Check-in https://checkin.blogfolha.uol.com.br Relatos de turistas, dicas e serviços de viagem Wed, 01 Dec 2021 12:49:26 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Sem reservas ou cartão de crédito, casal de mochileiros relembra como era viajar em 1985 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/08/10/sem-reservas-ou-cartao-de-credito-casal-de-mochileiros-relembra-como-era-viajar-em-1985/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2021/08/10/sem-reservas-ou-cartao-de-credito-casal-de-mochileiros-relembra-como-era-viajar-em-1985/#respond Tue, 10 Aug 2021 13:15:04 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/1628308223610e02ff2f415_1628308223_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=779 Perrengue, segundo o dicionário Houaiss, é o mesmo que situação complicada, difícil de ser resolvida. No mundo das viagens, muitos usam a palavra quando o pneu fura, chove no passeio ou tem uma fila enorme em alguma atração turística. 

Julio e Rosi Moschen, hoje proprietários de pousadas em Campos de Jordão, têm umas tantas histórias de experiências complicadas em suas viagens. Ainda mais porque o primeiro mochilão deles foi em 1985, na Europa. Você consegue imaginar como era ir até o Velho Continente nos anos pré-internet?

Os dois, que haviam se conhecido em 1979, se casaram seis anos depois e fizeram do mochilão uma espécie de lua de mel. Detalhe: eles viajaram com a irmã e o cunhado de Julio.

A importação de produtos, durante a ditadura brasileira, era reduzida, o que obrigou o casal a viajar com equipamentos nacionais. “A mochila que existia aqui era aquela de lona verde, do Exército, com uma armação de alumínio que ficava nas costas”, relembra Julio.

Enquanto ele carregava essa, Rosi levava uma mala de rodinhas. Bem, não exatamente. “Era uma mala de lona, antigona, e a gente colocava num carrinho metálico que amarrava com cordinha”, explica ela.

Lá, viram como era diferente a vida do viajante europeu, que usava “aquela mochila certinha, magrinha, da largura do corpo”.. E isso influenciava na hora de pegar o trem. Enquanto os estrangeiros andavam entre as fileiras sem esbarrar nos outros, o casal precisava fazer ginástica. “Tinha que tirar a mochila, colocar no chão e entrar com ela de lado, porque ela era mais gorda que a fileira.”

Rosi e Julio, então com 23 e 28 anos, fizeram essa primeira expedição juntos sem hospedagem prevista. “Para fazer reserva no hotel, tinha que ligar para lá, falar a língua do lugar. Na década de 1980 o inglês ainda não era dominante como é hoje, que qualquer um em um hotel da França, da Itália, fala inglês”, explica ele. Para se comunicar, o casal levou um dicionário de seis idiomas. 

Outro item que eles levaram na bagagem foi o livro “Europa a 25 dólares o dia”, de Arthur Frommer, o papa dos livros de viagem, segundo Julio. “Era a bíblia de todo mochileiro da minha época.”

O americano, em sua juventude, viajou bastante pelo Velho Continente e elaborou o guia com dicas de onde se hospedar, se alimentar e o que visitar e ver em várias cidades. E tudo isso com um orçamento de US$ 25 diários. Ele atualizou a obra por anos e, obviamente, teve que adaptar o orçamento diário. 

O livro norteou Julio, a esposa, a irmã e o cunhado. Para passar os 21 dias de viagem, eles foram com US$ 2.000 no bolso. “Não tinha cartão de crédito internacional, para viajar era o ‘cash’. A gente levava dinheiro contado e torcia para que não acontecesse nenhum imprevisto”, relembra Rosi. 

E a situação econômica e política no Brasil era tão complicada que quem viajava para o exterior precisava recorrer ao câmbio paralelo para conseguir mais moeda estrangeira do que o governo permitia.

Para economizar, os quatro ficavam juntos em quartos de hotéis, muitas vezes sem banheiro no mesmo cômodo. Outra forma de baratear os custos era viajar em trens noturnos, e assim deixavam de gastar com hospedagem. Mas, segundo Julio, era difícil descansar e a experiência não era segura. E, mesmo assim, ainda utilizaram esse método seis vezes.

A expedição deles englobou Espanha, França, Mônaco, Itália, Áustria, Alemanha, Suíça e Reino Unido. “A gente viajava como se fosse a única vez da sua vida, tinha que conhecer o maior número possível de países”, explica ele. 

Muitos países é sinônimo de muitas moedas. Assim, quando entravam em um local novo, se viam obrigados a fazer conversões e, consequentemente, perdiam dinheiro em taxas e cédulas de pouco valor. No fim, o orçamento diário acabava ficando abaixo dos US$ 25 previstos por pessoa.

Com tanto perrengue, é provável que muita gente mudasse o estilo de viagem, certo? Eles não. Preferiram manter o ritmo e fizeram um segundo mochilão para a Europa, em 1989, quando Rosi estava grávida de seu primogênito.

Nesses quatro anos eles foram algumas vezes para os EUA e compraram outra mochila, aposentando o modelo do Exército, usado em 1985. Agora, Julio levava um tipo mais confortável, enquanto Rosi usava uma versão menor, já que estava grávida.

A segunda expedição ao Velho Mundo envolveu Suíça, Itália, Grécia e Áustria, na mesma pegada de gastos reduzidos. Foi em terras gregas, inclusive, que eles pilotaram uma moto sem farol, apenas com luz de freio, à noite e na beira de um precipício. Para ficar mais seguro, eles iam pelo acostamento na contramão. Acho até que esse tipo de perrengue deveria inclusive constar no exemplo do Houaiss.

Após a viagem de 1989, ficaram um bom tempo sem colocar o pé na Europa. Veio o segundo filho e Rosi e Julio se dedicaram a viajar pelos EUA, pois viam mais opções de entretenimento e infraestrutura para a família toda.

Só em 2007 eles se organizaram para visitar o Velho Continente novamente. A intenção original era que os filhos adolescentes fossem juntos, todos com mochila nas costas. Mas a ideia não foi bem recebida pelos jovens, que preferiram passar as férias na casa de amigos.

O casal até considerou o uso de malas, mas um vizinho, com idade próxima a deles, botou pilha sobre viajar de mochila. “A gente já é tiozinho, será que a gente ainda é mochileiro?”, se perguntaram. No fim, adotaram a marca Tiozinhos Mochileiros e partiram. “Redescobrimos como é legal viajar assim”, diz ele.

Rosi e Julio têm 59 e 65 anos, respectivamente, e uma situação financeira confortável. Mesmo assim, eles ainda viajam com mochila nas costas, cada uma com 8 kg e cheias de conselhos.

Ele recomenda, por exemplo, não levar camisa polo, por ser mais pesada e difícil de secar. E como lavar? “Na pia do banheiro. Põe o sabãozinho do hotel, xampu, deixa de molho na água quente, sai para jantar ou passear, volta, enxuga e pendura. No dia seguinte está seco.” 

Se não secar, Julio recomenda embrulhar no plástico, guardar na mochila e pendurar no próximo hotel. “A dica é torcer a roupa dentro da toalha, aí ela não fica pingando e seca rápido”, completa Rosi. E, se possível, levar corda de nylon para usar como varal.

Não sei a sua, mas a minha meta da vida foi redefinida após conhecer os tiozinhos mochileiros.

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Aviso aos passageiros 1: Além de um canal no Youtube, eles bateram um longo papo no podcast Mochileiros sem Pauta, que eu já recomendei por aqui

Aviso aos passageiros 2: Reuni algumas dicas para fazer seu primeiro mochilão. Inclusive, relato como foi a minha primeira viagem com a mochila nas costas e todos os perrengues no livro “Embarque Imediato” (O Viajante, R$ 39,90, 180 págs.)

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Conheça 8 estações de esqui na Europa próximas a grandes cidades https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2019/12/20/conheca-8-estacoes-de-esqui-na-europa-proximas-a-grandes-cidades/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2019/12/20/conheca-8-estacoes-de-esqui-na-europa-proximas-a-grandes-cidades/#respond Fri, 20 Dec 2019 13:57:22 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/zermatt-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=227 O inverno está chegando… à Europa.

O cenário ideal é para fazer guerra de bola de neve, tomar café observando o branco que toma a paisagem e tirar várias fotos. E também para aprender ou praticar esportes de inverno.

Se você vai viajar para a Europa nas próximas semanas, já deve ter adquirido a passagem (ainda mais com as recentes cotações do dólar e do euro).

Sabendo disso, listo abaixo algumas estações de esqui próximas a grandes cidades –do oeste ao leste europeu. Vai que surge um espaço na agenda para dar aquela esticada no meio da viagem.

Vai viajar neste fim de ano? Pense no Check-in para contar o que houve de melhor na sua experiência. É só escrever para checkin.blogfolha@gmail.com.

 

Zermatt (Suíça)

A mais alta estação de esqui da Suíça tem pistas para todos os gostos e níveis (são nove escolas com professores poliglotas). Para os experientes, há 28 km de rotas oficiais freeride (aquelas fora das pistas planejadas e mais radicais). De qualquer forma, vale muito a pena ir até lá nem que seja para observar o famoso Matterhorn –montanha estampada na embalagem da marca de chocolates Toblerone.

Berna (Suíça): 130 km

Zurique (Suíça): 214 km

Genebra (Suíça): 234 km

Milão (Itália): 227 km

 


Annecy (França)

A cidade de 140 mil habitantes não é uma estação, mas fica muito próxima a várias complexos de esqui nos Alpes franceses. Um dos mais conhecidos é Chamonix, mas La Clusaz chegou a figurar na lista das dez melhores estações do mundo em 2018 da Snow Magazine, publicação especializada em esportes de neve. Outro complexo próximo é Les Trois Vallées, a maior área de esqui do mundo, com cerca de 600 km de pistas interligadas, em que não é necessário tirar os esquis (exceto nas cabines) para usufruir de tudo.

Genebra (Suíça): 42 km

Lyon (França): 146 km

Turim (Itália): 255 km


Söll (Áustria)

A estação faz parte do complexo SkiWelt, uma das maiores áreas de esqui da Áustria: são 284 km de pistas intermediárias. Como há uma ligação com a região de Kitzbühel, ganha outros 179 km. Antigamente, Söll era conhecida pela agitada vida noturna, mas vem recebendo muitas famílias nos últimos tempos.

Salzburgo (Áustria): 92 km

Munique (Alemanha): 103 km

Stuttgart (Alemanha): 331 km

Viena (Áustria): 401 km

 


Schwarzwald/Black Forest (Alemanha)

Alternativa aos Alpes, a região abriga vários resorts, além do clube de esqui mais antigo da Alemanha, fundado em 1895. Há tanto pistas variadas quanto trilhas para praticantes de esqui cross-country.

Stuttgart (Alemanha): 132 km

Zurique (Suíça): 142 km

Munique (Alemanha): 350 km

 


Livigno (Itália)

Conhecida por “Pequena Tibete”, o resort italiano está em inúmeras listas de locais de baixo custo (graças a um status dos tempos napoleônicos que impede uma série de impostos). Situado na fronteira com a Suíça, o espaço tem suas pistas voltadas para iniciantes e intermediários. Para os esportistas de nível avançado, porém, há rotas fora da pista e orientações de profissionais. O local sediará as competições de snowboard e freestyle na Olimpíada de Inverno de 2026, de Milão-Cortina.

Zurique (Suíça): 195 km

Milão (Itália): 233 km

Veneza (Itália): 396 km

 


Arinsal (Andorra)

O resort é focado em iniciantes e famílias, já que tem um espaço destinado aos pequenos atletas –com direito a um tapete rolante camuflado na neve, que emite calor para manter as crianças aquecidas. Outro grande atrativo é a proximidade com Espanha e Portugal (destinos europeus de muitos brasileiros).

Toulouse (França): 190 km

Barcelona (Espanha): 203 km

Montpellier (França): 331 km

 


Kranjska Gora (Eslovênia)

De acordo com a Snow Magazine, esse é o único resort esloveno com reputação internacional, entre os mais de 50 que o país tem. Próximo à fronteira com Itália e Áustria, o espaço pode ser aproveitado por todo tipo de praticante, do iniciante ao profissional. Piscina aquecida e áreas voltadas às crianças atraem a família toda.

Liubliana (Eslovênia): 85 km

Veneza (Itália): 239 km

Viena (Áustria): 385 km

 


Bansko (Bulgária)

O principal resort do país é também considerado o mais barato da Europa. O local, no entanto, não tem estrutura para suportar dias com grande quantidade de neve, levando ao fechamento das pistas. Por outro lado, em dias claros, é possível ver o mar Egeu.

Sófia (Bulgária): 156 km

Istambul (Turquia): 569 km

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Aviso aos passageiros 1: Se você vai praticar esportes, é importante ficar atento a acidentes e conhecer seus direitos

Aviso aos passageiros 2: O inverno, obviamente, também está chegando aos EUA. Em Park City, maior estação do país, esquiadores iniciantes dividem espaço com os experientes

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Mochileiro conta como foi viajar por três meses pelos Bálcãs https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2019/12/17/mochileiro-conta-como-foi-viajar-por-tres-meses-pelos-balcas/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2019/12/17/mochileiro-conta-como-foi-viajar-por-tres-meses-pelos-balcas/#respond Tue, 17 Dec 2019 13:53:03 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/15762831805df42c2c1a3d0_1576283180_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=219 Conhecer a Europa é o sonho de consumo de muita gente, e, quando se pensa a respeito, as pessoas facilmente se lembram de Portugal, França e Inglaterra. Fora os lugares mais consagrados, podem até citar países do centro europeu, como Polônia e Hungria. Mas e os Bálcãs?

Caso você nunca tenha cogitado visitar a região, no sudeste do continente, o economista paulistano Rafael Dallacqua (@viajecomintensidade) pode te convencer a ir.

Na estrada desde abril de 2018, o mochileiro já passou por Sudeste Asiático, Índia e vários lugares da Europa. E os últimos três meses foram dedicados aos países balcânicos. 

Enquanto viaja, Rafael pesquisa bastante sobre a história local a fim de entender todas as nuances da região. Para melhorar essa percepção, ele também pega carona e se hospeda na casa dos nativos.

Em tempo: finalizado o período nos Bálcãs, o mochileiro vai passar uma temporada entre Oriente Médio e África.

Você tem alguma viagem legal que deseja compartilhar? Visitou algum lugar que merece muito ser conhecido pelos outros? Escreva para o Check-in pelo email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Costumo chamar as minhas viagens de jornadas. E acabei de finalizar uma de três meses pelos sete países que formavam a antiga Iugoslávia (Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Sérvia, Montenegro, Macedônia do Norte e Kosovo), mais a Albânia. Pode ser chamada de uma viagem pelos Bálcãs, já que todos estão localizados na península Balcânica. 

Uma região praticamente esquecida da Europa, negligenciada nos livros escolares e resumida ao estopim da Primeira Guerra Mundial, mas que eu garanto que vale muito a pena conhecer. Cheia de belezas naturais, muita história, pessoas amigáveis e muito mais econômica do que os países mais famosos da Europa.

Comecei essa jornada pela Croácia, definitivamente o país mais turístico desse grupo e, juntamente com a Eslovênia, o que está mais inserido no bloco europeu –são os únicos que fazem parte da União Europeia.

Para potencializar toda a merecida fama do país, Dubrovnik foi um dos principais sets de filmagens da série de maior sucesso da história, “Game of Thrones”. Como um grande fã, a cidade foi parada obrigatória para mim. 

Depois conheci a badalada ilha de Hvar e de lá segui para destinos menos turísticos e mais tranquilos, como a ilha de Mljet e o parque nacional de Krka, mais barato e menos disputado que os grandiosos lagos de Plitvice. A capital Zagreb também tem seu charme e menos turistas.

A Eslovênia nem estava nos meus planos, mas ainda bem que entrou. Enquanto eu sugeriria passar apenas um dia na pitoresca capital Liubliana, diria para você não contar o tempo na região de Bled.

Parece que saiu de um livro de conto de fadas. A pequena cidade em torno do mundialmente famoso lago Bled é rodeada de montanhas e uma natureza aparentemente intocada, parte do Parque Nacional de Triglav. Para amantes de trekking (fazer trilha) e hiking (caminhada), esse é o paraíso. 

De volta para Liubliana, tomei um ônibus noturno para Sarajevo. Bastou um único dia na capital da Bósnia-Herzegovina para me encantar com a cidade e ter a certeza de que teria que voltar e ficar por mais tempo, pois estava lá só de passagem. 

Foi a partir daí que decidi viajar de carona por esses países. Queria ter mais contato com os habitantes, escutar suas histórias e absorver o máximo de sua cultura. Como eu não me planejava muito, estava com dificuldades de fazer couchsurfing (plataforma para ficar hospedado na casa das pessoas), mas a carona era uma oportunidade perfeita. Além de ser um exercício de paciência, humildade e auto-conhecimento.

A minha primeira foi com um bósnio-sérvio, e comecei a entender a divisão étnico-religiosa da Bósnia, em um velho Volkswagen preto. Zoran devia ter uns 50 anos, não falava muito inglês, mas sabia o suficiente para me contar um pouco sobre si. Falou sobre como a Guerra da Bósnia quase arruinou a sua vida e como ele perdeu um pé ao pisar em uma mina terrestre. 

Dei bastante sorte na minha primeira carona: Zoran estava indo direto a Montenegro, o que já era quase meio do caminho para a Albânia. E o que era para ser apenas uma parada em Montenegro se tornou uma semana. O país me encantou com suas belas montanhas. 

Fiquei alguns dias em Kotor e, ao invés de continuar seguindo a rota mais turística que vai descendo pelas cidades do litoral, preferi me enfiar no interior do país e rumei para o Parque Nacional de Durmitor. Fui parar na casa de uma família na pequena cidade de Zabljak. Os montenegrinos são hospitaleiros e muito sossegados, são tipo os hippies dos Bálcãs. Gostei muito da vibe deles.

Se eu achava que o Triglav era o paraíso para quem gosta de trekking e hiking, é porque eu ainda não conhecia o Durmitor. Que lugar incrível. São tantas montanhas por lá que um dia acabei subindo a terceira maior do país sem saber, o monte Meded. 

No Parque Nacional de Durmitor visitei também o Canyon Tara, que dizem ser o segundo maior canyon do mundo, atrás apenas do Grand Canyon, nos EUA. São mais de 80 km de extensão de um desfiladeiro que chega a 1.300 metros de profundidade.

Me despedi de Montenegro e finalmente cheguei à Albânia. Cruzei de carona também, dessa vez com o albanês Pjeter, que foi o primeiro a me mostrar a hospitalidade desse povo. Os albaneses, na minha opinião, são as pessoas mais gente boa da Europa. Algo que é difícil de explicar o porquê, mas que é muito fácil de perceber quando você tem a experiência.

O país é uma mistura única de influências turca e italiana, com um ar soviético ainda pelas ruas e marcas de um passado recente que não foi nada fácil. Acho que é o único lugar no mundo onde é possível ver cidadelas medievais charmosas, nadar pelado em uma praia paradisíaca deserta e visitar bunkers de guerra abandonados, tudo no mesmo dia.

Em três semanas, rodei a Albânia de norte a sul, sempre de carona. Foi o local mais fácil de consegui-las. 

O mochileiro paulistano passou por Kotor, em Montenegro (Arquivo pessoal)

As nações dos Bálcãs têm muitas diferenças culturais, étnicas e religiosas entre si. É até estranho pensar que em algum momento formaram um só país: a Iugoslávia (lembrando que a Albânia não fazia parte). Dizem que o mérito de manter essa colcha de retalhos unida era do Josip Broz, mais conhecido como Tito, figura polêmica e famosa na região. Ele mesmo dizia:

“Sou líder de um país que tem dois alfabetos, três línguas, quatro religiões, cinco nacionalidades, seis repúblicas, que faz fronteira com sete vizinhos e na qual vivem oito minorias étnicas.”

Mas uma coisa é certa, ou melhor, três coisas. Em todos os países eu encontrei as burekas, uma espécie de torta geralmente recheada com carne, queijo, espinafre ou batata; o stapici, um tipo de salgadinho com manteiga de amendoim dentro; e o ajvar, uma pasta a base de pimentões vermelhos. Em todos os lugares também se pode encontrar excelentes cafés e chás turcos e as suculentas baklavas. Comida é outro ponto forte dos Bálcãs.

Cruzei a fronteira a pé para a Macedônia do Norte. Fui andando ao longo do lago Ohrid, que não só é um dos mais antigos e profundos da Europa, como um dos mais bonitos. Após repor as energias na região, segui para a capital Escópia.

A cidade passou por uma grande transformação nos últimos dez anos, resultado do projeto Skopje 2014, cujo objetivo era justamente dar uma nova cara para a cidade. Portanto, todas as estátuas e prédios imponentes em estilo neoclássico que se pode ver pelo centro e que parecem muito antigos têm, na verdade, menos de uma década.

Outra coisa nova é o nome do país, que passou a se chamar Macedônia do Norte desde fevereiro de 2019. Sem entrar em detalhes, há um disputa entre a Macedônia do Norte e a Grécia em relação à utilização do nome Macedônia. Essa é uma questão séria por lá e que vai muito além de ser apenas uma treta pelo nome –trata-se de identidade cultural.

Meu próximo destino foi o Kosovo, o país (que oficialmente não é um país) mais complicado da região atualmente. As coisas estão tranquilas agora, mas é preciso ter um cuidado com as fronteiras. Teoricamente ainda é uma região autônoma reivindicada pela Sérvia. Portanto, a única maneira legal de entrar e sair do país é cruzando pela Sérvia.

Eu não sabia direito como faria para chegar. Tomei um ônibus de Escópia até Bujanovic, no sul da Sérvia, e de lá cheguei de carona até a capital do Kosovo, Pristina.

Afinal, o que é um país? Kosovo tem um território definido por fronteiras com outros quatro países (possui controle de fronteiras), uma população com identidade cultural (etnia, língua e cultura próprias e diferentes da sérvia), governo e instituições próprios e relações com outros países. Além de bandeira, moeda, passaporte e Exército próprios.

Portanto, é um país, não? Bom, tem cem nações no mundo que o reconhecem dessa forma, mas há outros 93 membros da ONU que não –inclusive o Brasil. Para mim, é um país. Por isso comecei esse texto dizendo que visitei os sete países que integravam a Iugoslávia.

Me surpreendi positivamente. Pristina é uma cidade bem desenvolvida, jovem, liberal e com muita diversidade. É um bom exemplo para se quebrar o paradigma em relação a países de maioria muçulmana serem conservadores, assim como a Bósnia-Herzegovina.

Sarajevo, na Bósnia-Herzegovina, foi um dos pontos que Rafael mais gostou (Arquivo pessoal)

 

Aliás, falando nisso, optei por ficar mais tempo na Bósnia e dessa forma arrumei um trabalho voluntário em um hostel em Sarajevo pela Worldpackers. Para quem não conhece, através dessa plataforma é possível encontrar opções de trabalho não remunerado em mais de cem países, onde você troca algumas horas de atividade semanal por acomodação e outros benefícios, como refeições, por exemplo.

Mesmo com o céu sempre cinzento, Sarajevo me encantou e foi a minha cidade preferida dessa viagem. Há um ar misterioso, ao mesmo tempo em que exala alto astral. Por suas ruas parece que tudo se mistura: o antigo com o novo, o conservador com o alternativo. Depois de tudo o que essa cidade passou em sua história recente, vê-la pulsar nessa sintonia é um exemplo de superação.

Fiquei três semanas e tive a oportunidade de conhecer outras cidades, como Mostar, Jajce e Banja Luka. A minha intenção era conhecer locais com a maioria de cada um dos principais grupos étnicos-religiosos do país: bósnios-muçulmanos (bosniaks), bósnios-croatas (católicos) e bósnios-sérvios (católicos ortodoxos).

Mostar é o exemplo perfeito de como foi a Guerra da Bósnia, uma bagunça de proporções inimagináveis, que fugiu do controle de todos e na qual não houve ganhadores. Todos saíram perdendo e carregando feridas que ainda estão abertas na sociedade.

Tanto Mostar quanto Jajce são praticamente metade cristã (croatas católicos) e metade muçulmana, com a diferença de que na primeira há um clima maior de segregação enquanto que na segunda está todo mundo junto e misturado e, no que me pareceu, em harmonia. Há nas ruas uma sensação de superação, de que as dificuldades e as diferenças sempre podem ser deixadas de lado e que o melhor é viver em harmonia.

Para fechar esse quebra-cabeça faltava só uma peça, a Sérvia. Foi o meu último destino balcânico, porém recomendo que se comece por lá. Será muito mais fácil para entender sobre a Iugoslávia, o governo de Tito, o processo de dissolução, o lado da Sérvia nos conflitos que foram gerados posteriormente, e depois ir conhecendo os outros lados das histórias nos demais países. Lembrando que quando se fala de Bálcãs, nada se resume a apenas dois lados.

Como eu fiz o contrário e terminei a viagem na Sérvia, foi quase que inevitável chegar com uma imagem negativa do país. Principalmente após ter tido tanto contato com a Guerra da Bósnia. Porém, o importante é estar disposto a superar preconceitos e quebrar paradigmas. Aos poucos fui quebrando um a um e no final saí de lá com uma imagem positiva do país.

Na verdade, a Iugoslávia era formada por seis repúblicas e duas regiões autônomas e, como sou um perfeito perfeccionista, minha última parada foi na outra região autônoma que existe na Sérvia, Vojvodina. Fica no nordeste do país e faz fronteira com a Hungria e a Romênia. Enquanto a história lá também não é das mais simples, a situação é bem mais tranquila que no Kosovo. 

No fim de tudo, conheci o filho problemático da Europa, o caldeirão em ebulição, o barril de pólvora. Todos esses são apelidos que já teve essa região. Os Bálcãs são parte de uma Europa sem glamour e sem romantismo. Uma Europa esquecida, cuja história recente coincide com a minha infância e me faz reconhecer os meus privilégios e ser grato por tudo. Conheci, gostei e recomendo.

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Aviso aos passageiros 1: Reuni algumas dicas para fazer seu primeiro mochilão. Inclusive, relato como foi a minha primeira viagem com a mochila nas costas e todos os perrengues no livro recém-lançado “Embarque Imediato” (O Viajante, R$ 39,90, 180 págs.)

Aviso aos passageiros 2: Já contei aqui a história de dois mochileiros, o Davi, jovem que viajou pela África e pelo Oriente Médio, e o Samuel, PM aposentado que desbravou a América Latina com uma mochila nas costas

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Casal que mora em motorhome na Europa fala sobre desafios da vida nômade https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2019/08/30/casal-que-mora-em-motorhome-na-europa-fala-sobre-desafios-da-vida-nomade/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2019/08/30/casal-que-mora-em-motorhome-na-europa-fala-sobre-desafios-da-vida-nomade/#respond Fri, 30 Aug 2019 13:37:34 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/15669551195d65d66f34a19_1566955119_3x2_md-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=101 Largar tudo e botar o pé na estrada é o sonho de muita gente. Inspirados pelas redes sociais e pela facilidade de trabalhar a distância, cada vez mais viajantes colocam o desejo em prática.

Lucas e Eve se conheceram em Dublin, na Irlanda, e estão viajando desde agosto de 2018 com o Rogerinho —o “idoso, porém esforçado, motorhome”, como descrevem carinhosamente o meio de transporte.

Aqui, eles relatam (com pormenores) os desafios de viajar em casal, viver num ambiente de 7 m² e viajar na Europa, continente em que o custo de vida é alto.

Para este post, considerei o 1 euro = R$ 4,61

Caso você tenha boas (ou más) experiências em viagens pelo Brasil ou pelo mundo, divida com o blog Check-in pelo email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Vida nômade. São muitos os mitos a rodear esse termo que desperta interesse e controvérsia na internet. Há, no entanto, dois quase unânimes em relação a quem vivem na estrada.

O primeiro é que esse estilo de vida garante felicidade instantânea a quem o pratica. Basta abrir perfis de viagem no Instagram e lá está ele, perpetuado em fotos com falsos sorrisos e textos motivacionais rasos que sugerem a suposta vida perfeita de seus criadores. Além de consolidar uma mentira, é prejudicial à saúde mental de uma geração que mede sucesso e felicidade por meio de likes em redes sociais.

O segundo mito é o de que pessoas que vivem viajando são ricas ou são sustentadas pelos pais. Podemos atribuir a isso a necessidade humana de menosprezar e colocar em dúvida o esforço alheio para justificar a própria covardia e fracasso em promover em si mesmo a mudança reconhecida no outro.

Queremos desconstruir esses mitos por meio de um relato de quem já experiencia a vida nômade há um ano. Nós somos o Lucas e a Eve e desde agosto de 2018 viajamos e moramos no Rogerinho, nosso idoso, porém esforçado, motorhome.

Lucas e Eve viajam no Rogerinho desde agosto de 2018 (Arquivo pessoal)

Nos conhecemos em Dublin, onde vivemos dois anos até resolvermos ter a ideia de ir morar num carro. Enquanto para quem mora no Brasil converter os valores colocados aqui para real é um exercício válido, para a gente (já morávamos na Europa e recebíamos em euro), a conversão não se aplica. Outro ponto importante é que ambos possuímos cidadania europeia: eu, portuguesa, e a Eve, italiana, facilitando viajar e viver pelo continente.

Compramos o carro em janeiro de 2018 porque achamos o Rogerinho na internet, em uma revendedora holandesa, e tivemos que depositar, mesmo sem nunca tê-lo visto ao vivo, metade do valor para garantir a disponibilidade do carro sete meses depois.

Sim, depositamos 2.125 euros (R$ 9.798) tendo apenas meia dúzia de fotos em baixa resolução como base para escolher não só o carro que iríamos dirigir, mas também a casa onde iríamos morar pelos próximos anos. O baixíssimo preço e algumas recomendações positivas sobre a empresa falaram mais alto na hora de bater o martelo, mesmo que as condições de escolha não fossem ideais.

Ao finalizar a compra, o preço total pago no carro (com registro e inspeção já inclusos) foi 4.250 euros (R$ 19.595). Foi preciso arcar com algumas taxas para legalizar a situação do veículo, como a taxa de circulação e o seguro. O valor do imposto referente à permissão de circulação varia de país para país –na Holanda é 600 euros (R$ 2.766) por ano. Somados então aos salgados 1.200 euros (R$ 5.533)  de seguro, o total do investimento inicial foi de 6.050 euros (R$ 27.894).

Mas não se engane, dificilmente será possível encontrar um motorhome por esse valor tão baixo. O Rogerinho é um modelo muito menor e mais antigo do que os campers normalmente à venda e seu preço refletia diretamente essas características.

O baque inicial foi grande. Ao vivo, o ambiente interno do motorhome parecia ainda menor do que as fotos sugeriam. Havíamos saído de um apartamento de 65 m² para vivermos em uma caixa de metal de pouco mais de 7 m² e o sentimento inicial de estar ali oscilava entre incredulidade e o mais puro desespero.

As heranças de donos anteriores chamaram nossa atenção: janelas quebradas, telas anti mosquitos rasgadas, pia rachada e defeitos no sistema elétrico. Eles se somavam aos muitos outros problemas dos quais já tínhamos conhecimento prévio, como o fato do carro não possuir água quente nem aquecimento central.

De 1992, e mais velho que a Eve, o Rogerinho apresentava claros sinais de idade. Com o tempo fomos resolvendo alguns problemas e nos acostumando a contornar outros difíceis ou caros demais pra arrumar. Atualmente julgamos o ambiente interno ideal para duas pessoas e, o que antes parecia apertado, hoje consideramos aconchegante.

O tamanho do Rogerinho é uma das poucas coisas que nos confere vantagem. Os motorhomes comuns são limitados a estacionar em vagas especiais de 6 metros, e nosso pequeno guerreiro cabe em espaços normais de carro, como estacionamentos de supermercados, shoppings e vagas de rua.

O que não melhorou com o tempo foram as condições mecânicas do carro. Em 12 meses já fizemos 5 visitas aos mecânicos e dormir em oficinas se tornou comum. Nessa brincadeira, já gastamos 1.357 euros (R$ 6.257) em reparos, como troca da bomba d’água e de um semieixo.

Nem todos os perrengues resultaram em um rombo em nossos bolsos e, curiosamente, foram nas situações mais complicadas que pessoas nos ajudaram sem pedir absolutamente nada em troca.

Ainda novatos e com duas semanas de motorhome, havíamos perdido a janela 72 horas antes ao sair dirigindo sem trancá-la, no episódio que consideramos nossa maior cagada em um ano de estrada. Desde então andávamos com a janela coberta por um remendo patético feito de silver tape e um sacola plástica. Ao perguntarmos quanto custaria, o mecânico holandês Johan simplesmente respondeu: “Não se preocupe com isso. Gosto da maneira como vocês estão vivendo. Nem tudo é sobre dinheiro”.

Outra alma boa que cruzou o nosso caminho foi a do seu Carlos, quando atolamos o carro em Portugal. Após duas horas tentando desatolar o motorhome, avistamos uma figura caminhando devagar, com roupas e chapéu de couro, um verdadeiro cowboy.

Ao perceber sua idade e a fragilidade de sua voz, pensamos que aquele senhor pouco poderia fazer. Em 10 minutos, seu Carlos nos guiou para fora do lamaçal. “Um bocadinho pra frente. Agora um bocadinho pra trás”, dizia com seu inconfundível e gostoso sotaque português. Dispostos a pagar pela inestimável ajuda, ele negou. “Isso não foi nada. Eu já passei muito por isso quando viajava de carro por Moçambique. Foi um prazer ajudá-los”.

LISTA DE PERRENGUES NUNCA ACABA

Há também os perrengues de relacionamento, mais do que normais entre pessoas convivendo tão intensamente em um espaço tão restrito. Frustrações e brigas são comuns e, em tempos, frequentes.

Outros problemas são os causados pelo clima. O Rogerinho é uma grande caixa de metal, o que faz com que amplifique as temperaturas do lado de fora. No inverno, vira um frigorífico e a água do encanamento frequentemente congela. No verão, o carro se assemelha a um forno e o calor e os mosquitos fazem de dormir uma tarefa quase impossível. Sem contar que a fraca geladeira passa a não dar conta de resfriar os alimentos e somos obrigados a jogar fora algumas coisas estragadas.

Mas nenhum perrengue se compara ao eterno terror de ver sua conta bancária cada vez mais enxuta. Se você leu até aqui para descobrir como ganhar dinheiro regularmente na estrada, eu sinto dizer, mas ainda não temos a resposta.

Até conseguimos, vez ou outra, levantar um dinheirinho. A Eve fotografa desde os 16 anos e fez ensaios pelos países por onde passamos. Eu, da área de animação 3D, fiz um ou outro trabalho de freelancer, o que, com nossa limitação de energia elétrica e internet, pode ser complicado.

Outra forma que encontramos de alimentar a conta bancária foi lançar um pacote de presets fotográficos. Apaixonados por fotografia, essa foi uma maneira que encontramos de unir o útil ao agradável e, para nossa surpresa, as vendas estão indo melhor do que esperávamos. Mas os lucros na estrada param por aí, totalizando 4.069 euros (R$ 18.761). Até participamos como cobaias em um estudo clínico em troca de alguns trocados.

Para juntar dinheiro, Eve fotografa e Lucas, da área de animação 3D, trabalha de freelancer (Arquivo pessoal)

No começo desse ano paramos a viagem para trabalhar. O ótimo salário mínimo na Irlanda e a chance de ficar hospedados na casa de amigos nos fez escolher ir para Dublin. Lá, passamos cerca de 50 dias trabalhando no subemprego, eu como camareiro de hotel e a Eve como funcionária de uma gráfica. Graças à ajuda de quem nos recebeu em suas casas, conseguimos juntar mais de 5.000 euros (R$ 23.053) –com o que ainda tínhamos guardado, é mais do que suficiente para passarmos o resto de 2019 sem trabalhar.

Quando não há uma renda frequente, o segredo é gastar o menos possível. Adotamos algumas práticas que se tornaram dogmas em nossa devota vida ao baixo custo: não transitar por estradas com pedágio (a não ser em extrema necessidade), comer o mínimo possível fora (levamos almoço quando visitamos algum lugar) e, principalmente, não dormir em campings ou estacionamentos pagos. É incrível o quanto se consegue economizar adotando apenas essas três regras.

Por outro lado, em algumas coisas pouco se pode fazer para se economizar –é o caso do combustível, despesa que só se evita ficando parado. Em 1 ano de vida na estrada já percorremos 22.073 km. Isso dá, em média, 2.066 km por mês e 72 km por dia.

Das 315 noites dormidas no Rogerinho, 179 foram em lugares diferentes. Cidades, vilas, praias, montanhas, florestas, parques, postos de gasolina e beiras de estradas de 16 países nos hospedaram com os mais variados níveis de glamour e segurança.

Em alguns nos sentimos em casa, como se estivéssemos em nosso quintal. Em outros, nem tanto, e a batida pesada na porta de moradores deixaram bem clara a insatisfação com nossa presença.

Tiveram também os meios assustadores, no meio do nada, que faziam levantar o cabelo da nuca quando chegávamos e éramos engolidos pela escuridão assim que desligávamos os faróis do carro.

O gasto com diesel representa quase metade do orçamento mensal. Costumamos dizer que o preço do combustível equivale ao aluguel dentro do orçamento de uma vida comum na cidade. Na média, o gasto mensal com isso é de 270 euros (R$ 1.245). Pode parecer extravagante quando se pensa em diesel, mas é um valor muito baixo ao considerar os aluguéis pela Europa.

Entre mercado, combustível, lazer, reparos e outras coisas, o gasto mensal é, em média, de 736 euros (R$ 3.393), ou 368 euros (R$ 1.697) por pessoa. Você lembra se alguma vez conseguiu cobrir todas as suas despesas do mês e de quebra ainda conheceu um ou mais países diferentes com tão pouco?

Se você não vive na estrada, nas costas de um motorhome ou de uma kombi, no banco de uma bike ou de uma moto, com uma mochila nas costas ou uma mala na mão, é provável que sua resposta seja, “não, nunca”.

Por outro lado, caso você não se encaixe em um desses exemplos, sua resposta provavelmente seria a mesma caso eu perguntasse se você já passou por tantos perrengues, dores de cabeça e desconfortos num período de apenas um ano.

São maneiras diferentes de encarar a vida. Qual é a sua?

Esperamos que todas essas informações tenham ajudado a esclarecer e desmistificar ambos os aspectos super e subestimados dessa tal vida nômade. Se nossa experiência despertou em você curiosidade, siga-nos no Instagram @rotaalternativarv, Lá postamos em detalhes todos os nossos perrengues e custo, além de fotos dos lugares por onde passamos.

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Aviso aos passageiros 1: Se você gosta de dirigir, mas não pensa ou sonha em largar tudo e cair na estrada, há a opção de tirar alguns dias de folga e viajar por estas 10 belas rodovias pelo mundo

Aviso aos passageiros 2: Se a grana não é tanta para ir até a Austrália, por exemplo, há também estas 6 estradas na América do Sul

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Geórgia atrai pela cultura, história e hospitalidade, relata leitora https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2019/08/09/georgia-atrai-pela-cultura-historia-e-hospitalidade-relata-leitora/ https://checkin.blogfolha.uol.com.br/2019/08/09/georgia-atrai-pela-cultura-historia-e-hospitalidade-relata-leitora/#respond Fri, 09 Aug 2019 13:07:15 +0000 https://checkin.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/Tbilisi-Ponte-da-Paz-e1565221480227-300x215.jpg https://checkin.blogfolha.uol.com.br/?p=71 Muita gente já viajou ou ouviu falar de Portugal, Alemanha ou Itália, mas são poucos os que já visitaram a Geórgia.

Pois a leitora Rachel di Giuseppe, que se mudou para a Estônia (uma das três repúblicas bálticas), se encantou pela Geórgia e por sua capital, Tbilisi. Tanto é que já visitou o país dez vezes, e olha que 3 mil km separam as duas cidades.

“A minha história com a Geórgia é de longa data”, diz a leitora. Ela estudou na Rússia durante a graduação e teve contato quase que diário com temas relacionados ao país. Para o mestrado, ela estudou a obra de Serguei Iessienin, um autor russo que havia morado em Tbilisi. E aí o interesse pelo país aumentou.

Você fez alguma viagem legal nos últimos tempos? Teve uma experiência ruim e não quer que os outros repitam? Que tal compartilhar com o blog Check-in? É só escrever para o email checkin.blogfolha@gmail.com.

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Eu visitei 18 países nos últimos 5 anos e moro em Tallinn, na Estônia, desde 2017. Dentre os lugares mais legais que visitei estão Nairóbi (Quênia), Riga (Letônia), Estocolmo (Suécia) e Yerevan (Armênia). Porém, definitivamente, a viagem mais marcante da minha vida foi em maio de 2015 para a Geórgia, aquela (não tão pequena) ex-república soviética banhada pelo mar Negro e com uma história de guerras, muitas guerras. Eu gostei tanto da minha primeira vez que decidi voltar mais 9 nos últimos anos. 

A chegada em Tbilisi foi uma grande aventura. Geralmente os voos chegam ao aeroporto internacional durante a madrugada e, mesmo da janela do avião, a vista da cidade é linda, com apenas os postes de rua a iluminando. Neste momento vale combinar previamente o transporte para o hotel, hostel, casa de amigo ou onde for, já que a horda de taxistas certamente vai tentar te surrupiar. Mas vamos parar de falar da chegada que quase daria um livro por si só e falar da cidade. 

A arquitetura de Tbilisi tem três pilares muito distintos que estão misturados quase que de forma caótica. São edifícios antigos (restaurados ou não) em meio aos prédios soviéticos e pincelados por uma arquitetura contemporânea que às vezes parece que não deveria estar lá. Vale a pena visitar a avenida Rustaveli, a praça da Liberdade (Sadguris Moedani), onde fica a estátua dourada de São Jorge, a Ponte da Paz, a fortaleza de Narikala e o parque Vake, além das andanças pelas ruelas da cidade que podem te levar a locais extraordinários, como a rua Chardeni. 

O que mais me chamou a atenção em Tbilisi é o fato da comida ser sempre uma delícia, especialmente para aqueles que não negam um bocado de queijo em todas as refeições. O khachapuri adjaruli (em forma de barco que leva queijo suluguni, manteiga e um ovo inteiro), que embora não seja típico de Tbilisi, ainda sim pode ser encontrado em praticamente todos os restaurantes da cidade e vale a pena ser provado. Outro prato majestoso é o khinkali, que são bolinhos de massa recheados com carne, queijo, cogumelos ou batata e servidos cozidos ou fritos. Refeições que deixam qualquer um pronto para explorar a cidade com muita energia. 

Outro fato interessante é a hospitalidade dos locais, sempre dispostos a ajudar e com um sorrisão no rosto. Não se deixe abater pela pressa das pessoas na capital. Assim como qualquer cidade grande e em desenvolvimento, os habitantes de Tbilisi vivem em função do trabalho e das famílias (que geralmente são imensas). Como o país está em desenvolvimento, vale ser cuidadoso nas ruas e no transporte público, mas vale também aproveitar uma moeda que ainda está no processo de valorização e, claro, uma cultura milenar que está em cada canto, cada detalhe.

A Geórgia é também o berço do vinho e fazer uma visita a uma vinícola é quase obrigatório. A produção é única -em vasos gigantes de cerâmica chamados de qvevri- e as variedades são para todos os gostos. Para os amantes da bebida, os vinhos “âmbar”, das variedades Kisi e Rkatsitel, são imperdíveis!

A capital está se tornando, na boca dos mais jovens, a “nova Berlim”. Com velhas fábricas transformadas em hotéis, espaços de coworking e bares (sim, tudo isso junto) e uma cena noturna em ascensão, trazida por clubes como o Bassiani, atualmente a cidade está fervilhante e se tornando internacionalmente famosa, seja pela música eletrônica ou pela moda e estilo de vida. Vale lembrar que o diretor de criação da marca Balenciaga, Demna Gvasalia, trouxe a Geórgia para o mundo das passarelas em suas últimas coleções da Vetements. 

Saindo de Tbilisi, vale visitar Batumi nos meses de verão e molhar os pezinhos na beira do mar Negro, fazer uma visita expressa a Gori, onde o museu de Stálin está localizado, e tirar umas férias luxuosas em Kazbegi, onde o Hotel Rooms oferece serviços extravagantes com uma vista incrível para as montanhas. 

Enfim, a Geórgia é um daqueles lugares onde eu deixei um pedacinho de mim e, sempre quando posso, volto para lá só para me sentir completa novamente. 

Espero que este relato possa também te inspirar a visitar este berço de extremos, cheios de aromas, cores e vivências. 

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Aviso aos passageiros 1: Caso você tenha se interessado pela Geórgia e já começou a refletir em ir para lá, que tal dar uma passada em Moscou, que fica a cerca de 2.200 km?

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