Check-in https://checkin.blogfolha.uol.com.br Relatos de turistas, dicas e serviços de viagem Wed, 01 Dec 2021 12:49:26 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Sem reservas ou cartão de crédito, casal de mochileiros relembra como era viajar em 1985 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/08/10/sem-reservas-ou-cartao-de-credito-casal-de-mochileiros-relembra-como-era-viajar-em-1985/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/08/10/sem-reservas-ou-cartao-de-credito-casal-de-mochileiros-relembra-como-era-viajar-em-1985/#respond Tue, 10 Aug 2021 13:15:04 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/1628308223610e02ff2f415_1628308223_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=779 Perrengue, segundo o dicionário Houaiss, é o mesmo que situação complicada, difícil de ser resolvida. No mundo das viagens, muitos usam a palavra quando o pneu fura, chove no passeio ou tem uma fila enorme em alguma atração turística. 

Julio e Rosi Moschen, hoje proprietários de pousadas em Campos de Jordão, têm umas tantas histórias de experiências complicadas em suas viagens. Ainda mais porque o primeiro mochilão deles foi em 1985, na Europa. Você consegue imaginar como era ir até o Velho Continente nos anos pré-internet?

Os dois, que haviam se conhecido em 1979, se casaram seis anos depois e fizeram do mochilão uma espécie de lua de mel. Detalhe: eles viajaram com a irmã e o cunhado de Julio.

A importação de produtos, durante a ditadura brasileira, era reduzida, o que obrigou o casal a viajar com equipamentos nacionais. “A mochila que existia aqui era aquela de lona verde, do Exército, com uma armação de alumínio que ficava nas costas”, relembra Julio.

Enquanto ele carregava essa, Rosi levava uma mala de rodinhas. Bem, não exatamente. “Era uma mala de lona, antigona, e a gente colocava num carrinho metálico que amarrava com cordinha”, explica ela.

Lá, viram como era diferente a vida do viajante europeu, que usava “aquela mochila certinha, magrinha, da largura do corpo”.. E isso influenciava na hora de pegar o trem. Enquanto os estrangeiros andavam entre as fileiras sem esbarrar nos outros, o casal precisava fazer ginástica. “Tinha que tirar a mochila, colocar no chão e entrar com ela de lado, porque ela era mais gorda que a fileira.”

Rosi e Julio, então com 23 e 28 anos, fizeram essa primeira expedição juntos sem hospedagem prevista. “Para fazer reserva no hotel, tinha que ligar para lá, falar a língua do lugar. Na década de 1980 o inglês ainda não era dominante como é hoje, que qualquer um em um hotel da França, da Itália, fala inglês”, explica ele. Para se comunicar, o casal levou um dicionário de seis idiomas. 

Outro item que eles levaram na bagagem foi o livro “Europa a 25 dólares o dia”, de Arthur Frommer, o papa dos livros de viagem, segundo Julio. “Era a bíblia de todo mochileiro da minha época.”

O americano, em sua juventude, viajou bastante pelo Velho Continente e elaborou o guia com dicas de onde se hospedar, se alimentar e o que visitar e ver em várias cidades. E tudo isso com um orçamento de US$ 25 diários. Ele atualizou a obra por anos e, obviamente, teve que adaptar o orçamento diário. 

O livro norteou Julio, a esposa, a irmã e o cunhado. Para passar os 21 dias de viagem, eles foram com US$ 2.000 no bolso. “Não tinha cartão de crédito internacional, para viajar era o ‘cash’. A gente levava dinheiro contado e torcia para que não acontecesse nenhum imprevisto”, relembra Rosi. 

E a situação econômica e política no Brasil era tão complicada que quem viajava para o exterior precisava recorrer ao câmbio paralelo para conseguir mais moeda estrangeira do que o governo permitia.

Para economizar, os quatro ficavam juntos em quartos de hotéis, muitas vezes sem banheiro no mesmo cômodo. Outra forma de baratear os custos era viajar em trens noturnos, e assim deixavam de gastar com hospedagem. Mas, segundo Julio, era difícil descansar e a experiência não era segura. E, mesmo assim, ainda utilizaram esse método seis vezes.

A expedição deles englobou Espanha, França, Mônaco, Itália, Áustria, Alemanha, Suíça e Reino Unido. “A gente viajava como se fosse a única vez da sua vida, tinha que conhecer o maior número possível de países”, explica ele. 

Muitos países é sinônimo de muitas moedas. Assim, quando entravam em um local novo, se viam obrigados a fazer conversões e, consequentemente, perdiam dinheiro em taxas e cédulas de pouco valor. No fim, o orçamento diário acabava ficando abaixo dos US$ 25 previstos por pessoa.

Com tanto perrengue, é provável que muita gente mudasse o estilo de viagem, certo? Eles não. Preferiram manter o ritmo e fizeram um segundo mochilão para a Europa, em 1989, quando Rosi estava grávida de seu primogênito.

Nesses quatro anos eles foram algumas vezes para os EUA e compraram outra mochila, aposentando o modelo do Exército, usado em 1985. Agora, Julio levava um tipo mais confortável, enquanto Rosi usava uma versão menor, já que estava grávida.

A segunda expedição ao Velho Mundo envolveu Suíça, Itália, Grécia e Áustria, na mesma pegada de gastos reduzidos. Foi em terras gregas, inclusive, que eles pilotaram uma moto sem farol, apenas com luz de freio, à noite e na beira de um precipício. Para ficar mais seguro, eles iam pelo acostamento na contramão. Acho até que esse tipo de perrengue deveria inclusive constar no exemplo do Houaiss.

Após a viagem de 1989, ficaram um bom tempo sem colocar o pé na Europa. Veio o segundo filho e Rosi e Julio se dedicaram a viajar pelos EUA, pois viam mais opções de entretenimento e infraestrutura para a família toda.

Só em 2007 eles se organizaram para visitar o Velho Continente novamente. A intenção original era que os filhos adolescentes fossem juntos, todos com mochila nas costas. Mas a ideia não foi bem recebida pelos jovens, que preferiram passar as férias na casa de amigos.

O casal até considerou o uso de malas, mas um vizinho, com idade próxima a deles, botou pilha sobre viajar de mochila. “A gente já é tiozinho, será que a gente ainda é mochileiro?”, se perguntaram. No fim, adotaram a marca Tiozinhos Mochileiros e partiram. “Redescobrimos como é legal viajar assim”, diz ele.

Rosi e Julio têm 59 e 65 anos, respectivamente, e uma situação financeira confortável. Mesmo assim, eles ainda viajam com mochila nas costas, cada uma com 8 kg e cheias de conselhos.

Ele recomenda, por exemplo, não levar camisa polo, por ser mais pesada e difícil de secar. E como lavar? “Na pia do banheiro. Põe o sabãozinho do hotel, xampu, deixa de molho na água quente, sai para jantar ou passear, volta, enxuga e pendura. No dia seguinte está seco.” 

Se não secar, Julio recomenda embrulhar no plástico, guardar na mochila e pendurar no próximo hotel. “A dica é torcer a roupa dentro da toalha, aí ela não fica pingando e seca rápido”, completa Rosi. E, se possível, levar corda de nylon para usar como varal.

Não sei a sua, mas a minha meta da vida foi redefinida após conhecer os tiozinhos mochileiros.

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Aviso aos passageiros 1: Além de um canal no Youtube, eles bateram um longo papo no podcast Mochileiros sem Pauta, que eu já recomendei por aqui

Aviso aos passageiros 2: Reuni algumas dicas para fazer seu primeiro mochilão. Inclusive, relato como foi a minha primeira viagem com a mochila nas costas e todos os perrengues no livro “Embarque Imediato” (O Viajante, R$ 39,90, 180 págs.)

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Berlim é uma cidade cosmopolita, mas ainda assim alemã, define professor https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/01/19/berlim-e-uma-cidade-cosmopolita-mas-ainda-assim-alema-define-professor/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/01/19/berlim-e-uma-cidade-cosmopolita-mas-ainda-assim-alema-define-professor/#respond Tue, 19 Jan 2021 18:05:47 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/Berlim-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=627 Em 2020, o professor de alemão e tradutor Guilherme Spinelli falou ao Check-in sobre sua pedalada pela Alemanha e como organizou uma expedição de 1.200 km em 24 dias.

Agora, é a vez de Geder Parzianello, também professor e pesquisador, compartilhar sua experiência no país liderado por Angela Merkel.

Ele estudou e lecionou na Alemanha e já esteve por lá algumas vezes. É inegável, ao ler seu texto, o quanto gosta de Berlim. Mas deixo para vocês tirarem suas próprias conclusões.

Em tempos de coronavírus nossas viagens ficaram mais restritas. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Enquanto dura esta pandemia e as fronteiras continuam fechadas, as únicas viagens seguras e possíveis são as da memória. Por isso, viajar é um patrimônio –e uma experiência realmente sempre válida– ainda que seja, neste momento, apenas de uma forma diferente.

A capital da Alemanha é uma daquelas poucas cidades que têm diversos mundos dentro delas. Cosmopolita, a cidade de Berlim é alemã, mas nela se podem ouvir facilmente dezenas de idiomas sendo falados quando se anda por suas ruas, não apenas em função dos turistas que nela todos os anos circulam, mas, por conta, principalmente, dos imigrantes estabelecidos em suas lojas: turcos, árabes e até mesmo brasileiros, ou nos restaurantes típicos vietnamitas, indianos, italianos, coreanos, japoneses… enfim, a cidade de Berlim é global sem deixar de ser tipicamente alemã.

Geder visitou, com a esposa e o filho, a capital alemã (Arquivo pessoal)

No seu comércio ambulante, convivem paquistaneses, ucranianos, russos, iranianos e gente de todas as nacionalidades, como também nas atividades culturais, sociais e comerciais variadas que fazem sempre circular, de fato, centenas de milhares de pessoas por seus metrôs, trens e avenidas todos os dias.

Claro que, neste período, a cidade é outra. A grande maioria da população raramente sai às ruas, com a Alemanha vivendo a segunda onda de contágio do coronavírus. O jeito foi mesmo frear a economia para proteger a vida.

Uma cidade alemã para o mundo

Estive em Berlim diversas vezes. Aprendi a gostar da cidade ainda quando haviam recém derrubado o muro que dividia as duas Alemanhas. Gostar do local não é difícil, principalmente para um brasileiro com ascendência materna alemã e proximidade com o idioma.

Fiz grandes amizades e vivenciei experiências culturais incríveis para uma vida inteira. Mas a capital é realmente fascinante até mesmo para quem não fale o idioma local ou não tenha qualquer proximidade com a cultura germânica.

A cidade é global sem deixar de ser alemã, e isso a torna magnética e preferida, inclusive por muitos nativos que moram em outras partes do país, sobretudo os mais jovens.

A cidade foi mesmo preparada para receber neste século todo tipo de turistas e visitantes. Acolhe muito bem os estrangeiros, e de modo bem distante daquele estereótipo antigo que povoa o imaginário desatualizado no exterior em torno da cultura dos alemães como sendo um povo frio e distante.

A gélida Berlim dos invernos rigorosos é quente e acolhedora com quem sabe olhar para ela. E, se neste momento não é possível visitá-la, é possível revivê-la na memória ou viajar por ela de formas diferentes.

A cidade é também tecnológica, extremamente moderna e industrial e realmente aprendeu a conciliar o passado, sua história e as inovações todas da urbanização, da tecnocracia e, mais recentemente, da uberização do trabalho e de novas formas do capital num mundo em constante transformação. Tradição e novidade convivem dia a dia.

O professor já visitou a capital alemã diversas vezes (Arquivo pessoal)

A cidade de algum modo não para. Mesmo em meio à pandemia, com as lojas fechadas e com as ruas praticamente desertas. Apenas serviços essenciais funcionam e com extrema disciplina. Acompanho as notícias por agências internacionais e emissoras estrangeiras e também por contatos quase diários pela internet com colegas, amigos, nativos alemães que conheço há quase trinta anos.

Em agosto e outubro do ano passado, a democrática Berlim acolheu sem tumultos os protestos de quem era contra o uso de máscaras e a decisão de lockdown para conter a pandemia. Uma prova talvez de que a cultura alemã aprendeu com a história a conviver com as diferenças. Os alemães respeitaram as opiniões contrárias e a decisão do governo e da maioria da população e, de fato, não há circulação nas ruas nem aglomerações.

Berlim é uma cidade que trabalha incessantemente para readequar a sua identidade política, sintonizada com este tempo e de olho no futuro. Com certeza, os alemães devem muito a estas pessoas de diferentes culturas que fazem dela a cidade que ela continua sendo: fechada neste momento, mas mais aberta para o mundo do que nunca.

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Aviso aos passageiros 1: A escritora e consultora especialista em viagem e intercâmbio Carol Santin escreveu ao blog sobre sua viagem a Portugal e como se surpreendeu pela quantidade de fumantes lá

Aviso aos passageiros 2: Ao Check-in, o jornalista e ator Francisco Zaiden contou como foi viajar sem rumo por praias e cidades palco do Dia D, na França

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Viajante reúne em livro relatos sobre Nagorno-Karabakh e outros ‘países que não existem’ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/10/30/viajante-reune-em-livro-relatos-sobre-nagorno-karabakh-e-outros-paises-que-nao-existem/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/10/30/viajante-reune-em-livro-relatos-sobre-nagorno-karabakh-e-outros-paises-que-nao-existem/#respond Fri, 30 Oct 2020 19:04:02 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2020/10/16040842855f9c623d644b0_1604084285_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=531 O desconhecido Nagorno-Karabakh entrou recentemente no noticiário como palco de conflito entre a Armênia e o Azerbaijão, e essa tensão fez muita gente descobrir a região em terras azeris, mas controlada por separatistas armênios desde a década de 1990.

O escritor e viajante curitibano Guilherme Canever esteve lá em 2014 e viu de perto esse conflito congelado. “O que mais me chamou a atenção é que você está num lugar tranquilo e, perto dali, há uma cidade com prédios abandonados.”

O que o curitibano viu em Nagorno-Karabakh, Palestina, Taiwan e em outros sete destinos está no livro “Uma Viagem pelos Países que Não Existem”, lançado em 2016. A obra ganhou uma segunda edição saindo do forno, após um período esgotado. “Foi na época da Olimpíada do Rio, e todo mundo estava falando sobre países pouco conhecidos. Teve um timing muito bom.”

Livro “Uma viagem pelos países que não existem”, de Guilherme Canever (Reprodução)

Ele tem outros três livros na carreira –“De Cape Town a Muscat: Uma Aventura pela África”, “De Istambul a Nova Délhi: Uma Aventura pela Rota da Seda” e “Destinos Invisíveis: Uma Nova Aventura pela África”–, mas foram os países que não existem que lhe deram repercussão internacional.

Custando até R$ 200 em sites de livros usados –“não compre porque não vale a pena”, brinca–, o livro do curitibano ainda não tinha uma versão em inglês. Estava difícil vencer a burocracia e a falta de intermediários no mercado estrangeiro.

Canever lançou, então, a versão estrangeira pela Amazon e em poucos dias a obra estava figurando na mídia de mais de 40 países. Para existir uma versão em espanhol foi um pulo e, com a pandemia, mais precisamente devido à falta de viagens nesse período, ele conseguiu revisitar a obra.

Ele chegou a fazer um financiamento coletivo, mas a empreitada funcionou mais como uma pré-venda e também uma divulgação de suas outras obras.

Abaixo, confira a conversa que tive com ele.

De onde surgiu a ideia de escrever livros?
Surgiu por acaso. Fiz uma viagem longa, entre 2009 e 2011, e tinha o hábito de anotar no caderninho. Mantive o blog, mas era algo bem amador. Quando voltei, as pessoas falavam “tem que publicar um livro”, e alguém disse que quase que não seria justo eu não fazer isso, já que tem tanta gente que não tem oportunidade de viajar, de ir para lugares que eu fui. Se já não é fácil para todo mundo viajar, imagina para destinos um pouco mais inacessíveis.

E esse livro sobre os países que não existem, como surgiu?
Foi resultado de diversas viagens em alguns anos. O livro entra nesse conceito de países que são de fato independentes, mas não têm um reconhecimento internacional muito amplo. Foi o primeiro país, a Somalilândia, que plantou a semente desse projeto.

Para fazer compras precisava usar o xelim somalilandês (a moeda própria), para ir a algumas regiões eu precisava de um permit, que é uma permissão por escrito do governo, então precisava ir a órgãos governamentais. Nem nações não reconhecidas reconhecem a Somalilândia. Eu achei fascinante, e passei a me questionar o que é um país.

As Nações Unidas tem os 193 membros e outros 2 estados observadores permanentes, mas e os outros que se dizem país, mas não são? Visitei outros dois países assim, Palestina e Saara Ocidental, e aí criei o projeto para conhecer os demais lugares.

Trocando dinheiro nas ruas da Somalilândia (Arquivo pessoal)

Como foi em Nagorno-Karabakh?
No livro eu chamo de conflito congelado, e a gente sabe que pode se descongelar a qualquer momento. Desde minha experiência até agora, durante vários anos tiveram algumas trocas de tiro, derrubavam um helicóptero, mas agora teve uma escalada de violência muito grande.

Cheguei não pelo principal caminho, o corredor Lachin, mas pelas montanhas, uma estrada de terra que estavam abrindo. Não tive nem controle de passaporte, passei como se fosse um estado da Armênia.

O interessante é que Nagorno-Karabakh é um encrave, mesmo que seja internacionalmente reconhecido como Azerbaijão. Para ir até lá, precisa passar por áreas azeris, que hoje estão ocupadas pelos armênios, uma das grandes contestações do Azerbaijão.

Chegando pelas montanhas da região norte, tudo calmo, montanhas, monastérios, começa a ver alguns tanques abandonados na beira da estrada, com pequenos memoriais de guerra, com fotos de soldados mortos. Sente que se teve uma tensão recente.

Mais ao sul, próximo a outro monastério, tinha uma parede com dezenas, talvez centenas de placas de carro do Azerbaijão. Eles recolheram e fizeram um mural, um troféu. Quando desce as montanhas para Stepanakert, a capital, tem cabos de aço entre as montanhas, para os aviões não voarem muito baixo.

Na cidade você faz o visto, vai no Ministério das Relações Exteriores, relativamente simples, não colam no passaporte, para não impedir a entrada no Azerbaijão. Stepanakert é tranquila, com blocos soviéticos, muito florida, tem wi-fi gratuito na praça, você consegue sentar e tomar uma cerveja. Há uma sensação de paz.

O que mais me chamou a atenção é que você está num lugar tranquilo e, perto dali, há uma cidade com prédios abandonados. Tem um conflito um pouco mais vivo.

Para chegar em Agdam, passa-se por largas avenidas, com bandeiras de Nagorno-Karabakh, com monumentos de cunho nacionalista. Era uma cidade azeri, inteira devastada, em ruínas, tudo saqueado. A única estrutura que está de pé é uma mesquita, com seus minaretes (torres). Foi muito difícil chegar lá porque ninguém queria nos levar. É a linha frente do conflito, precisamos desviar de alguns postos de controle, da patrulha de Nagorno-Karabakh, com soldados armênios.

A poucos quilômetros dali se pode tomar cerveja, mas pode mudar de cenário completamente, que gerou milhares de refugiados.

Em meio ao mercado livreiro em crise, o que te levou a lançar essa 2ª edição?
Foi o livro que teve a resposta mais rápida. Foi na época da Olimpíada do Rio, e todo mundo estava falando sobre países pouco conhecidos. Teve um timing muito bom.

Esgotou relativamente rápido, mas eu estava focado no “Destinos Invisíveis”. Passava muito tempo fora do Brasil viajando, escrevendo. Para lançar uma 2ª edição achava que não valia a pena.

Em alguns momentos as pessoas encontravam viajantes de outros países que comentavam sobre minha jornada. Eu busquei publicar o livro em inglês, mas é um processo muito difícil lançar lá fora, sempre falavam que deveria ser por uma editora brasileira. Contatei empresas grandes, mas foi complicado.

Depois de uns anos, continuei tendo notícias de pessoas que comentavam sobre a obra. Aí fiz a tradução para o inglês e lancei via Amazon, de forma independente. Teve uma repercussão muito boa.

Guilherme Canever em frente a um ônibus na Abecásia (Arquivo pessoal)

Lancei em 4 de julho, na Independência dos EUA, para ter uma referência com os países que são de fato independentes mas não reconhecidos. Funcionou de maneira bem espontânea. Dois dias depois estava na CNN internacional, e teve matérias na Índia, França, Argentina, Vietnã, mais de 40 países noticiaram o livro. Acabei traduzindo para o espanhol também.

Para uma segunda edição brasileira, sempre me pediam, mas nunca tinha me acertado. Isso criou uma demanda, via em sites que tinha edição usada custando R$ 200. Até brincava “não compre porque não vale”. Na sequência do lançamento internacional, achei que estava na hora de fazer mais uma tiragem. E, como não estou envolvido com viagens por causa da pandemia, resolvi focar outra edição.

Como é seu processo de escrita?
Eu escrevia na forma de diário, e no começo eram textos mais longos. Com o tempo passei também a fazer notas de experiência.

Coloco opinião pessoal, mas acabo falando menos sobre mim, gosto de apresentar os lugares. A diferença para um guia é que não é simplesmente o que se tem pra fazer lá, eu conto minhas experiências, positivas ou negativas, mas relato o dia a dia.

No meu primeiro livro, quando falo das igrejas de Lalibela (Etiópia), faço em duas ou três linhas, mas quando vou escrever sobre uma carona de caminhão, é um parágrafo. Acaba valorizando mais minha experiência do que o local em si.

As grandes atrações do país você encontra num guia, na internet, agora, como chega, o que faz, torna a viagem única. As viagens se desenrolam de maneiras diferentes quando você está na estrada. Os acasos são os temperos de qualquer viagem.

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Em tempos de coronavírus nossas viagens ficaram mais restritas. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Aviso aos passageiros 1: O paulistano Rafael Dallacqua viajou por vários lugares do mundo, e aqui contou como foi o período em que esteve nos Bálcãs. Entre os locais por onde passou está Kosovo, outro país que não existe.

Aviso aos passageiros 2: Reuni algumas dicas para fazer seu primeiro mochilão. Inclusive, relato como foi a minha primeira viagem com a mochila nas costas e todos os perrengues no livro “Embarque Imediato” (O Viajante, R$ 39,90, 180 págs.)

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Casal detalha gastos dos últimos 2 anos viajando de motorhome pela Europa https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/09/28/casal-detalha-gastos-dos-ultimos-2-anos-viajando-de-motorhome-pela-europa/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/09/28/casal-detalha-gastos-dos-ultimos-2-anos-viajando-de-motorhome-pela-europa/#respond Mon, 28 Sep 2020 17:40:28 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/15670386025d671c8ad0b15_1567038602_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=510 Em 2019 eu publiquei o relato do casal Lucas e Eve (@rotaalternativarv), que viaja com o Rogerinho, seu “idoso, porém esforçado, motorhome”. Lá, eles contaram os desafios de viver em um veículo assim, além de toda a burocracia envolvida.

Agora, eles fazem um resumo financeiro dos dois últimos anos, em que ficaram rodando pela Europa. O casal esmiúça bastante os gastos, com direito a até os centavos de euro.

A ideia é mostrar que viver em um motorhome não é só flores, mas também não é uma vida cheia de perrengue.

Em valores atualizados, eles gastaram em 2 anos de estrada cerca de R$ 90 mil (sem contar o valor do carro e da papelada do Rogerinho). Em contrapartida, entre trabalhos na estrada e frilas, o casal recebeu cerca de R$ 170 mil. Obviamente, o passaporte europeu dos dois ajudou bastante na hora de conseguir emprego.

Para este post, considerei o 1 euro = R$ 6,53

Em tempos de coronavírus não podemos viajar, e muitas vezes nem sair de casa. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Olá! Me chamo Lucas e, junto com minha namorada, Eve, recentemente completei 2 anos vivendo e viajando pela Europa em nosso motorhome, o Rogerinho. Mas, ao invés de escrever um texto comemorativo, decidimos fazer um informativo.

A ideia é dar um resumão completo dos nossos gastos e ganhos em 730 dias pela estrada a fim de fornecer uma boa base de informação a quem pensa um dia seguir o mesmo estilo de vida.

Antes de irmos aos números, é importante dizer que nós temos um perfil bem low cost. Nós raramente dormimos em lugares pagos, quase nunca pagamos pedágio e também não saímos tanto para comer, cozinhando quase sempre nossas refeições. Mas esse é o nosso estilo e não representa nenhum tipo de fórmula correta ou incorreta, é apenas o que faz mais sentido pra gente.

Outra coisa que influencia muito nos gastos é a questão de estar parado ou viajando. Viajar é sempre mais caro, principalmente pelo gasto com combustível e outros custos que só aparecem quando se está na estrada.

Já quando paramos, seja porque estamos trabalhando ou ficando em casa de conhecidos, os gastos são bem menores. 2018 e 2019, por exemplo, foram anos que passamos na estrada praticamente 100% do tempo.

Já 2020, por motivos óbvios, nós não viajamos praticamente nada e desde março estamos fixos na Holanda trabalhando em diversos empregos sazonais. Mais sobre isso falo depois, primeiro vamos começar pelo início, quando compramos o carro.

Todos os valores estão em euros pois moramos na Europa desde 2016-2017 e nunca tivemos que usar dinheiro do Brasil.

QUANTO CUSTOU O CARRO?
Nós compramos o carro na Holanda e pagamos por ele 4.250 euros (R$ 27.749)+ 600 euros (R$ 3.918) de taxa de circulação válida por 1 ano. O Rogerinho é de 1992 e veio repleto de defeitos e reparos a serem feitos, por isso o valor tão baixo. Tivemos também que pagar um valor altíssimo de seguro pois, sem endereço fixo na Holanda, o veículo teve que ficar no nome da empresa que nos vendeu. Pelo período de um ano nós pagamos 1.200 euros (R$ 7.835). Quando esse prazo venceu nós ainda renovamos, tanto o seguro quanto a taxa de circulação, por mais 6 meses, gastando respectivamente mais 600 euros (R$ 3.918) e 300 euros (R$ 1.959).

IMPORTAÇÃO DO CARRO PARA PORTUGAL
Cansados de pagar esse valores astronômicos, nós decidimos tirar o carro do nome da empresa que nos o vendeu e passá-lo para o nosso. Com família e amigos em Portugal nós conseguimos estabelecer um endereço fixo e decidimos importar nosso motorhome pra lá, mudando sua placa para a de Portugal e o adequando às normas e taxas do país (muito mais baratas, por sinal). A importação foi penosa, demorada e cara. A burocracia em Portugal é imensa e nos colocou barreiras atrás de barreiras durante todo o processo e o Rogerinho só ficou completamente legalizado após 4 meses. Pensamos em desistir diversas vezes durante esse período, mas no fim tudo se acertou. A importação custou 1.698 euros (R$ 11.086). Nesse montante já está incluso o valor do seguro anual de 167 euros (R$ 1.090), praticamente 10 vezes mais barato do que pagávamos antes.

QUANTO GASTAMOS EM 2 ANOS?

Combustível: 3.667,77  euros (R$ 23.947,24) – média mensal de 152,82 euros (R$ 997,78).
É de longe a maior despesa para quem viaja o tempo todo.

Manutenção: 1834,57 euros (R$ 11.978,09) – média mensal de 76,44 euros (R$ 499,08).
O Rogerinho é muito antigo e já deu várias problemas. Até o hoje o maior que tivemos foi um semi-eixo quebrado que nos custou, numa tacada só, 600 euros (R$ 3.197).

Mercado: 3.466,78 euros (R$ 22.634,95) – média mensal de 144,55 euros (R$ 943,78).
No começo da viagem, ainda com muito medo de gastar todo nosso dinheiro, nós éramos muito pão duros e chegamos a gastar 110 euros (R$ 718) no mercado em um mês. Depois fomos aprendendo a aproveitar mais e relaxamos um pouco. Mesmo assim, nosso maior gasto em mercado em um mês até hoje foi de 277 euros (R$ 1.808).

Campings e estacionamentos: 239,64 euros (R$ 1.564,63) – média mensal de 9,98 euros (R$ 65,16).
Nós raramente dormimos em estacionamentos pagos, muito menos em campings. A Europa, principalmente a parte ocidental, possui ótima estrutura com estacionamentos gratuitos para motorhome, muitas vezes com água, esgoto e até eletricidade.

Pedágios: 98,56 euros (R$ 643,51) – média mensal de 4,10 euros (R$ 26,77).
Nós também quase nunca pagamos pedágio. Não compensa transitar pelas rodovias principais pois nosso motorhome anda em média a 70 km/h. Por isso, para nós vale mais a pena sempre dirigir pelas estradas locais com menor limite de velocidade e sem presença de pedágios. Claro, em alguns lugares as secundárias são tão ruins que optamos pelas rodovias. É o caso da Itália, algumas regiões de Portugal e países do Bálcãs.

Gás: 162,15 euros (R$ 1.058,69) – média mensal de 6,75 euros (R$ 44,07).
Lembra que eu disse que o Rogerinho é cheio de defeitos? Pois é, nossos aquecimentos central e de água não funcionam, por isso nós utilizamos o gás apenas para cozinhar e ligar a geladeira. Quando estamos com o carro ligado à eletricidade, nem para a geladeira é necessário. Por isso nosso gasto com gás acaba sendo bem pequeno.

Lavanderia: 141,69 euros (R$ 925,11) – média mensal de 5,90 euros (R$ 38,52).
Para quem mora num carro, não existe escapatória desse gasto. Porém, costuma ser fácil achar lavanderias self-service por toda a Europa, e com preços acessíveis.

Internet móvel: 339,80 euros (R$ 2.218,59) – média mensal de 14,50 euros (R$ 94,67).
Muitas vezes é um problema achar um plano com bom pacote de roaming e por isso, ao longo desses 2 anos, nós já tivemos diversos chips de internet.

Lazer: 2.218,04 euros (R$ 14.481,80) – média mensal de 92,41 euros (R$ 603,35).
Aqui estão inclusos gastos como os de comer fora, sair pra beber uma cerveja, passeios turísticos, idas ao cinema e etc.

Outros: 1.863,10 euros (R$ 12.164,37) – média mensal de 77,62 euros (R$ 506,79).
Aqui estão inclusas coisas que fogem dos gastos comuns do dia a dia, como utensílios de cozinha, roupa de cama, travesseiros, itens de decoração –todas coisas que tivemos que comprar quando nos mudamos. Também colocamos aqui gastos com pilhas, isqueiros, nosso ventilador, inseticida etc –coisas que compramos apenas de vez em quando.

Lucas, Eve e Rogerinho, o motorhome de 1992
Lucas, Eve e Rogerinho, o motorhome de 1992 (Arquivo pessoal)

QUANTO GANHAMOS EM 2 ANOS?
Aqui é importante notar que nós possuímos passaporte europeu, o que torna nossa vida MUITO mais fácil quando o assunto é achar trabalho.

Trabalhos em Dublin: 4.752 euros (R$ 31.026)
Em fevereiro de 2019 nós estávamos precisando desesperadamente de dinheiro e por isso resolvemos passar 40 dias trabalhando em Dublin. Como já havíamos morado lá por 2 anos, achar emprego não foi difícil e ainda economizamos na estadia ficando em casas de amigos.

Trabalhos sazonais na Holanda: 14.710 euros (R$ 96.043)
Nossa intenção era trabalhar apenas de março a julho aqui na Holanda esse ano, mas, claro, o coronavírus mudou tudo. Estamos na labuta até hoje e devemos ficar por aqui até dezembro. Desde então nós já ficamos em estufas de árvores e flores, na colheita do morango e agora estamos colhendo vegetais e legumes em uma fazendo Bio.

Freelas: 4.289 euros (R$ 28.003)
Nós somos fotógrafos e, sempre que dá, fazemos freelas por aí. A Eve já fez diversos ensaios femininos e de gestantes durante a viagem e mais recentemente temos fotografado hotéis, comidas e produtos.

Presets: 375 euros (R$ 2.448)
Nós criamos e vendemos presets para lightroom. O site de vendas está passando por uma reestruturação, mas quem tiver interesse pode entrar em contato conosco por DM no Instagram.

Testes clínicos: 2.120 euros (R$ 13.842)
Em Portugal nós encontramos a maneira mais curiosa de ganhar dinheiro até agora durante nossa viagem: testando remédios. A empresa é super profissional e tudo funciona direitinho, mas ainda assim é algo para que as pessoas ainda torcem o nariz.

A gente espera que esse resumão sirva pra ajudar as pessoas que querem fazer o mesmo um dia e para mostrar que viver na estrada não é nenhum bicho de sete cabeças. Se não servir pra isso, que sirva pelo menos pra matar a curiosidade de como é viver num motorhome.

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Aviso aos passageiros 1: O casal Alessandra e Leo, que também percorre o mundo de carro, contou ao blog por que adotou o acampamento como estilo de vida e de viagem

Aviso aos passageiros 2: João Paulo Mileski e Carina Furlanetto também compartilharam como foi a viagem deles pelo Brasil e América do Sul em um carro 1.0, até a pandemia atrapalhar os planos

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Viagem de ônibus entre Índia e Inglaterra vai durar 70 dias e passar por 18 países https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/09/09/viagem-de-onibus-entre-india-e-inglaterra-vai-durar-70-dias-e-passar-por-18-paises/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/09/09/viagem-de-onibus-entre-india-e-inglaterra-vai-durar-70-dias-e-passar-por-18-paises/#respond Wed, 09 Sep 2020 14:49:22 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/15996627105f58ea769bfc9_1599662710_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=502 Talvez você não tenha ouvido falar, mas a trilha hippie é bem famosa entre alguns viajantes. Entre os anos 1950 e 1970, várias pessoas foram da Europa Ocidental à Ásia, rememorando a antiga Rota da Seda. E a Índia era um ponto crucial no caminho.

Nos dias de hoje, uma empresa indiana quer fazer uma nova versão dessa jornada. A Adventures Overland promete a viagem de ônibus mais longa do mundo, entre Índia e Inglaterra, passando ao todo por 18 países e 20 mil km em 70 dias.

A primeira saída está prevista para maio de 2021 e a viagem de retorno, para agosto –tudo pode mudar de acordo com as restrições da pandemia do novo coronavírus.

O trajeto não será em linha reta: ao partir da Índia, o ônibus irá para o Leste Asiático antes de subir até a China, cruzar várias ex-repúblicas socialistas, passar por Rússia e percorrer a Europa Central até o Reino Unido.

Rota da viagem entre a Índia e a Inglaterra (Divulgação)

A passagem de ida custa 16 mil libras (equivalente a R$ 111 mil), e será dada preferência para quem se registrar para a jornada completa. Até o fim de agosto, cerca de 40 mil pessoas se inscreveram no site para uma das 20 vagas do ônibus.

O percurso é dividido em quatro trechos:

Índia a Tailândia (11 noites e 12 dias)
China (15 noites e 16 dias)
Quirguistão a Rússia (21 noites e 22 dias)
Rússia a Reino Unido (15 noites e 16 dias)

O automóvel tem Wi-Fi, tomada e armário privativo, entre outras opções comuns a ônibus de viagem. A empresa promete hospedagem, alimentação, guias para todos os países, entrada em diferentes pontos turísticos e lanches durante a jornada. Entretanto, o valor não cobre bebidas alcoólicas e voos nacionais e internacionais.

Como a ideia é percorrer centenas de quilômetros por dia e cruzar diversos países, não é necessário explicar qual é o público-alvo da empresa, certo? Eles avisam que atravessar fronteiras é um processo que pode ser muito lento e que alguns hotéis, como no Cazaquistão e no Laos, a acomodação pode ser em pequenas hospedagens. Acordar cedo e ter planos frustrados também será usual.

Sanjay Madan e Tushar Agarwal, a dupla de indianos que criou a Adventures Overland em 2012, já organizaram outras expedições do tipo, mas os viajantes faziam o percurso em seus próprios veículos.

“A melhor época para fazer essa jornada é entre abril e junho, porque é quando o tempo é favorável para viajar da Índia até Mianmar e para cruzar as altas montanhas da China e do Quirguistão”, falou Agarwal à CNN Travel. “É uma jornada de mudança de vida, algo de que as pessoas sempre se lembrarão e amarão isso para sempre.”

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Em tempos de coronavírus não podemos viajar, e muitas vezes nem sair de casa. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Aviso aos passageiros 1: O jornalista Rafael Balago, da editoria de Mundo e responsável pelo blog Avenidas, da Folha, já contou aqui sobre sua viagem de 20 horas de ônibus pela Europa

Aviso aos passageiros 2: O policial aposentado Samuel do Lago também relatou como foi sua viagem de ônibus pela América Latina com mochila nas costas

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Jornalista viaja sem rumo por praias e cidades palco do Dia D, na França https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/07/23/jornalista-viaja-sem-rumo-por-praias-e-cidades-palco-do-dia-d-na-franca/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/07/23/jornalista-viaja-sem-rumo-por-praias-e-cidades-palco-do-dia-d-na-franca/#respond Thu, 23 Jul 2020 18:16:12 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2020/07/15955304505f19dcd214d9d_1595530450_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=438 Muitas pessoas gostam de planejar uma viagem nos mínimos detalhes, como em qual hotel/hostel ficará, quais atrações serão visitadas a cada dia e quais serão os pratos/bebidas de cada refeição. Há também aqueles que deixam a vida levar e vão a um local sem nenhuma pesquisa prévia.

O jornalista e ator Francisco Zaiden adota o segundo estilo, mas, acompanhado dos pais, organizou o roteiro por Paris para ver as atrações típicas da cidade.

Ele aproveitou uma brecha na viagem e convenceu os familiares a irem ver praias e cidades palco do Dia D —em 6 de junho de 1944, tropas norte-americanas desembarcaram na Normandia e travaram grandes batalhas contra os alemães, que ocupavam a França.

Em tempos de coronavírus não podemos viajar, e muitas vezes nem sair de casa. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Um dos maiores prazeres que tenho quando viajo é poder ir aonde eu quiser quando dá-me a telha. Muitas das vezes ando por uma cidade ou uma estrada sem um roteiro fixo. Sempre tenho uma ideia de aonde ir, mas como chegar a determinado destino é outra coisa. Nem sempre é a melhor maneira de viajar por questões práticas, pois podemos ter gastos ou contratempos outros —como ficar sem combustível por achar que teria um posto que nunca existiu. Mas, às vezes, temos surpresas e experiências incríveis. Este roteiro aconteceu assim.

Diferentemente do normal, desta vez não estava sozinho: meus pais me acompanhavam. Estávamos na França para uma semana de viagem turística típica: torre Eiffel, passeio noturno pelo Sena em um clássico bateau mouche, Palácio de Versailles com guia, Louvre, Vale do Loire, etc. Era nossa primeira vez no país. Eu fui por conta de um intercâmbio, e meus pais aproveitaram a oportunidade. Meu irmão, que já estivera na França, recomendou a ida ao Monte Saint-Michel, no extremo oeste da Normandia, a cerca de 350 km de Paris. Fãs de automobilismo, meu pai e eu planejamos viajar de carro via Le Mans, sede da mítica 24 Horas de Le Mans.

O roteiro era este: sairíamos logo cedo da capital francesa, via Le Mans, para passar a tarde na belíssima e mágica ilhota que abriga a abadia e santuário em homenagem ao arcanjo São Miguel. Depois iríamos a Caen para dormir e seguir viagem de volta a Paris pela autoroute A13, com uma parada em Rouen, a linda cidade onde Joana D’Arc morreu queimada no século 15. Fizemos tudo como planejado e eu poderia escrever um texto só sobre esse roteiro. Entretanto, este é sobre um desvio de rota que fizemos em uma bifurcação na saída de Caen.

Caen é uma bela cidade, a cerca de 230 km de Paris por carro, que foi destruída na Segunda Guerra Mundial. Após a bem sucedida invasão dos Aliados no dia 6 de junho de 1944 no litoral da Normandia, Caen sediou relevantes batalhas contra a Alemanha nazista. Vitoriosos, os Aliados utilizaram o local como uma importante rota até a capital. As cicatrizes são possíveis de ver, até hoje, nas marcas de balas nas paredes e muros de prédios em ruínas no centro da cidade.

Tais cicatrizes me fizeram sugerir um desvio de última hora aos meus pais. Quando saíamos de Caen sentido Rouen levantei a ideia de que, ao invés de irmos direto, poderíamos ir antes à costa da Normandia, nas praias do Dia D. Eles se interessaram. Parei o carro no acostamento de uma estrada na saída da cidade e fui direto ao Google Maps. Não era longe: de Caen a Luc-sur-Mer, primeira cidade que apareceu no app, seriam cerca de 17 km. Era dia 18 de novembro de 2017 e, apesar do frio de outono francês, fazia sol e meus pais apoiaram a ideia. Colocamos o nome da cidade no GPS do carro alugado e alteramos a rota. Seria cansativo, mas por que não?

Logo em Luc-sur-Mer, pequena cidade da praia batizada pelos aliados como Sword Beach, nos deparamos com um tanque norte-americano restaurado em uma praça. Era um aviso do que encontraríamos ao longo da costa. Nós saímos cedo de Caen, o que nos deu tempo suficiente para ver as cidades e praias com calma. Mas não o suficiente para entrar nos museus dedicados ao Dia D. E são muitos. Qualquer vila e cidadela na costa possui um edifício ou um memorial sobre a data.

A única exceção foi o Cemitério e Memorial Americano em Colleville-sur-Mer, cidade da famosa e triste praia de Omaha. Muitos já viram o local no filme “O Resgate do Soldado Ryan”, de Steven Spielberg. As primeiras cenas —onde um veterano da guerra procura por uma lápide específica— foram gravadas ali. Esse lugar ficou em minha mente como o único que eu sabia que existia, sem pesquisar na internet, e o único que era uma exigência minha visitar. Mas voltarei ao Memorial nos próximos parágrafos.

Por enquanto quero registrar o que foi visto ao longo dos 42 km de costa percorridos em quase 7 horas, se não me falha a memória. Como disse há dois parágrafos, toda e qualquer cidade da costa possui um museu ou um memorial dedicado ao Dia D. Além disso, há uma quantidade enorme de restos e marcas da guerra. Afinal, é importante entender que as próprias cidades e praias tornaram-se um museu a céu aberto.

Como em Caen, é possível encontrar marcas de balas em paredes e prédios e casas em ruínas. Mas, acima de tudo, tanques e outros veículos de guerra, metralhadoras e bunkers —muitos bunkers— durante todo o percurso. Não há uma cidade que não tenha em suas praias bandeiras dos países aliados, placas em memórias dos mortos e estátuas e monumentos dedicados à lembrança da guerra.+++

Em Courseulles-sur-Mer, cidade da batizada Juno Beach, pude fotografar um bunker alemão na praia com o que me pareceu uma metralhadora restaurada. Na mesma cidade, ao longo de algumas ruas, um tanque americano bem preservado serve como “decoração” de uma praça. O mesmo ocorre em outras cidades, como em Asnelles, por exemplo. Em Longues-sur-Mer, a mais preservada rede de bunkers alemães; já em Saint-Côme-de-Fresné, um canhão de artilharia antiaérea repousa em um estacionamento público.

Exemplos como estes são muitos. Como não preparei um roteiro de viagem, fui colecionando fotos aleatórias, muitas delas sem registro preciso de onde foram tiradas, como o caso dos veículos anfíbios enferrujados nas areias de uma praia na qual não guardei o nome. Mas, no fim, pouco importam os locais exatos, a quantidade de artefatos do Dia D é imensa e qualquer um que realizar tal viagem também sem roteiro os encontrará com muita facilidade. Para os precavidos, há muita informação na internet e roteiros prontos em empresas turísticas especializadas que, espero, sobrevivam ao pós-pandemia.

O registro mais importante desta viagem foram as sensações. A mim e aos meus pais ficou guardado em nossa memória a percepção do que era estar naquele palco que em 2017 estava em paz, mas que, décadas antes, teve seu mar tingido em cor vermelha. Foi impactante estar lá. Especialmente no Cemitério e Memorial Americano em Colleville-sur-Mer, citado alguns parágrafos atrás.

Quando lá estivemos a entrada era gratuita. Do próprio memorial podemos avistar a praia de Omaha, palco da batalha mais sangrenta, localizada já na cidade de Saint-Laurent-sur-Mer. Choramos ao ver o mar de cruzes e estrelas de David com os nomes dos soldados mortos na praia. São muitos, incontáveis para quem lá está —9388 de acordo com o Wikipedia. Dentro do memorial há também capelas e monumentos em homenagem aos mortos. Foi uma experiência de fato única percorrer os campos verdes e bonitos repletos de nomes de jovens, boa parte mais jovens que eu, que morreram naquelas praias.

Foi nossa última parada. Havia ainda outro importante ponto do Dia D na praia de Utah em Sainte-Marie-du-Mont, mas estávamos a ficar curtos de tempo pois ainda haveria 280 km para voltar a Paris. No retorno, ficamos em silêncio no carro por um tempo porque era a única coisa possível de se fazer depois de uma manhã e parte da tarde dedicada à memória de tão brutal momento da história da humanidade.

Eu pensei muito nos idosos que vi em todas as cidades. Eram sobreviventes ou filhos de sobreviventes daqueles tempos. O que eles pensam? Como eles vêem a vida e o mundo depois de suas cidades e familiares vivenciarem a guerra em seus dias mais dramáticos? Como seria crescer em uma cidade onde há armas, veículos e bunkers pelas ruas?

Passamos o fim da tarde e parte da noite em Rouen, uma encantadora cidade. Vimos a igreja dedicada a Joana D’Arc. Foi especial. Não mais que a inesperada rota pela costa do Dia D. Uma viagem que definitivamente todas as pessoas deveriam fazer.

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Aviso aos passageiros 1: O repórter Rafael Balago, da editoria de Mundo e responsável pelo blog Avenidas, da Folha, percorreu, de ônibus, o trajeto entre A Coruña, na Espanha, e Paris. Ele nos contou como foi essa viagem de 20 horas

Aviso aos passageiros 2: O professor de alemão e tradutor Guilherme Spinelli viajou de bicicleta pela Alemanha e escreveu como foi a pedalada

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Viajante é surpreendida pela quantidade de fumantes em Portugal https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/07/03/viajante-e-surpreendida-pela-quantidade-de-fumantes-em-portugal/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/07/03/viajante-e-surpreendida-pela-quantidade-de-fumantes-em-portugal/#respond Fri, 03 Jul 2020 18:20:33 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2020/07/Estacao-Trem-em-Aveiro.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=415 Quando a escritora e consultora especialista em viagem e intercâmbio Carol Santin (@carol_santin) organizou sua visita a Portugal, ela se preparou para a gastronomia local, as ladeiras e o frio.

O que ela não esperava era encontrar a grande quantidade de fumantes no país de Camões. Era gente com cigarro em tudo que é canto.

Sua percepção não é infundada. De acordo com a OMS, em 2018, 1 em cada 5 portugueses (20%) acima dos 15 anos fumava. E ainda estava abaixo da média europeia, que era de 28%.

Abaixo, Carol conta como foi a experiência de ser uma não-fumante em meio a tanta gente com seu cigarro aceso.

Em tempos de coronavírus não podemos viajar, e muitas vezes nem sair de casa. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Quando disse que iria passar as férias em Portugal (muito meses antes da pandemia atual) me avisaram das ladeiras. Eu sabia que haveria uma escada em cada esquina, que a primavera era gelada e era bom não esquecer de levar um cachecol. Falaram-me das comidas que eu tinha que provar: ovos moles, pastel de belém, francesinha, bacalhau, arroz de pato e tantos outros. Um amigo entendido do mundo dos vinhos me passou uma lista com nomes e endereços de onde comprar o que considero os melhores souvenires de uma viagem: vinhos. Os sites especializados em viagem me deram roteiros do que fazer nas cidades e como me locomover.

Embarquei no voo lotado da TAP numa quinta-feira de sol acreditando que estava preparada para tudo: passeios turísticos, trajeto metrô-hotel e minha única dúvida na verdade era como conseguiria provar tantas delícias da culinária portuguesa.

Mas ninguém me alertou sobre os cigarros. Ninguém me preparou para nuvens de fumaça que cruzariam meu caminho na rua todo dia. Os portugueses fumam muito! Em Lisboa, em Cascais, em Aveiro, no Porto. Não é um hábito de uma cidade apenas, não é um cigarrinho no final do expediente. Acontecia de manhã a caminho da padaria e meu nariz era invadido pela fumaça do cigarro. Era de tarde na saída do metrô quando eu via que acender um cigarro era a primeira coisa que as pessoas faziam. A noite a neblina da fumaça era constante do lado de fora dos restaurantes e dos bares.

Para um viajante fumante, um país cigarro friendly. Para os não-fumantes como eu, a pergunta: é sério isso, Portugal? Logo vocês que me receberam tão bem, do céu azul às suas casas coloridas com varandas de flores e seu povo alegre?

Não entendo como os fumantes convivem com seu cheiro que inclusive se instala definitivamente nas roupas, nos cabelos, na casa. Um maço de cigarros em Portugal custa a fortuna de 5 euros. Acreditem em mim, 5 euros é muito dinheiro, especialmente para gastar em algo que aumenta as chances de doenças e mancha os dentes.

Alguém, por favor, avise aos fumantes que o cigarro saiu de moda desde que inventaram a TV a cores. Nos filmes, galãs com cigarro não seduzem mais ninguém. Mas em Portugal, pela quantidade de adolescentes que vi com cigarro na mão, a realidade deve ser bem diferente.

Quando fui a Paris a trabalho, sabendo da minha antipatia a cigarros uma amiga que já morou na cidade me alertou: se prepare, pois os franceses fumam muito. Não sei se talvez por ter imaginado um cenário catastrófico de quatro fumantes para cada cinco pessoas, chegando lá não tive uma impressão tão ruim. Mas o hábito de fumar do povo português me pegou de surpresa e me decepcionou.

Mas nem tudo está perdido, por isso estou aqui para ajudar. Se você também é fumante como muitos portugueses e adora acender um cigarrinho nas suas viagens, veja a seguir algumas dicas para usar melhor os seus 5 euros na sua próxima viagem à terra de Camões.

Essa é uma pequena lista do que o país oferece.

  • Com 5 euros, você pode subir os 293 degraus da Igreja dos Clérigos no Porto. No final talvez não sinta mais os seus joelhos, mas a vista da cidade compensará cada degrau.
  • Com 5 euros, você compra um delicioso bolinho de bacalhau e mais um doce de ovos e ainda tem troco!
  • Com 5 euros, você compra um garrafa de vinho.
  • Com 5 euros, você compra dois bilhetes de metrô para passear domingo no Parque Eduardo Sétimo em Lisboa (e ainda tem troco).
  • Com 5 euros, você pode tomar um delicioso gelato (e ainda tem troco).
  • Com 5 euros, você paga o comboio para Cascais e pode passar uma tarde jogado na areia da praia.

Em um país que oferece tantas opções de lazer e de alimentação usando os mesmos 5 euros de um maço de cigarros e ainda te dá troco, só não para de fumar quem não quer. E se o pensamento lógico não for suficiente para os fumantes desse mundo, tudo bem. Os teimosos podem continuar expelindo fumaça quando viajam, eu continuarei atravessando a rua para ficar bem longe deles.

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Aviso aos passageiros 1: Foi no Porto que o casal Caio Giachetti e Carol Dias teve a ideia de vender brigadeiros em uma caixa de ferramentas para financiar a viagem

Aviso aos passageiros 2: Se você se interessa por Portugal, a minha colega Giuliana Miranda mantém um blog na Folha sobre o país, o Ora Pois

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Em cicloviagem pela Alemanha, professor vê castelos, campos e lagos https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/06/24/em-cicloviagem-pela-alemanha-professor-ve-castelos-campos-e-lagos/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/06/24/em-cicloviagem-pela-alemanha-professor-ve-castelos-campos-e-lagos/#respond Wed, 24 Jun 2020 18:50:28 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2020/06/xxx-1.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=408 Os adeptos da cicloviagem desse mundão já proporcionaram aqui relatos de expedições pela Islândia, Reino UnidoAmérica Latina e interior do Brasil.

Agora, é a vez do professor de alemão e tradutor Guilherme Spinelli falar sobre sua pedalada pela Alemanha. Logo antes de começar o semestre letivo, ele teve um período livre e organizou uma expedição de 1.200 km em 24 dias.

No caminho, visitou ex-alunos, se hospedou em casa de desconhecidos, atravessou a fronteira com a Suíça e vivenciou inúmeras experiências. Tudo isso acompanhado de uma bike que comprou pela internet, só olhando as fotos.

Em tempos de coronavírus não podemos viajar, e muitas vezes nem sair de casa. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Meu sonho era viajar de bicicleta de Blumenau (SC), cidade onde morava, ao Chile. Já havia começado a planejar a rota, comprar o equipamento necessário e procurar alguns parceiros para a viagem, mas a vida tomou outro rumo e vim estudar um semestre em Bremen, na Alemanha.

Como teria um pouco mais de um mês de férias antes das aulas começarem, decidi fazer um tour por aqui. Até porque, sendo professor de alemão, tinha alguns alunos que agora estavam espalhados pelo país estudando ou trabalhando e gostaria de visitá-los.

Procurei intensivamente na internet bicicletas usadas até que achei uma ideal para minha viagem e para o meu tamanho, e por um valor bem em conta. O problema era que ela estava a mais de 800 km de mim, em uma cidadezinha no sul da Alemanha, perto do Bodensee (lago Constance).

Decidi então mudar o plano, que originalmente era ir em direção ao sul, e começar lá e depois vir ao norte, onde moro. Era um certo risco planejar o começo da viagem com uma bike que eu só tinha visto por fotos, mas combinei um horário com o vendedor, empacotei as coisas nos alforges de bicicleta, comprei uma passagem de trem noturna —foram aproximadamente 12 horas— e fui!

Chegando lá, tudo correu melhor que a encomenda: a bike estava em estado perfeito, ajustada e, o mais importante, adequada ao meu tamanho! Parti dali rumo ao meu primeiro destino: Rothenburg ob der Tauber. A cidade fica na Baviera e é atração turística típica. Eu, particularmente, estava indo visitar um amigo.

A distância era de 250 km entre os locais e eu não estava muito convencido de que ia completar o percurso todo em um dia. O plano era pedalar o quanto desse, pra ver aonde eu chegava.

O dia estava lindo, e andar pelas ciclovias em meio aos campos de canola, bem amarelos, é uma sensação incrível. A liberdade de estar sozinho, apenas a brisa, o verde e amarelo dos campos e azul do céu… A paisagem montanhosa do sul da Alemanha é impagável, com vários pontos com vista para cidades pequenas ou natureza.

As ciclovias também são ótimas, se conectam pelo país inteiro e na maior parte do tempo são asfaltadas. Se tive que dividir a pista com os carros por 30 km neste mês de viagem foi muito, e quando você é ultrapassado, os carros geralmente vão pela pista do lado.

No fim do primeiro dia, quando começava a escurecer, eu tinha pedalado 134 km e tinha chegado a Ulm. Na estação de trem de lá, tentei comprar um tíquete para o resto do trecho, mas nem todos os vagões aceitam bicicletas e o próximo deste tipo só partiria no dia seguinte.

Liguei para meu amigo de Rothenburg, avisei que não teria como chegar naquela noite e procurei um Jugendherberge (albergue da juventude). No outro dia de manhã aproveitei tudo que podia do bufê de café da manhã e peguei o trem para Rothenburg ob der Tauber. Lá passei uma boa semana.

A cidade é super simpática, rodeada por muros imponentes e com turistas completando a paisagem. Meu prazer secreto é andar à noite por lugares extremamente turísticos como esse, quando estão desertos e silenciosos. É como se fosse um local completamente novo!

Além disso, em Rothenburg é possível fazer a caminhada completa ao redor da cidade em cima do muro ou ao redor dele —ambas valem muito a pena.

De lá parti para Stuttgart, a capital de Baden-Württemberg, famosa sede da Mercedes e Porsche. Foi durante toda a viagem o maior trecho percorrido em um dia (169 km), fisicamente bastante desgastante. O relevo também faz uma grande diferença: foram quase 2.000 metros de altimetria.

No caminho passei por Schwäbisch Hall, uma cidade tipo cartão-postal, com várias casas enxaimel construídas diretamente ao lado do rio, e fiz um lanche com uma amiga que estava em um curso de alemão.

Segui meu caminho, subindo e descendo morros e sendo constantemente ultrapassado nas subidas por casais de idade com suas E-bikes. Depois de toda a quilometragem do dia, fui calorosamente recebido por um aluno com um delicioso risoto, apesar da minha indelicadeza de chegar pouco depois da meia-noite à sua casa.

O dia seguinte foi para dormir bastante, comer bem e passear pelo belo parque Killesberg. A estação deixava o parque florido com as mais diversas cores e plantas, a vista da torre, bem no meio do parque, também valeu cada quilômetro pedalado até lá. Outra boa surpresa foi que essa era a época da colheita de uvas, então as parreiras que se podem ver ao redor da cidade estavam completamente carregadas.

Meu objetivo era chegar a Zurique, onde queria visitar uma aluna e grande amiga, mas eu não teria condições de cobrir a distância de Stuttgart à capital suíça em um dia. Procurei, então, por um anfitrião via Couchsurfing e encontrei uma divertida família de origem russa em Balingen, bem no meio do caminho.

O caminho até lá foi provavelmente o trajeto mais interessante de todos, passando pelo Schloss Solitude (castelo Solitude), pelo Radschnellweg (via rápida para bicicletas) e por um parque feito ao lado de uma base militar americana, de onde se ouvia os treinos de tiro ao caminhar e pedalar —até haviam placas dizendo que, se você se mantivesse no caminho, o parque era completamente seguro, mas isso não chegou realmente a me tranquilizar.

Saindo dali, logo me deparo com uma bela descida, suave e talvez merecida, de mais de um quilômetro, pra relaxar e aproveitar a paisagem. Ao fim da descida, outra surpresa maravilhosa: o mosteiro de Bebenhausen, que posso recomendar para qualquer viajante. Um lugar tranquilo, silencioso, com pequenas hortas e uma arquitetura rústica belíssima.

A próxima parada foi em Tübingen, tanto para comer o sorvete do dia, como para ver a região do ponto mais alto da cidade, diretamente no centro. Pouco antes de Balingen, avisto de longe um castelo sobre o pico de uma colina, que vai aos pouco ficando maior. Era o Burg Hohenzollern —melhor paisagem eu não podia esperar.

Logo o castelo ficou para trás e cheguei ao meu destino. Em Balingen, pude descansar por um dia, me divertir brincando com as crianças e fazer uma trilha leve para aproveitar a natureza.

Finalmente chegou o momento em que iria alcançar a Suíça! Cruzar a fronteira de bicicleta era uma sensação inédita pra mim. Saí pouco antes das 8 horas e o frio de 7 ºC me obrigou a usar jaqueta por boa parte da manhã.

Um dos pontos altos do trecho foi a pausa em Donaueschingen, que tinha uma pacífica e simpática praça no centro da cidade. De frente para a praça fica a prefeitura, azul e em estilo bem marcante, e uma Kombi, restaurada e toda enfeitada, estava exposta na frente do prédio e alguns poucos moradores conversavam sentados nos bancos. Dali em diante o trajeto foi em grande parte cruzando fazendas e ligando pequenos vilarejos, com morros para subir e descer, e  vacas mugindo com sinos pendurados no pescoço.

A fronteira da Alemanha com a Suíça é no mínimo curiosa. Embora que para a travessia de carro exista um certo controle, havia pontos onde um riacho marcava a divisa e bastava atravessar uma pequena ponte de madeira e um bosque para se estar no outro país.

Eu segui a ciclovia com sinalização até passar pela fronteira. Era uma ponte com aduana em ambos os lados —uma alemã e outra suíça. Passei cuidadosamente, olhei por toda a parte, mas não vi ninguém se importando com as bicicletas que cruzavam. Pronto! Eu estava na Suíça! Como que em um passe de mágica, tudo toma outra cara.

O idioma soa bastante diferente, e os cumprimentos “servus” dão lugar a “grüezi”, a sinalização muda de cor e as placas dos carros têm outro formato. Pedalo ao pôr do sol até Zurique e finalmente alcanço meu destino, onde me espera uma ducha quente e Röstis (batata ralada frita) com linguiça preparados pelos meus anfitriões.

A Suíça é tão limpa como indescritível. A capital conta com o lago de Zurique, que tem uma belíssima paisagem, e subir na Grossmünster é uma atração que enche os olhos. Em um dos dias seguintes caminhamos pela região de esqui Hoch-Ybrig, e as montanhas são inimaginavelmente altas. Já no bondinho os carros no estacionamento vão ficando minúsculos, e da primeira parada pega-se mais um bondinho para continuar subindo até o cume da montanha.

Outro passeio de arregalar os olhos é ver a Rheinfall (queda de água do Reno). A estrutura permite que o turbilhão de água seja visto de diferentes pontos e, para quem quiser, existe a possibilidade de fazer um passeio de barco e chegar bem perto da queda de água —pelo menos perto o suficiente pra ninguém ficar seco.

Em outra ocasião fomos passar o dia em Lucerna, cujo cartão postal conta com a ponte de madeira mais antiga da Europa, a Kapellbrücke. A estadia chegou então ao fim e a viagem de retorno rumo ao norte começava.

Passei novamente em Balingen, onde dessa vez fiz trilhas para ver o castelo Hohenzollern de diferentes ângulos e segui novamente a Stuttgart. A maravilhosa descida antes do mosteiro de Bebenhausen se tornou agora uma bela subida depois do mosteiro.

Além disso, no meio da subida fui pego por uma boa chuva de verão. Bem na minha frente uma senhora simplesmente tirou sua capa de chuva da mochila, vestiu-a e seguiu seu caminho. Eu, menos preparado, tive que esperar 15 minutos embaixo de uma árvore, me protegendo como podia da água que caía.

Na minha recente estadia em Stuttgart havia conhecido os colegas de apartamento do meu anfitrião, um chinês e um taiwanês, que falaram em fazer um hot-pot (prato típico chinês e taiwanês) caso eu voltasse lá. Foi uma noite divertida, experimentando diferentes tipos de temperos apimentados e soja nas mais variadas formas.

Desta vez também tive tempo de pedalar com meu anfitrião, costeando os vinhedos locais. Fomos até Esslingen, uma cidade que garante umas boas fotos, com seus cantos floridos, pontes e belas casas enxaimel.

De lá parti para Bruchsal, minha última parada em Baden-Württemberg antes de chegar ao estado de Hessen. Lá, eu ficaria alguns dias na casa de conhecidos da família. A época também era de colheita de abóboras e neste trecho era possível ver trabalhadores em muitas das plantações, algumas destas expondo orgulhosas à venda os diversos tipos do vegetal. De fato, existem até espécies decorativas, que não são próprias para o consumo.

O sistema de venda é por vezes na base da confiança, há um cofre no qual se inserem as moedas e os preços estão indicados para cada tipo de abóbora. Além disso, a caminho de Bruchsal passei por parte da Fachwerkstraße (estrada do enxaimel), uma rota entre vários vilarejos repletos de casas em estilo enxaimel.

O próximo trecho foi até Darmstadt. A diferença de relevo ao se chegar em Hessen é nítida e os morros começam a ficar cada vez mais raros e menos íngremes, o que veio muito bem a calhar, porque meu corpo começava a dar cada vez mais sinais de cansaço.

O caminho seguia por muitos campos de abóbora e canola. A pausa para o almoço fiz em Mannheim, com vista para a Wasserturm (torre d’água), que fica no centro da cidade e é um dos símbolos locais.

Até chegar a Darmstadt o tempo tinha se mantido seco (à exceção do pouco de chuva perto de Stuttgart), mas agora, faltando 10 km para chegar ao meu destino, começou uma leve garoa, que aos poucos engrossou. Até fiz uma pequena pausa, mas decidi que, se continuasse pedalando, quem sabe o pior da chuva não me pegaria. Não foi o caso.

Faltando 5 km para chegar eu parei mais uma vez e conferi a previsão do tempo: seriam mais 2 h de pancadas de chuva. Aí foi assim mesmo, debaixo de um aguaceiro, que pedalei os quilômetros restantes até meu anfitrião, um conhecido de longa data.

Chegando lá deu pra ver que a jaqueta impermeável não era tão impermeável assim e um dos alforges também cedeu em um ponto. Consegui achar um par de roupas secas e depois de uma boa ducha quente fomos comer um Rollo (semelhante a um wrap) e tomar cerveja no bar mais próximo.

Embora a chuva não tenha facilitado dar uma olhada no local ao chegar, fiquei impressionado com a universidade, que mistura prédios clássicos com outros bastante modernos.

Graças ao aquecedor do apartamento, no dia seguinte minhas roupas estavam praticamente secas e pude seguir viagem a Gießen, mas não antes sem passar pelo bem cuidado Prinz-Georg-Garten (Jardim Príncipe Georg) e pela Waldspirale, um condomínio famoso por seu estilo extravagante, desenhado pelo austríaco Hundertwasser.

O caminho para Gießen passava por Frankfurt, onde fiz uma boa pausa à beira do rio Main antes de ir para o centro dar uma conferida na Altstadt (cidade antiga). Nesse mesmo dia ainda encontrei um outro trecho de via rápida para bicicletas e fiquei fascinado ao ver um posto de auto-atendimento para reparo de bikes e bomba de encher pneu!

Em Gießen aproveitei para descansar, afinal acabei pedalando dois dias seguidos. Lá acontecia a Herbstmesse (feira de outono), um programa típico alemão, que é realizado em várias cidades, com diferentes nomes e em diferentes datas. A princípio são atrações como carrosséis, montanhas-russas, estandes de tiro e carrinhos de bate-bate, tudo isso com pausas para batata frita e salsicha em suas variadas formas.

A viagem seguiu para seu ponto final em Frankenberg, um pequeno município em Hessen. Lá mora a família de minha namorada e eu iria conhecê-los, encerrando ali minha viagem e voltando para casa de trem.

Um dos pontos altos deste último trecho foi passar por Marburg, onde a cidade antiga fica em uma colina e se pode ver grande parte dos prédios ao se passar pela margem oposta do rio. A Elisabethkirche (Igreja de Santa Isabel) salta aos olhos e marca a paisagem.

E assim chegou ao fim minha rota. Foram 24 dias de viagem, dos quais pedalando em 11, totalizando pouco mais de 1.200 km. Comigo levo a gratidão de ter sido hospedado por pessoas tão calorosas, as belas imagens da Suíça e do sul alemão —às vezes em foto, às vezes apenas em minha memória— e a vontade de organizar a próxima aventura.

*

Aviso aos passageiros 1: Confira algumas dicas para viajar de bicicleta e não cair em roubadas

Aviso aos passageiros 2: Está com saudades de viajar? Que tal ver um road movie que acompanha dois sessentões e uma jovem cruzando o Saara? Falo mais sobre o filme “4L” aqui

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Ciclista encontra tempestade de areia, rios e cachoeiras em viagem pela Islândia https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/05/16/ciclista-encontra-tempestade-de-areia-rios-e-cachoeiras-em-viagem-pela-islandia/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/05/16/ciclista-encontra-tempestade-de-areia-rios-e-cachoeiras-em-viagem-pela-islandia/#respond Sat, 16 May 2020 13:15:18 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2020/05/15895783405ebf0a642fdca_1589578340_3x2_md.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=374 A Cândida Brenner de Azevedo já contou aqui no blog como foi sua primeira viagem de bicicleta, quando pedalou por mais de 30 dias pelo Reino Unido.

Agora, ela vem relatar a sua experiência na Islândia, para onde viajou em junho de 2019.

Durante sua pedalada de 30 dias, Cândida enfrentou uma tempestade de areia, passou por derramamentos de lava, por rios de água turquesa e muitas cachoeiras.

Eu sei que em tempos de coronavírus não podemos viajar, e muitas vezes nem sair de casa. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

*

Quando a Islândia surgiu como destino dos sonhos, comecei a pesquisar sobre a possibilidade de percorrê-la de bicicleta. Os relatos não eram animadores. Ao contrário, apontavam que realizar o sonho de conhecê-la de bicicleta ia ser um desafio e tanto.

Isso fez com que “aquela força estranha” que nasce dentro de mim nas cicloviagens aflorasse e tornasse a sua realização uma “obsessão”. Li muito e a preocupação maior para concretizar a viagem se tornou o clima.

Na Islândia os ventos são fortes, mudam de direção a todo o momento, geram tempestades de areia e mudança repentina no clima. Checar a previsão do tempo e velocidade do vento é algo corriqueiro para o islandês.

Viajar de bicicleta com esse clima se torna mais complicado na Islândia, devido à baixa densidade demográfica. A ilha é do tamanha do estado de Santa Catarina e tem em torno de 360.000 habitantes, sendo que um terço mora na capital, Reykjavik. Dessa forma, é muito difícil conseguir um local para se proteger e esperar a fúria do tempo passar.

Mesmo com tudo que li, resolvi encarar, sozinha, a ilha de gelo.

Chegou o dia de partir, o coração não cabia no peito de tanta ansiedade, vontade de começar logo a viagem, de viver a Islândia.

Quando cheguei em Keflavik, o primeiro contato já foi surpreendente: no aeroporto tem um bicicletário, com lugar para montar e desmontar as bicicletas, com ferramentas e tudo. Esse cuidado e respeito com as pessoas, sem palavras, apenas com atitudes, me encantou.

Equipamentos arrumados, sono em dia, hora de pegar a estrada. Coração acelerado de felicidade, medo, ansiedade, tudo junto e misturado. O início do pedal foi tenso, por uma rodovia bem movimentada, vento forte e o frio que congelava.

Foi bem desanimador e me fez pensar: “sua louca, o que você está fazendo aqui?” Sempre no início das aventuras eu me boicoto, já estou acostumada.

Logo saí da rodovia movimentada e tive contato com a Islândia dos meus sonhos. Um encantamento tomou conta de mim. Passei a pedalar numa estrada sem movimento, com lava de vulcão derramada por toda a parte, coberta com um musgo delicado e ao fundo fumaça, que devia ser de algum vulcão, ou da produção de energia geotérmica.

Entrei num transe, tudo que eu tinha planejado começava a ser vivido, eu estava pedalando na Islândia, sozinha, a bike e eu, e havia um mundo a ser desbravado.

É difícil descrever a beleza da paisagem da Islândia, é diferente do que estamos acostumados, tudo é negro, devido à formação vulcânica da ilha. A paisagem é vasta, grande, sem muita vida, mas ao mesmo tempo fascinante.

No caminho, passei por uma das atrações mais visitadas da ilha, a lagoa Azul, que tem sua água aquecida pela atividade vulcânica, que também lhe fornece uma tonalidade azulada.

Durante a viagem, a ciclista passou por praias, cachoeiras e casas dentro de rochas (Arquivo pessoal)

Na hora de acampar, procurava pela cidade que tinha planejado terminar o pedal, mas não via nada, nenhum sinal de cidade ou construção, apenas a natureza bruta e linda da Islândia me cercava. Já estava preocupada quando o “santo dos aventureiros” fez com que encontrasse um rapaz pescando.

Parei para falar com ele e, para minha sorte, ele era islandês (como a população da Islândia é muito pequena, é difícil encontrá-los). O islandês disse que eu estava muito perto da cidade, mas que eu não a avistaria da rodovia, já que o padrão das cidades da Islândia era diferente do resto do mundo.

Selvogur era uma cidade com apenas 50 moradores, composta por poucas casas, na beira do mar. Nesse dia, comecei a entender a Islândia, suas peculiaridades e a me apaixonar por ela.

No decorrer dos dias, pedalei por rodovias repletas de flores roxas, na beira do mar, por derramamentos de lava, por rios de água turquesa, passei por muitas cachoeiras e avistei muitos pássaros (era época de reprodução). Também tive contato com os cavalos islandeses, que são menores e mais peludos que os nossos e têm crinas longas, lisas, que ganham vida própria com o vento.

Na Islândia, as atrações turísticas são gratuitas e abertas 24 horas por dia. Não há guarita ou controle de entrada e saída.

Passei por casas construídas abaixo do solo, com grama no telhado e pelo vulcão Eyjafjallajokull, que em 2010 entrou em erupção e fechou os aeroportos da Europa por vários dias. E me surpreendi ao encontrar um grupo muito grande de renas.

Em alguns dias o pedal fluía, em outros o vento era incessante, mudava de direção o tempo todo, tornando complicado pedalar.

Na transição entre o sul (parte mais quente) e o sudeste (parte mais fria), vivi a situação mais desesperadora da viagem. Apesar de ter checado a previsão do tempo, como fazia todo o dia, tive uma surpresa. Em um vale, o vento provocou uma tempestade de areia. Eu estava simplesmente no meio do nada, sem qualquer local para me proteger.

No início, tentei pedalar e, como não consegui, empurrei a bicicleta. Mas mal conseguia mexê-la, pois o vento era forte demais e a areia cortava o rosto (única parte do corpo exposta). Os olhos também eram massacrados, pouco conseguia enxergar. Precisei de horas para sair do vale. Foi tenso. Passado o susto, levei algum tempo para conseguir entender tudo que tinha acontecido. O pedal depois desse episódio foi de pura reflexão.

Nos dias mais pesados de pedal, para relaxar, eu me banhava nas piscinas públicas. Na Islândia, apesar de as cidades serem muito pequenas (em média com 100 habitantes), a maioria tem piscina pública aquecida. É como se fossem uma praça, local de socialização.

Durante o trajeto passei por túneis e, na saída de uma deles, fui parada por policiais que me questionaram: “Os carros te respeitaram? Mantiveram uma distância segura da bicicleta?” Eu não sabia o que dizer e fiquei perplexa com as perguntas. Eles estavam preocupados com meu bem-estar e segurança. Ao se despedirem, me desejaram sorte na jornada e cuidado.

Rumando para o norte, fui me aproximando da região do lago Myvatn, que é vulcanicamente ativa. Na estrada já dá para perceber isso, tem rios azuis, montanhas com tons amarelados e o cheiro de enxofre toma conta.

Falando em cheiro de enxofre, na Islândia se usa energia geotérmica e a água quente que sai nas torneiras e no chuveiro, em razão disso, tem cheiro bem forte de ovo podre (enxofre).

Ao redor do lago Myvatn, visitei várias atrações, como o vulcão Hverfjall, o campo de lava Dimmuborgir, o parque Hofdi, o vulcão Skutustadagigar, a usina geotérmica Krafla.

Islândia tem muitas atrações naturais espalhadas pela ilha (Arquivo pessoal)

Nesses passeios encontrei algo inusitado: um chuveiro e uma pia, no meio do nada, com água quentinha para quem quisesse tomar banho… só na Islândia mesmo.

Depois de muitos dias pedalados, cheguei a Akureyri e de lá peguei um ônibus até a capital, Reykjavik, que surpreendeu com ciclovias e faixa de pedestre devidamente sinalizadas, bebedouros para humanos e animais e locais destinados à manutenção das bicicletas, com bomba e ferramentas na beira das ciclovias.

Na Islândia, os ônibus de linha são preparados para levar ciclistas, com um local especial para acomodar as bikes –não é necessário desmontá-las.

O próximo destino da viagem era o Círculo Dourado. Passei pelo Parque Nacional Thingvellir, onde há uma falha geológica entre as placas tectônicas da Europa e da América, visitei o Vale Geotérmico Haukadalur, onde há vários gêiseres e a cachoeira Gullfoss.

Depois de todos esses dias pedalando contra o vento, o que eu queria se concretizou: peguei vento a favor! Eu não pedalava nem nas subidas, parecia que alguém me empurrava.

Finalizado o passeio pelo Círculo Dourado, hora de voltar!

Me apaixonei pela Islândia, pela natureza exuberante, pelo povo, pelo cuidado e respeito que eles têm com as pessoas e com a natureza.

Esse é o relato de um sonho realizado!

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Aviso aos passageiros 1: O casal Rafaela Asprino e Antonio Olinto pedala há tanto tempo que já criou vários guias de cicloturismo. Aqui, eles contam um pouco sobre a serra do Espinhaço, entre MG e BA

Aviso aos passageiros 2: Confira algumas dicas para viajar de bicicleta e não cair em roubadas

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Pequenino, Mônaco tem ladeiras infindáveis, palácio e outras atrações https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/04/07/pequenino-monaco-tem-ladeiras-infindaveis-palacio-e-outras-atracoes/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/04/07/pequenino-monaco-tem-ladeiras-infindaveis-palacio-e-outras-atracoes/#respond Tue, 07 Apr 2020 14:05:23 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/15862136455e8bb30ddeeb0_1586213645_3x2_md.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=336 Quando se fala em Europa, logo pensamos em Portugal, Espanha, França e Itália. Se for aumentar a lista, vêm outros tantos países, como Polônia e Grécia. Mas dificilmente falaremos em Mônaco.

O principado de Mônaco, uma das menores nações do mundo, é conhecido por sediar um GP de Fórmula 1. Esse ano, porém, a prova não será disputada por causa da pandemia de coronavírus —é a primeira vez desde 1954 que o GP não é realizado.

Para quem não sabe, a nação tem como única vizinha a França, se localizando à sudeste do país governado por Emmanuel Macron. Mas também é possível dar uma esticada saindo da Itália.

Foi o que fez a advogada Marcela Eiras, que viajou com o marido em maio de 2019 para a terra da pizza e aproveitou para conhecer o principado.

Agora, ela nos conta o que de mais interessante há para fazer nesse pequenino país.

Eu sei que em tempos de coronavírus não podemos viajar, e muitas vezes nem sair de casa. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Mônaco é o país que não tem como abrigar mais milionários. Fazendo costa com o mar Mediterrâneo, o principado de Mônaco possui aproximadamente 2 km², sendo o segundo menor país do mundo, atrás apenas do Vaticano.

Com ruas silenciosas, exceto quando ocorrem as corridas de Fórmula 1, o principado fundado em 1297 pela Casa de Grimaldi, também chamada dinastia de Grimaldi, encanta em todos os seus quilômetros.

A primeira parada imperdível é a visita ao famoso cassino de Monte Carlo, mantido pela Societé des Bains de Mer de Mônaco, que impressiona pelo seu luxo. O cassino funciona em um prédio palaciano. A fachada é belíssima, incluindo os carros de luxo estacionados em frente.

Caso queira, é possível comprar uma Ferrari 458 Spider, ano 2012, com 7.900 km rodados, por uma quantia singela de 184.990 euros (cerca de R$ 1,05 mi), podendo estacionar o carro em uma excelente garagem de um apartamento de 4 quartos com 127 m² no Château Perigord II, avaliado em 5,5 milhões de euros (R$ 31,4 mi).

Para tornar o paraíso ainda mais perfeito foi criada artificialmente a praia do Larvotto. A praia é coberta com cascalho fino, sendo composta por áreas públicas e privadas. Há uma ótima infraestrutura com vários restaurantes e cafés, tornando a experiência ainda mais incrível.

Para contemplar a vista panorâmica de Mônaco, vale a pena a visita ao Jardim Exótico. Situado em uma encosta, o jardim é bastante agradável e cercado de enormes cactos oriundos de diversos lugares do mundo. Pela localização do Jardim Exótico, vale a pena investir no ônibus turístico, mais conhecido como hop-on/hop-off.

Este é uma ótima opção para quem não quer se cansar subindo e descendo ladeiras, além da possibilidade de conhecer os principais pontos turísticos com calma e no seu próprio ritmo.

Apesar de ser um país com um pouco mais de 2 km², Mônaco possui ladeiras infindáveis, uma verdadeira luta para quem não está acostumado com exercício físico. Como só tínhamos um dia para conhecer o principado, optamos por comprar o tíquete do ônibus, por 23 euros (R$ 132), o que tornou o passeio muito menos cansativo e mais rápido.

Aproveitando o ônibus, descemos no Palácio do Príncipe de Mônaco, a residência oficial da família Grimaldi. Ela é realmente ocupada pelo Príncipe Alberto 2º e sua família e, por tal motivo, há a restrição de circulação de turistas. Então, não tente desafiar a Guarda dos Carabineiros e ultrapassar as correntes que circulam a entrada principal do Palácio, pois com certeza será chamada a atenção.

Conhecemos este minúsculo país em um dia e achamos suficiente. Porém, ficamos com vontade de voltar para curtir as praias e mergulhar no mar Mediterrâneo. Engana-se quem pensa que o principado se restringe apenas à Fórmula 1, cassinos e ostentação. O país tem boas atrações, como o Museu Oceanográfico de Mônaco, restaurantes e ótimos passeios ao ar livre.

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Aviso aos passageiros 1: Em maio de 2019, o centenário Hôtel de Paris finalizou uma reforma de quatro anos e inaugurou a suíte Príncipe Ranier 3º, com 600 m² —o seu terraço mede 135 m² e tem uma piscina

Aviso aos passageiros 2: Outro país europeu fora do radar é a Geórgia. A leitora Rachel di Giuseppe já contou ao Check-in as impressões dela sobre a nação

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