Em Israel, pastor visita escavações e atrações religiosas

Nem só a lazer ou a trabalho se viaja. Há muita gente que visita outros países ou cidades movidos pela fé.

Esse é o caso de Afonso Martins Fernandes Neto, pastor evangélico em São José do Rio Preto (SP) há 27 anos.

Sabendo algumas palavras em inglês e com pouquíssimo dinheiro no bolso, ele diz que atendeu a um chamado quando resolveu visitar Israel.

O pastor viajou ao país no fim de 2019 e conheceu diversos pontos turísticos e religiosos.

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Sempre tive o desejo de conhecer os EUA, especificamente o “Bible Belt” (o chamado “cinturão da Bíblia”), região que agrupa inúmeras cidades evangélicas de maioria conservadora e principalmente a sede de inúmeras igrejas protestantes. Mas o tempo passou e o sonho se foi.

Em outubro de 2019, subitamente, como que atendendo a um chamado divino, comecei a me interessar por Israel. Sem planejamento antecipado, em um mês tirei passaporte, entrei na primeira agência de turismo que vi e adquiri em parcelas, a perder de vista, passagens e hotel em Jerusalém.

Optei por comprar em um local especializado para dar mais credibilidade às minhas intenções de ser um peregrino na Terra Santa e também porque as excursões religiosas, além de caríssimas, são de no mínimo dez dias. Fiquei com receio de suspeitarem do meu intuito, pois pesavam contra mim o meu passaporte ser novo, viajar sozinho, ficar só cinco dias em Jerusalém e levar apenas uma bagagem de mão.

No guichê do Aeroporto Internacional Ben Gurion, de Tel Aviv, fui barrado. Um agente pegou meu passaporte e eu o segui correndo até uma sala onde estavam uns 30 estrangeiros, das mais diversas nacionalidades, aguardando o visto de entrada em Israel. Ter a possibilidade de voltar para o país de origem após 15 h de voo é frustrante.

Mas, graças a Deus, após só 5 minutos de espera, dois agentes me questionaram em “portunhol”. Mostrei meus crachás de pastor, a passagem de volta, o hotel pago e um saquinho com pedidos de oração para o Muro das Lamentações.

Eles sorriram e me deram um tíquete com o visto. O passaporte não é carimbado porque há países que barram turistas com passagem por Israel, por isso eles entregam o aceite num papel diferente.

Subi num supertrem do Ben Gurion até Jerusalém, muito confortável e com wi-fi.

O Muro das Lamentações é o único muro de arrimo que sobrou do antigo Templo de Salomão (Arquivo pessoal)

O que as excursões convencionais levam dez dias eu fiz intensivamente em cinco: conheci Nazaré, Cafarnaum, rio Jordão… Na beira do mar da Galileia almocei a 80 novos shekeis israelenses (o equivalente a R$ 107) uma deliciosa tilápia, ou San Peter, frita com batatas. Dizem que São Pedro pescou o peixe com uma moeda na boca. Havia ainda acompanhamentos self-service com mais de 30 legumes, saladas e molhos orientais e asiáticos.

Em Jerusalém, passei quatro dias conhecendo tudo relacionado à fé cristã e, por tabela, às outras também. Para quem não sabe, Jerusalém foi a última cidade em que Jesus pisou antes de ser crucificado e a primeira em que ele pisará no apocalipse, segundo a Bíblia.

Jerusalém também é uma cidade onde as três maiores religiões do mundo se toleram e convivem bem: judaísmo, cristianismo e islamismo.

Com as poucas palavra em inglês que eu sabia e, graças a inúmeros comerciantes, turistas e guias turísticos que falavam português e espanhol, me virei bem lá.

Tirando o peixe de São Pedro, sobrevivi os cinco dias a tâmaras, frutas, suco de romã a R$ 4, falafel (bolinho de grão de bico) a R$ 13 e shawarma (sanduíche de carneiro, vaca ou peru com pão pita, vegetais e pastas) a R$ 20. E também uma sopa que até hoje não sei o que é, com massas servidas em bolas –não senti gosto nelas–, no mercado de rua bem agitado Mahane Yehuda.

O pastor Afonso passou cinco dias em Jerusalém (Arquivo pessoal)

Israel é repleta de escavações que resgatam mais de 3 mil anos de história. Na arqueologia, me conectei com a ciência e com o divino várias vezes. Não recomendo entrar nas centenas de metros no túnel de Ezequias a partir do Tanque de Siloé: é sufocante, apertado, úmido e, por fazer tratamento do coração, tive que me deitar várias vezes para recuperar o fôlego. Achei que iria morrer ali sozinho e quase no escuro, mas sobrevivi para contar.

A maioria dos pontos históricos são gratuitos e, em alguns, se paga de 10 a 20 novos shekeis israelenses (R$ 13 a R$ 26).

A região que visitei é extremamente segura, com polícia e Exército nas ruas em qualquer dia e horário, transporte de Uber e ônibus é tranquilo e os turistas são tratados com muita cortesia. Encontrei alguns estrangeiros, israelitas, judeus e árabes mal-educados, mas a maioria é gentil.

A experiência foi tão boa que, ao regressar, já estava com vontade de marcar outra viagem para lá. Mas tenho que primeiro quitar esta que fiz a perder de vista. Tirando a apreensão nos cinco minutos que me interrogaram na chegada, tudo foi perfeito.

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Aviso aos passageiros 1: O PM aposentado Samuel do Lago contou aqui como foi seu mochilão pela América Latina, depois que pendurou a farda

Aviso aos passageiros 2: “Eu havia metido na cabeça fazer uma viagem à alma do Brasil”. Foi assim que o escritor Jonas Reis começou seu relato da jornada que fez pelo país