por lá). Foram necessários poucos minutos para nos integrar ao grupo e fazer amizades que jamais serão apagadas do nosso coração.

Nossos vizinhos “hermanos” nos receberam como verdadeiros irmãos, e juntos acampamos por 4 dias na pequena cidade de Azul, interior da província de Buenos Aires.

Quando estávamos percorrendo a Carretera Austral no Chile conhecemos um casal chileno que também viajava acampando e em poucos minutos já estávamos reunidos, compartilhando uma mesa de café da manhã, recheada de histórias e troca de experiências.

Na Bolívia tivemos uma experiência inesperada em conhecer um casal de suíços. Estávamos acampados na beira de um lago quando eles chegaram e montaram acampamento ao nosso lado. Mais uma amizade que nasceu e que ganhou status especial em nossos corações.

Há diferentes formas de encarar o mundo, mas acreditamos que estar aberto a novas experiências é o que torna a vida mais fascinante. Acampar nos proporciona viver as maiores aventuras nesta expedição de volta ao mundo, como acordar nas mais lindas paisagens nevadas no inverno da Patagônia, dormir em meio ao silêncio ensurdecedor do deserto do Atacama, atravessar o inóspito altiplano da Bolívia e almoçar com vista para as lindas montanhas de Torres del Paine.

São nestes momentos em que “corrermos o risco” de descobrir as diferentes expressões da natureza, e que nos apaixonamos cada vez mais por uma vida mais simples e mais feliz.

Quer saber mais sobre essa viagem de volta ao mundo e sobre o estilo de vida de acampar? Acompanhe o projeto @mundi360 pelo Instagram e se inspire!

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Aviso aos passageiros 1: Você se interessa sobre a vida nômade? Já escrevi sobre como alguns viajantes ganham dinheiro enquanto rodam pelo mundo

Aviso aos passageiros 2: Se você gosta de dirigir, confira estas 10 belas rodovias pelo mundo em que dá pra viajar e curtir a paisagem

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Casal que mora em motorhome na Europa fala sobre desafios da vida nômade https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2019/08/30/casal-que-mora-em-motorhome-na-europa-fala-sobre-desafios-da-vida-nomade/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2019/08/30/casal-que-mora-em-motorhome-na-europa-fala-sobre-desafios-da-vida-nomade/#respond Fri, 30 Aug 2019 13:37:34 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/15669551195d65d66f34a19_1566955119_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=101 Largar tudo e botar o pé na estrada é o sonho de muita gente. Inspirados pelas redes sociais e pela facilidade de trabalhar a distância, cada vez mais viajantes colocam o desejo em prática.

Lucas e Eve se conheceram em Dublin, na Irlanda, e estão viajando desde agosto de 2018 com o Rogerinho —o “idoso, porém esforçado, motorhome”, como descrevem carinhosamente o meio de transporte.

Aqui, eles relatam (com pormenores) os desafios de viajar em casal, viver num ambiente de 7 m² e viajar na Europa, continente em que o custo de vida é alto.

Para este post, considerei o 1 euro = R$ 4,61

Caso você tenha boas (ou más) experiências em viagens pelo Brasil ou pelo mundo, divida com o blog Check-in pelo email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Vida nômade. São muitos os mitos a rodear esse termo que desperta interesse e controvérsia na internet. Há, no entanto, dois quase unânimes em relação a quem vivem na estrada.

O primeiro é que esse estilo de vida garante felicidade instantânea a quem o pratica. Basta abrir perfis de viagem no Instagram e lá está ele, perpetuado em fotos com falsos sorrisos e textos motivacionais rasos que sugerem a suposta vida perfeita de seus criadores. Além de consolidar uma mentira, é prejudicial à saúde mental de uma geração que mede sucesso e felicidade por meio de likes em redes sociais.

O segundo mito é o de que pessoas que vivem viajando são ricas ou são sustentadas pelos pais. Podemos atribuir a isso a necessidade humana de menosprezar e colocar em dúvida o esforço alheio para justificar a própria covardia e fracasso em promover em si mesmo a mudança reconhecida no outro.

Queremos desconstruir esses mitos por meio de um relato de quem já experiencia a vida nômade há um ano. Nós somos o Lucas e a Eve e desde agosto de 2018 viajamos e moramos no Rogerinho, nosso idoso, porém esforçado, motorhome.

Lucas e Eve viajam no Rogerinho desde agosto de 2018 (Arquivo pessoal)

Nos conhecemos em Dublin, onde vivemos dois anos até resolvermos ter a ideia de ir morar num carro. Enquanto para quem mora no Brasil converter os valores colocados aqui para real é um exercício válido, para a gente (já morávamos na Europa e recebíamos em euro), a conversão não se aplica. Outro ponto importante é que ambos possuímos cidadania europeia: eu, portuguesa, e a Eve, italiana, facilitando viajar e viver pelo continente.

Compramos o carro em janeiro de 2018 porque achamos o Rogerinho na internet, em uma revendedora holandesa, e tivemos que depositar, mesmo sem nunca tê-lo visto ao vivo, metade do valor para garantir a disponibilidade do carro sete meses depois.

Sim, depositamos 2.125 euros (R$ 9.798) tendo apenas meia dúzia de fotos em baixa resolução como base para escolher não só o carro que iríamos dirigir, mas também a casa onde iríamos morar pelos próximos anos. O baixíssimo preço e algumas recomendações positivas sobre a empresa falaram mais alto na hora de bater o martelo, mesmo que as condições de escolha não fossem ideais.

Ao finalizar a compra, o preço total pago no carro (com registro e inspeção já inclusos) foi 4.250 euros (R$ 19.595). Foi preciso arcar com algumas taxas para legalizar a situação do veículo, como a taxa de circulação e o seguro. O valor do imposto referente à permissão de circulação varia de país para país –na Holanda é 600 euros (R$ 2.766) por ano. Somados então aos salgados 1.200 euros (R$ 5.533)  de seguro, o total do investimento inicial foi de 6.050 euros (R$ 27.894).

Mas não se engane, dificilmente será possível encontrar um motorhome por esse valor tão baixo. O Rogerinho é um modelo muito menor e mais antigo do que os campers normalmente à venda e seu preço refletia diretamente essas características.

O baque inicial foi grande. Ao vivo, o ambiente interno do motorhome parecia ainda menor do que as fotos sugeriam. Havíamos saído de um apartamento de 65 m² para vivermos em uma caixa de metal de pouco mais de 7 m² e o sentimento inicial de estar ali oscilava entre incredulidade e o mais puro desespero.

As heranças de donos anteriores chamaram nossa atenção: janelas quebradas, telas anti mosquitos rasgadas, pia rachada e defeitos no sistema elétrico. Eles se somavam aos muitos outros problemas dos quais já tínhamos conhecimento prévio, como o fato do carro não possuir água quente nem aquecimento central.

De 1992, e mais velho que a Eve, o Rogerinho apresentava claros sinais de idade. Com o tempo fomos resolvendo alguns problemas e nos acostumando a contornar outros difíceis ou caros demais pra arrumar. Atualmente julgamos o ambiente interno ideal para duas pessoas e, o que antes parecia apertado, hoje consideramos aconchegante.

O tamanho do Rogerinho é uma das poucas coisas que nos confere vantagem. Os motorhomes comuns são limitados a estacionar em vagas especiais de 6 metros, e nosso pequeno guerreiro cabe em espaços normais de carro, como estacionamentos de supermercados, shoppings e vagas de rua.

O que não melhorou com o tempo foram as condições mecânicas do carro. Em 12 meses já fizemos 5 visitas aos mecânicos e dormir em oficinas se tornou comum. Nessa brincadeira, já gastamos 1.357 euros (R$ 6.257) em reparos, como troca da bomba d’água e de um semieixo.

Nem todos os perrengues resultaram em um rombo em nossos bolsos e, curiosamente, foram nas situações mais complicadas que pessoas nos ajudaram sem pedir absolutamente nada em troca.

Ainda novatos e com duas semanas de motorhome, havíamos perdido a janela 72 horas antes ao sair dirigindo sem trancá-la, no episódio que consideramos nossa maior cagada em um ano de estrada. Desde então andávamos com a janela coberta por um remendo patético feito de silver tape e um sacola plástica. Ao perguntarmos quanto custaria, o mecânico holandês Johan simplesmente respondeu: “Não se preocupe com isso. Gosto da maneira como vocês estão vivendo. Nem tudo é sobre dinheiro”.

Outra alma boa que cruzou o nosso caminho foi a do seu Carlos, quando atolamos o carro em Portugal. Após duas horas tentando desatolar o motorhome, avistamos uma figura caminhando devagar, com roupas e chapéu de couro, um verdadeiro cowboy.

Ao perceber sua idade e a fragilidade de sua voz, pensamos que aquele senhor pouco poderia fazer. Em 10 minutos, seu Carlos nos guiou para fora do lamaçal. “Um bocadinho pra frente. Agora um bocadinho pra trás”, dizia com seu inconfundível e gostoso sotaque português. Dispostos a pagar pela inestimável ajuda, ele negou. “Isso não foi nada. Eu já passei muito por isso quando viajava de carro por Moçambique. Foi um prazer ajudá-los”.

LISTA DE PERRENGUES NUNCA ACABA

Há também os perrengues de relacionamento, mais do que normais entre pessoas convivendo tão intensamente em um espaço tão restrito. Frustrações e brigas são comuns e, em tempos, frequentes.

Outros problemas são os causados pelo clima. O Rogerinho é uma grande caixa de metal, o que faz com que amplifique as temperaturas do lado de fora. No inverno, vira um frigorífico e a água do encanamento frequentemente congela. No verão, o carro se assemelha a um forno e o calor e os mosquitos fazem de dormir uma tarefa quase impossível. Sem contar que a fraca geladeira passa a não dar conta de resfriar os alimentos e somos obrigados a jogar fora algumas coisas estragadas.

Mas nenhum perrengue se compara ao eterno terror de ver sua conta bancária cada vez mais enxuta. Se você leu até aqui para descobrir como ganhar dinheiro regularmente na estrada, eu sinto dizer, mas ainda não temos a resposta.

Até conseguimos, vez ou outra, levantar um dinheirinho. A Eve fotografa desde os 16 anos e fez ensaios pelos países por onde passamos. Eu, da área de animação 3D, fiz um ou outro trabalho de freelancer, o que, com nossa limitação de energia elétrica e internet, pode ser complicado.

Outra forma que encontramos de alimentar a conta bancária foi lançar um pacote de presets fotográficos. Apaixonados por fotografia, essa foi uma maneira que encontramos de unir o útil ao agradável e, para nossa surpresa, as vendas estão indo melhor do que esperávamos. Mas os lucros na estrada param por aí, totalizando 4.069 euros (R$ 18.761). Até participamos como cobaias em um estudo clínico em troca de alguns trocados.

Para juntar dinheiro, Eve fotografa e Lucas, da área de animação 3D, trabalha de freelancer (Arquivo pessoal)

No começo desse ano paramos a viagem para trabalhar. O ótimo salário mínimo na Irlanda e a chance de ficar hospedados na casa de amigos nos fez escolher ir para Dublin. Lá, passamos cerca de 50 dias trabalhando no subemprego, eu como camareiro de hotel e a Eve como funcionária de uma gráfica. Graças à ajuda de quem nos recebeu em suas casas, conseguimos juntar mais de 5.000 euros (R$ 23.053) –com o que ainda tínhamos guardado, é mais do que suficiente para passarmos o resto de 2019 sem trabalhar.

Quando não há uma renda frequente, o segredo é gastar o menos possível. Adotamos algumas práticas que se tornaram dogmas em nossa devota vida ao baixo custo: não transitar por estradas com pedágio (a não ser em extrema necessidade), comer o mínimo possível fora (levamos almoço quando visitamos algum lugar) e, principalmente, não dormir em campings ou estacionamentos pagos. É incrível o quanto se consegue economizar adotando apenas essas três regras.

Por outro lado, em algumas coisas pouco se pode fazer para se economizar –é o caso do combustível, despesa que só se evita ficando parado. Em 1 ano de vida na estrada já percorremos 22.073 km. Isso dá, em média, 2.066 km por mês e 72 km por dia.

Das 315 noites dormidas no Rogerinho, 179 foram em lugares diferentes. Cidades, vilas, praias, montanhas, florestas, parques, postos de gasolina e beiras de estradas de 16 países nos hospedaram com os mais variados níveis de glamour e segurança.

Em alguns nos sentimos em casa, como se estivéssemos em nosso quintal. Em outros, nem tanto, e a batida pesada na porta de moradores deixaram bem clara a insatisfação com nossa presença.

Tiveram também os meios assustadores, no meio do nada, que faziam levantar o cabelo da nuca quando chegávamos e éramos engolidos pela escuridão assim que desligávamos os faróis do carro.

O gasto com diesel representa quase metade do orçamento mensal. Costumamos dizer que o preço do combustível equivale ao aluguel dentro do orçamento de uma vida comum na cidade. Na média, o gasto mensal com isso é de 270 euros (R$ 1.245). Pode parecer extravagante quando se pensa em diesel, mas é um valor muito baixo ao considerar os aluguéis pela Europa.

Entre mercado, combustível, lazer, reparos e outras coisas, o gasto mensal é, em média, de 736 euros (R$ 3.393), ou 368 euros (R$ 1.697) por pessoa. Você lembra se alguma vez conseguiu cobrir todas as suas despesas do mês e de quebra ainda conheceu um ou mais países diferentes com tão pouco?

Se você não vive na estrada, nas costas de um motorhome ou de uma kombi, no banco de uma bike ou de uma moto, com uma mochila nas costas ou uma mala na mão, é provável que sua resposta seja, “não, nunca”.

Por outro lado, caso você não se encaixe em um desses exemplos, sua resposta provavelmente seria a mesma caso eu perguntasse se você já passou por tantos perrengues, dores de cabeça e desconfortos num período de apenas um ano.

São maneiras diferentes de encarar a vida. Qual é a sua?

Esperamos que todas essas informações tenham ajudado a esclarecer e desmistificar ambos os aspectos super e subestimados dessa tal vida nômade. Se nossa experiência despertou em você curiosidade, siga-nos no Instagram @rotaalternativarv, Lá postamos em detalhes todos os nossos perrengues e custo, além de fotos dos lugares por onde passamos.

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Aviso aos passageiros 1: Se você gosta de dirigir, mas não pensa ou sonha em largar tudo e cair na estrada, há a opção de tirar alguns dias de folga e viajar por estas 10 belas rodovias pelo mundo

Aviso aos passageiros 2: Se a grana não é tanta para ir até a Austrália, por exemplo, há também estas 6 estradas na América do Sul

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