Check-in https://checkin.blogfolha.uol.com.br Relatos de turistas, dicas e serviços de viagem Wed, 01 Dec 2021 12:49:26 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Em Israel, pastor visita escavações e atrações religiosas https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/03/10/em-israel-pastor-visita-escavacoes-e-atracoes-religiosas/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/03/10/em-israel-pastor-visita-escavacoes-e-atracoes-religiosas/#respond Tue, 10 Mar 2020 17:37:40 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/unnamed-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=310 Nem só a lazer ou a trabalho se viaja. Há muita gente que visita outros países ou cidades movidos pela fé.

Esse é o caso de Afonso Martins Fernandes Neto, pastor evangélico em São José do Rio Preto (SP) há 27 anos.

Sabendo algumas palavras em inglês e com pouquíssimo dinheiro no bolso, ele diz que atendeu a um chamado quando resolveu visitar Israel.

O pastor viajou ao país no fim de 2019 e conheceu diversos pontos turísticos e religiosos.

Você tem algum relato interessante sobre uma viagem que fez? Escreva para o blog Check-in pelo email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Sempre tive o desejo de conhecer os EUA, especificamente o “Bible Belt” (o chamado “cinturão da Bíblia”), região que agrupa inúmeras cidades evangélicas de maioria conservadora e principalmente a sede de inúmeras igrejas protestantes. Mas o tempo passou e o sonho se foi.

Em outubro de 2019, subitamente, como que atendendo a um chamado divino, comecei a me interessar por Israel. Sem planejamento antecipado, em um mês tirei passaporte, entrei na primeira agência de turismo que vi e adquiri em parcelas, a perder de vista, passagens e hotel em Jerusalém.

Optei por comprar em um local especializado para dar mais credibilidade às minhas intenções de ser um peregrino na Terra Santa e também porque as excursões religiosas, além de caríssimas, são de no mínimo dez dias. Fiquei com receio de suspeitarem do meu intuito, pois pesavam contra mim o meu passaporte ser novo, viajar sozinho, ficar só cinco dias em Jerusalém e levar apenas uma bagagem de mão.

No guichê do Aeroporto Internacional Ben Gurion, de Tel Aviv, fui barrado. Um agente pegou meu passaporte e eu o segui correndo até uma sala onde estavam uns 30 estrangeiros, das mais diversas nacionalidades, aguardando o visto de entrada em Israel. Ter a possibilidade de voltar para o país de origem após 15 h de voo é frustrante.

Mas, graças a Deus, após só 5 minutos de espera, dois agentes me questionaram em “portunhol”. Mostrei meus crachás de pastor, a passagem de volta, o hotel pago e um saquinho com pedidos de oração para o Muro das Lamentações.

Eles sorriram e me deram um tíquete com o visto. O passaporte não é carimbado porque há países que barram turistas com passagem por Israel, por isso eles entregam o aceite num papel diferente.

Subi num supertrem do Ben Gurion até Jerusalém, muito confortável e com wi-fi.

O Muro das Lamentações é o único muro de arrimo que sobrou do antigo Templo de Salomão (Arquivo pessoal)

O que as excursões convencionais levam dez dias eu fiz intensivamente em cinco: conheci Nazaré, Cafarnaum, rio Jordão… Na beira do mar da Galileia almocei a 80 novos shekeis israelenses (o equivalente a R$ 107) uma deliciosa tilápia, ou San Peter, frita com batatas. Dizem que São Pedro pescou o peixe com uma moeda na boca. Havia ainda acompanhamentos self-service com mais de 30 legumes, saladas e molhos orientais e asiáticos.

Em Jerusalém, passei quatro dias conhecendo tudo relacionado à fé cristã e, por tabela, às outras também. Para quem não sabe, Jerusalém foi a última cidade em que Jesus pisou antes de ser crucificado e a primeira em que ele pisará no apocalipse, segundo a Bíblia.

Jerusalém também é uma cidade onde as três maiores religiões do mundo se toleram e convivem bem: judaísmo, cristianismo e islamismo.

Com as poucas palavra em inglês que eu sabia e, graças a inúmeros comerciantes, turistas e guias turísticos que falavam português e espanhol, me virei bem lá.

Tirando o peixe de São Pedro, sobrevivi os cinco dias a tâmaras, frutas, suco de romã a R$ 4, falafel (bolinho de grão de bico) a R$ 13 e shawarma (sanduíche de carneiro, vaca ou peru com pão pita, vegetais e pastas) a R$ 20. E também uma sopa que até hoje não sei o que é, com massas servidas em bolas –não senti gosto nelas–, no mercado de rua bem agitado Mahane Yehuda.

O pastor Afonso passou cinco dias em Jerusalém (Arquivo pessoal)

Israel é repleta de escavações que resgatam mais de 3 mil anos de história. Na arqueologia, me conectei com a ciência e com o divino várias vezes. Não recomendo entrar nas centenas de metros no túnel de Ezequias a partir do Tanque de Siloé: é sufocante, apertado, úmido e, por fazer tratamento do coração, tive que me deitar várias vezes para recuperar o fôlego. Achei que iria morrer ali sozinho e quase no escuro, mas sobrevivi para contar.

A maioria dos pontos históricos são gratuitos e, em alguns, se paga de 10 a 20 novos shekeis israelenses (R$ 13 a R$ 26).

A região que visitei é extremamente segura, com polícia e Exército nas ruas em qualquer dia e horário, transporte de Uber e ônibus é tranquilo e os turistas são tratados com muita cortesia. Encontrei alguns estrangeiros, israelitas, judeus e árabes mal-educados, mas a maioria é gentil.

A experiência foi tão boa que, ao regressar, já estava com vontade de marcar outra viagem para lá. Mas tenho que primeiro quitar esta que fiz a perder de vista. Tirando a apreensão nos cinco minutos que me interrogaram na chegada, tudo foi perfeito.

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Aviso aos passageiros 1: O PM aposentado Samuel do Lago contou aqui como foi seu mochilão pela América Latina, depois que pendurou a farda

Aviso aos passageiros 2: “Eu havia metido na cabeça fazer uma viagem à alma do Brasil”. Foi assim que o escritor Jonas Reis começou seu relato da jornada que fez pelo país

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Brasileiro com mobilidade reduzida já viajou para 140 países https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/01/01/brasileiro-com-mobilidade-reduzida-ja-viajou-para-140-paises/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2020/01/01/brasileiro-com-mobilidade-reduzida-ja-viajou-para-140-paises/#respond Wed, 01 Jan 2020 13:23:42 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/15778390435e0be9c3e3f91_1577839043_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=246 O que impede você de viajar? Falta de dinheiro? De tempo? Medo do desconhecido?

O maranhense Luiz Thadeu Nunes e Silva conheceu 140 países entre 2009 e 2019.

A motivação para viajar tanto foi o grave acidente automobilístico que sofreu, em 2003, e que gerou nele uma infecção óssea.

O tanto de carimbos no passaporte fez o engenheiro receber dos Correios um selo comemorativo como o brasileiro com mobilidade reduzida mais viajado do mundo.

Ele até já explicou para o blog De grão em grão, da Folha, como dar uma volta ao mundo com R$ 900 mensais.

Você fez alguma viagem legal e quer compartilhar a sua história? Mande para o Check-in pelo email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Manhã quente de julho de 2003, acordo, abro a janela, vejo o mar de um azul suave, bem diferente da cor do mar de São Luís do Maranhão, minha cidade.

Estou em João Pessoa (PB) a serviço e neste dia à noite iria me encontrar com a minha esposa Heloísa e meus filhos Rodrigo e Frederico. Eles saíram de nossa cidade com o meu irmão Henrique, e nos veríamos em um restaurante em Fortaleza —era o aniversário de Henrique.

No meio do caminho perdi o ônibus que me levaria à capital cearense e peguei um táxi de linha, comum no Nordeste. Como estava um final de tarde chuvoso, a pista estava escorregadia e o motorista perdeu o controle do carro. Batemos de frente com uma caminhonete e tive fratura exposta de fêmur.

Sem saber da gravidade, desmaiei. Acordei no assoalho de um utilitário, ensanguentado, com os meus pertences furtados. A primeira pergunta que fiz: “Isso é um sonho?”. “Não, você sofreu um grave acidente, melhor não se mexer, você está muito quebrado”, alguém me respondeu.

Fui removido para um hospital de traumatologia em Natal (RN), onde fui operado ainda na madrugada. Nada está tão ruim que não possa piorar.

Fui operado, colocaram platina em minha perna esquerda, infeccionou e tive osteomielite, uma braba infecção óssea.

Tudo mudou em minha vida. Quatro anos de internações, em hospitais de RN, MA e SP, 43 cirurgias, cem horas de câmaras hiperbáricas, enxerto ósseo, bomba de morfina colocada sob a pele. Cadeira de rodas, possibilidade de amputação da perna esquerda, usei aparelho Ilizarov —uma gaiola medieval da bacia até o pé. Fiz muita fisioterapia para reaprender a andar, agora com muletas.

Sou engenheiro agrônomo e passei a trabalhar remotamente.

Frederico, meu segundo filho, foi fazer intercâmbio em Dublin, na Irlanda, e, após muita insistência, fui visitá-lo na companhia do meu primogênito, Rodrigo.

Para quem não tinha confiança para atravessar uma rua, atravessei o Atlântico, e estava no Velho Mundo, extasiado pela possibilidade de adaptar-me à nova realidade. Nesta viagem visitamos oito países, o que foi determinante para eu ganhar confiança.

De 2009, quando fiz a primeira viagem internacional depois do acidente, até dezembro de 2019, pisei com minhas muletas em 140 países em todos os continentes.

O engenheiro visitou 140 países entre 2009 e 2019 (Arquivo pessoal)

Meu slogan de vida é: “Terra, a aproveite enquanto estiver em cima dela”.

Hoje, digo que não há um só lugar no mundo que eu não vá. Se uma aeronave vai, e meu bolso deixa, lá vou eu.

Quando cheguei a 130 países visitados, tive a autorização da Infraero para a colocação de uma placa no aeroporto Cunha Machado, de São Luís, minha porta de saída para o mundo.

Agora que atingi 140 países, tive a honra e a felicidade de receber dos Correios um selo comemorativo como o brasileiro com mobilidade reduzida mais viajado do mundo.

Para 2020, tenho passagens compradas para dez novos países no primeiro semestre, e vou planejar a ida para outros dez lugares na segunda metade do ano.

Em minhas palestras sempre digo que minha matéria-prima são os sonhos. Todos os dias reservo meia hora para meditação e devaneios, tempo para a mente viajar cada vez mais longe.

Também tenho comprada uma volta ao mundo, na qual, em uma só viagem, pisarei em todos os continentes e tomarei banho em todos os oceanos. Enviei um projeto para a Marinha do Brasil e, caso seja selecionado, serei o primeiro brasileiro com mobilidade reduzida a pisar na base Comandante Ferraz na Antártica.

A pergunta que mais ouço é se é caro viajar muito ou se sou rico. A resposta é “não”. Em primeiro lugar, sou disciplinado para lidar com dinheiro, tenho poupança desde os oito anos de idade. Tenho planejamento de médio e longo prazo, e como me reinventei após a internet, vivo pesquisando passagens aéreas e hospedagens, além de fazer uso dos aplicativos, o que barateou muito o custo das viagens.

Para 2020 estou nos retoques finais para o lançamento do meu primeiro livro contando as andanças pelo mundo —ainda não tenho onde publicar.

O maranhense sofreu um grave acidente em 2003 (Arquivo pessoal)

Digo sempre que tenho três limitações, que para a maioria seria impeditivo ou limitante.

  1. Ando de muletas pelo mundo, nem mala eu puxo;
  2. Não falo inglês, e já passei pelos maiores perrengues, em diferentes países;
  3. Tenho bolso raso e sonhos completos.

Me comunico por aplicativos de tradução. Em setembro estive em Minsk, em Belarus, e deu problema na minha reserva de hotel. Lancei mão do Google tradutor e resolvi o problema.

E, como brasileiro, não desisto nunca. Apenas uma história: desembarquei de madrugada no aeroporto de Teerã, capital do Irã, e me encaminhei para a imigração, onde pegaria o visto de entrada. Havia lido nos blogs de viagem que o documento custava US$ 50, mas o rapaz da imigração cobrou US$ 90. Tentei argumentar, e como não nos entendíamos paguei e passei.

As negociações com os motoristas de táxis em países árabes ou em Colombo (Sri Lanka) são hilárias, mas graças a Papai do Céu tudo dá certo e termina bem.

É essa história que conto em minhas palestras, principalmente em escolas, hospitais e para pessoas da terceira idade, que termino dizendo: “Se eu posso, vocês também podem”. Vamos para o mundo, porque há um mundo de braços abertos nos esperando.

Atravesso oceanos e continentes para sentar em um café, em um final de tarde, seja em Katmandu (Nepal), Lárnaca (Chipre), Sydney (Austrália), Díli (Timor Leste), Paris (França), Nova York (EUA), Kiev (Ucrânia), Minsk ou Macau (China), para observar o frenesi das pessoas, porque o que move o mundo são os humanos. Digo sempre que não sou um turista, sou viajante.

Em minhas andanças, tenho encontrado pessoas fascinantes e extraordinárias, e com as maravilhas da tecnologia estamos conectados.

Agora em dezembro completei 61 anos, e para surpresa minha recebi, via WhatsApp, uma mensagem de um indiano que conheci em um voo de Mumbai para Goa, há quatro anos.

Convivo com dor, mas quando estou com viagem comprada, já perto do embarque, se a dor persiste dou um comando para o cérebro: se dói em casa e dói no mundo, vamos para o mundo.

Viajar por aí primeiro te deixa sem palavras, depois te transforma em um contador de histórias.

Um 2020 pleno de realizações, com muitas e abençoadas viagens.

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Aviso aos passageiros 1: O repórter Jairo Marques mantém na Folha o blog Assim como você, onde escreve sobre o dia a dia de uma pessoa com mobilidade reduzida

Aviso aos passageiros 2: Reuni algumas dicas para fazer seu primeiro mochilão. Inclusive, relato como foi a minha primeira viagem com a mochila nas costas e todos os perrengues no livro recém-lançado “Embarque Imediato” (O Viajante, R$ 39,90, 180 págs.)

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Fotógrafo conta suas impressões sobre o Irã, país de constantes surpresas https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2019/11/06/fotografo-conta-suas-impressoes-sobre-o-ira-pais-de-constantes-surpresas/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2019/11/06/fotografo-conta-suas-impressoes-sobre-o-ira-pais-de-constantes-surpresas/#respond Wed, 06 Nov 2019 12:56:00 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/15730006835dc215eb98050_1573000683_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=160 Países do Oriente Médio não costumam estar na lista de destinos prediletos dos brasileiros. Por isso que fiquei feliz quando o fotógrafo Sidney Dupeyrat me escreveu querendo compartilhar sua viagem para o Irã.

Ele visitou o país em outubro de 2013, alguns meses após se formar em Comunicação Social – Habilitação Publicidade e Propaganda, na UFRJ. Para finalizar a graduação, ele estudou estratégias de branding e publicidade nas sociedades muçulmanas. Tema complexo, não?

Abaixo, ele descreve o caos de Teerã, a capital iraniana, e também a paixão do povo por parques, onde “as pessoas fazem piquenique, leem, praticam esportes, passeiam, assistem a algum concerto ou apresentação, flertam”.

E você? Visitou algum lugar diferentão e quer compartilhar suas impressões? Escreva para o Check-in pelo email checkin.blogfolha@gmail.com.

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O Irã é um dos países menos acessíveis para os brasileiros. Fica longe, tem uma cultura muito distinta e é muitas vezes reduzido à elite política e religiosa —o que torna ainda mais difícil entendê-lo. Viajar pelo país persa é ser constantemente surpreendido, é garantir que os dias passados neste pedaço do Oriente Médio serão um exercício diário de descobertas.

Resolvi visitar o Irã após terminar a graduação. A produção na faculdade da tese de conclusão de curso com uma temática ligada ao país fez com que o interesse em ver o local com meus próprios olhos aumentasse após tanto tempo consumindo informações sobre o Irã. Uma coisa era estudar daqui do Brasil; outra, completamente diferente, seria estar lá.

Peguei então o avião rumo a Teerã. Me aproximo da capital de madrugada e, da aeronave, vendo a cidade de cima, pouco podia ver além das fracas luzes das ruas. O Irã demoraria um pouco mais a se mostrar para mim. Mas cheguei, e isso era o importante.

Desembarco, tomo o táxi e logo chego ao hotel no centro da cidade. Durmo algumas poucas horas, a ansiedade típica dos viajantes recém-chegados não me deixa descansar mais. Assim que o sol aparece, saio com o objetivo de me perder para explorar a cidade.

A primeira constatação: Teerã é caótica, ainda mais que as nossas metrópoles. A paisagem, dominada pelo tom cinza e café das construções e edifícios, é povoada de vida. Pessoas, motos, carros e ônibus disputam o pouco espaço das vias. Andar no centro da capital iraniana é observar um movimento constante somado ao ruído às vezes ensurdecedor. Um somatório de pessoas falando, vendedores de rua gritando, veículos andando e buzinas tocando —elas são muito utilizadas.

O trânsito no Irã, aliás, merece uma menção à parte: as regras não são cumpridas. Motos trafegam pelas calçadas, carros não respeitam os sinais vermelhos, pessoas atravessam as ruas —ou tentam— em qualquer lugar. Ser pedestre, passageiro ou motorista no país é ser personagem de um filme de aventura, onde cada um faz o que bem entende. A anarquia do povo no contexto do trânsito está presente na paisagem das ruas e também nos mínimos detalhes.

Mas também é possível escapar dessa confusão tehrani e absorver a personalidade gentil dos locais. Os iranianos possuem forte apreço pelos jardins, desde os tempos do zoroastrismo. E na capital não poderia ser diferente: os parques são talvez os principais pontos de convívio de seus habitantes. Neles, as pessoas fazem piquenique, leem, praticam esportes, passeiam, assistem a algum concerto ou apresentação, flertam. Teerã, uma cidade de 8 milhões de habitantes, oferece muito verde para que seja possível escapar da correria e dos problemas do dia a dia.

Dois dos principais parques da cidade são o Laleh —localizado na região central e que abriga o Museu de Arte Contemporânea e o Museu do Tapete, que valem a visita— e o Mellat —situado no norte, área nobre de Teerã e com vista para a montanha Alborz. Mas a principal área verde da cidade é o Sa’dabad, complexo gigante que conta com diversos palácios que hoje funcionam como museus.

No entanto, não é só de parques que vive Teerã. Como capital de um país com tanta história, o berço do Império Persa, são vários os lugares para admirar a rica herança cultural da nação. O principal é o Palácio Golestan, o monumento histórico mais antigo da capital que abriga um grupo de edifícios reais da época Qajar. Datado de aproximadamente 400 anos, impressiona o cuidadoso trabalho de pintura dos azulejos das fachadas dos edifícios, bem como o longo lago retangular que ocupa o centro do espaço.

Saindo do Golestan, outra visita obrigatória ali perto é o Grand Bazaar. Os bazares iranianos são verdadeiras instituições do país, e o de Teerã também vale muito a ida. Para o turista estrangeiro, entrar nesse mercado é uma experiência única, principalmente porque costuma ser o primeiro a ser visitado —Teerã é o ponto de partida da viagem pelo país. Adentrar os bazares em horário de pico é ser literalmente levado por um rio humano que atravessa as vielas labirínticas em busca de qualquer coisa —de temperos a tapetes. Também é uma oportunidade para interagir com os locais, sempre curiosos em relação aos estrangeiros. Na saída do bazaar, fiz amizade com uma família dona de uma das lojas. Me deram pistache, e quando descobriram que era brasileiro, perguntaram curiosos como é ir a uma discoteca —as casas noturnas são proibidas no país.

Fora da capital

Saindo de Teerã, peguei uma carona com amigos iranianos em direção a Esfahan —uma das antigas capitais do Império Persa e que de tão bonita é conhecida como “a metade do mundo”. O primeiro destino na cidade, naturalmente, seria a magnífica Naqsh-e Jahan: considerada uma das praças mais bonitas do mundo, reúne alguns dos principais locais da cidade, muitas pessoas e a alma de todo um povo. Rodeadas por duas deslumbrantes mesquitas, um belo palácio e o melhor bazar do país, faz com que ao entrar no imenso pátio interno tenhamos a mais cruel das dúvidas dos turistas: não sabemos por onde começar.

A Grande Mesquita Sheikh Lotfollah é a que mais me impressionou em todo o país. Sua imensa cúpula azul e amarela faz termos certeza de que chegamos no paraíso; e que ele se encontra ali, naquele ponto da região central do Irã. Se você tiver sorte, irá presenciar alguém cantando, e verá como a arquitetura persa pode fazer mágica com os sons. A Mesquita do Imã Khomeini, situada na parte sul da praça, também é muito bonita com seu imenso pátio interno.

No lado oeste, o palácio Ali Qapu impressiona pela beleza singular da arquitetura, das pinturas no interior do edifício e da bela vista do balcão para toda a praça e as duas mesquitas. Na ponta norte da Naqsh-e Jahan, se encontra o Grand Bazaar de Esfahan, um local ótimo para fazer compras —destaque para os artigos de porcelana— e observar o movimento típico dos grandes mercados daquele país.

Deixo a praça para voltar ao hotel e me encaminho em direção ao seco rio Zayandeh. Ali, me deparo com a ponte Khaju, que mais que um local de passagem, é um ponto de encontro. Pessoas de todos os locais da cidade estão ali não para andar, mas para ficar. E, ficando, cantam. E, cantando, traduzem a alma de um lugar. Os diferentes cantos reverberam por todos os poros do ambiente, formando outros sons. É a arquitetura persa construindo, junto de seu povo, um novo tipo de arte: a música. E que sublime é poder contemplar isso.

De Esfahan vou para Shiraz, a cidade dos poetas e jardins. Nela, vejo a mesquita mais colorida do Irã: a Nasir al-Mulk. A dica é chegar bem cedo, a tempo de ver os primeiros raios de sol penetrando os vitrais coloridos da fachada para tingir o interior da construção num espetáculo de luzes e cores. Difícil começar melhor o dia. De lá, me encaminho para o Vakil Bazaar —o mercado mais bonito que conheci. Nele, não sabia se direcionava meu olhar para as mercadorias ou para o teto, que sempre tinha alguma surpresa para oferecer.

O que mais me impressionou em Shiraz foi o Hafezieh, o túmulo do poeta Hafez. O espaço possui um lindo jardim, onde as pessoas vão confraternizar. Mas muitos outros vão render homenagem ao velho poeta; se ajoelham ao lado da tumba e, enquanto choram, recitam versos do artista. Os iranianos lamentam a morte de um poeta morto há mais de 600 anos como se fosse a de um amigo recém-falecido, e isso diz muito sobre como, apesar da passagem do tempo, a obra de um grande artista segue viva no coração de um povo. E o coração iraniano transborda poesia.

Após conhecer Shiraz, fui visitar Persépolis —antiga capital da Pérsia. Impressiona as ruínas existirem após tanto tempo, e passar pelo Portão de Todas as Nações é ter a certeza de que ali foi, um dia, o centro do mundo. E também de que o Irã de hoje é um destino único. Saio do local e busco o ônibus para voltar a Shiraz. Ao meu lado senta um rapaz que pouco fala inglês, mas que deseja muito conversar. Me pergunta: “Iran, good or bad?”. A minha resposta não poderia ser diferente; “Very good”.

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Aviso aos passageiros 1: O mochileiro cearense Davi Montenegro visitou alguns países do Oriente Médio e contou ao blog suas impressões

Aviso aos passageiros 2: Em sua última viagem internacional, Bolsonaro ficou hospedado no hotel mais luxuoso do Oriente Médio, em que o capuccino custa R$ 82, a água mineral vem com flocos de ouro e as diárias mais baratas saem por R$ 2.665

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Mochileiro cearense conta como é viajar pela África e pelo Oriente Médio https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2019/09/25/mochileiro-cearense-conta-como-e-viajar-pela-africa-e-pelo-oriente-medio/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2019/09/25/mochileiro-cearense-conta-como-e-viajar-pela-africa-e-pelo-oriente-medio/#respond Wed, 25 Sep 2019 13:32:48 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/15693699045d8aaf30baec8_1569369904_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=120 Já apresentei aqui o Lucas e a Eve, um casal brasileiro que está rodando pela Europa em um motorhome, o Rogerinho. Agora é a vez de mostrar a história do Davi Montenegro.

O mochileiro cearense está há 1 ano e 3 meses em uma viagem ao redor do mundo. Ele começou o tour na Rússia, durante a Copa do Mundo de 2018, e passou 5 meses na Europa. Depois, ficou 1 mês no Oriente Médio e mais 8 na África. Agora, há pouco mais de 1 mês, Davi está desbravando a Ásia.

O cearense registra os locais por onde viaja, com impressões, perrengues e dicas, em sua conta no Instagram (@cabeca.pra.baixo). Inclusive, em muitas de suas fotos Davi está literalmente de cabeça pra baixo, plantando bananeira. A mania começou anos atrás, quando ele estava aprendendo a dançar break, o que o inspirou a fazer essa manobra nas imagens e virou tradição.

E você? Tem alguma história legal de viagem e quer compartilhar? Mande para o blog Check-in pelo email checkin.blogfolha@gmail.com

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Cheguei ao Oriente Médio em Tel Aviv (Israel). Uma cidade incrível, que une o antigo ao muito moderno, tudo isso no litoral do mar Mediterrâneo. Junto com dois amigos alugamos um carro e viajamos ao redor do país. O destaque ficou para a visita ao mar Morto, tão salgado que é impossível afundar! Você consegue boiar literalmente em qualquer posição. A sensação é muito esquisita.

Depois visitamos duas cidades na Palestina: Ramallah e Bethlehem. Dado que só ouvimos notícias trágicas sobre a região, eu estava com bastante medo. Chegando lá um pouco perdidos, fomos ajudados e muito bem recebidos pelo povo palestino. Pessoal muito feliz de que a gente os estava visitando, no fim do primeiro almoço nos deram de sobremesa até sorvete de graça. Ficamos num apartamento Airbnb muito bom e bem localizado e a experiência toda foi bem diferente do que eu esperava encontrar.

A última parada no Oriente Médio foi no sul da Jordânia, onde fui às Ruínas de Petra, uma das sete maravilhas do mundo moderno. É uma cidade histórica e arqueológica, com muito da sua arquitetura esculpido diretamente nas pedras, algo fantástico de se presenciar.

No fim de novembro peguei um navio da Jordânia que atravessou um trecho do mar Vermelho chegando na Península de Sinai, no Egito. Era minha primeira vez pisando em solo africano. A partir daí meu plano era atravessar o continente de norte a sul, tudo de transporte público, chegando à África do Sul provavelmente 5 a 6 meses depois.

Acabou que alguns destinos pelo caminho me encantaram tanto que eu fui ficando mais tempo do que o planejado, mas finalmente 8 meses depois cheguei na Cidade do Cabo, na África do Sul. No caminho entre o Egito até lá atravessei os seguintes países: Sudão, Etiópia, Quênia, Tanzânia, Maláui, Zâmbia e Namíbia.

Quando decidi fazer esse trajeto no continente, confesso que estava com um bom medo. Sabemos muito pouco sobre esses países, e as notícias que temos são na sua maioria negativas. Tive surpresas muito boas, vendo vários lados da África que nunca vemos!

No Sudão encontrei um país muito pobre, mas com um povo extremamente carismático. É provavelmente o local menos turístico de todos os que já visitei, então ver um estrangeiro para eles é uma surpresa e querem fazer de tudo para agradá-lo. Ganhei caronas e até sobremesas de graça!

Na Etiópia fui surpreendido com o nível de desenvolvimento da sua capital, Adis Abeba. Prédios sendo construídos por todos os lados na região central da cidade. Acabei sendo convidado por acaso na rua e indo parar no estádio de futebol para assistir a um jogo do Campeonato Etíope. O jogo em si foi meio fraco, mas a torcida deu um espetáculo cantando sem parar os 90 minutos.

No Quênia tive a oportunidade de fazer um safári, vendo de pertinho animais na savana, seu habitat natural. Alguns eram abundantes, e para todo lado você via zebras, girafas, búfalos, javalis, gazelas, antílopes. Já outros, mais raros, nosso grupo deu sorte de avistar: leões, um guepardo (cheeta) e um dos mais raros da região, um leopardo! Este estava de boa comendo uma gazela em cima da árvore, surreal.

Na Tanzânia visitei praias lindíssimas na ilha de Zanzibar, do nível de beleza do Caribe. Nunca associamos África com praia bonita, mas o litoral leste do continente está cheio delas! Mar azul clarinho, areia branca, água de coco e muita música africana, incluindo batucadas!

O Maláui é um dos mais pobres da África, mas com belezas naturais e um povo sorridente. A região das margens do lago Maláui (um dos maiores do continente) é muito linda, com montanhas de um lado e o lago gigantesco, que parece até o mar, do outro.

Na Zâmbia visitei as Victoria Falls (Cataratas de Vitória) que ficam na fronteira com o Zimbábue. É um paredão muito largo com quedas d’água, incrível. Quando fui, a água batia com tanta força lá embaixo que subia de volta em forma de névoa e chegou a formar dois arco-íris ao mesmo tempo!

Na Namíbia visitei a remota tribo local Himba, no meio de muitos quilômetros de deserto. Eles ainda vivem como se estivessem décadas atrás. Nunca tomam banho, bebem água de um poço e são semi-nômades, vivendo da cria animal e migrando dependendo da época do ano para onde tem alimentos para os animais.

Chegando finalmente à África do Sul, parecia que eu tinha mudado de planeta: um país extremamente desenvolvido. Viajei pela bonita costa sudoeste, conhecida como Garden Route. Ainda tive a sorte de ver a etapa sul-africana do mundial de surfe em Jeffrey’s Bay, torcendo para os nossos atletas brasileiros! Gabriel Medina foi o campeão da etapa.

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Aviso aos passageiros 1: Caso você esteja pensando em cair no mundo, ou mesmo ir de férias a um lugar e tem receio, inspire-se na história da aposentada Josefa Feitosa, uma cearense que está na estrada há 2 anos

Aviso aos passageiros 2: O leitor Marcelo Lemos contou a este blog como foi escalar o monte Kilimanjaro, o ponto mais alto da África

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